O termo libido quer diz quer dizer vontade como vemos por exemplo esse termo ser usado por Sto.Agostinho que fala em "libido dominandi" que é uma expressão que posteriormente foi usada no século XIX por Nietzsche que o traduziu como "vontade de potência" que é uma expressão que dá título a um dos seus livros.
Não é objectivo deste ensaio discorrer em torno da libido dominando ou vontade de potência. Porém, vamos abrir aqui um parênteses e tentar ligar essa expressão com o Fausto de Goethe. Essa ligacao nao é uma ligacao original minha mas algo que ja havia sido proposta ou feita no seculo XX pelo historiador alemão Oswald Spengler. Diz Spengler no seu estudo sobre a cultura ocidental que essa cultura é uma cultura faustica. Uma cultura faustica é aquela em que tudo se resume a vontade de potência. É mister dizer que nem todos concordam com Spengler. Por exemplo, para Freud a cultura ocidental é uma cultura de neurose ou uma cultura neurótica. Para os marxistas ou socialistas autoritários, a cultura ocidental é uma cultura do homo economicus porque para Marx a economia, a infraestrutura é a chave da abóbada que oferece uma explicação definitiva da história que para ele era luta de classe e é por isso que com a queda do murro de Berlim e a concomitante derrocada da URSS Franz Fukuyama declarou o fim da história. Porém, se a história terminou, então, essa sentença de Fukuyama não é histórica mas supra-histórica, ou seja, Fukuyama ja estava na eternidade quando ele fez essa declaração.
O sentido, no entanto, em que estamos empregando, aqui, a palavra "libido" não tem nada que ver com o sentido supra exposto mas com o sentido que Freud dá a essa palavra na psicologia ou na psicanálise para ser mais específico.
Assim, Freud identifica (3) três fases ou etapas da libido. Essas etapas são as seguintes:
1-Fase ou etapa oral;
2-Fase ou etapa anal;
3-Fase ou etapa sexual.
A fase oral se manifesta nos primeiros períodos de vida da criança. Qualquer um que tenha observado uma criança ja pude perceber que elas tem a tendência de levar qualquer objecto a boca. Elas não fazem isso mecanicamente mas fazem-no porque sentem prazer no que fazem. Porém, diz-se que quando a criança vai crescendo ela vai descobrindo outras fontes de prazer como por exemplo na fase anal quando ela aprende a controlar seu esfíncter e aprende assim a reter as fezes. Quando ela se torna adolescente ai a fase oral e a fase anal dão lugar a fase sexual.
Contudo, não creio que quando uma criança descobre diacronicamente as sucessivas etapas ou fases da libido as fases precedentes desaparecem no éter. Eu creio que elas se sobrepõe e formam um todo unificado, um sistema da libido e isso pode ser provado na prática porque mesmo quando atinge a fase adulta da vida o homem continua sentindo prazer em todos os orifícios do seu corpo. Não me refiro apenas ao prazer no sentido sexual que é apenas algo transeunte porque o prazer sexual não é duradouro mas também outros tipos de prazer por exemplo o prazer que eu chamaria de prazer gastronômico. Ninguém pode negar que comer quando se come algo de que se goste bastante nos dá um prazer imenso. Contudo, isso nao significa que temos que viver para comer. Nao temos que viver para comer mas comer para viver. Viver para comer conduz o homem a glutonaria ou seja ao excesso no comer e isso é um defeito da nossa parte sensorio-motriz daquilo que em nós ha de somatico que vem de somma que é corpo e essa falta de moderação é um desejo concupiscente. Concupiscência quer dizer desejo desenfreado. Uma pessoa que nao tem freio em seus próprios desejos é uma pessoa que nao tem virtude cardeal e ela não tem essa virtude porque ela não tem cultivado esse bom hábito.
O facto de sentirmos prazer nesta e naquela parte do nosso corpo não significa que temos que sucumbir ao prazer que sentimos buscando satisfaze-lo de todos os modos. O homem não é apenas corpo embora Descartes nas suas "meditações de filosofia primeira" tenha feita a separação do corpo e da alma dizendo que o corpo era apenasmente uma máquina, uma res extensa e que a alma era uma res cogitans. Contudo, o homem não é apenas corpo como advogam os materialistas. O homem também não é apenas alma. Afirmar essas coisas é cair num absurdo abissal. É cair num extremismo irreconciliavel. É cair num abstratismo doentio. O homem tomado na sua estrutura intrínseca é tricotomico. Tri de tres e tomico de tomos que quer dizer partes. Porem, isso nao significa que o homem é apenasmente uma soma de suas partes. O homem não pode ser apenas a soma de suas partes, o homem é unidade, o homem é oposição, o homem é relação, o homem é reciprocidade, o homem é forma, o homem é harmonia, o homem é evolução mas evolução bem entendida a qual é tomada aqui no sentido pitagorico-platônico e que não tem nada a ver com a evolução de Darwin e Herbert Spencer. O homem é superação mas não superação no sentido de super homem de Nietzsche. Isso é outra coisa. O homem é integração. O homem é, por fim, unidade transcendental. Isso nos mostra que o homem não pode ser apenas soma de suas partes. Que partes são essas? São o corpo, a alma e o espírito. Arthur Shaker no seu livro "cristianismo e Budismo" diz que aquilo que as religiões chamam de alma a psicologia chama de mente, mens. Aquilo que as religiões chamam de espírito a psicologia chama de intelecto. Convém, no entanto, esclarecer aqui alguns pontos que vamos fazer no próximo parágrafo.
Que a alma quer dizer mente isso não se pode negar. Quando Freud queria se referir a psyche ele usou o termo seele que depois foi traduzido para psique mas acontece que seele quer dizer alma. Isso se estuda na psicologia. Segundo Freud, a psique ou a alma se divide em inconsciente, ego e superego. Porem, Freud não foi o primeiro a estudar esse assunto. Ja vemos, por exemplo, o interesse nesse tema em Aristotles. Diz o estagirita no seu "De Anima" que a alma é a forma do corpo. Qual é a forma do triângulo? A forma do triângulo é a triangularitas ou seja a triangularidade. Qual é a forma do círculo? É a circularitas, a circularidade. A forma do homem é a humanitas, humanistas humanidade. Isso é que é a alma. Sendo assim, a alma é um eidos, um aritmos plethos do corpo, um esquema do corpo, enfim um ente de razão o qual não deve ser confundido com entes ficcionais como Hamlet, Rashkolnikov e assim por diante. Porem, esse ente de razão que é a alma não é um ser a se e muito menos um ser a se met ipsum mas apenas um ser ab alio, ou seja, um ser que recebeu o seu ser de um outro de modo que é ser por participação.
Quando se diz que o espírito também é tema de estudo da psicologia incorre-se num erro de natureza epistemológica, ou seja, os que cometem esse erro cometem-no por nao saberem situar o estudo do espírito dentro de seu respetivo campo do saber tomando a coisa na sua perspectiva especulativa ou filosófica. Assim, na sua perspectiva especulativa ou filosófica o estudo do espírito compete não a psicologia a qual tem como objecto o pensar mas sim compete a noologia. Assim,sendo o homem não apenas alma mas também espírito seu conhecer sempre será um conhecer eidetico-noetico, podemos até dizer que vai ser sempre um conhecimento somatico-eidetico-noetico porque o homem tambem conhece com os sentidos do seu corpo como dizia Aristoteles ao enunciar que o conhecimento começa pelos sentidos. Dito isto, convém, no entanto alertar para a necessidade de mantermos bem distintos os conceitos de alma e de espírito para não confundirmos psiquismo com espiritualidade.
Voltando a questão das fases da libido e que nos levou a considerar a estrutura hilemorfica do homem porque o homem é um ente composto de forma e matéria ja tínhamos dito que o homem não deve sucumbir ao prazer per fas et ne fas. Se o homem fosse apenas a sua parte somática o hedonismo desenfreado estaria justificado. Porem, o homem tem um nous, que lhe permite conhecer. Esse nous é o seu espirito. É o seu i telecto. Intelecto é inter mais Lec que quer dizer escolher entre. Daqui dizermos que ineligencia longe de ser a mera capacidade operacional medida pelos testes de q.I é a capacidade de descobrir a verdade, ou seja, a capacidade de escolher a essência no meio dos acidentes. Para ser mais claro, não é porque eu sinto prazer quando como lasanha de bacalhau que eu devo sucumbir a glutonaria. Não é porque eu sinto prazer no ânus que eu devo sair por praticando aquilo que metaforicamente chamam de sexo anal. Portanto, a questão não é ser ou não ser homossexual. A questão é ser ou não ser inteligente.
Todos enfrentamos diariamente na nossa própria mente, ou na nossa alma uma luta titanica entre os nossos desejos sensoriais e nosso ideal intelectual ou espiritual. Como homens somos todos convidados a realizar o que há de mais sublime, de mais elevado no homem que é a intelectualidade quando esse ideal é realizado pela luz natural da razão e espiritualidade quando é realizado através da revelação das escrituras sagradas das diversas religiões. Contudo, de qualquer modo somos todos convidados a realizar aquilo que o filósofo Mário Ferreira dos Santos chamou na sua enciclopédia de filosofia e ciências sociais de "timesis parabólica". A realização do ideal do homem que é conhecer como disse Frithjoff Schuon nas página finais de seu "The transcendental Unit of religion" to be man is to know ou como disse o estagirita "o homem tende ao conhecimento". porem, isso requer do homem um esforço. A busca da sabedoria requer esforço. No seu livro "la vi e intellectuelle", o filósofo neoeacolastico A.D.Sertillange parafrasea Leonardo da Vinci dizendo: "a sabedoria é uma mercadoria que Deus vende aos homens mediante um preço chamado esforço". Esforço aqui tem sentido de ascese. Ora, a ascese é renúncia do prazer corporal em nome de um prazer mais elevado chamado eudemonia ou seja felicidade que é paz, tranquilidade, serenidade. Porem, a serenidade da alma ou o aquietar da mente só ppde ser conhecidaatraves do saber. Nem o dinheiro, nem o sexo, nem a fama podem aquietar a sua mente, lhe dar a eudemonia ou seja a felicidade. Somente o saber pode fazer isso. Porem, assim como o homem não pode saber tudo que ele pode saber de um objecto ou seja ele não pode saber de um objecto totaliter mas apenas in Tatum, assim, nesta vida o homem nao pode ter a plenitude da felicidade que os cristãos chamam de beatitude, visão beatifica, mas pode ter apenas um vislumbre da beatitude que os bem-aventurados vao alcançar na eternidade.
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