sábado, 26 de novembro de 2016

Perda de valores

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O que eu quero dizer aqui é que, o que está acontecendo em Moçambique, essa perda de valores de que tanto falamos é um efeito de um processo que se iniciou em 77 com a destruição maciça da cultura.


Muito se diz, neste país, acerca da perda dos valores tradicionais por parte da nova geração. É claro que isso não é um fenômeno apenas de Moçambique, mas um fenômeno universal, podemos até dizer:  um sinal dos tempos.

Uma das causas que tem sido apresentadas para explicar essa perda de valores é o contacto com as novelas brasileiras. Bem..., isso é somente uma hipótese e não uma teoria científica, sendo assim, não pode ser aceite de ânimo leve, antes devemos fazer duas coisas: em primeiro lugar, fazer a análise da consistência lógica interna dessa hipótese e, segundo, confrontar dialeticamente essa hipótese com os dados recortados da realidade sensível.

O que se pode ver é que tem se caído numa falácia, chamada falácia de post-hoc, ou seja, o facto da degradação moral dos jovens moçambicanos ter ocorrido, aparentemente, depois da invasão cultural brasileira em Moçambique não significa que as novelas brasileiras são a causa dessa degradação moral. A questão mais importante é compreender como é que essas novelas entraram no país e estão jogando o papel que estão jogando.

Um dado importante de que nos esquecemos continuamente é que, a despeito da penetração colonial portuguesa no país, a cultura moçambicana permaneceu intacta, ou seja, o colonialismo em nenhum momento destruiu a cultura moçambicana, mesmo a expansão do cristianismo em Moçambique em nenhum momento significou a destruição da cultura moçambicana como erradamente algumas pessoas pretendem fazer crer. Porquê? Vejam, a única coisa com que o cristianismo se preocupada é a salvação da alma e não a promoção de uma revolução cultural até porque essa ideia da revolução cultural surge no século XX, portanto, cerca de um século depois da conferência de Berlim de 1884/85.

Todos sabemos que a ideologia da revolução cultura surge com Antônio Gramsci, o fundador do partido comunista italiano. Aliás, isso até nem chega a ser uma ideologia, mas sim uma estratégia pois visa a conquista do poder pelos partidos de esquerda por via da ocupação de espaço na mídia, nas universidades e assim por diante e não a ocultação de um esquema de poder. O cristianismo não erodiu a cultura de Moçambique, diferentemente do que faz o Islão. Ou seja, quando um indivíduo adere ao Islão, ele não está aderindo apenas à religião islâmica, mas também à toda cultura árabe. Por exemplo, em qualquer parte do mundo aonde você for, os muçulmanos, como disse o filósofo Olavo de Carvalho, participam mais da cultura árabe do que da sua cultura nativa, ao passo que os cristãos não porque o cristianismo não é uma cultura, é uma mensagem de salvação dirigida a alma individual.

Quando Moçambique alcançou a independência em 75, é bem verdade que já se sabia que o regime que se iria implantar no país seria um regime socialista, mas, como diz Eduardo Mondlane no seu livro “lutar por Moçambique”, não se sabia que tipo de socialismo seria implantado. Porém, em 77 tudo ficou claro, ou seja, seria um socialismo marxista-leninista que é um outro nome para comunismo. Ora, que tipo de socialismo, ou que tipo de marxismo Lenine idealizava? São dele as palavras: “temos que ensinar as nossas crianças a odiar seus pais se estes não forem comunistas”. Isso é leninismo, destruição da família e da moral.

Ora, enquanto o cristianismo estava ensinando os filhos a obedecerem a seus pais, no marxismo-leninista, elas eram ensinadas a obedecer ao estado e ao partido ao invés de obedecer a seus pais. Não digam que não é verdade porque o processo de doutrinação, de lavagem cerebral, por exemplo, ao nível dos continuadores da revolução foi monstruoso. Há aquela canção que se entoava: “nós somos continuadores da revolução moçambicana, o nosso pai é papá Samora, a nossa mãe é mamã Josina” que já estava morta e, no entanto, nós lemos em alguns escritos de Sérgio Vieira daquela época que eles estavam combatendo contra o obscurantismo e o atraso. Ora, tem algo mais obscuro, mais satânico que a invocação de mortos? O que é isso? Mentira? Hipocrisia? De modo algum! É um pensamento metonímico que de acordo com aquele grande filósofo político do século passado, o Eric Voeglin está por detrás de todo comportamento fundamentalista no sentido mais negro do termo.

O que eu quero dizer aqui é que, o que está acontecendo em Moçambique, essa perda de valores de que tanto falamos é um efeito de um processo que se iniciou em 77 com a destruição maciça da cultura, no sentido que o filósofo Olavo de Carvalho coloca isso, ou seja, “um sistema de valores em torno do qual se constrói o imaginário colectivo de um povo”. O comunismo, na sua tentativa de construir uma civilização biônica, uma cultura biônica, uma sociedade biônica, corroeu a base da civilização, da sociedade e da cultura. Portanto, quando o regime comunista caiu, viu-se o vácuo cultural enorme que ele criou, o qual acabou sendo preenchido por valores piores do que aqueles que o comunismo fez crer que deveriam ser eliminados. Então, o que temos hoje em Moçambique é um atraso cultural enorme, razão pela qual toda nossa cultura não passa de uma cultura subdesenvolvida. O que é uma cultura subdesenvolvida? É aquilo que diz o Olavo de Carvalho: “é uma cultura que vive de importação”.

Veja, o que tínhamos antes da independência e o que tivemos depois da independência em termos de produção literária de alta qualidade? O país nunca mais conseguiu produzir um poeta da dimensão de um Rui de Noronha, de um José Craveirinha, de uma Noémia de Sousa e assim por diante. Você vê, por exemplo o que se produziu naquilo que eu chamo de a década perdida do partido FRELIMO que vai de 77 a 87, em termos de obra literária não passava de propaganda político-ideológica. Você tem aquela revista Charúa, tudo propaganda comunista. Ou seja, a alta cultura que Roger Scruton define como sendo a autoconsciência de um povo, em Mocambique, acabou faz tempo. Mesmo quando você vê autores como Paulina Chiziane, aquilo que ela escreve não passa de marxismo cultural. Só um idiota não percebe que o feminismo é marxismo cultural, por isso, eu recomendo a leitura ou a releitura do “manifesto comunista” de Karl Marx e Frederich Engels, e aí você vai perceber o que eu estou dizendo. Qual é o conteúdo dessa destruição cultural defendida pelos gaysistas, abortistas, feministas?

Primeiro, você tem que perceber que tudo isso faz parte daquela grande superestrutura ideológica marxista, a práxis. Ou seja, o que é uma ideologia? Uma ideologia é um discurso que você prega para as massas de modo a obter uma adesão consciente delas. Marx definia a ideologia como um vestido de ideias. Esse vestido de ideias visa encobrir um esquema de poder porque, no final das contas, isso é o que interessa. Ou seja, todos esses movimentos não passam de massa de manobra porque depois do partido, que em Gramsci é o novo príncipe, se tornar em um “poder onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”, eles vão se livrar desses movimentos como Staline fez com Karl Radek, como Fidel Castro fez com os homossexuais no “el paredon”, etc., porém, os efeitos civilizacionais criados por essa situação podem ser irreversíveis.

Não há nenhum sistema democrático que sobreviva a perda de valores tradicionais ou da moral tradicional. Foi John Adams, o segundo presidente dos E.U.A que disse que aquele sistema que eles têm nos E.U.A, i.e., democracia e liberdade econômica só funciona num país como os E.U.A, i.e., num país onde predominam os valores tradicionais judaico-cristãos, caso contrário, o sistema se torna anárquico. Por isso, a democracia nos países que tiveram experiência comunista não funciona. Porquê? Porque todo edifício dos valores tradicionais foi maciçamente destruído e como dizia Proudhon “a propriedade privada é um roubo”. Esse aforisma foi celebrizado por Marx porque, na verdade, é assim que um marxista pensa, ou seja, ele pensa que a única forma dele enriquecer é roubando como disse Chipande: “os roubos vão continuar porque somos humanos e não somos santos”, e não é para menos uma vez ser amplamente sabido que o roubo sistematizado é a vaca sagrada do comunismo.

ESCRITO POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com

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