terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Moçambique, FMI e Dívida Oculta

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Sem entendermos o esquema de poder vigente em Moçambique e a estrutura da mentalidade desse esquema fica quase que impossível entender o que está acontecendo e como e qual vai ser o desfecho desse caso.

Será que o Governo de Moçambique vai ceder as pressões do FMI e revelar o paradeiro dos quinhentos milhões de dólares ainda não justificados?

Ora, não é a primeira vez que Moçambique se encontra num impasse com o FMI. Quando recuamos no tempo até a década de 80 temos um cenário análogo, ou seja, um cenário no qual se misturam semelhanças e diferenças com o que estamos assistindo neste momento e, naquele tempo, o FMI triunfou.

Sem entendermos o esquema de poder vigente em Moçambique e a estrutura da mentalidade desse esquema fica quase que impossível entender o que está acontecendo e como e qual vai ser o desfecho desse caso.

A primeira coisa que temos que fazer é recordar-nos da boa e velha lição de Eric Voeglin, um dos maiores filósofos políticos do século XX, senão o maior, aos seus alunos: "não estudem a filosofia de Eric Voeglin, estudem a realidade". Eu recorro a essa grande lição  porque o que se tem dito acerca do que está acontecendo no país é algo, assim, tão imaginário, tão rebuscado, que não tem nada a ver com a realidade.

Onde foram parar os 500 milhões de dólares? Eis a questão que não quer calar. Aventa-se a hipótese de que o dinheiro tenha sido usado pelo exército para aquisição de equipamento militar, porém, é preciso ser muito pueril para acreditar numa coisa dessas porque o que há de contraditório nessa hipótese, chamá-la de demagógica chega a ser um eufemismo.

Por que tanto clima de mistério? Esse ambiente de segredo nos remete a uma sentença de René Guenón que diz que "o segredo é da natureza mesmo do poder" e não tenho dúvidas de que os 500 milhões de dólares foram usados para fortalecer o esquema de poder vigente no país.

Poder, conforme definido por O.d.Carvalho é "uma possibilidade concreta de acção". Nietzsche dizia que só é bom aquilo que aumenta o poder ou a sensação de poder e que é mau aquilo que reduz o poder ou a sensação de poder. Com isso, está patente que somente um idiota útil acredita que os representantes do esquema do poder vigente no país têm suas noites de sono interrompidas por causa dessa famosa "dívida oculta".

Estou cansado de dizer que o partido no poder nunca mudou. Ele continua sendo o velho partido marxista-leninista. Não importa se o discurso que eles pregam hoje é mais pro-economia de mercado e que eles sejam ricos e poderosos. Isso não quer dizer absolutamente nada porque o comunismo não se define pela sua ideologia.

Qualquer estudioso sério do comunismo, sabe que este já mudou de ideologia um milhão de vezes. É por isso, que Ernest Laclau, um comunista de marca, estava montado na razão quando disse que "o partido comunista cria a classe que o vai apoiar". Isso só já é prova bastante de que o comunismo longe de se definir por uma ideologia, ele é uma cultura.

O mais importante no comunismo, ou seja, o elemento identitário mais importante nesse movimento não é a ideologia mas as atitudes, os comportamentos, as reacções emocionais, etc. Veja, a maior parte das pessoas no mundo inteiro que se identifica com os movimentos de esquerda, quer nacional (socialismo), quer internacional (comunismo), nunca leu uma linha de Marx, entretanto, são todos marxistas. Por que? Porque sentem e agem como marxistas sem saber. Quer dizer, é aquele objectivo "supremo" da revolução cultural gramsciana: fazer todo mundo se tornar comunista sem saber por meio de uma penetração omnipresente e invisível do novo príncipe, o partido estado, aliás, o partido que está acima do próprio estado na esfera da cultura.

Então, eles nunca terão arrependimento do que fizeram com os 500 milhões de dólares porque é aquela coisa do pobre consolo do psicopata: "eu não roubei para mim mesmo. Eu roubei para o partido". Quer dizer, não há nenhum sentimento moral de culpa e é só ligar a televisão e ver que é assim que eles se sentem.

Não por acaso um deles, o Chipande, que disse em 2016: “não se preocupem com os roubos. Os roubos vão continuar porque nós somos humanos e não somos santos”? Quer dizer, é de uma frieza serpentina descomunal porque eles acreditam que o partido está acima de tudo, acima do bem e do mal e que tudo que for feito em nome do partido é bom e tudo que for feito contra o partido é mau. Essa é a moral comunista.

Algumas pessoas têm ainda a esperança de que se possam entregar os cometedores desse crime a justiça, porém, é preciso estar muito maluco para acreditar numa coisa dessas. Ora, isso não somente não vai acontecer como é uma impossibilidade absoluta no meio comunista. Eles podem entregar todo mundo menos as suas vacas sagradas de modo que tem que encontrar-se um bode expiatório.  

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