segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”

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Segundo os adeptos da teologia da prosperidade, dar a Deus o que é de Deus significa pagar dízimo. É bastante ridículo crer que Cristo morreu na cruz por causa do dízimo. Não é preciso ser um S.Paulo, Apóstolo, para perceber que a única coisa que Cristo queria era que as pessoas tivessem um pouco de fé nele, o que revela que “dar a Deus o que é de Deus” significa ter FÉ naquele que Ele enviou pois sem fé é impossível agradar a Deus, não importando quão fieis dizimistas sejamos.


Essas sábias palavras, que vamos examinar, são de Cristo. Infelizmente, elas não têm sido bem interpretadas, ou seja, aqueles indivíduos imbuídos de algum espírito demagógico interpretam essas palavras ao sabor do seu psiquismo de empresário utilitário, olhando apenasmente para aquele tipo de interpretação que de algum modo vai resultar em algum ganho para si, mormente de ordem material. Estamos, por conseguinte, diante de uma grande deficiência ética do nosso tempo que é a simonia, que tendo sido combatida com argúcia nos primórdios do cristianismo como vemos nas escrituras, ou seja nos evangelhos, vemo-la ressurgir hoje em dia com cores cada vez mais vivas. Os mesmos protestantes que ontem combateram fervorosamnete a simonia praticada pela igreja de Roma são os maiores simonistas dos nossos dias.

Dizem os aludidos no parágrafo anterior que, quando Cristo disse para dar a César o que é de César, Ele se referia aos impostos e que, quando ele disse para dar a Deus o que é Deus, estava se referindo aos dízimos. A interpretação da primeira parte desse trecho está correcta. Ela decorre naturalmente da análise da própria cena que conduziu a essa resposta de Cristo. Os saduceus e os fariseus queriam saber se era legítimo ao povo judeu pagar tributo a César e Cristo, ao dizer: dai a César o que é de César, estava dizendo que era legítimo que o povo cumprisse com suas obrigações fiscais para com o governante de Roma. É óbvio, entretanto, que essa resposta de Cristo é muito mais ampla pois ela não se refere apenas ao pagamento de tributo como bem assinalado esta nas epístolas de S.Paulo, Apóstolo, onde este apela aos cristãos que cumpram com as leis civis das suas cidades-estado.

Os fariseus e os saduceus em nenhum momento perguntaram se deviam dar a Deus o que era de Deus. Eles estavam muito por fora disso malgrado serem as duas maiores seitas da religião judaica. Podemos entender essa sentença de Cristo de dar a Deus o que é de Deus por meio da parábola dos lavradores maus. Naquela parábola, os lavradores não quiseram dar ao senhor da vinha os frutos da mesma. Eles espancaram e mataram seus servos e também seu filho unigénito. A única coisa que Cristo procurou em Israel e não encontrou é a fé. Quando aquele centurião romano que tinha um servo enfermo disse: diz apenas uma palavra e meu servo ficará curado, Jesus ficou tão admirado destas palavras e disse: nem mesmo em Israel tenho encontrado fé como esta. Isso é o que ele estava procurando. Esse é o fruto que Israel não deu. FÉ. Fé no Messias que havia descido até eles, nascido no meio deles, para ser um deles. Mas como diz S.João, o Apóstolo, “mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber a todos quantos creram nEle”.

A interpretação de que dar a Deus o que é de Deus significa pagar o dízimo, como querem muitos pregadores, não tem nada a ver com a questão. É uma interpretação decepcionante, enganadora. Deus não está a procura de dízimo. Ele está a procura de FÉ, de que os homens tenham um pouco de fé em si (Deus). É bastante ridículo crer que Deus enviou profetas, sábios, apóstolos e seu próprio Filho para padecer a morte de cruz por causa do dízimo. Essa interpretação materialista mostra muito bem o espírito da nossa época que é, sem dúvida, o que de mais baixo o mundo já teve. As pessoas falam horrores acerca da idade média, porém, naqueles dias as pessoas tinham mais reverência a Deus e a tudo quanto é sagrado do que nos dias de hoje em que a única coisa que o homem reverencia é o dinheiro. Como diz George Simmel, o dinheiro se tornou a fronteira de interesse do homem urbano tanto isso é verdade que os pregadores modernos interpretam toda a escritura sagrada a luz do dinheiro. Para eles, a árvore do bem e do mal era o dízimo. Para eles, a destruição da torre de babel aconteceu porque aqueles homens não pagaram dízimo. Para eles, o pecado de Cão, filho de Noé, foi não ter pago dízimo porque para eles a nudez de Noé representava o dízimo. Para eles, quando Abraão sacrificou, figurativamente, Isaac, isso representava o dízimo, etc., etc., etc. É caso para dizer mais uma vez com o profeta Oséias: “o meu povo sofre por falta de conhecimento”. 

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