Segundo os adeptos da teologia da
prosperidade, dar a Deus o que é de Deus significa pagar dízimo. É bastante
ridículo crer que Cristo morreu na cruz por causa do dízimo. Não é preciso ser
um S.Paulo, Apóstolo, para perceber que a única coisa que Cristo queria era que
as pessoas tivessem um pouco de fé nele, o que revela que “dar a Deus o que é
de Deus” significa ter FÉ naquele que Ele enviou pois sem fé é impossível
agradar a Deus, não importando quão fieis dizimistas sejamos.
Essas
sábias palavras, que vamos examinar, são de Cristo. Infelizmente, elas não têm
sido bem interpretadas, ou seja, aqueles indivíduos imbuídos de algum espírito
demagógico interpretam essas palavras ao sabor do seu psiquismo de empresário
utilitário, olhando apenasmente para aquele tipo de interpretação que de algum
modo vai resultar em algum ganho para si, mormente de ordem material. Estamos,
por conseguinte, diante de uma grande deficiência ética do nosso tempo que é a
simonia, que tendo sido combatida com argúcia nos primórdios do cristianismo
como vemos nas escrituras, ou seja nos evangelhos, vemo-la ressurgir hoje em
dia com cores cada vez mais vivas. Os mesmos protestantes que ontem combateram
fervorosamnete a simonia praticada pela igreja de Roma são os maiores
simonistas dos nossos dias.
Dizem
os aludidos no parágrafo anterior que, quando Cristo disse para dar a César o
que é de César, Ele se referia aos impostos e que, quando ele disse para dar a
Deus o que é Deus, estava se referindo aos dízimos. A interpretação da primeira
parte desse trecho está correcta. Ela decorre naturalmente da análise da
própria cena que conduziu a essa resposta de Cristo. Os saduceus e os fariseus
queriam saber se era legítimo ao povo judeu pagar tributo a César e Cristo, ao
dizer: dai a César o que é de César, estava dizendo que era legítimo que o povo
cumprisse com suas obrigações fiscais para com o governante de Roma. É óbvio,
entretanto, que essa resposta de Cristo é muito mais ampla pois ela não se
refere apenas ao pagamento de tributo como bem assinalado esta nas epístolas de
S.Paulo, Apóstolo, onde este apela aos cristãos que cumpram com as leis civis
das suas cidades-estado.
Os
fariseus e os saduceus em nenhum momento perguntaram se deviam dar a Deus o que
era de Deus. Eles estavam muito por fora disso malgrado serem as duas maiores
seitas da religião judaica. Podemos entender essa sentença de Cristo de dar a
Deus o que é de Deus por meio da parábola dos lavradores maus. Naquela
parábola, os lavradores não quiseram dar ao senhor da vinha os frutos da mesma.
Eles espancaram e mataram seus servos e também seu filho unigénito. A única
coisa que Cristo procurou em Israel e não encontrou é a fé. Quando aquele
centurião romano que tinha um servo enfermo disse: diz apenas uma palavra e meu
servo ficará curado, Jesus ficou tão admirado destas palavras e disse: nem
mesmo em Israel tenho encontrado fé como esta. Isso é o que ele estava
procurando. Esse é o fruto que Israel não deu. FÉ. Fé no Messias que havia
descido até eles, nascido no meio deles, para ser um deles. Mas como diz S.João,
o Apóstolo, “mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus, a saber a todos quantos creram nEle”.
A
interpretação de que dar a Deus o que é de Deus significa pagar o dízimo, como
querem muitos pregadores, não tem nada a ver com a questão. É uma interpretação
decepcionante, enganadora. Deus não está a procura de dízimo. Ele está a
procura de FÉ, de que os homens tenham um pouco de fé em si (Deus). É bastante
ridículo crer que Deus enviou profetas, sábios, apóstolos e seu próprio Filho
para padecer a morte de cruz por causa do dízimo. Essa interpretação
materialista mostra muito bem o espírito da nossa época que é, sem dúvida, o
que de mais baixo o mundo já teve. As pessoas falam horrores acerca da idade
média, porém, naqueles dias as pessoas tinham mais reverência a Deus e a tudo
quanto é sagrado do que nos dias de hoje em que a única coisa que o homem
reverencia é o dinheiro. Como diz George Simmel, o dinheiro se tornou a
fronteira de interesse do homem urbano tanto isso é verdade que os pregadores
modernos interpretam toda a escritura sagrada a luz do dinheiro. Para eles, a
árvore do bem e do mal era o dízimo. Para eles, a destruição da torre de babel
aconteceu porque aqueles homens não pagaram dízimo. Para eles, o pecado de Cão,
filho de Noé, foi não ter pago dízimo porque para eles a nudez de Noé
representava o dízimo. Para eles, quando Abraão sacrificou, figurativamente, Isaac,
isso representava o dízimo, etc., etc., etc. É caso para dizer mais uma vez com
o profeta Oséias: “o meu povo sofre por falta de conhecimento”.
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