terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Alexander Dugin e a Quarta teoria política

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Dugin é filho de um alto oficial dos serviços secretos russo KGB, hoje FSB. Ele é o principal guru de Putim em matéria de política externa, chegando a ser apelidado de Rasputin de Putin.

Dugin baptizou sua quarta teoria política com o nome de Eurasianismo cuja inspiração foi buscada em Mckinder e Houshofer.

Para Dugin, diferentemente das outras teorias políticas, a quarta teoria política, o eurasianismo gravita em torno do Dasein, uma expressão que ele foi buscar em Heidegger.

                             A. Quem é Alexander Dugin?

Alexander Dugin é um sujeito totalmente desconhecido neste país mesmo entre os analistas geopolíticos e da política externa da Rússia. Se Dugin é um total desconhecido cá por estas bandas, ele é, no entanto, muito respeitado em muitos países e temido em outros tantos.

Dugin é filho de um alto oficial dos serviços secretos russo KGB, hoje FSB. Com a queda da URSS, Dugin fundou juntamente com o escritor Eduard Limonov a união nacional bolchevique. Eles disputaram as eleições da década de 90 com outros partidos, tendo obtido apenas 0,8% dos votos numa eleição ganha pelo partido Rússia unida de Vladimir Putin, também um KGB.

Diante desse incidente, houve um desentendimento entre Dugin e Limonov que, na altura, tinha mais prestígio e fama do que seu companheiro. Limonov optou pela radicalização ao passo que Dugin optou por oferecer apoio a Putin se tornando no seu principal guru em matéria de política externa, chegando a ser apelidado de Rasputin de Putin.

Dugin é um tipo bastante livresco e que se auto-intitula filósofo. Na verdade, ele é um individuo que leu muito e você percebe isso facilmente na imensa bibliografia que lhe serve de suporte nos seus escritos e palestras. Certa vez, parafraseando Julius Evola, Dugin disse: "minha biografia é minha bibliografia".

Do pouco que li de Dugin, quer no livro “EUA e a Nova Ordem Mundial: um debate entre Alexander Dugin e Olavo de Carvalho” e na revista elementos sob o título “Alexander Dugin e a quarta teoria política”, incluindo vídeos do youtube, posso dizer que as principais influências de Dugin são as seguintes: o político e escritor inglês Harfold Mckinder que é o pai da geopolítica, o geógrafo alemão Marx Houshofer, o filósofo da nova direita francesa Alain de Benoist, os tradicionalistas René Guenón (francês) e Julius Evola (italiano), Karl Popper através do seu livro “Sociedade aberta e seus inimigos” que George Soros disse ser seu livro de cabeceira, o filósofo Alemão Martin Heidegger através da sua ideia de Dasein.

Dugin pode ter tido outras influências como a de Arnold Toynbee mas as acima mencionadas são as principais. A massa de bibliografia desse homem explica, de per si, porquê em Moçambique nunca ninguém o mencionou. Ou seja, ninguém neste país está em condições de discutir a obra de Dugin como um conjunto. Não existe ninguém em todo o universo universitário moçambicano que tenha domínio da filosofia escolástica, da filosofia tradicionalista, do marxismo para poder discutir com Dugin e compreendé-lo para depois impugnar suas teses uma por uma á base da argumentação.

Só para termos uma ideia: olhando para Olavo de Carvalho como alguém que debateu com Dugin e o venceu pois, na conclusão do debate travado entre os dois, Dugin cede a tese central apresentada por Olavo e o convida a integrar seu esquema de poder, para contrapor um sujeito da estatura de Dugin, teríamos que ter estudado no mínimo os seguintes autores:

   1.  Filosofia grega: Platão e Aristóteles.
   2.  Filosofia Escolástica: Sto. Tomás de Aquino e Duns Escoto.
   3.  Filosofia Neo-escolástica: A.D. Sertilhange, Jacques Maritan, André Mart.
  4.  Filosofia Tradicionalista: René Guenon, Fritjof Schuon, Seyyed Hosein Nasser, Titus Buckardt.
  5.  Escola de Frankfurt: Gyorgy Lukács, Teodoro Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamim, Marx Orkheimer.
  6.  E outros como Karl Marx, Lenine, Eric Voeglin, Louis La Velle, Fiódor M. Dostoiévisk, Xavier Zubiri, só para citar alguns exemplos, a maior parte dos quais nunca ninguém leu nas nossas universidades.

                          B. A quarta teoria política

Dugin diz que as teorias políticas são três. Aprimeira teoria ele identifica com o liberalismo/ capitalismo. A segunda, ele diz que é o fascismo/nacional-socialismo (nazismo). A terceira teoria, ele diz que é o comunismo.

Dugin diz que de todas essas teorias políticas, somente a primeira, o liberalismo é que sobreviveu a catástrofe que caiu sobre o mundo no século XX, tendo o fascismo/nacional-socialismo e o comunismo saído de cena. É importante abrir um parêntese aqui. Quando Dugin diz que o comunismo acabou no século XX juntamente com o fascismo/nazismo, ele está a desinformar as pessoas. O que aconteceu foi a queda do murro de Berlim e o desmantelamento da URSS e não do comunismo. Confundir comunismo com URSS é o mesmo que confundir comida com cardápio. Ora, qualquer historiador bunda mole sabe que o comunismo é anterior a existência da URSS. Na verdade, o comunismo já estava no mundo 60 anos antes do surgimento da URSS e sobreviveu a queda da URSS. Explico-me.

No ano 2000, um filósofo francês chamado Jean François Revel escreveu um livro intitulado “la grande parade” em que ele pergunta o seguinte: “se o comunismo acabou, como é que se explica que volvidos 10 anos o comunismo esteja mais forte do que nunca”? By the way, no mesmo ano da queda do murro de Berlim, Fidel Castro, Lula e Frei Beto fundaram em São Paulo, Brasil, a coordenação estratégica da esquerda latino americana que atende pelo nome de “Foro de São Paulo” que congrega partidos políticos como o PT e organizações criminosas como as FARC (Forças Armas Revolucionárias da Colômbia) e o MIR (Movimiento de la Izquierda Revolucionaria) chileno tendo como mote “reconquistar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu”. É por isso que eu disse que Dugin estava desinformando as pessoas. É claro que ele não é o único a fazer isso. Há muitos outros, incluindo cidadãos norte-americanos como Franz Fukuyama que publicou “o fim da história e o último homem” e já tinham feito isso antes quando da guerra do Vietname.

Que o fascismo e nazismo acabaram, disso não há dúvidas. Todos sabemos como Mussolini acabou. Todos nós tivemos notícias do tribunal de Nuremberga que foi montado para julgar os nazistas, mas nunca se montou algo similar na Rússia, um tribunal de Moscovo para julgar os comunistas como Estaline e Mao que juntos foram responsáveis pela morte de pelo menos 100 milhões de pessoas sem contar com os mortos feitos por Pol pot no Cambodja, Fidel e Guevara, etc. conforme descrito no livro negro do comunismo de S.Courtois, o que faz com que os 3 milhões de vítimas humanas sob Pinochet pareça coisa de amador. Portanto, toda essa cegarrega esquerdopata de que o comunismo acabou é uma empulhação e deve ser rejeitada in limine com a máxima quota de desprezo possível.

Dugin não esconde seu ódio contra o liberalismo/capitalismo e ele fala mesmo na necessidade inexorável de destruí-lo, colocando no seu lugar o que ele chama de quarta teoria política. Dugin diz que a primeira teoria política, o liberalismo/capitalismo gravitou em torno do individuo. A segunda teoria política, o fascismo/nacional-socialismo, gravitou em torno da raça. A terceira teoria política gravitou em torno dos proletários. Para ele, a quarta teoria política não deve gravitar em torno de nenhuma desses fetiches mas em torno do Dasein.

Dasein é uma expressão que Dugin foi buscar em Heidegger. Essa expressão que se refere a existência humana significa “ser aí” ou “estar aí” e diz respeito a situação do individuo que foi jogado no mundo e cuja existência consiste em estar aí. É claro que isso é gnosticismo e conduz, inexoravelmente, o individuo a pensar que Deus é mau e a humanidade inviável. Disso resulta o delírio messiânico dos revolucionários de que devem, por meio de uma fé metastática como a chamou Eric Voeglin, implantar o paraíso na terra por meio da total e completa acumulação de poder, quando, na verdade, a promessa messiânica de um paraíso só é possível no plano da eternidade o que corrobora a sentença de Cristo: “o meu reino não é deste mundo”.

Dugin baptizou sua quarta teoria política com o nome de Eurasianismo. A inspiração para a elaboração dessa teoria foi buscada em Mckinder e Houshofer. Dugin reduz a geopolítica a um esquema muito simples e pueril no final das contas. Ele divide a geopolítica num confronto milenar entre os poderes terrestres e os poderes marítimos que ele chama de poderes atlânticos. Não conseguindo atinar com a fronteira entre o mito-poético e o plano narrativo, Dugin diz que as forças terrestres são compostas principalmente pela Rússia, China e Índia. As forças marítimas são compostas pelos EUA e pela Inglaterra. Dugin diz que as forças terrestres representam o bem e que as forças atlânticas ou marítimas representam o mal.

Ora, essa redução da geopolítica a guerra do bem contra o mal como sendo os dois princípios que governam o mundo é proveniente dos maniqueus. Isso é maniqueísmo barato. Na verdade, o que pôde notar na quarta teoria política de Dugin é que ela é uma espécie de sincretismo político e religioso porque ele junta num mesmo esquema de poder o fascismo, o nazismo e o comunismo. Ele também pega em elementos do misticismo oriental e junta tudo e faz uma tremenda confusão dos demónios em que a mera distinção de direita e esquerda, tradicionalismo e niilismo e assim por diante fica totalmente diluída. Mas como em Hamlet, “por detrás dessa loucura há um método”. Ou seja, a despeito dessa confusão geral, há um fio condutor que unifica todas essas correntes políticas, filosóficas, religiosas, etc. aparentemente contraditórias de que Dugin se serviu para criar a sua quarta teoria política. Esse fio condutor chama-se antiamericanismo porque Dugin sabe que a única barreira para o advento do império eurasiano são os EUA, ou seja, os fundamentos mesmo da nação americana que são como disse Alexis de Tocqueville, um arranjo sábio da democracia com liberdade de mercado e moral tradicional de cunho judaico-cristã. Só nos EUA há isso, ou pelo menos houve no passado porque com essa onda globalista encabeçada pelos Rockfeller, Morgan, Ford, George Soros através da Open Society, Comissão Trilateral, Council Forein for Relation (CFR), os EUA se tem virado para a esquerda, tendo, inter alia, colocado um marxista na casa branca, o Sr. Barack Hussein Obama.

Na verdade, o eurasianismo não é uma teoria política. Ele é uma estratégia e, diga-se de passagem, uma estratégia bastante flexível porque nela cabe tudo e o primeiro a fazer isso foi Estaline. Se você é um conservador, os eurasianos têm um discurso conservador para você. Se você é um tradicionalista, os eurasianos também têm um discurso tradicionalista para você, se você é um niilista e não acredita em nada, eles também têm um espaço para você. Isso explica porquê as pessoas não compreendem como é que a Rússia que condena o homossexualismo dentro do seu território, promove a mesma conduta fora da Rússia num processo de desmantelamento da civilização ocidental que começou na década de 30 por meio da revolução cultural levada a cabo pela Escola de Frankfurt e pela escola de roteiristas de John Howard Lawson.

Dugin sonha com um império eurasiano, uma terceira Roma que segundo ele será o último império sobre a face da terra e, ainda assim, se gaba de ser muito cristão, um cristão ortodoxo e, nem se dá conta de que, de acordo com a Bíblia, o último império sobre a terra será o império do Anticristo. By the way, Dugin ri-se quando ouve isso. Ele parece se divertir muito com isso. Que ele é louco e que quer fazer uma revolução dos loucos como em Dr. Mabuse de Fritz Lang, não tenho dúvidas. By the way, já dizia Hugo Von Hofmansthal que “nada está na política de um país que não esteja primeiro na sua literatura”. Antes do fascismo ser uma política, ele foi uma teoria. Sem o Jacques Rousseau e seu contracto social, o fascismo nunca teria existido. Sem Charles Darwin e sua teoria da selecção natural, o nazismo nunca teria existido. Sem Karl Marx e seu pseudo materialismo dialéctico e histórico, o comunismo nunca teria existido.

“Que faremos”? – Perguntou Lenine. Na verdade, nós não somos ninguém, nós não mandamos em nada, nós sequer sabemos o que está acontecendo. Nós somos o marido traído, o último a saber. Meu conselho, partindo daquilo que H. Arendt chamou de “as três actividades do espírito” que são: i) pensar, ii) querer e iii) julgar, o que devemos fazer é estudar o assunto e procurar entender o que está acontecendo para não sermos pegos como cegos em meio de tiroteio mas conseguirmos nos orientar no meio da confusão geral que nos circunda.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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