quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Teologia da prosperidade e Simonia


Resultado de imagem para simoniaVolvidos que foram 500 anos da reforma protestante de Lutero contra a venda de favores espirituais e contra a enfase da obra humana na obra da salvação eis que temos que o comércio de indulgência e das relíquias sagradas voltou a adentrar a igreja de Cristo na forma da teologia da prosperidade.

Longe de seguir nas pisadas de Cristo, os pregadores da teologia da prosperidade e da cura por dinheiro, esses senhores estão seguindo o caminho de Balaão e de Judas Iscariotes. Eles estão loucos como esses dois personagens bíblicos como diz a epístola de Judas e ambos acabaram muito mal.
 
ESCRITO POR| XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
No primeiro século, na aurora do cristianismo, existiu em Samaria um mágico chamado Simão que “se converteu” ao cristiano pela mão de Filipe. Coloquei aspas atenuantes na forma verbal “se converteu” porque se tratou de uma pseudo-conversão. Podemos ler no livro de Actos dos apóstolos que quando Pedro e João foram a Samaria para orar pelos samaritanos por terem ouvido novas de que eles se haviam convertido ao evangelho, Simão, o mago, vendo que pela imposição de mão dos apóstolos os samaritanos recebiam o Espírito Santo lhes ofereceu dinheiro, tendo sido imediatamente repreendido por Simão Pedro, o apóstolo. É daqui que surge o termo simonia que se trata de compra e venda de favores espirituais.

Na idade média, quando os bispos de Roma usurparam a autoridade de Cristo na igreja e se declararam sumo pontífice, a doutrina da graça salvadora de Cristo foi crucificada e no seu lugar colocou-se a doutrina da obra do homem como meio da salvação mormente com a aristotelização do cristianismo pelos escolásticos.

Um desses artifícios eram as indulgências. O clero comercializava o perdão dos pecados passados, presentes e futuros por meio das indulgências. Temos nessa época o comércio de relíquias sagradas com poder curativo e milagrosos e assim por diante.

Mesmo que os teóricos católicos neguem que foi contra isso que Lutero lutou, chamando-o de herege, louco e de tantos outros títulos depreciativos, não se pode negar que Lutero voltou a colocar Cristo no centro do evangelho e a sua mensagem da salvação de graça pela fé conforme declaram as escrituras: “o justo viverá pela fé”.

Volvidos que foram 500 anos da reforma protestante de Lutero contra a venda de favores espirituais e contra a enfase da obra humana na obra da salvação eis que temos que o comércio de indulgência e das relíquias sagradas voltou a adentrar a igreja de Cristo na forma da teologia da prosperidade.

É claro que os “protestantes”, ou se calhar pseudo-protestantes, não vendem perdão de pecados, mas eles vendem outros favores espirituais, nomeadamente: cura divina, prosperidade divina, libertação espiritual de espíritos demoníacos, sorte etc. não digo isso de ouvir falar, eu cresci nesse meio e sei muito como isso funciona.

Cristo disse: “digno é o trabalhador do seu salario” ou como disse Paulo: “não tapes a boca ao boi que faz a debulha”. Cristo e Paulo estavam falando, por outras palavras como o próprio Paulo diz acerca de Cristo que “aquele que prega o evangelho viva do evangelho” (sic). Mas quando Cristo deu poder aos seus doze apóstolos para fazer curas e milagres, eles disse-lhes: “de graça recebeste e de graça dai”. Não há nenhum lugar no novo testamento onde Jesus ou os apóstolos tenham pedido dinheiro ou se quiserem oferta o que dá no mesmo para orar por um doente ou para expulsar um demónio ou para fazer um milagre. Isso não existe.

Eles citam erradamente Pedro no acto dos apóstolos recebendo dinheiro de Barnabé, Ananias e Safira e outros irmãos da igreja como prova de que estavam a fazer isso para prosperar e distorcem o contexto no qual isso tudo ocorreu. Esses irmãos não estavam dando isso para prosperar mas para ajudar aos irmãos necessitados porque eles tinham tudo em comum e também para livres dos cuidados com os negócios desta vida dedicarem-se a pregação integral do evangelho.

Eles também citam Paulo de que ele disse que aquele que semeia muito, muito colhera e aquele que semeia pouco, pouco também colhera. Eles distorcem o contexto da mensagem. Paulo estava fazendo colecta de donativos para as vítimas da seca e da fome na Judeia e em nenhum momento estava pedindo oferta para si mesmo porque ele mesmo disse que trabalhava com suas próprias mãos para suprir suas necessidades e a dos seus colaboradores. Ele tinha uma profissão, ele era fazedor de tendas. Ao fazer essa colecta, Paulo somente estava colocando em acção a recomendação que foi dada a ele e a Barnabé pelos anciãos da igreja em Jerusalém de que eles deviam se lembrar dos pobres. Eles distorcem tudo e depois com a cara mais sonsa do universo dizem que estão a falar em nome da palavra de Deus quando, na verdade, estão a falar em nome de Mamón ou dos seus próprios ventres, fazendo negocio com a igreja de Cristo.

Estando nós sob o novo testamento, a nova aliança, eles se refugiam 99% das vezes em textos do antigo testamento, rejeitando deliberadamente a liberdade que temos em Cristo e pondo-se novamente sob o jugo da letra que mata ao invés do espirito que vivifica. Ignorando que o antigo testamento é sombra do novo testamento e que este último, por sua vez, é a imagem exacta da coisa, confundem deliberadamente os sacrifícios que eram oferecidos sob a lei e os profetas com dólares, euros, yen e assim por diante e nem atinam com a revelação divina de que aqueles sacrifícios eram tipos de Cristo e não tipos de dólares, euro etc. Não deixa de ser curioso que eles vejam dinheiro em tudo e Cristo em nada.

O argumento que esses senhores usam para persistir no seu erro é o de que como os doentes estão sendo curados, os demónios expulsos e eles estão profetizando, falando em línguas, etc., isso é a prova de que eles são de Deus porque se eles não o fossem esses sinais e milagres não aconteceriam. É certo que Cristo disse que os sinais mencionados seguirão as que crêem, mas ele também disse que naquele dia muitos diriam: “senhor, senhor, não expulsamos nós demónios em teu nome? Não profetizamos nós em teu nome e em teu nome não fizemos muitos milagres?” E Jesus disse que lhes responderia: “eu nunca vos conheci, apartai-vos de mim vós que praticais a iniquidade”.

Não nos esqueçamos que os magos do Egipto que desafiaram a Moisés e a Javé também fizeram milagres extraordinários. Não nos esqueçamos Balaão, o profeta mercenário que profetizou por dinheiro deu profecias verdadeiras mas no final Deus o reprovou. Não nos esqueçamos que Judas Iscariotes curou os doentes, expulsou demónios e ressuscitou os mortos mas Cristo disse que ele era um Diabo e João, seu companheiro de trincheira o chamou de ladrão. Ou seja, fazer sinais e milagres em nome de Jesus só prova que você tem um dom de Deus e nada mais. Ou seja, isso não prova que você é de Deus. São Paulo, o apóstolo disse que os “dons de Deus são sem arrependimento” tanto é que há pessoas profetizando, falando noutras línguas e curando os doente mas que não são cristãs e outras nem em Deus acreditam e fazem tudo isso por dinheiro.

Pedro disse a Simão, o mago que ele estava preso no laço da iniquidade porque este lhe ofereceu dinheiro para comprar o dom de Deus e podemos ligar isso com o que Jesus disse: “de graça recebestes e de graça dai”.

Quando você começa a vender o dom de Deus, você, ao invés de praticar a caridade cristã, você está a cair na simonia e se você está praticando simonia a cura, os milagres, as profecias, etc., que você dá, se transmuta em seu contrário e você nem se apercebe disso, ou seja, você nem se apercebe que está se tornando discípulo de Simão mago e portanto, praticando magia ou encantamento.

Não nego que Deus pode tornar alguém próspero. De modo algum. O que digo que está errado de acordo com as escrituras é vender essa prosperidade. Não nego que Deus cura os doentes. De modo algum. O que nego é que você tenha que dar dinheiro para ser curado porque isso transforma essa cura e essa prosperidade em simonia e logo em prática de magia ou encantamento como faziam os sete filhos de Ceva que exorcizavam demónios em nome de Jesus que Paulo pregava por dinheiro como fazem os modernos filhos de Ceva.
O que identifica o crente com Cristo e diz que ele é de Cristo é o crente ter o espírito de Cristo porque como disse Paulo: “Quem não tem o espírito de Cristo não é dele”. E nem um bilhão de teólogos da prosperidade me vai convencer de que pedir dinheiro em troca de favor divino é consentâneo com o espírito de Cristo pelo simples facto de que Cristo nunca pediu dinheiro a nenhum doente para cura-lo e nunca pediu dinheiro a nenhum pobre miserável para prosperá-lo antes pelo contrário ele deu esmola aos pobres e não tomou nada deles como fazem o beautifull people do evangelho da prosperidade.

Portanto, longe de seguir nas pisadas de Cristo, os pregadores da teologia da prosperidade e da cura por dinheiro, esses senhores estão seguindo o caminho de Balaão e de Judas Iscariotes. Eles estão loucos como esses dois profeta e apóstolo como diz a epístola de Judas e os dois acabaram muito mal.

Ps: Dizer que os cristãos medievais estavam vivendo na idade das trevas é não enxergar nossa própria situação hodierna porque nós também estamos vivendo novamente na idade das trevas espirituais em pleno século Vinte e um, precisando de um novo renascimento espiritual.

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