“Gosto é a faculdade de receber uma agradável
impressão das belezas da natureza e da arte”.
Mário F. dos
Santos
Partindo dessa definição do Mário podemos perceber
que gosto não é apenas uma impressão mas uma agradável impressão. Portanto,
essa agradável ou seja essa faculdade de receber uma agradável impressão é o
que se chama gosto.
Quando alguém lhe diz: eu gostei de ti, ele está
apenas dizendo que teve uma agradável impressão a seu respeito.
Fala-se, no entanto, de bom gosto e de mau gosto.
Portanto, podemos classificar o gosto em bom e mau. Essa classificação, vemo-la
empregue no dia-a-dia. No contexto da definição que estamos considerando quando
dizemos que alguém tem um bom gosto, queremos com isso dizer que ele recebe ou
sua faculdade lhe permite receber uma impressão agradável daquilo que é, no
consenso geral, tido como naturalmente ou artisticamente agradável.
O mau gosto seria o contrário. Seria receber uma
agradável impressão daquilo que no consenso geral não pode, natural ou
artisticamente, ser agradável.
Há um ditado que diz que os gostos não se discutem.
Porém, quando se diz que o fulano ou a fulana tem bom gosto ou tem um mau gosto
isso pressupõe a existência de uma pedra de toque, de um critério para julgar.
Caso contrário todos os gostos seriam relativos e não poderíamos falar em bom
gosto e em mau gosto.
Quando se diz que os gostos não se discutem caímos
no relativismo. Portanto, os gostos não se discutem nessa acepção. Porém, se os
gostos podem ser olhados sob a perspectiva relativista, eles têm que também e
muito mais ainda ser olhados sob a perspectiva absolutista.
Tem que haver um bom gosto absoluto.
Quando discutimos os gostos entramos no campo da
axiologia. Axiologia vem de axios e logos. Axios é valor e logos é
ciência, estudo, tratado, teoria, etc. Por conseguinte, axiologia é a teoria do
valor, a teoria geral do valor.
Há valor na religião. O valor do sagrado e do
profano. Eu diria que o profano não chega a ser um valor mas um anti-valor. Há
valor na ciência. O valor do verdadeiro e do falso. Há valor na estética. O
valor do belo e do feio. Há valor na matemática. O valor do quantitativo e do
qualitativo. Há valor na economia. O valor de útil e do inútil. E assim por
diante.
Em sânscrito, o termo “homem” vem daquele que
valora, que atribui valor. Isso é o que o homem faz. Os animais tomados
genericamente, i.e., na sua semelhança geral, não podem valorar coisa nenhuma,
quer na natureza, quer na arte.
Na axiologia, encontramos a estética e a ética. Na
estética encontramos a arte. Temos as belas artes como a arquitectura. Temos as
artes rítmicas como a música, a poesia, a dança, etc.
Na ética temos as disciplinas éticas. Todas as
disciplinas que lidam com a pragma, com a acção humana, são disciplinas éticas.
A economia, a sociologia, a antropologia são disciplinas éticas.
Embora a física e a química não sejam ciências
culturais mas naturais elas podem ser tratadas também eticamente e não apenas
eticamente mas também moralmente de modo que podemos desenvolver uma física
ética e uma física moral. Uma física ética ou uma ética física seria possível
realizá-la apenas no aspecto especulativo da física e uma física moral apenas
no seu aspecto prático. Uma ética física seria aquela que procuraria alcançar o
núcleo axiológico do verdadeiro e do falso. Neste caso, como essa ética se
aplica ao plano intelectual teríamos uma dianoética. Uma física moral, por sua
vez, seria aquela que buscaria alcançar na física tomada no seu aspecto prático
o núcleo axioatronpológico do certo e do errado porque ele estaria lidando,
portanto, com a dramaticidade humana.
A construção de uma bomba atómica levanta questões
transversais na física. Não uma questão ligada a ética mas ligada a moral.
Ligada a moralidade dessa acção humana para oferecer uma crítica positiva e
construtiva a sua conveniência ou a sua inconveniência.
Os gostos, sendo apenas impressão, eles podem mudar.
Hoje eu gosto disso, amanhã posso não gostar. Quando éramos crianças há uma série
de coisas de gostávamos e de que não gostávamos. Agora, sendo adultos há
daquelas coisas de que gostávamos na puerilidade de que já não gostamos e
aquelas de que não gostávamos que passamos a gostar.
O que muda no gosto é apenas a sua parte sociológica
porque a sua parte histórica tem que permanecer cristalizada para sempre na
forma e na universalidade apontada ou simbolizada por aquilo de que gostávamos.
Isso não pode mudar.
Pode-se educar o gosto do ser humano. Pode refinar-se.
Para isso é preciso um educador, um pedagogo. Um educador é aquele que vai
conduzi-lo para fora daquele mau gosto para um bom gosto. Mas para isso ele tem
que ter passado pela mesma experiência ou então ser uma espécie de um profeta
que se coloca acima e vê as coisas desde uma perspectiva divina sem ter
necessariamente que passar por elas.
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