O que eu quero dizer aqui é que, o que está
acontecendo em Moçambique, essa perda de valores de que tanto falamos é um
efeito de um processo que se iniciou em 77 com a destruição maciça da cultura.
Muito se diz, neste país,
acerca da perda dos valores tradicionais por parte da nova geração. É claro que
isso não é um fenômeno apenas de Moçambique, mas um fenômeno universal, podemos
até dizer: um sinal dos tempos.
Uma das causas que tem
sido apresentadas para explicar essa perda de valores é o contacto com as
novelas brasileiras. Bem..., isso é somente uma hipótese e não uma teoria
científica, sendo assim, não pode ser aceite de ânimo leve, antes devemos fazer
duas coisas: em primeiro lugar, fazer a análise da consistência lógica interna
dessa hipótese e, segundo, confrontar dialeticamente essa hipótese com os dados
recortados da realidade sensível.
O que se pode ver é que
tem se caído numa falácia, chamada falácia de post-hoc, ou seja, o facto da degradação moral dos jovens moçambicanos
ter ocorrido, aparentemente, depois da invasão cultural brasileira em
Moçambique não significa que as novelas brasileiras são a causa dessa degradação
moral. A questão mais importante é compreender como é que essas novelas
entraram no país e estão jogando o papel que estão jogando.
Um dado importante de
que nos esquecemos continuamente é que, a despeito da penetração colonial
portuguesa no país, a cultura moçambicana permaneceu intacta, ou seja, o
colonialismo em nenhum momento destruiu a cultura moçambicana, mesmo a expansão
do cristianismo em Moçambique em nenhum momento significou a destruição da
cultura moçambicana como erradamente algumas pessoas pretendem fazer crer.
Porquê? Vejam, a única coisa com que o cristianismo se preocupada é a salvação
da alma e não a promoção de uma revolução cultural até porque essa ideia da
revolução cultural surge no século XX, portanto, cerca de um século depois da
conferência de Berlim de 1884/85.
Todos sabemos que a
ideologia da revolução cultura surge com Antônio Gramsci, o fundador do partido
comunista italiano. Aliás, isso até nem chega a ser uma ideologia, mas sim uma
estratégia pois visa a conquista do poder pelos partidos de esquerda por via da
ocupação de espaço na mídia, nas universidades e assim por diante e não a
ocultação de um esquema de poder. O cristianismo não erodiu a cultura de Moçambique,
diferentemente do que faz o Islão. Ou seja, quando um indivíduo adere ao Islão,
ele não está aderindo apenas à religião islâmica, mas também à toda cultura árabe.
Por exemplo, em qualquer parte do mundo aonde você for, os muçulmanos, como
disse o filósofo Olavo de Carvalho, participam mais da cultura árabe do que da
sua cultura nativa, ao passo que os cristãos não porque o cristianismo não é
uma cultura, é uma mensagem de salvação dirigida a alma individual.
Quando Moçambique alcançou
a independência em 75, é bem verdade que já se sabia que o regime que se iria
implantar no país seria um regime socialista, mas, como diz Eduardo Mondlane no
seu livro “lutar por Moçambique”, não se sabia que tipo de socialismo seria
implantado. Porém, em 77 tudo ficou claro, ou seja, seria um socialismo
marxista-leninista que é um outro nome para comunismo. Ora, que tipo de socialismo,
ou que tipo de marxismo Lenine idealizava? São dele as palavras: “temos que
ensinar as nossas crianças a odiar seus pais se estes não forem comunistas”. Isso
é leninismo, destruição da família e da moral.
Ora, enquanto o
cristianismo estava ensinando os filhos a obedecerem a seus pais, no
marxismo-leninista, elas eram ensinadas a obedecer ao estado e ao partido ao
invés de obedecer a seus pais. Não digam que não é verdade porque o processo de
doutrinação, de lavagem cerebral, por exemplo, ao nível dos continuadores da
revolução foi monstruoso. Há aquela canção que se entoava: “nós somos
continuadores da revolução moçambicana, o nosso pai é papá Samora, a nossa mãe
é mamã Josina” que já estava morta e, no entanto, nós lemos em alguns escritos
de Sérgio Vieira daquela época que eles estavam combatendo contra o
obscurantismo e o atraso. Ora, tem algo mais obscuro, mais satânico que a invocação
de mortos? O que é isso? Mentira? Hipocrisia? De modo algum! É um pensamento metonímico
que de acordo com aquele grande filósofo político do século passado, o Eric Voeglin
está por detrás de todo comportamento fundamentalista no sentido mais negro do
termo.
O que eu quero dizer
aqui é que, o que está acontecendo em Moçambique, essa perda de valores de que
tanto falamos é um efeito de um processo que se iniciou em 77 com a destruição
maciça da cultura, no sentido que o filósofo Olavo de Carvalho coloca isso, ou
seja, “um sistema de valores em torno do qual se constrói o imaginário
colectivo de um povo”. O comunismo, na sua tentativa de construir uma
civilização biônica, uma cultura biônica, uma sociedade biônica, corroeu a base
da civilização, da sociedade e da cultura. Portanto, quando o regime comunista
caiu, viu-se o vácuo cultural enorme que ele criou, o qual acabou sendo
preenchido por valores piores do que aqueles que o comunismo fez crer que
deveriam ser eliminados. Então, o que temos hoje em Moçambique é um atraso
cultural enorme, razão pela qual toda nossa cultura não passa de uma cultura
subdesenvolvida. O que é uma cultura subdesenvolvida? É aquilo que diz o Olavo
de Carvalho: “é uma cultura que vive de importação”.
Veja, o que tínhamos
antes da independência e o que tivemos depois da independência em termos de produção
literária de alta qualidade? O país nunca mais conseguiu produzir um poeta da
dimensão de um Rui de Noronha, de um José Craveirinha, de uma Noémia de Sousa e
assim por diante. Você vê, por exemplo o que se produziu naquilo que eu chamo de
a década perdida do partido FRELIMO que vai de 77 a 87, em termos de obra
literária não passava de propaganda político-ideológica. Você tem aquela
revista Charúa, tudo propaganda comunista. Ou seja, a alta cultura que Roger
Scruton define como sendo a autoconsciência de um povo, em Mocambique, acabou
faz tempo. Mesmo quando você vê autores como Paulina Chiziane, aquilo que ela
escreve não passa de marxismo cultural. Só um idiota não percebe que o
feminismo é marxismo cultural, por isso, eu recomendo a leitura ou a releitura
do “manifesto comunista” de Karl Marx e Frederich Engels, e aí você vai
perceber o que eu estou dizendo. Qual é o conteúdo dessa destruição cultural
defendida pelos gaysistas, abortistas, feministas?
Primeiro, você tem que
perceber que tudo isso faz parte daquela grande superestrutura ideológica
marxista, a práxis. Ou seja, o que é uma ideologia? Uma ideologia é um discurso
que você prega para as massas de modo a obter uma adesão consciente delas. Marx
definia a ideologia como um vestido de ideias. Esse vestido de ideias visa encobrir
um esquema de poder porque, no final das contas, isso é o que interessa. Ou
seja, todos esses movimentos não passam de massa de manobra porque depois do partido,
que em Gramsci é o novo príncipe, se tornar em um “poder onipresente e invisível
de um imperativo categórico, de um mandamento divino”, eles vão se livrar
desses movimentos como Staline fez com Karl Radek, como Fidel Castro fez com os
homossexuais no “el paredon”, etc., porém, os efeitos civilizacionais criados
por essa situação podem ser irreversíveis.
Não há nenhum sistema democrático
que sobreviva a perda de valores tradicionais ou da moral tradicional. Foi John
Adams, o segundo presidente dos E.U.A que disse que aquele sistema que eles têm
nos E.U.A, i.e., democracia e liberdade econômica só funciona num país como os
E.U.A, i.e., num país onde predominam os valores tradicionais judaico-cristãos,
caso contrário, o sistema se torna anárquico. Por isso, a democracia nos países
que tiveram experiência comunista não funciona. Porquê? Porque todo edifício
dos valores tradicionais foi maciçamente destruído e como dizia Proudhon “a propriedade privada é um roubo”. Esse aforisma foi celebrizado por
Marx porque, na verdade, é assim que um marxista pensa, ou seja, ele pensa que
a única forma dele enriquecer é roubando como disse Chipande: “os roubos vão
continuar porque somos humanos e não somos santos”, e não é para menos uma vez
ser amplamente sabido que o roubo sistematizado é a vaca sagrada do comunismo.
ESCRITO POR | XADREQUE
SOUSA | shathreksousa@gmail.com
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