sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Crise do pão

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“Convém que fales pouco para que te julguem sábio”
Pacheco, um personagem de Eça de Queirós.

Quando digo que Ragendra de Sousa, como economista, deixa muito a desejar, as pessoas dizem: “não, você está exagerando”. Porquê? Porque elas julgam as coisas com base no critério de verossimilhança e como diz Olavo de Carvalho: “verossimilhança é aquilo que parece… parece porque é o que as pessoas dizem… você acredita junto com o seu grupo” (sic). Este é o critério de julgamento das pessoas. Elas, simplesmente, não sabem o que é conhecimento. Agora, essa confusão acontece porque o moçambicano pensa que diploma é conhecimento, então, ele gradua o conhecimento das pessoas pelo grau académico que elas têm e não pelo conhecimento real e efectivo. Quer dizer, só o moçambicano para pensar assim.

Ragendra de Sousa já cometeu muitas gafes imperdoáveis em alguém que é incensado como um dos maiores economistas de Moçambique, digo, maior para os outros, para mim, ele não significa nada. Veja, antes dele se tornar vice-ministro, foi um furacão, com aparições quase espíritas na TV, a base quase que diária e na STV, principalmente, onde ele tinha um programa semanal em que ele falava de economia, pois, que mais haveria de ser? De economia? Também, não é bem assim? Num desses programas, me recordo como se fosse hoje, ele falava sobre a crise do subprime nos EUA e ele dizia que a causa da crise era quem o governo federal dos EUA havia concedido muita liberdade aos bancos. Naquela altura eu era um idiota completo, como eu tenho dito, eu nasci pequeno e burro, contudo, nestes últimos anos, tenho feito um esforço desgraçado para me desintoxicar de alguns vícios, o que não significa que eu já esteja entendendo alguma coisa, contudo, agora, também sei que ninguém está entendendo coisa nenhuma. Pobre consolo!

Ora, last but not least, agora sei que a crise do subprime nada tinha que ver com excesso de desregulamentação dos bancos e que Ragendra foi tirar isso da CNN e da New York Time, o que não deixa de ser lamentável que alguém que se considera estudioso sério busque informação séria na grande mídia norte-americana ao invés de ir às fontes primárias, mormente quando se sabe que a grande mídia norte-americana em peso está nas mãos dos comunistas chineses e que ela tem um histórico de falsificação e ocultação de informação desde a segunda metade do século passado.

By the way, Aristóteles já dizia que um discurso tem que ser encarado primeiro como um discurso do agente e só depois como discurso do intelectual. É preciso ver qual é o papel que aquele individuo que está discursando tem naquela situação do discurso, se ele é um agente ou se ele é um estudioso. O discurso do agente visa a acção, enquanto o discurso do estudioso puro, do intelectual puro, porque existe o intelectual orgânico que é o agente, visa a intelecção. O discurso do agente é um discurso retórico e o discurso do intelectual é dialéctico e analítico porque ele está preocupado em entender como a realidade funciona e não em transformá-la que já é aquilo que move o agente.

Se Ragendra tivesse ido as fontes primárias ia descobrir que a crise do subprime, longe de ser causada pelo excesso de liberdade de mercado, o que só serve como figura de linguagem, evidentemente, ela foi causada pelo excesso de regulamentação que forçava os bancos a conceder crédito a quem não podia pagar, ou seja, aos devedores NINJAS (N=no, I=income, N=no, J=job, A=assets). Quando Ragendra diz que foi excesso de liberdade, ele está querendo colocar a culpa no partido republicano, quando, na verdade, essa crise foi toda ela montada pelos democratas porque isto foi um plano esquerdista concebido pelos discípulos de Saul Alinsky de que se você forçasse a previdência social a pobreza ia desaparecer dos EUA e essa é aquela mesma ideia marxista de que se os proletários matassem todos os capitalistas burgueses ia dar aquele click de que falou Gramsci e tudo ficaria mais belo. Mas é preciso ser muito pueril para acreditar numa coisa dessas. Quer dizer, Ragendra nunca ouviu falar na estratégia Cloward Piven pelo que o que ele diz não passa de palpite. Agora, palpiteiros existem de monte. Ninguém é proibido de dar um palpite. Eu também tenho esse direito. Mas, agora, fazer passar seu palpite como a mais nova descoberta da ciência é estelionato.

Mais recentemente, Ragendra de Sousa, já, como vice-ministro da indústria e comércio que é o que ele queria e o que mostra que ele nunca foi um intelectual mas apenas um “intelectual orgânico” para usar a expressão de Gramsci, cometeu uma nova gafe. Me lembro de uma sentença do economista Paul Anthony Samuelson de quando ele foi convidado para trabalhar na casa branca em Washington DC, e ele ficou lá pouco tempo e depois pediu demissão. Ele disse que se ele tivesse ficado lá mais uma semana, ele deixaria de ser economista. Porém, a maior realização intelectual do moçambicano é ser ministro, governador, presidente do município, presidente da república e aí ele acha que já superou a lógica de Aristóteles e a relatividade de Einstein, de modo que, se colocassem um Stefan Hawking ao lado de Ragendra, os moçambicanos escolheriam Ragendra como a expressa imagem do génio humano pelo simples facto de que ele é membro do governo e Hawking, coitado, é apenas um dos maiores astrofísicos do momento.

 O vice-ministro Ragendra disse que as saídas que o governo estava a estudar para fazer face a crise do pão era sugerir a população a substituir o consumo do pão pelo da mandioca e da batata-doce. Já se tornou normal, neste país, as pessoas dizerem cobras e lagartos sem que ninguém as responda a altura pelo simples facto de que ninguém está entendendo nada. Sempre que o preço do pão, do arroz, da batata, do tomate, da cebola, etc., tendem a subir, os nossos empombados analistas apelam por exemplo para a varinha mágica da agricultura e quando tudo volta ao normal, se esquecem que existe uma coisa chamada agricultura. Ora, tudo isso é de uma imoralidade atroz. Porquê? Porque as pessoas querem tirar proveito político e estão se marimbando para o bem-comum.

Ragendra de Sousa, ele que é economista e professor de economia devia saber que os que vão pagar o pato com o aumento do preço do pão não são os produtores de pão mas sim, os consumidores, sendo assim, ele devia parar e pensar, quais são os determinantes da procura (consumidor) e não quais são os determinantes da oferta (produtor). Veja, os determinantes da procura são:
    1.   Preço do bem ou serviço
    2.   Rendimento
    3.   Gostos e preferências
    4.   Políticas governamentais
    5.   Factores específicos
Os determinantes da oferta são:
    1.   População ou dimensão do mercado
    2.   Bens substitutos
    3.   Tecnologia
    4.   Políticas governamentais
    5.   Factores específicos
Qualquer debutante em economia, que se preze, sabe que os bens substitutos são determinantes da oferta e não da procura que é o que interessa aqui. Mas, Ragendra, um Phd em economia, coloca os determinantes da oferta no lugar dos determinantes da procura e faz uma metásbasis exaloguenos e sai ileso como um deus do olimpo.

Ora, se o preço do pão está alto, o que há a fazer é mexer nos outros determinantes os quais estão listados acima como rendimento, gostos e preferências, políticas governamentais e factores específicos. Agora, mexer no rendimento com a crise em que o país está é impossível. Mudar os gostos e preferências dos consumidores é mais impossível ainda porque isso significaria um esforço que levaria no mínimo quarenta anos, uma geração inteira. Então, só restam as políticas governamentais e os factores específicos, aliás, eles são os únicos que também estão do lado da oferta.

Agora, o governo não quer mudar sua política industrial e comercial e nem quer lidar com os factores específicos da produção do pão e, no entanto, quer que todo um país mude sua dieta alimentar em dois ou três dias. Nem Nero; nem Átila, o huno; nem Gengis Khan, seriam capazes de conceber uma coisa dessas mas os governos modernos são capazes de conceber. Olavo de Carvalho está montado na razão quando ele diz que “o poder do estado na modernidade sempre cresce, deste modo ou daquele modo” (sic), o que põe fim a utopia do estado de direito democrático que muitos enchem a boca para falar a respeito ao mesmo tempo em que atropelam todas as leis.

Não é minha tarefa dar solução para esses problemas mas apenas compreende-los. Ora, qualquer debutante em economia sabe que qualquer política governamental se resume a duas coisas, a saber: intervencionismo e liberalização. Agora, os governos amam de paixão as políticas intervencionistas porque isso aumenta, necessariamente, “o seu poder ou sua sensação de poder” para usar o vocabulário de Nietzsche. No que toca a política industrial, os governos gostam de proteger a indústria nascente (infant industry) ou as indústrias nacionais, de um modo geral, o que os leva, por tabela, a proteger indústrias ineficientes simplesmente porque é nacional. Existe aquele Slogan do ministério da indústria e comércio do anterior governo: “consuma o que é nosso, exporte o que é nosso”, o que é uma política intervencionista, proteccionista. Agora, quando se protege uma indústria é, aparentemente, no intuito de fazê-la ganhar competitividade, assegurando-lhe todo o mercado doméstico e fazer, assim, uma indústria de substituição de importações como o que se queria fazer no PPI. Mas você não tem como fazer isso, primeiro, sem importar bastante e segundo, você não tem como fazer isso sem fechar as fronteiras, quer fisicamente, quer por meio de quotas de importação, medidas sanitárias e fito-sanitárias, etc., porém, ainda assim, nada garante que a população do seu país vai consumir o que é produzido internamente ao menos que você instale um estado policial, totalitário, para reprimir a população e impor a ela novos gostos e preferências, o que significaria mudar toda uma cultura como aconteceu na China sob Mao.

Esse mesmo raciocínio vale para a política comercial atmbém, quer seja feita por meio do controlo das taxas de câmbio ou quotas comerciais e medidas sanitárias e fito-sanitárias e outras já inventadas ou por inventar.

Agora, qualquer debutante de economia sabe que o comércio internacional tem vantagens mútuas, mesmo que seja um comércio entre países que tenha vantagens absolutas, ou entre um país rico e um país pobre, desde que haja vantagens comparativas em jogo de parte a parte, se elas não existirem, aí sim temos uma justificativa técnica para fecharmos as fronteiras. A divisão internacional do trabalho baseia-se na vantagem comparativa em que cada país vai se especializar naquilo que ele sabe produzir melhor e com menos custos e essa ideia David Ricardo foi buscar na República de Platão, pois ele aparece aí como um conceito de justiça que depois os romanos traduziram em palavras mais simples como sendo dar a cada um o que é de cada um: “dura lex, sed lex”.

Contudo, é urgente não confundir comércio internacional com globalização que é uma outra coisa. O comércio internacional pressupõe troca de bens e serviços entre nações. Agora, a globalização é o globo terrestre inteiro fazendo comércio com quem? Extraterrestres? Só poder. Veja, a globalização é um esquema de poder, isto é, um esquema de possibilidades concretas de acção que diz respeito não apenas ao âmbito económico mas também ao âmbito daquilo que Marx chamava de superestrutura ideológica, que mexe, na verdade, com toda cultura.

Agora, como o número de culturas existentes no mundo é inabarcável, o que a globalização faz é nivelar por baixo todas as culturas e impor novos padrões de conduta que sejam universalmente aceites sob o rótulo de multiculturalismo que, na verdade, significa promover o gaysismo, abortismo, sexismo, igualitarianismo, relativismo, islamismo, etc., a excelsa condição de cultural mundial do novo estado de coisas em detrimento das culturas nacionais e mormente da moral tradicional judaico-cristã. Portanto, fazer comércio internacional é uma coisa, demolir as soberanias nacionais é outra coisa totalmente diferente.

É possível conciliar soberania nacional com comércio internacional mas conciliar nacionalismo com globalismo é um quadrado redondo. O mais satírico ainda é ver os nossos governantes apelarem para a unidade nacional ao mesmo tempo em que falam com igual entusiamos de integração regional e da globalização como processos irreversíveis e não percebem que isso é contraditório. De duas, uma: ou eles não estão entendendo o que está se passando e são idiotas úteis ou então, isso é um discurso exotérico para o deleite dos catecúmenos. Mutatis mutandis, um país destruir sua soberania nacional, sua cultura, sua moral, sua religião, enfim, sua civilização, é globalismo e não comércio internacional e não trará nenhum ganho económico porque, como eu já disse noutro artigo, só existe economia capitalista, o resto é uma interface entre economia e seu inverso.

Agora, não é preciso Weber para saber que não há capitalismo sem moral tradicional judaico-cristã e que quando você destrói um, você destrói outro. Para quem já leu o manifesto comunista de Marx e Engels, sabe que isso está lá, que você primeiro tem que destruir a moral tradicional, destruir a religião cristã, que Marx dizia ser um luxo burguês antes que você consiga destruir o capitalismo. A prova disso é que nos países comunistas, a supressão das liberdades religiosas e a destruição da moral tradicional judaico-cristã são concomitantes com a supressão da propriedade privada. O livro do pastor protestante Richard Wumbrand intitulado “Marx and Satan” prova isso acima de qualquer suspeita porque ele mesmo sentiu na pele o crime de ser cristão num país em que os revolucionários diziam que estavam a lutar contra os capitalistas, sendo ele um homem totalmente desprovido de capital até a medula dos ossos. O mais caricato de tudo isso é que hoje, os maiores capitalistas do mundo, que Olavo chama de meta-capitalista, são os mesmos esquerdistas de ontem como Billy Gate, George Soros, Rockfeller e tutti quanti.

O problema com os nossos governantes e até mesmos com aqueles que se dizem estudiosos é que eles, tal como Marx na sua 12ª tese contra Feuerbach, não querem compreender a realidade, mas querem é transformá-la e assim não dá porque tudo que você vai conseguir com esse seu delírio messiânico de mundo melhor é fazer com que tudo acabe em genocídio como amplamente demonstrado por Paul Johnson e Hans Morgenthau porque tudo isso só expressa uma deseperada ânsia de poder e desejo de transcendência histórica, no final de contas, como diria Leonardo Padura, quando na verdade, o que há a fazer é praticar a boa e velha caridade, a qual não se funda no ar mas na fé, fidei, confiança, como disse São Pedro, o apóstolo mas dizer isso a um moçambicano soa esotérico demais, como um segredo que se protege a si próprio.

ESCRITO POR XADREQUE SOUSA-shathreksousa@gmail.com

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