“Convém que fales
pouco para que te julguem sábio”
Pacheco, um
personagem de Eça de Queirós.
Quando digo que Ragendra de Sousa, como economista,
deixa muito a desejar, as pessoas dizem: “não, você está exagerando”. Porquê? Porque
elas julgam as coisas com base no critério de verossimilhança e como diz Olavo
de Carvalho: “verossimilhança é aquilo que parece… parece porque é o que as
pessoas dizem… você acredita junto com o seu grupo” (sic). Este é o critério de
julgamento das pessoas. Elas, simplesmente, não sabem o que é conhecimento.
Agora, essa confusão acontece porque o moçambicano pensa que diploma é
conhecimento, então, ele gradua o conhecimento das pessoas pelo grau académico
que elas têm e não pelo conhecimento real e efectivo. Quer dizer, só o
moçambicano para pensar assim.
Ragendra de Sousa já cometeu muitas gafes imperdoáveis
em alguém que é incensado como um dos maiores economistas de Moçambique, digo,
maior para os outros, para mim, ele não significa nada. Veja, antes dele se
tornar vice-ministro, foi um furacão, com aparições quase espíritas na TV, a
base quase que diária e na STV, principalmente, onde ele tinha um programa
semanal em que ele falava de economia, pois, que mais haveria de ser? De
economia? Também, não é bem assim? Num desses programas, me recordo como se
fosse hoje, ele falava sobre a crise do subprime
nos EUA e ele dizia que a causa da crise era quem o governo federal dos EUA havia
concedido muita liberdade aos bancos. Naquela altura eu era um idiota completo,
como eu tenho dito, eu nasci pequeno e burro, contudo, nestes últimos anos,
tenho feito um esforço desgraçado para me desintoxicar de alguns vícios, o que
não significa que eu já esteja entendendo alguma coisa, contudo, agora, também
sei que ninguém está entendendo coisa nenhuma. Pobre consolo!
Ora, last but
not least, agora sei que a crise do subprime
nada tinha que ver com excesso de desregulamentação dos bancos e que Ragendra
foi tirar isso da CNN e da New York Time, o que não deixa de ser lamentável que
alguém que se considera estudioso sério busque informação séria na grande mídia
norte-americana ao invés de ir às fontes primárias, mormente quando se sabe que
a grande mídia norte-americana em peso está nas mãos dos comunistas chineses e
que ela tem um histórico de falsificação e ocultação de informação desde a
segunda metade do século passado.
By the way, Aristóteles já dizia que um discurso tem que ser
encarado primeiro como um discurso do agente e só depois como discurso do
intelectual. É preciso ver qual é o papel que aquele individuo que está
discursando tem naquela situação do discurso, se ele é um agente ou se ele é um
estudioso. O discurso do agente visa a acção, enquanto o discurso do estudioso
puro, do intelectual puro, porque existe o intelectual orgânico que é o agente,
visa a intelecção. O discurso do agente é um discurso retórico e o discurso do
intelectual é dialéctico e analítico porque ele está preocupado em entender
como a realidade funciona e não em transformá-la que já é aquilo que move o
agente.
Se Ragendra tivesse ido as fontes primárias ia
descobrir que a crise do subprime,
longe de ser causada pelo excesso de liberdade de mercado, o que só serve como
figura de linguagem, evidentemente, ela foi causada pelo excesso de regulamentação
que forçava os bancos a conceder crédito a quem não podia pagar, ou seja, aos
devedores NINJAS (N=no, I=income, N=no, J=job, A=assets). Quando Ragendra diz
que foi excesso de liberdade, ele está querendo colocar a culpa no partido
republicano, quando, na verdade, essa crise foi toda ela montada pelos
democratas porque isto foi um plano esquerdista concebido pelos discípulos de
Saul Alinsky de que se você forçasse a previdência social a pobreza ia
desaparecer dos EUA e essa é aquela mesma ideia marxista de que se os
proletários matassem todos os capitalistas burgueses ia dar aquele click de que falou Gramsci e tudo
ficaria mais belo. Mas é preciso ser muito pueril para acreditar numa coisa
dessas. Quer dizer, Ragendra nunca ouviu falar na estratégia Cloward Piven pelo
que o que ele diz não passa de palpite. Agora, palpiteiros existem de monte.
Ninguém é proibido de dar um palpite. Eu também tenho esse direito. Mas, agora,
fazer passar seu palpite como a mais nova descoberta da ciência é estelionato.
Mais recentemente, Ragendra de Sousa, já, como
vice-ministro da indústria e comércio que é o que ele queria e o que mostra que
ele nunca foi um intelectual mas apenas um “intelectual orgânico” para usar a
expressão de Gramsci, cometeu uma nova gafe. Me lembro de uma sentença do
economista Paul Anthony Samuelson de quando ele foi convidado para trabalhar na
casa branca em Washington DC, e ele ficou lá pouco tempo e depois pediu
demissão. Ele disse que se ele tivesse ficado lá mais uma semana, ele deixaria
de ser economista. Porém, a maior realização intelectual do moçambicano é ser
ministro, governador, presidente do município, presidente da república e aí ele
acha que já superou a lógica de Aristóteles e a relatividade de Einstein, de
modo que, se colocassem um Stefan Hawking ao lado de Ragendra, os moçambicanos
escolheriam Ragendra como a expressa imagem do génio humano pelo simples facto
de que ele é membro do governo e Hawking, coitado, é apenas um dos maiores
astrofísicos do momento.
O vice-ministro
Ragendra disse que as saídas que o governo estava a estudar para fazer face a
crise do pão era sugerir a população a substituir o consumo do pão pelo da
mandioca e da batata-doce. Já se tornou normal, neste país, as pessoas dizerem
cobras e lagartos sem que ninguém as responda a altura pelo simples facto de
que ninguém está entendendo nada. Sempre que o preço do pão, do arroz, da
batata, do tomate, da cebola, etc., tendem a subir, os nossos empombados
analistas apelam por exemplo para a varinha mágica da agricultura e quando tudo
volta ao normal, se esquecem que existe uma coisa chamada agricultura. Ora,
tudo isso é de uma imoralidade atroz. Porquê? Porque as pessoas querem tirar
proveito político e estão se marimbando para o bem-comum.
Ragendra de Sousa, ele que é economista e professor de
economia devia saber que os que vão pagar o pato com o aumento do preço do pão
não são os produtores de pão mas sim, os consumidores, sendo assim, ele devia
parar e pensar, quais são os determinantes da procura (consumidor) e não quais
são os determinantes da oferta (produtor). Veja, os determinantes da procura
são:
1.
Preço do bem ou
serviço
2.
Rendimento
3.
Gostos e
preferências
4.
Políticas
governamentais
5.
Factores
específicos
Os determinantes da oferta são:
1.
População ou
dimensão do mercado
2.
Bens substitutos
3.
Tecnologia
4.
Políticas
governamentais
5.
Factores
específicos
Qualquer debutante em economia, que se preze, sabe que
os bens substitutos são determinantes da oferta e não da procura que é o que
interessa aqui. Mas, Ragendra, um Phd
em economia, coloca os determinantes da oferta no lugar dos determinantes da
procura e faz uma metásbasis exaloguenos
e sai ileso como um deus do olimpo.
Ora, se o preço do pão está alto, o que há a fazer é
mexer nos outros determinantes os quais estão listados acima como rendimento,
gostos e preferências, políticas governamentais e factores específicos. Agora,
mexer no rendimento com a crise em que o país está é impossível. Mudar os
gostos e preferências dos consumidores é mais impossível ainda porque isso
significaria um esforço que levaria no mínimo quarenta anos, uma geração
inteira. Então, só restam as políticas governamentais e os factores
específicos, aliás, eles são os únicos que também estão do lado da oferta.
Agora, o governo não quer mudar sua política
industrial e comercial e nem quer lidar com os factores específicos da produção
do pão e, no entanto, quer que todo um país mude sua dieta alimentar em dois ou
três dias. Nem Nero; nem Átila, o huno; nem Gengis Khan, seriam capazes de
conceber uma coisa dessas mas os governos modernos são capazes de conceber.
Olavo de Carvalho está montado na razão quando ele diz que “o poder do estado
na modernidade sempre cresce, deste modo ou daquele modo” (sic), o que põe fim
a utopia do estado de direito democrático que muitos enchem a boca para falar a
respeito ao mesmo tempo em que atropelam todas as leis.
Não é minha tarefa dar solução para esses problemas
mas apenas compreende-los. Ora, qualquer debutante em economia sabe que
qualquer política governamental se resume a duas coisas, a saber:
intervencionismo e liberalização. Agora, os governos amam de paixão as políticas
intervencionistas porque isso aumenta, necessariamente, “o seu poder ou sua
sensação de poder” para usar o vocabulário de Nietzsche. No que toca a política
industrial, os governos gostam de proteger a indústria nascente (infant industry) ou as indústrias
nacionais, de um modo geral, o que os leva, por tabela, a proteger indústrias
ineficientes simplesmente porque é nacional. Existe aquele Slogan do ministério da indústria e comércio do anterior governo:
“consuma o que é nosso, exporte o que é nosso”, o que é uma política
intervencionista, proteccionista. Agora, quando se protege uma indústria é,
aparentemente, no intuito de fazê-la ganhar competitividade, assegurando-lhe
todo o mercado doméstico e fazer, assim, uma indústria de substituição de
importações como o que se queria fazer no PPI. Mas você não tem como fazer
isso, primeiro, sem importar bastante e segundo, você não tem como fazer isso
sem fechar as fronteiras, quer fisicamente, quer por meio de quotas de
importação, medidas sanitárias e fito-sanitárias, etc., porém, ainda assim,
nada garante que a população do seu país vai consumir o que é produzido
internamente ao menos que você instale um estado policial, totalitário, para
reprimir a população e impor a ela novos gostos e preferências, o que
significaria mudar toda uma cultura como aconteceu na China sob Mao.
Esse mesmo raciocínio vale para a política comercial
atmbém, quer seja feita por meio do controlo das taxas de câmbio ou quotas
comerciais e medidas sanitárias e fito-sanitárias e outras já inventadas ou por
inventar.
Agora, qualquer debutante de economia sabe que o
comércio internacional tem vantagens mútuas, mesmo que seja um comércio entre países
que tenha vantagens absolutas, ou entre um país rico e um país pobre, desde que
haja vantagens comparativas em jogo de parte a parte, se elas não existirem, aí
sim temos uma justificativa técnica para fecharmos as fronteiras. A divisão
internacional do trabalho baseia-se na vantagem comparativa em que cada país
vai se especializar naquilo que ele sabe produzir melhor e com menos custos e
essa ideia David Ricardo foi buscar na República de Platão, pois ele aparece aí
como um conceito de justiça que depois os romanos traduziram em palavras mais
simples como sendo dar a cada um o que é de cada um: “dura lex, sed lex”.
Contudo, é urgente não confundir comércio internacional
com globalização que é uma outra coisa. O comércio internacional pressupõe
troca de bens e serviços entre nações. Agora, a globalização é o globo
terrestre inteiro fazendo comércio com quem? Extraterrestres? Só poder. Veja, a
globalização é um esquema de poder, isto é, um esquema de possibilidades
concretas de acção que diz respeito não apenas ao âmbito económico mas também
ao âmbito daquilo que Marx chamava de superestrutura ideológica, que mexe, na
verdade, com toda cultura.
Agora, como o número de culturas existentes no mundo é
inabarcável, o que a globalização faz é nivelar por baixo todas as culturas e
impor novos padrões de conduta que sejam universalmente aceites sob o rótulo de
multiculturalismo que, na verdade, significa promover o gaysismo, abortismo,
sexismo, igualitarianismo, relativismo, islamismo, etc., a excelsa condição de
cultural mundial do novo estado de coisas em detrimento das culturas nacionais
e mormente da moral tradicional judaico-cristã. Portanto, fazer comércio
internacional é uma coisa, demolir as soberanias nacionais é outra coisa
totalmente diferente.
É possível conciliar soberania nacional com comércio
internacional mas conciliar nacionalismo com globalismo é um quadrado redondo.
O mais satírico ainda é ver os nossos governantes apelarem para a unidade
nacional ao mesmo tempo em que falam com igual entusiamos de integração
regional e da globalização como processos irreversíveis e não percebem que isso
é contraditório. De duas, uma: ou eles não estão entendendo o que está se
passando e são idiotas úteis ou então, isso é um discurso exotérico para o
deleite dos catecúmenos. Mutatis mutandis,
um país destruir sua soberania nacional, sua cultura, sua moral, sua religião,
enfim, sua civilização, é globalismo e não comércio internacional e não trará
nenhum ganho económico porque, como eu já disse noutro artigo, só existe
economia capitalista, o resto é uma interface
entre economia e seu inverso.
Agora, não é preciso Weber para saber que não há
capitalismo sem moral tradicional judaico-cristã e que quando você destrói um,
você destrói outro. Para quem já leu o manifesto comunista de Marx e Engels,
sabe que isso está lá, que você primeiro tem que destruir a moral tradicional, destruir
a religião cristã, que Marx dizia ser um luxo burguês antes que você consiga
destruir o capitalismo. A prova disso é que nos países comunistas, a supressão
das liberdades religiosas e a destruição da moral tradicional judaico-cristã
são concomitantes com a supressão da propriedade privada. O livro do pastor
protestante Richard Wumbrand intitulado “Marx and Satan” prova isso acima de
qualquer suspeita porque ele mesmo sentiu na pele o crime de ser cristão num
país em que os revolucionários diziam que estavam a lutar contra os
capitalistas, sendo ele um homem totalmente desprovido de capital até a medula
dos ossos. O mais caricato de tudo isso é que hoje, os maiores capitalistas do
mundo, que Olavo chama de meta-capitalista, são os mesmos esquerdistas de ontem
como Billy Gate, George Soros, Rockfeller e tutti
quanti.
O problema com os nossos governantes e até mesmos com
aqueles que se dizem estudiosos é que eles, tal como Marx na sua 12ª tese
contra Feuerbach, não querem compreender a realidade, mas querem é transformá-la
e assim não dá porque tudo que você vai conseguir com esse seu delírio
messiânico de mundo melhor é fazer com que tudo acabe em genocídio como
amplamente demonstrado por Paul Johnson e Hans Morgenthau porque tudo isso só
expressa uma deseperada ânsia de poder e desejo de transcendência histórica, no
final de contas, como diria Leonardo Padura, quando na verdade, o que há a
fazer é praticar a boa e velha caridade, a qual não se funda no ar mas na fé, fidei, confiança, como disse São Pedro,
o apóstolo mas dizer isso a um moçambicano soa esotérico demais, como um
segredo que se protege a si próprio.
ESCRITO POR XADREQUE
SOUSA-shathreksousa@gmail.com
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