quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Teístas, Deístas, Ateus, Agnósticos e Gnósticos

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O teísta diz: “Deus não somente existe mas também é uma pessoa”. O deísta diz: “Deus existe mas não é uma pessoa mas sim uma força impessoal da natureza. O agnóstico diz: “não é possível saber se Deus existe ou se não existe”. O gnóstico diz: “Deus existe mas ele é mau”.


Os cristãos têm uma visão teísta de Deus. Importa, portanto, distinguir o teísmo do ateísmo, do deísmo e do agnosticismo.

Os teístas crêem num Deus pessoal que fez o cosmos e ao qual eles podem dirigir as suas orações com uma fé firme de que Ele os ouve e os responde. Essa é a crença que vemos no Cristianismo e em todas as religiões superiores. Portanto, para os cristãos Deus é uma pessoa, aliás, três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, numa só Divindade.

Meditando bastante sobre esse tema acabei descobrindo que muitos que se opõe a doutrina da trindade fazem-no apenasmente por uma confusão de termos. Eles não entendem a diferença entre pessoa e ser. Eles julgam que estão a falar da mesma realidade. Ora, pessoa vem de persona e quer dizer máscara, remontando a sua origem as artes cénicas. Portanto, um mesmo ser pode representar no teatro da vida uma ou mais personagens, uma ou mais personas. A palavra personagem vem de persona, pessoa, que quer dizer máscara como já fizemos questão de nos referir há pouco tempo.

Como Pai, Deus é um personagem. Como Filho Êle é um outro personagem e como o Espírito Santo Êle é um outro personagem. São três personagens mas um mesmo actor que as representa. Na escolástica, o Pai era símbolo da Vontade Divina. O Filho simbolizava a Razão Divina, o Logos. O Espírito Santo simbolizava o amor. Porém, é o mesmo actor, o mesmo ser.

Na ontologia conforme já expusemos em outros artigos, a última divisão do ser consiste em SER:

1)  A semetipsum et ab eterno

2)  Nec a semetipsum nec ab eterno

3)  Ab eterno sed non a semetipsum (Ab alius).

Deus tomado ontologicamente, ou seja, como ser enquanto ser, Êle é um ser a semetipsum et ab eterno.  Diferentemente da pessoa que é uma máscara e tem um começo e tem um fim porque não há um personagem eterno. Por exemplo, Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Porém, como diz o Rev. Branham, não há um filho eterno. Um filho tem princípio e tem fim. O mesmo acontece com o pai. Porém, a paternidade já é diferente. A paternidade é eterna. A maternidade é eterna, não, porém, a mãe. A filialidade é eterna, não, porém, o filho.

O ser é imutável porque ele não tem extensão. Ele não é corpóreo. Ou seja, ele não se dá cronotopicamente. Isso, contudo, não significa que estejamos negando os factores predisponentes do ser, ou seja, os factores externos que predispõe o ser a ser o que é. Porém, esses factores predisponentes são apenas acidentais. Emergencialmente, ser é o que é por causa dos factores tectónicos, intrínsecos.

Conforme vimos em outras meditações, os factores emergentes ou tectónicos ou ainda intrínsecos do ser tomado no contexto beta são a forma e a matéria. A forma vai dar-nos o factor eidético e a matéria vai dar-nos o factor hilético. Então, os seres do contexto beta são entes que hiletica e eideticamente pertencem ao contexto beta.

Deus não pode ser hiletica e eideticamente concebido porque Êle não é um ente que pertence ao contexto beta. Deus não é composto de forma e matéria. Aliás, Deus nem é mesmo composto. Deus é simples de modo que em Deus não há dualidade, não há oposição. Deus é unidade de modo que podemos concluir que o ser tomado enquanto ser e não enquanto ente é unidade.

Suarez diz que ser é ser apto a existir. Com isso queremos dizer que embora Deus não seja composto de forma e matéria isso não é uma prova contra a sua existência porque se ser é ser apto a existir, então Deus existe, ou então, Êle não seria ser.

O termo existir vem de ex mais sistere. Ex=fora, sistere=situar-se. Daqui resulta que existir é situar-se fora de si, ou seja, fora das suas causas. O si para Guenón é personalidade e para Zubiri é personeidade. Ora, qual é a causa de Deus? A causa tem sido concebida sempre como alguma coisa externa, porém, Deus é causa sui. Ele não tem uma causa externa. Deus como Pai é causa de Deus como Filho mas esse Filho não é um outro que o Pai mas a afirmação do mesmo Deus que é Pai. Se Deus tivesse uma causa externa Êle não seria Deus mas sim a causa que a Êle deu o ser.

Aristóteles classifica as causas em quatro, a saber:

1) Causa eficiente;

2) Causa material;

3) Causa formal e;

4) Causa final.

A causa material e a causa formal são causas tectónicas ou intrínsecas que estão na emergência dos entes, ou seja dos seres tomados em sendo. Elas compõe a causa tectónica e são respectivamente causas hilética e eidética. Enquanto as causas formal e material são as causas intrínsecas do ente, as causas eficiente e final são suas causas externas, predisponentes.

Examinamos assim a visão teísta de Deus conforme ela aparece nas religiões superiores e agora vamos examinar os conceitos de ateísmo.

Ora, o ateísmo de a privativo + teísmo é uma negação de Deus. O ateísta nega a ideia de Deus. Ele nega a existência de Deus o que levanta uma questão muito grande no campo da teologia porque é a teologia que cabe tratar dessa questão. Infelizmente, há muitos que hipnotizados pelo naturalismo, pelo cientismo ou cientificismo querem reduzir todas as questões teológicas apenasmente a meras questões biológicas, psicológicas, ou físico-químicas como energicamente empreenderam Victor Stenger, Richard Dawkins, Cristoffen Hicthens, Daniel Dennet, etc.

Imbuído de evolucionismo, Dawkins nega a existência de Deus. Para ele, a religião é um erro da evolução e não um produto da revelação. Isso só revela uma confusão mental muito grande. É claro que nem todas as religiões são frutos da revelação, senão teríamos que admitir que todas as religiões são verdadeiras, o que não procede porque sabemos existirem falsas religiões apoiadas em falsas revelações como o Mormonismo, etc.

Então, temos uma religião revelada, que vamos chamar de religião sagrada arraigada nos valores supremos do sagrado e do profano. Temos também a religião natural que é aquele religar com o ser supremo a que o homem procura chegar penetrando o transcendental com a luz natural da sua razão.

Há muitos homens que por não pertencerem ao cristianismo, ao islamismo, ao judaísmo, ao budismo, dizem que não têm religião, que são homens sem religião. Entretanto, quando observamos a vida desses homens vemos que eles, com a luz natural da sua razão, procuram sempre alcançar aquilo que os transcendem como homens. Ora, inconscientemente esses homens são religiosos e não o sabem. Eles praticam uma religião natural e não uma religião sagrada ou revelada mas eles têm uma religião.

Os argumentos contra a existência de Deus são muitos. Assim também, abundantes são os argumentos a favor da existência de Deus vindo principalmente dos escolásticos com destaque para Sto. Anselmo, o pai da escolástica (1) e Sto. Tomás de Aquino.

Argumentar, quer a favor, quer contra a existência de Deus, não prova a sua existência ou inexistência. Da prova nós temos perícia, peritos que é aquele que sabe por meio de provas. Que muitas são as provas apresentadas quer a favor, quer contra a existência de Deus disso não temos dúvidas.

Tentar afirmar ou negar a existência de Deus com recurso ao método das ciências naturais que se assenta na observação e experimentação é entrar de noite num quarto escuro a procura de um gato preto.

Já vimos acima que a disciplina do saber culto que estuda o tema de Deus é a teologia. O que é teologia? É metafísica. Metafísica especial. Então, a teologia vai debruçar-se sobre a existência de Deus, as provas a favor e as provas contra. A metafísica, por sua vez, é um campo de estudo que é abarcado e subordinado pela filosofia. Então, teologia é filosofia. Já diziam os escolásticos que a filosofia é serva da teologia. Isso não nega o que dissemos. É preciso perceber em que sentido é que ela é serva e em que sentido ela é senhora da teologia.

Na idade média, a filosofia foi usada para provar a doutrina cristã, portanto, ela estava ao serviço da teologia. Mas a filosofia transcende o estudo da teologia. Então, tomada imanentemente, a teologia é servida pela filosofia mas transcendentalmente ela é apenas um dos capítulos da filosofia.

Em filosofia há apenas uma única autoridade. Ela não é a observação nem a experimentação como procedem as ciências naturais. De modo nenhum. A única autoridade na filosofia é a demonstração. Não importa quantos autores de obras que se pretendem filosóficas você possa conhecer de cor e salteado. Isso não significa que a sua tese decorre necessariamente. Você tem que demonstrar.

A única autoridade em filosofia é a demonstração e isso fica claro naquela polémica entre Ésquiles e Demóstenes. Em que Demóstenes repete os argumentos propostos por Ésquiles e ainda acrescenta mais argumentos e depois os refuta um por um de acordo com a verdade dos factos e com a verdade geralmente aceite pelos gregos.

Quando se diz que a filosofia começou na Grécia não significa que nos outros povos já não houvesse o afanar ao saber. De modo nenhum. Há filosofia na Índia, China e em outros povos (2). O que distingue, entretanto, a filosofia grega da dos outros povos, é que os gregos procuravam demonstrar a sua tese enquanto a filosofia dos outros povos é, em geral, apenasmente expositiva. Assim, elas apelam para o pathos dos ouvintes, pathos tomado aqui como o simpatético. Então, os que simpatizavam com aquelas ideias aderiam e os que não simpatizavam se opunham.

É por isso que dissemos que citar muitos autores não é prova de que você tem espírito filosófico. Isso só prova que você é um erudito. O filósofo demonstra a sua tese com o mesmo rigor aplicado a geometria (3). O mesmo se da com a ciência ou na ciência. Não adianta citar tais e quais cientistas se a tese que você está defendendo é desmentida pela observação e pela experimentação. O uso abusivo do argumentum autoritactis no mundo moderno é uma das maiores fraudes que o animal racional jamais inventou.

Quando Aristóteles, antes de expor as suas ideias, expunha as dos filósofos que o antecediam, ele não fazia isso com o intuito de se escorar no argumento de autoridade em preterição da demonstração. De modo nenhum. Porém, hoje, nós vemos isso. Quer dizer, basta alguém dizer: Newton disse tal coisa, ou Einstein disse tal e qual coisa, que é suficiente para todo mundo ficar convencido e aceitar aquilo sem nenhuma discussão como quem aceita um dogma de religião. Ora, isso não é filosofia e muito menos ciência. Não importa se Newton disse tal ou qual coisa, o que importa é a realidade. Vamos observar e experimentar a realidade. O resto é propaganda barata. Não importa se Kant disse tal ou qual coisa. A questão é: demonstre.

Uma dos argumentos contra a existência de Deus é que o milagre viola as leis da natureza e portanto é impossível e se não há milagre não há Deus. Ora, milagre nunca quis dizer isso. A palavra milagre vem de miraculum que significa algo digno de ser olhado, de ser admirado, mirar ad, ou seja, olhar para…, portanto, nunca significou uma violação das leis da natureza mas apenas algo que capta a nossa atenção (ad tensão) pelo simples facto de não termos uma teoria que sirva de fio de Ariadne ou fio condutor que ofereça uma explicação coerente daquele evento.

Por que é que nós admiramos o nascimento virginal de Cristo e não admiramos a nossa imagem na retina de uma câmera fotográfica? Porque não temos uma explicação científica para o nascimento de Cristo mas temos uma explicação científica da fotografia. Assim também não temos uma explicação científica para a ressurreição de Cristo, para as curas milagrosas que têm acontecido na igreja nesses 2017 anos e outros eventos como as profecias que se realizam ao pé da letra, etc. A prova de que não temos explicação científica para isso é que não podemos replicar esses eventos no laboratório mas uma fotografia pode.

Agora, o céptico porque não consegue admitir essas coisas diz que elas são fraudes como disse aquele homem de quem falou o casal Charles e Frances Hunter no livro “Curai os enfermos e ressuscitai os mortos”, que disse que mesmo que Deus fizesse um milagre na vida dele ele não iria acreditar que Deus existe. Quer dizer, é o tipo humano que Mário Ferreira dos Santos qualificou como o homem do entardecer ou o homem crepuscular.

O milagre não viola as leis da natureza porque o milagre não é imanente a natureza mas sim transcendente a natureza. Se fosse imanente, o milagre teria que se subordinar as leis da natureza como o motor de explosão se subordina as leis da natureza e é por isso que podemos explicar o funcionamento do motor de explosão. Agora, como explicar aquele caso do Padre Pio de Pietrechilna de uma criança que enxergava sem pupilas? Como explicar que Branham, antes de Hitler tomar o poder na Alemanha profetizou que um austríaco chamado Adolfo Hitler tomaria o poder na Alemanha e levaria o mundo para uma segunda guerra mundial? Não há explicação científica para isso. Então, como as pessoas não podem explicar esses eventos maravilhosos, elas os desprezam e imaginam que varrendo a poeira para debaixo do tapete resolveram a questão e depois se admiram que sua casa cheire tão mal.

Ora, o que é uma explicação? É uma tentativa de encontrar um nexo causal. Só que acontece que a ciência trabalha apenas com as causas hiléticas e eidéticas, ou seja, com as causas materiais e formais. Foi isso que Galileu queria dizer quando escreveu que a única maneira de se conseguir um conhecimento objectivo da realidade era preciso considerar apenas a forma, o peso e o tamanho dos entes reais, enfim, dos corpos.

Ora, acontece que o milagre não tem uma causa formal e material, senão poderíamos explicá-lo facilmente usando os nossos métodos de medição. O milagre tem uma causa eficiente que é o próprio Deus e uma causa final emergente que é a glória do próprio Deus e uma causa final predisponente que é a salvação do pecador. A causa forma e a causa material são apenas predisponentes do milagre e não sua causa emergente.

O milagre, então, não viola as leis da natureza. O milagre abarca e subordina as leis da natureza, transcendendo-as infinitamente porque a natureza é apenas o campo das possibilidades finitas enquanto o milagre é o campo das possibilidades infinitas. Portanto, é ridículo imaginar que o ilimitado pode ser limitado pelo limitado, que o infinito pode ser determinado ontologicamente pelo finito.

Podíamos fazer referência a outros argumentos contra a existência de Deus como o argumento de que Deus não existe porque nunca ninguém o viu. O outro argumento diz que Deus não existe porque se Êle existisse não haveria mal no mundo, etc. Este e outros argumentos já foram por nós amplamente refutados em outros artigos com argumentos argutos que não podem ser impugnados.

De modo que passemos agora a examinar os argumentos a favor da existência de Deus. Conforme o que foi dito a pouco, os principais argumentos são os de Sto. Anselmo e os de Sto. Tomás.

O argumento de Sto. Anselmo é conhecido como o argumento ontológico de Sto. Anselmo. Esse argumento é ontológico porque ele procura encontrar a prova da existência de Deus no próprio ser de Deus e não na nossa mente o que demandaria, por conseguinte, um argumento lógico e não um argumento ontológico. Se procurássemos encontrar a prova da existência de Deus na nossa psique, então teríamos um argumento psicológico, o que significa que Deus seria um conteúdo do nosso pensamento e assim por diante.

O argumento ontológico de Sto. Anselmo consiste na incapacidade do homem pensar em algo mais perfeito do que Deus, o que prova que Deus existe. Muitos ateístas, ridicularizando esse argumento de sto. Anselmo dizem que o facto de pensarmos numa montanha de ouro não prova que a montanha de ouro existe. Ora, sabemos que a montanha é uma realidade e que o ouro também é uma realidade e sabemos também com todo rigor lógico que da realidade se pode postular a possibilidade, portanto, da realidade da montanha e da realidade do ouro pode-se postular a possibilidade de uma montanha de ouro. Não há aqui nenhuma contradição lógica intrínseca. De modo que esse argumento dos ateus não procede (3).

O argumento de Sto. Tomás é mais vasto e vamos citar alguns, aqueles de que nos recordamos e assim temos os seguintes:

1)  A prova do movimento: com esse argumento Sto. Tomás demonstra que Deus existe como o primo moto imobile de Aristóteles.

2)  Prova da causa eficiente: com esse argumento ele prova que Deus é a causa de todo o ser.

Esses são apenas alguns argumentos que usamos para provar a existência de Deus no Aquinatense. A prova do movimento não é uma prova física como se Deus fosse um motor físico. Isso é apenas metafórico. O que Aristóteles faz aqui com seu primo moto imobile é uma filosofia da física. O que ele quer, na verdade, é demonstrar Deus como o fundamento último da realidade.

Louis Lavelle diz que o mundo sensível, que é aquilo a que chamamos de realidade, se funda sobre o eu, o qual reside na memória que é a “retenção do tempo” (O.d.Carvalho) e o eu por sua vez se funda sobre o ser. Portanto, o fundamento último da realidade não é o eu mas o ser e o ser em sua plenitude é a semetipsu et ab eterno e Êsse é o Deus das religiões, das religiões superiores.

A prova da causa eficiente é metafísica. Na verdade, todas as provas que Tomás de Aquino oferece são metafísicas. Portanto, se prova a Deus metafisicamente. Enquanto, Sto. Anselmo apela para o nosso pensar em algo mais perfeito que Deus. Ou seja, ele apela para uma prova lógica. O pensar tem a ver com lógica. Ele é o objecto da lógica assim como o pensamento é o objecto da psicologia.

Pensar em algo mais perfeito do que Deus é impossível. Há aqui uma contradição formal intrínseca.

Quando S.Paulo, na sua Epístola aos romanos diz que é possível conhecer a Deus pela natureza e natureza é phisis, física, não quer dizer que Deus é a natureza e cair no panteísmo de Spinoza. De modo nenhum. Ele quer apenas, como Aristóteles, dizer que o conhecimento começa pelos sentidos. Não apenas o conhecimento físico mas também o conhecimento metafísico como o conhecimento de Deus. Então, como é que a partir dos dados dos sentidos é possível chegar a ideia de Deus? Quer para Aristóteles, quer para os escolásticos, você faz isso por meio da abstracção de modo que a abstracção tal como Aristóteles estudou e que depois foi aprofundada pelos escolásticos é o fundamento da metafísica no seu sentido ascensional porque no seu sentido descensional você acaba desembocando no platonismo que é também uma via de igual valor, quer dizer, nós chegamos a ideia de Deus quer pela abstracção de Aristóteles, quer pela via dos conceitos tal como propugnado por Platão, quer pela via da iluminação divina de Agostinho.

Posto isto, passemos a examinar o deísmo.

Não raras vezes suscita-se confusão entre deísmo e teísmo. Mas não há razões para que tal ocorra. A proximidade na escrita e na fonética, ou seja, a paronimidade entre essas duas palavras não deve ser motivo de confusão. Já explicamos que teísmo é a afirmação de um Deus pessoal conforme patente nas religiões superiores. Diferentemente disso, o deísmo é a negação, não de Deus, mas de um Deus pessoal. De modo que o deísta não é ateu. O ateu nega categoricamente a existência de qualquer divindade. O deísmo admite a existência de Deus, só que nega que Êle seja uma pessoa.

Para o deísta, Deus é uma força impessoal da natureza. Alguns acusam Leibnitz de ter sido um deísta. Porém, os que isto dizem revelam claramente que nunca leram uma linha sequer de Leibnitz.

A concepção deísta de Deus, ou seja, de um deus impessoal, é a mesma que encontramos no movimento Nova Era de Alice Bailey que prega um falso misticismo conforme diz René Guenón. Se Deus é uma força da natureza, então caímos no panteísmo e não nos apercebemos.

Quando Deus aparece a Moisés no alto do Monte Sinai ele fala com Moisés. Quando Moisés pergunta: qual é o seu nome? Ele diz: Eu Sou quem Eu Sou. EU é um pronome pessoal. Um búfalo não pode dizer a palavra EU. O papagaio pode até imitar isso mas ele não tem consciência do que estará dizendo. Nenhuma força da natureza, seja ela um terremoto, um trovão, etc., pode dizer a palavra EU.

Toda religião tem um aspecto esotérico e um aspecto exotérico. O aspecto esotérico é para os iniciados. O aspecto exotérico é para os catecúmenos, é para as massas, os não iniciados. O aspecto esotérico do islam é o sufismo que é praticado nas tariqas. Tariqa quer dizer caminho. Então, a tariqa é um caminho esotérico para a haqiqa que é a verdade através da qual se dá a integração da alma individual no divino, no ser supremo. Nas tariqas se praticam ritos que o mussulmano comum não pratica. Isso não é uma heresia. Isso vem desde Maomé. São ritos voluntários e não obrigatórios.

Há uma discussão muito grande entre René Guenón e seu discípulo Frithjof Schuon acerca do esoterismo cristão. Guenón defendia a existência de um esoterismo cristão, o que foi negado por Schuon. Isso levou Guenón a cortar as relações com Schuon. Porém, eu tenho cá pra mim que Guenón estava montado na razão.

Quando Cristo pregava e ensinava nos seus dias, o evangelho diz que Ele o fazia por parábolas. Parábola quer dizer comparação. Porém, o evangelho diz que Ele falava claramente aos seus discípulos. Qual a razão? Dizia Ele: “a vós vos é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus mas aos outros tudo lhes será dito por parábolas para que vendo não percebam, ouvindo não entendam”. Porém, o próprio Cristo quando interrogado por Caifás disse: “Eu nada disse em oculto”. Só com isso já se pode depreender que o cristianismo é um jogo de luz e trevas. Trevas para os que estão fora do Reino e Luz para os que estão dentro. O que é isso senão um aspecto exotérico e outro esotérico?

O esoterismo cristão tem aqui que ser bem entendido e não confundido como vulgarmente o é com o ocultismo, com práticas de rituais ocultos, satânicos, etc. Não devemos cair no erro de pensar que o aspecto esotérico do cristianismo é a maçonaria, a cabala judaíca, etc. O esoterismo cristão se prende a busca de caminhos interiores e não exteriores. Sendo Cristo, o entendimento divino, esse caminho interior é o caminho do intelecto. É por isso que algumas práticas ascépticas que entraram no cristianismo na idade média e mesmo depois não tem nada a ver com cristianismo porque elas servem para embotar o entendimento do homem ao invés de iluminá-lo.

Tendo tratado do deísmo podemos agora tratar do agnosticismo. A palavra agnóstico de vem de a-privativo mais gnosis que quer dizer conhecimento. Portanto, o agnóstico nega que podemos ter conhecimento de Deus. Ele nega que podemos apreender de Deus o que é apreensível porque para ele em Deus nada há que seja apreensível. Sendo que não podemos ter conhecimento de Deus, o agnóstico não sabe se Deus existe ou se Deus não existe. Ele não é um teísta nem um deísta e ele também não é um ateu. Ele simplesmente não sabe se Deus existe ou se não existe e nega a possibilidade do homem chegar a conhecer a Deus seja por quaisquer vias que for, seja por meio da conceptualização pitagórico-platónica, seja por meio da abstracção aristotélica e muito menos por meio da iluminação divina agostiniana. Portanto, um agnóstico é um néscio.

Não devemos confundir o agnóstico com o gnóstico. Enquanto o agnóstico nega que podemos conhecer a Deus, o gnóstico apregoa a salvação pelo conhecimento.

O estudo do gnosticismo mereceu uma grande atenção no século XX por parte não apenas de alguns teólogos como o famoso teólogo Hans Hurs Von Balthazar mas também por parte de estudiosos da política como Eric Voeglin, Thomas Cohn, James Billington só para citar as mais poderosas mentes. Esses homens descobriram um vínculo do comunismo com as seitas gnósticas. Não apenas o comunismo mas todos os movimentos de massa que podemos chamar de revolucionários, incluindo o movimento de Thomas Munzer. De modo que a mentalidade revolucionária é uma mentalidade gnóstica.

O gnóstico é um crente. Ele crê em Deus, só que ele imagina que Deus é mau. Um demiurgo. Então, para o gnóstico, Deus é mau, o universo é hostil e a humanidade é inviável. Tomado por esse terror do cosmos, o gnóstico imagina que só há uma única via de salvação para ele. Que é ele se transformar em deus. Então, para isso ele tem que se evadir do cosmos. Nós encontramos isso nos escritos de juventude de Marx quando ele diz que vai destronar Deus e colocar seu trono bem acima do trono de Deus (cf. Marx & Satan, Richard Wumbrand). Em Lenine, Bakunin, etc., é a mesma coisa. Esses camaradas não eram ateus, eles eram gnósticos.

No nazismo também encontramos essa ligação com o gnosticismo. Aliás, não podemos nos esquecer que o nazismo também é um movimento de massa, também é revolucionário. As pessoas dizem que o nazismo era de direita, porém é preciso ser muito pueril para acreditar nisso. Nazismo quer dizer Nacional Socialismo e COMINTER quer dizer internacional comunista. Quer dizer, o socialismo nacional é nazismo. O socialismo internacional é comunismo. Qualquer historiador digno desse nome e que faz história nos moldes do bom e velho Leopold Von Ranke, que dizia que o papel do historiador é registar os factos tal como eles se deram, sabe disso.

Quem é que não sabe houve que houve um acordo firmado pela URSS e os nazistas, um pacto que ficou conhecido por pacto Ribentrop-Molotov?

 Portanto, o gnosticismo como qualquer outra ideologia é, como dizia E.Voeglin, uma revolta contra Deus e contra o homem. Hoje em dia, ao se colocar o meio ambiente, o homossexualismo, o abortismo, o sex-lib, a teoria do género, os extra-terrestre acima da lei de Deus e acima do próprio homem, desembocamos num novo gnosticismo.

Cada um desses movimentos é um movimento revolucionário porque a implementação do seu objecto requer a total e completa concentração de poder nas mãos das elites desses movimentos. Isso se refere não apenas ao quarto poder de Burke, a mídia, mas também o poder militar, o poder económico e o poder religioso. Veja que toda a grande mídia faz eco a reivindicação de cada um desses movimentos. A teologia de libertação que é uma criação da KGB faz eco aos interesses de cada um desses movimentos, tendo o Papa Francisco a cabeça. As fundações bilionárias, a elite bancária ocidental, faz apologia de cada um desses movimentos tendo George Soros a cabeça. Daqui a pouco assistiremos os capacetes azuis dar ONU invadindo países africanos e asiáticos porque esses não cedem as pressões dos abortistas, gaysistas, aquecimentistas, etc.

Notas:

(1)          Alguns estudiosos, como Olavo de Carvalho, atribuem a paternidade da escolástica a Bóecio, autor da “Consolação da filosofia”.

(2)          A filosofia dos hindus, chineses, enfim, dos povos orientais é aquilo a que se chama filosofia perene ou tradicionalista cujos maiores expoentes foram René Guenón, Martin Lings, Frithjof Schuon, Ananda, Coomaraswamy, Rama Coomaraswamy, Titus Buckardt. Essa filosofia é fundamentalmente metafísica baseada no simbolismo oriental.

(3)          Aquilo que é objecto de nosso pensamento distingue-se do próprio pensamento. Assim, ou ele está apenas no nosso pensamento ou ele está apenas na realidade ou nos dois. Se está apenas no nosso pensamento, logo é apenas uma ficção. Se está apenas na realidade, logo, ele n­ão pode ser pensado porque não temos esquema eidético-noético para acomodá-lo. Se está nos dois, então, podemos pensá-lo sempre cum fundamento in re.

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