domingo, 8 de janeiro de 2017

O Trivium e o quadrivium

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A totalidade dessas artes do espírito e da matéria, a saber: o trivium e o quadrivium, nos leva a evolução ou mutação do ser tomado comutavelmente, no contexto das leis eternas do pitagorismo.

As artes liberais foram descobertas na idade média europeia e elas são compostas por 7 artes divididas em dois agrupamentos, a saber: o trivium e o quadrivium, sobre o que passo a discorrer a seguir sob a perspectiva das leis eternas dos pitagóricos.

A palavra trivium significa três vias ou três caminhos e lida com as três artes do espírito, a saber: gramática, retórica e lógica.

A gramática é a arte de escrever correctamente. A retórica é a arte de falar correctamente e, a lógica é a arte de pensar correctamente.

O termo correctamente, aqui, quer dizer sem erros, o que significa que estamos a tratar do trivium, das artes do espírito, no plano do axio-antropológico, que é o plano da praticidade humana e, não no plano do meramente especulativo, o qual procura chegar a valores mais sólidos, não mais do certo e do errado mas, sim, do verdadeiro e do falso.

O quadrivium, por sua vez, significa quatro vias ou quatro caminhos e se refere as quatro artes da matéria, nomeadamente: aritmética, música, geometria e astronomia.

A aritmética está ligada a música e a geometria está ligada a astronomia. Na verdade, a música é simplesmente a aplicação da aritmética e a astronomia é, por sua vez, a geometria aplicada.

Hodiernamente, o trivium corresponderia ao que se chama letras e o quadrivium ao que se chama ciências, se bem que, essa distinção seja, até certo ponto, pueril como veremos mais adiante. Mas, de todo modo, o trivium representa o domínio sobre o espírito e o quadrivium representa o domínio sobre a matéria.

Vimos, logo no começo deste artigo que, a soma do trivium com o quadrivium nos dá as sete artes liberais.

No seu livro, “Pitágoras e o tema dos números”, o filósofo brasileiro, Mário Ferreira dos Santos, demonstra que os números, no contexto do pitagorismo, não são apenas símbolos quantitativos mas, também qualitativos, aliás, antes qualitativo e depois quantitativo. Na verdade, ele demonstra que os números, tomados pitagoricamente, expressam leis eternas filosoficamente teorizáveis.

Mário Ferreira dos Santos, por exemplo, diz que para os pitagóricos, o número 3 simboliza relação, o número 4 representa reciprocidade e o número 7 simboliza a mutação ou evolução.

Neste contexto, o trivium, as 3 artes do espírito, podem simbolizar que, a arte do espírito, por ser triádica, ela é sempre uma relação, uma relação entre a unidade monádica e a oposição diádica. Onde não há nenhuma relação, a arte do espírito é uma impossibilidade pura e simples porque ela se dá sempre numa relação.

As 4 artes da matéria, no contexto pitagórico das leis eternas, o quadrivium, simbolizam a reciprocidade, uma reciprocidade entre a unidade monádica e a relação triádica, ou uma reciprocidade da oposição diádica em si mesma. É claro que muito mais combinações são possíveis mas, para já, para aquilo que é o propósito deste artigo, julgo ser o exposto suficiente.

A totalidade dessas artes do espírito e da matéria, nos leva a evolução ou mutação do ser tomado comutavelmente, simbolizada pelo número 7, no contexto das leis eternas do pitagorismo. Essa evolução é a evolução da harmonia que resulta da combinação da relação com a reciprocidade. Ela, também poderia resultar da combinação da harmonia com a unidade, da forma com a oposição.

Todas as leis eternas tendem para a unidade transcendental, a qual é simbolizada pelo número 10 e, acontece que as artes liberais vão apenas até a mutação ou evolução e, não podem dar ao seu praticante, por exemplo, a ascensão, a qual é representada pelo número 9, sem a qual não se pode chegar a tão almejada unidade transcendental.

Mas isso não constitui nenhum problema ou uma deficiência das artes liberais até porque o propósito delas não é conduzir o homem a ascendência e muito menos a unidade transcendental mas apenas a evolução ou mutação. De facto, mesmo que não tenhamos o domínio completo das artes liberais, ninguém pode negar que a relação e a reciprocidade são a base da mudança do ser humano, não apenas essas leis eternas mas, também a forma e a oposição, a harmonia e a unidade, a relação em si mesma e assim por diante.

Se quisermos mudar o ser humano, eis aí uma sugestão muito útil, a saber: artes liberais. O indivíduo que seja capaz de dominar artisticamente a gramática, a retórica, a lógica, a aritmética, a música, a geometria e a astronomia, descobrir-se-á, ao cabo de algum tempo, um indivíduo mudado, evoluído, o que significa mais liberdade.

Liberdade não significa que você não está pré-determinado a nada mas que você vai conseguir, doravante, se orientar no meio da tensão entre determinismo e livre arbítrio e não pender para o determinismo puro e cair no calvinismo ou tender para o livre-arbítrio puro e cair no arianismo.

Nos programas escolares, ensinam-se algumas dessas artes liberais como a gramática, a lógica, a aritmética e a geometria mas, elas não são ensinadas como arte mas como teoria e até mesmo como mera obrigação escolar e profissional. Resultado: quando o aluno usa a gramática, a retórica e a lógica, não há aquela “expressão de impressões” de que falou Benedetto Croce, a qual é a essência mesma da arte, o que mostra que não há liberdade de espírito possível quando as pessoas usam as artes liberais de forma não artística mas, conforme teoricamente pré-determinada.

O mesmo se dá quando falamos do quadrivium, onde a liberdade da matéria também não acontece porque a aritmética, a música, a geometria e a astronomia não são exercitadas artisticamente, como arte, mas como uma obrigação escolar ou profissional.

Dessa maneira, é impossível chegar a tal mutação ou evolução a que as artes liberais se propõem desde a perspectiva pitagórica da coisa porque em se tratando de artes, isso pressupõe que o estudo do trivium e do quadrivium não estão predeterminados a nenhuma teoria científica e a nenhuma profissão ou dever escolar. Aliás, a própria expressão artes liberais chega a ser uma redundância tous court porque só existe arte liberal. A arte escrava não existe. A própria expressão arte comercial só é, na verdade, uma interface entre a arte e o seu inverso.

Para quem estiver interessado neste assunto, eu recomendo, para maior aprofundamento, a leitura do livro da irmã Miriam Joseph com o título “the trivium and the quadrivium”, o qual pode ser encontrado facilmente no Google, ou a procurar na internet o vídeo da palestra sobre o livro da irmã Miriam, a qual (palestra) foi organizada pela editora brasileira “É realizações” e que teve como prelector o saudoso José Monir Nasser.

O aproach constante do livro da irmã Miriam Joseph e da palestra do Dr. Nasser é diferente daquele que eu usei aqui pelo que será bastante interessante consultar esse material que servirá de complemento indispensável para o que eu escrevi neste artigo, para além de oferecer os fundamentos mais básicos para a compreensão das artes liberais do trivium e do quadrivium e começar a praticá-las com vista a alcançar a evolução que com ela se pode alcançar.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA| shathreksousa@gmail.com

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