Quando um físico aquece os metais e
vai vendo que eles dilatam, ele chega, por indução, a uma lei física geral de
que o calor dilata os metais. Você aquecer os metais é experiência mas você
induzir que o calor dilata os corpos também é experiência? De modo nenhum.
Veja, as maçãs não começaram a cair quando
o Sir Isaac Newton estava sentado debaixo da massaleira. Porém, quantos
chegaram ao conhecimento da gravitação universal? Somente Newton.
A observação e a experiência são importantíssimas
para as ciências naturais, contudo, sem um esforço de pensar por cima dos dados
da observação e da experiência nenhum conhecimento é possível.
O
empirista John Locke no debate sobre a origem do conhecimento, disse que o
conhecimento vem da experiência e que o homem nasce como uma tabula rasa. O
empirismo e o racionalismo são daquelas teorias gerais que se refutam a si
mesmas pela sua incapacidade de se auto-explicarem. Se todo conhecimento
procede da experiência, segue-se que o conhecimento de que “o conhecimento
procede da experiência” também procede da experiência e que J.Locke não teve
que raciocinar para obtê-lo.
Se
Locke nunca teve que raciocinar para obter os conhecimentos que ele obteve ao
longo da sua vida, os quais foram obtidos por puro empirismo, então, nada
impede que se conclua que Locke não era racional. Agora, se uma das notas que
integram e definem o conceito homem é a nota da racionalidade, então, Locke não
era homem. Se ele não era homem, então, ele não poderia ter tido nenhum
conhecimento humano por experiência. Ponto. Isso é suficiente para colocar
Locke no hospício com direito a camisa de força e tudo.
Locke diz que o homem vem ao mundo como uma
tabula rasa, porém, só isso já é suficiente para desmascará-lo porque a tabula
rasa traz mais conhecimento em seu bojo do que Locke poderia imaginar, aliás,
ele não tinha imaginação nenhuma e é por isso que confundiu o termo “rasa” com
“nihil”, que seria o puro vazio.
Há
riqueza enorme de conhecimento numa tábula rasa que vai desde o conhecimento de
que ele é uma tabula; o conhecimento das propriedades físicas e químicas da
própria tabula; o conhecimento geométrico decorrente do facto dela ser rasa,
porque se ela é rasa, pelo menos sabemos que ela tem uma inclinação de 180
graus de ângulo; o conhecimento de que a tabula rasa é de género gramatical
feminino, número singular até o conhecimento de que ela tem uma massa e ocupa espaço.
Ora, se isso não é conhecimento, então, eu não sei o que é conhecimento.
Nem o empirismo, nem o racionalismo são as
únicas fontes do conhecimento. Porém, dizer que só existe conhecimento empírico
e que todo mundo nasce como uma tabula rasa é de uma puerilidade atroz como
acabei de demonstrar. Leibniz, um racionalista, dizia que o homem já nasce
doptado de conhecimento só que é um conhecimento em potência que vai-se
actualizando com a experiência. Isso, até, faz de Leibniz um
racionalista-empirista. Porém, seja como for, me parece mais concreta essa
proposta de Leibniz do que a de J.Locke, lembrando que concreto só quer dizer
crescer junto.
Não
sei se Locke leu Aristóteles, porém, de duas, uma: ou ele não tomou
conhecimento das polaridades aristotélicas de acto-potência, essência-existência,
forma-matéria, substância-acidente; ou ele tomou e jogou tudo no lixo por não ter
compreendido ou por birra, caso contrário, ele não teria caído nessa
infantilidade e como diziam os escolásticos: “tertium non datur”.
Sto.
Tomás de Aquino diz que racionar é “pensar de um conhecimento conhecido para um
conhecimento desconhecido” (sic). Quer dizer, tem que haver um ponto de partida
para cada conhecimento e esse conhecimento é um outro conhecimento. Sto. Tomás
de Aquino foi buscar isso em Aristóteles porque Aristóteles dizia que todo
conhecimento novo vem de um conhecimento antigo. Tudo isso se dá em acto.
Porém, onde estava o conhecimento da gravitação universal de Newton há 5.000
anos atrás? De qual conhecimento anterior ele tirou isso? De nenhum. Ele estava
em potência.
Onde
estava todo o conhecimento da mineralogia antes que surgisse o primeiro mineralogista?
Ele estava no mineral. Porém, se não houvesse em mim nada que permitisse
actualizar esse conhecimento, eu não seria capaz de tê-lo. Isso não tem nada a
ver com aquela tese de Kant de que nós conhecemos apenas as estruturas a priori da nossa mente e que não há
conhecimento objectivo. De modo nenhum. Essa supressão do objecto pela chamada revolução
kantiana é um excesso de dogmatismo abstraccionista.
Para
haver conhecimento o sujeito tem de estar presente e o objecto também tem de
estar presente. Diz o Olavo: “é essa presença mútua que é a origem do
conhecimento” (sic). Agora, eu não conheço e não conhecerei nada que eu não
posso conhecer. Quer dizer, antes que eu conheça a cor verde eu tenho que ter a priori a possibilidade de conhecer a
cor verde, quer eu venha a conhecê-la ou não. Uma pedra não conhece a cor verde
mesmo que você a pinte de verde ela nunca a conhecerá porque ela não tem essa
potência do conhecimento da cor verde. Eu só conheço em acto aquilo que eu
posso conhecer em potência.
Portanto,
dizer que o homem nasce zero, zero, de conhecimento como pretende Locke e que
ele só conhece em acto é uma palhaçada de deixar o Jimmy Carry morto de inveja
porque ele tem que poder conhecer antes de conhecer. Ou seja, ele conhece em
potência antes de conhecer em acto porque, na ordem do conhecer, a potência tem
preeminência sobre o acto, enquanto na ordem do ser o acto tem preeminência
sobre a potência como diz Mefistófeles em o Dr. Fausto de Goethe: “no princípio
era o acto” (sic).
Agora,
o filósofo Olavo de Carvalho diz que nem empirismo, nem racionalismo mas sim
intuicionismo. Ele diz que não há conhecimento racional, que “todo conhecimento
ou é intuitivo ou é nada” (sic) e, ele chama a isso de intuicionismo radical. O
que ele entende por intuição é em suas palavras “a percepção imediata de uma
presença” (sic), i.e., “um aqui e agora” (sic).
Seu
fundamento é o seguinte: como é que você fecha um raciocínio lógico, um
silogismo, por exemplo? É através de um outro raciocínio lógico? Por exemplo,
você diz: “Todo homem é mortal/ Sócrates é homem/ Portanto, Sócrates é mortal”.
Como é que você sabe que esse raciocínio está completo? É por um outro raciocínio
e outro e outro indefinidamente? De modo nenhum porque aí você não terminaria
nunca. É a intuição que fecha o esquema lógico de raciocínio.
Voltando
para John Locke, quando um físico aquece o ferro e vê que ele dilata e depois
aquece o bronze e vê que ele dilata e vai aquecendo outros metais e vai vendo
que eles dilatam, ele chega, por indução, a uma lei física geral de que o calor
dilata os metais. Você aquecer os metais é experiência mas você induzir que o
calor dilata os corpos também é experiência? Também é um dado dos sentidos? De modo
nenhum.
Veja,
as maçãs não começaram a cair quando o Sir Isaac Newton estava sentado debaixo
da massaleira, aliás, nessa altura, ele ainda nem era um Sir. As maçãs já caiam
desde que Deus as criou. Porém, quantos chegaram ao conhecimento da gravitação universal?
Somente Newton. Poderão dizer que Locke estava a falar de uma experiência controlada
em laboratório como se faz nas ciências naturais. Pois bem? Quando é que surge
a ciência experimental? Ela surge com Galileu a cerca de quatro, cinco séculos.
Deste modo, podemos concluir que antes de Galileu não havia conhecimento? Isso seria
um absurdo.
A
observação e a experiência são importantíssimas para as ciências naturais,
contudo, sem um esforço de pensar por cima dos dados da observação e da experiência
nenhum conhecimento é possível. Quantos observatórios e quantos laboratórios existem
no mundo? São milhares? Quantos deles produziram um conhecimento verdadeiramente
novo nos últimos 100 anos? Talvez um ou dois. Mas porquê se eles fazem experiências
todos os dias? Eis a questão. Não basta observar e experimentar é preciso mais
do que isso, é preciso ter um Galileu, um Newton, um Planck, um Einstein, etc.,
para pensar por cima do que se observou e experimentou e um produzir um
conhecimento novo.
Ps:
Não confundir racionalismo com espiritismo que é uma outra confusão dos
demónios.
ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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