Em Moçambique não há direita...o debate que os partidos travam entre si resume-se a meras trocas de acusações de corrupção e de má administração e nunca questiona-se a ideologia de cada partido porque todos eles vestem-se do mesmo véu ideológico.
Chissano subiu ao poder nas primeiras eleições
multipartidárias do país com o slogan:
“por um futuro melhor”. Poucos se lembram dessa promessa, mas a verdade é que
ainda estamos a espera desse futuro melhor que parece que nunca vai chegar e
pelo que vejo não passava de uma propaganda enganosa mais para contentar a
massa militante de idiotas úteis do que propriamente para orientar as acções
estratégicas do governo a sair daquelas eleições.
Para não dizer que o slogan da campanha de Chissano não valeu de nada, deixe-me dizer
que ela serviu, para quem tem olhos de ver, para revelar que o velho leviatã
marxista-leninista continuava bem vivo e passava bem e que não estava disposto,
nem um pouco se quer a ceder um milímetro do seu terreno. Que a Frelimo havia
mudado, somente quem acredita em quadrado redondo acreditou nisso. Já dizia
Anatoly Golintsyn, um dos maiores desertores da KGB que o comunismo não é
reformável.
O que aconteceu em Moçambique é que o
comunismo se fez de defunto para assaltar o coveiro porque o slogan da campanha de Chissano deixava
claro que ele estava vivo e passando bem. Uma das provas de que o comunismo
nunca acabou não somente neste país mas no mundo inteiro é que nunca se montou
um tribunal para julgar os comunistas pelos seus crimes como aconteceu com o
tribunal de Nuremberg para julgar os nazistas. Em Moçambique, ninguém foi julgado
em conexação com os chamados campos de reeducação, ninguém foi julgado em
conexação com os fuzilamentos públicos, ninguém foi julgado por coisa nenhuma e
ainda querem que as pessoas acreditem que a Frelimo mudou e que já não é um
partido revolucionário. É preciso ser bastante pueril para acreditar nisso.
Depois de Chissano, entramos na era Guebuziana.
Todos devem se lembrar que Guebuza subiu ao poder nas primeiras eleições sob o slogan: “força da mudança”, semelhante
ao “change” de Obama nas terras do
tio Sam. Esse slogan também é muito
ilustrativo da ideologia que como um vestido de idéia como dizia Marx oculta o
esquema de poder que domina o nosso sistema político desde 1976 quando a
Frelimo declarou-se oficialmente um partido de orientação marxista-leninista. Karl
Marx diz, na sua 12a tese contra Feuerbach que os filósofos trataram
de interpretar a realidade, mas que agora era o tempo de transformá-la. O que é
isso senão essa mesma “força da mudança” guebuziana ou o “change” obâmico? Até a Renamo que pretende-se o reduto da direita
em Moçambique veio com um slogan
parecido nas eleições de 2004: “mudança tranquila”. É por essa e por outras que
eu digo que em Moçambique não há direita, mas uma esquerda que é a Frelimo e a
direita da esquerda que é a Renamo e toda oposição política do país. Como sei
disso? É simples, é só ver o tipo de debate que esses dois partidos travam. O
debate resume-se a acusações de corrupção e má administração e nunca a
discussão acerca da ideologia de cada movimento político. Quer dizer, não há
luta política no país, somente disputa económica como se fazer economia de mercado
fosse tudo, esquecendo-se do que Lénine disse, a saber: “os empresários tecerão
a corda com que os enforcaremos”.
Para você mudar alguma coisa, a condição número
um, a condição número zero é você saber como aquela coisa funciona. E, acontece
que nem Karl Marx, nem nenhum daqueles idiotas da escola de Frankfurt e tutti quanti sabia como a realidade
funciona. A interpretação da história de Karl Marx de que tudo se explicava por
meio da luta de classes estava totalmente errada. Ela não somente estava errada,
mas ela era falsa desde a base por ir contra a estrutura da realidade. Quer
dizer, os comunistas não sabem como a realidade funciona, entretanto se arrogam
autoridade prometéica de mudar a realidade, mas como se não a entendem? Quer
dizer, isso é aquilo que Eric Voeglin chamava de “a estupidez criminosa” (sic).
Resultado: toda proposta de mundo novo, de futuro melhor dos comunistas terminou
em catástrofe conforme amplamente demonstrado por Paul Johnson e Hans
Morgenthau.
Moçambique não é excessão. A miséria, a
imoralidade, a criminalidade, a incultura, a violência, etc., abundam a mais
não poder. É claro que alguns analistas que pontificam na mídia imputam esses
males ao capitalismo, a economia de mercado mas apenas cai nessa impostura
intelectual como diriam Alan Sokal e Jean Bricmont quem nunca leu nada sobre a
estrutura da mentalidade revolucionária. Contudo, ainda assim, a população
superlota os espaços reservados ao comício público do presidente da república,
governadores provinciais do mesmo partido responsável pela sua desgraça. Por
que? Muitos analistas políticos dizem que isso acontece porque o povo tem medo
da mudança. Como pode ser isso se Guebuza subiu ao poder prometendo mudança? Outros
analistas dizem que a Frelimo se mantêm no poder porque a oposição não está organizada.
Maquiavel ia rir disso. Como você se mantêm no poder? Retirando do seu
adversários a perspectiva de poder ou a simples vontade de lutar. O que é o
poder? O filósofo Olavo de Carvalho define poder como a “possibilidade concreta
de acção”, mas para você poder agir, você tem que ter especulado sobre as
possibilidades de acção. E, aonde estão essas especulações? Já dizia o poeta
Hugo Von Hofmasthal que “nada está na política de um país que não esteja
primeiro na sua literatura”, mas não apenas literatura no sentido restrito de
expressão de impressões de Saul Bellow mas no sentido amplo de toda alta
cultura. Portanto, isso vai desde um mero texto de poesia até as meditações
filosóficas primeiras, em fórum formal ou informal. É aí que, em germe como no
livro dos 36 estratagemas chineses que está a génese daquilo que será política
do país daí a prazo de uma geração.
As reiteradas vitórias da Frelimo, apesar de
todo sofrimento infligido ao povo, querem dizer somente uma coisa, ei-la: o
povo moçambicano tem um amor irresistível pelo sofrimento. Mas é um gostar
inconsciente como se fosse uma segunda natureza que se confunde com a
verdadeira natureza do povo. Ou seja, o povo moçambicano é um povo politicamente
masoquista e não sabe porque se o povo não estivesse satisfeito, nem com a
Frelimo, nem com a oposição, ia, se calhar pautar pelo boicote mas não, o povo
adere religiosamente as urnas e vota reiteradamente naquele mesmo grupo de
pessoas que as vem enganando e roubando a quarenta anos.
Antes do povo moçambicano resolver o problema
nas urnas, o problema das eleições, tem que resolver, em primeiro lugar, seu
problema psicológico. Se os campos de reeducação serviram para alguma coisa
neste país, se a literatura de propaganda dos anos de chumbo, i..e, década 70 e
80 serviram para alguma coisa, se a ocupação de espaços pelo partido Frelimo na
mídia, universidades, igrejas, etc., serviu para alguma coisa, serviu isso sim para
fomentar na população um comportamento histérico e masoquista. E, quanto mais
masoquista for o povo, mais sádico será o governo. Não poderia haver uma combinação
mais perfeita do que essa. Aliás, já dizia Ion Mihai Pacepa ex-oficial da KGB e
antigo general romeno que quanto mais você se prosterna ante um tirano mais ele
o odeia e nisso corroboram as palavras de Donald Rumsfeld de que a fraqueza
atrai a agressividade.
Quando é que isso vai parar? Quando for saneada
a atmosfera cultural do país, colocando na mídia, nas universidades, nas
igrejas, etc., homens que sejam santos, sábios e filósofos como defendiam os
pitagóricos. Enquanto a cultura deste país, i.e, a alta cultura deste país
estiver nas mãos de pessoas moral e intelectualmente deformadas, ineptas, desqualificadas
até mesmo para ser professor de escola primária, este país nunca vai para
frente porque ninguém pode dar o que não tem. E, o que essas pessoas têm para
dar a não ser sua deformidade moral e intelectual que vão produzir outros indivíduos
deformados como eles que sairão por aí querendo transformar o mundo sem nem
mesmo saber o que é o mundo, mas embasados apenas na visão estereotipada que têm
de si mesmos sem se darem conta de que são verdadeiros idiotas úteis para usar
o vocabulário de Lénine porque são úteis sem saber a quem são úteis e por que são
úteis, não sabendo a quem servem porque ignoram de onde tiraram suas idéias,
acreditando que elas saíram das suas cabecinhas ocas enquanto não passam de
caixa-de-ressonância da elite revolucionária.
ESCRITO POR| XSOUSA | shathreksousa@gmail.com
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