sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Filosofia moçambicana além-fronteiras

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Resumo:
É totalmente falso que a tarefa da filosofia seja a de desenvolver ideias para o futuro. Nguenha confunde filosofia com ideologia. Um filósofo do presente é um escritor e não um filósofo de verdade, alguém que busca a unidade do saber na unidade da consciência e vice-versa. Um filósofo do passado é um historiador, e não um filósofo de verdade, como um Giovani Reale, Eric Weil, etc. Um filósofo do futuro é um ideólogo como Marx, Lenine, toda Escola de Frankfurt de trás pra diante e vice-versa e não um filósofo no mesmo grau em que se aplica esse termo a um Sócrates, Platão e Aristóteles, os pais fundadores da filosofia.
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ANALISE DO TEXTO DE LUIS CIPRIANO MANUEL
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Luis Cipriano Manuel:
Já em seu primeiro livro, Filosofia Africana: das Independências às Liberdades (1993), Ngoenha centra-se na leitura da situação contemporânea em Moçambique, um país que experimentou dois sistemas sociais radicalmente diferentes dentro de poucos anos, o socialista (1975-1989) e o liberal (desde 1990). Ngoenha critica o facto de que a situação social em Mocambique não correspondia à economia liberal, porque o liberalismo tem regras que não eram conhecidas pelas pessoas devido à falta de educação e informação. Assim, afirmou-se a “Dollar - cratie”, ou seja, a “dolarcracia substituindo a democracia”.
COMENTÁRIOS de | Xadreque Sousa:
O sistema socialista não se opõe, na sua epísteme, ao sistema liberal e vice-versa. O sistema liberal opõe-se ao sistema autoritário como o fascismo e ao sistema totalitário como o nazismo e o comunismo. O socialismo não pode ser substituído pelo liberalismo porque ele é uma síntese do capitalismo com o comunismo. O capitalismo pressupõe o liberalismo e o comunismo pressupõe o totalitarismo. Somente uma desintegração do socialismo pode dar lugar a um ou outro mas não como sucedâneos porque só podemos substituir aquilo que superamos como dizia Nietzsche e acontece que o liberalismo não é superação do socialismo mas um dos seus núcleos.
O que tivemos em Moçambique na primeira década da nossa república não era socialismo senão comunismo. É claro que a URSS não reconheceu Moçambique como um país comunista mas, o que as pessoas dizem não importa, importa o que elas fazem. A própria URSS sob Krutchev foi acusada por Mao Tse Tung de não ser comunista e num documentário sobre Mao Tse Tung, um analista chines disse que Mao não era comunista. Isso é sempre assim e essa tendência de considerar o comunismo como o supra-sumo da unidade, da verdade e da beleza como em Duns Escoto e os crimes cometidos pelos comunistas, conforme descrito no livro negro do comunismo organizado por Steffen Courtois, como um acidente de percurso não passa de uma mentira repetida que acabou neurotizando todos os idiotas úteis da esquerda internacional que ainda estão a espera do maravilhoso mundo novo huxleiano.
Nguenha confunde liberalismo com democracia. Liberalismo = economia e democracia = política. Na verdade, um não impede a existência do outro e vice-versa, ou seja, liberalismo e democracia não são eventos mutuamente exclusivos e o exemplo disso é o regime chinés como disse Deng Xiao Ping: “um país, dois regimes”. Ou seja, economicamente a China é liberal porque já na década de 20 do século passado foi provado por Ludwig Von Mises que economia comunista é um quadrado redondo, um projecto inviável porém, ninguém que tenha um Q.I acima de 12 vai afirmar que a China é uma democracia. No máximo aquilo, lá, só pode ser uma democradura.
Não obstante, hoje em dia, o termo liberal, liberalismo é bastante ambíguo. Ele pode significar a defesa da livre empresa, do livre mercado, mas quando olhamos para os EUA, o termo “liberal” refere-se aos democratas, os quais são esquerdistas, Marxistas, comunistas. Ninguém nos EUA ignora o envolvimento da Sra. Hillary Clinton com Saul Alinsky e do Sr. Obama com as ONGs do mesmo Alinsky e com Frank Marshall Davis. Eles são chamados de liberais mas eles são os campeões da previdência social. Isso mostra que, hoje em dia, um indivíduo ser ou não ser liberal não significa coisa nenhuma porque esse termo se tornou tão confuso que já não expressa nada de objectivo dentro da estrutura da realidade, tendo-se tornado um tópoi, uma segunda realidade feita só de palavras como dizia Eric Voeglin e Robert Musil como que a proclamar a Victória derradeira do desconstrucionismo.
Luis Cipriano Manuel:
Anke Graness sublinha o olhar crítico de Ngoenha na sociedade em que está inserido principalmente quando o filósofo moçambicano afirma que a geração de hoje enfrenta a difícil tarefa de construir um futuro melhor, enquanto a pobreza absoluta, corrupção, desvio de bens públicos e enriquecimento pessoal estão governando o país. Para o filósofo moçambicano, é em primeiro lugar a tarefa da filosofia de desenvolver ideias para o futuro. O futuro é para ele um projecto aberto, participativo, um espaço de liberdade, algo que deve ser descoberto e conquistado por nós.
COMENTÁRIOS de | Xadreque Sousa:
É totalmente falso que a tarefa da filosofia seja a de desenvolver ideias para o futuro. Nguenha confunde filosofia com ideologia. Diferentemente das ciências naturais que são particulares, compartimentadas, a filosofia é a ciência do universal, o que é contraditório com a ideia mesma de um futuro. Daí porquê um filósofo digno desse título nunca foi um homem do seu tempo mas um homem supratemporal como disse Cristo: “os céus e a terra passarão mas as minhas palavras nunca passarão”. É por isso que suas ideias são clássicas e são tão actuais hoje quanto em qualquer outra Era. Por sua vez, uma ideologia, como a definiu Marx, é um “vestido de ideias” para encobrir um projecto de poder. E a ideia de futuro, um futuro melhor, é uma ideia messiânica que, por via das seitas gnósticas, se transmutou em ideologia político-totalitária que arroga-se ao papel crístico ou messiânico de implantar o paraíso na terra por meio da revolução, ou seja, por meio da concentração ilimitada de poder nas mãos da elite revolucionária que são, por seu turno, os sacerdotes dessa nova religião, uma pseudo-religião de revolta contra Deus e contra o homem livre, arrogando-se a mesma autoridade do clero católico medieval.
Luis Cipriano Manuel:
No paradigma libertário, Ngoenha introduz o conceito de libertarianismo, inerente à filosofia euro-americana. Segundo Graness, libertarianismo é uma tradição filosófica com uma abordagem normativa de olhar como a liberdade e os direitos individuais pode ser maximizada. Libertarianismo defende autonomia e liberdade da liberdade de eleição política e a primazia do julgamento individual é o seu objectivo principal.
Esse conceito euro-americano é diferente do conceito do paradigma libertário de Ngoenha, segundo o qual “libertário” se refere à experiência africana específica da escravatura e do colonialismo/neo-colonialismo, que foi o guincho caracterizado principalmente pela falta de liberdade. Assim, o pensamento africano é marcado por uma busca desesperada da liberdade, democracia e redistribuição social justa.
COMENTÁRIOS de | Xadreque Sousa:
Esse tal inprint do pensamento africano de liberdade, democracia e redistribuição social justa não é nem filosófico e muito menos africano na sua origem. Isso foi importado das europas que já defendiam esse pensamento muito antes do começo da colonização da África em 1884/5 com a conferência de Berlim. Se calhar, o marco mais antigo desse pensamento se dá com a criação da maçonaria com Jacques de Molley quando eles inventaram o lema: “liberté, fraternité e egalité” que mais tarde foi adoptado pelos jacobinos quando da revolução francesa de 1789 que, no final das contas, foi uma revolução maçónica.
Luis Cipriano Manuel:
O filósofo italiano Marco Massoni, actualmente diretor administrativo da fundação do Oriente Médio e Africa (MEA) em Bruxelas afirma que os filósofos afro-lusófonos influenciaram profundamente a assim - chamada Escola de Roma, e vice-versa.
Segundo Marco Massoni, a Escola de Roma compreende aqueles estudiosos que desde o início da década de 1990 têm introduzido a filosofia africana na Itália. Marco Massoni afirma que a Escola de Roma foi profundamente influenciada por uma série de autores, a partir da obra-prima de Eboussi-Boulaga, La crise du Muntu. Authenticité africaine et philosophie, Présence Africaine (1977).
Na análise de Marco Massoni, Ngoenha deseja ser um filósofo do presente, mas completamente projectado para o futuro. Um futuro que pode ser pensado de três maneiras: profecia, utopia e futurologia. De fato, acrescenta Marco Massoni, como um intelectual, o filósofo africano não pode deixar de estar envolvido em seu próprio tempo, a fim de gerir os problemas de seu próprio país. Estes problemas domésticos são uma grande oportunidade para entender o primado do futuro e colocá-lo para uma boa utilização, a segmentação desejada, bem como os resultados necessários. História e historicidade são os condutores correctos para incitar às novas gerações para lidar com escolhas finais com confiança onde os resultados serão testemunhas do valor das opções perseguidas.
COMENTÁRIOS de | Xadreque Sousa:
Um filósofo do presente é um escritor e não um filósofo de verdade, alguém que tem uma filosofia, ou seja, alguém que busca a unidade do saber na unidade da consciência e vice-versa como disse o filósofo Olavo de Carvalho. Uma leitura de Saul Bellow ajuda a esclarecer isso quando ele fala da diferença entre um intelectual e um escritor. É claro que ele não fala de filósofo mas, ainda assim, suas observações são úteis para o que estamos a discutir aqui. Ele diz que um escritor é aquele que exprime suas impressões autênticas. Depreende-se daqui que um escritor é um homem do seu tempo e é por isso diferentemente de um poeta, o contacto com sua sociedade de origem é crucial mas daí até ele ser um filósofo há muito trabalho a ser feito até que esse escritor adquira uma mente ordenadora que irá transmutá-lo em filósofo. Um indivíduo que se encaixa perfeitamente nisso é o autor da “rebelion de las massas”, o Jose Ortega y Gasset. Ele não foi um grande filósofo e há quem diga mesmo que ele nem se quer foi um filósofo. Ortega foi um homem do seu tempo e nunca teve a pretensão de ser outra coisa. Se podemos duvidar da sua obra filosófica, o mesmo não se pode dizer da sua habilidade de escritor e “todo mundo” há-de convir que, Ortega y Gasset é, de longe, o maior prosador da língua espanhola. Finalmente, Um filósofo do passado é um historiador, e não um filósofo de verdade, como um Giovani Reale, Eric Weil, etc. Um filósofo do futuro é um ideólogo como Marx, Lenine, toda Escola de Frankfurt de trás pra diante e vice-versa e não um filósofo no mesmo grau em que se aplica esse termo a um Sócrates, Platão e Aristóteles, os pais fundadores da filosofia.

Luis Cipriano Manuel:
Marco Massoni sentenceia que a coragem utópica do futuro idealizado por Ngoenha é o verdadeiro poder por trás do compromisso e acção. O desafio é particularmente urgente para os países vitoriosos (africanos), uma vez tendo chegado tarde à independência sob o domínio português, marcado por décadas de guerras sangrentas e actualmente penalizados tragicamente pelo endividamento.
Entre vários aspectos, os escritos de Ngoenha influenciaram muito a Escola Romana ao denunciar a ideologia divisionista do Ocidente sobre a personalidade africana em três aspectos: desenraizamento da identidade africana; tortura e isolamento do homem africano e transformar o homem africano em um ser inseguro e dependente.
COMENTÁRIOS de | Xadreque Sousa:
Isso é desinformação da mais rasteira. O desenraizamento da identidade africana foi feito pelos próprios africanos depois da proclamação de suas independências em todos os países não-alinhados, porque estavam alinhados com a URSS, por meio de uma revolução cultural que consistiu na ocupação de espaço na midia, escolas, etc., e perseguição e matança dos antigos líderes tradicionais, condenação pública de hábitos e costumes nativos sob o argumento de obscurantismo; fechamento de igrejas; prisão, tortura e matança de sacerdotes; tudo isso em nome de um mundo novo, de uma sociedade nova, de um homem novo que, na verdade, é um perfeito idiota que raciocina por meio de slogans e coloca o partido, o novo príncipe de A.Gramsci, acima do próprio Deus. Quem não sabe disso? O que o professor Nguenha diz é uma violação flagrante do oitavo mandamento para quem se diz católico.
Luis Cipriano Manuel:
Actualmente, os académicos africanos, livres da dominação directa dos países europeus, precisam de uma cooperação intersubjectiva (como diz José Paulino Castiano) com outros pensadores especialistas – e não com aqueles que vão para África apenas em busca de oportunidade de emprego – para criarem debates francos que levem à evolução da humanidade sem exclusão. É preciso fazer escolhas mais responsáveis hoje num processo de edificação de uma nova fundação para alcançar uma independência verdadeiramente livre do domínio estrangeiro.
COMENTÁRIOS de | Xadreque Sousa:
E depois dizem que são os europeus que destruíram os fundamentos da nossa identidade africana. Ora, o que é “um processo de edificação de uma nova fundação”? Como o professor Castiano pretende edificar uma nova fundação sem destruir a antiga fundação, a fundação que já lá está? Só se for por um puro acto de mágica. Quer dizer, é a mesma coisa sempre e sempre, ou seja, o mesmo slogan de “a luta continua”, a ideia é destruir, destruir e destruir até a total exaustão, na esteira de Proudhon de uma “revolução eterna” que, quanto a mim, é eterna apenas metaforicamente porque ela vai acabar quando a histórica chegar ao seu épico fim, mas não o falso fim da história apregoado por Franz Fukuyama, mas o fim da história encarado como unidade ou fusão transcendental do plano temporal com o plano da eternidade.

ESCRITO POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com

Ps: Encontre todo o artigo de Luís Cipriano [aqui]

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