Que Jesus morreu na cruz, isso é um facto científico mas
que Deus é imortal ou que Deus não morre não é um facto científico, é uma
doutrina.
Sendo a morte de
Cristo um facto e a sua divindade uma doutrina, não é preciso ser muito
inteligente para compreender que do facto da morte de Cristo nada se pode
concluir a favor ou contra a doutrina da divindade de Cristo, ou seja, de um
facto não se deduz uma doutrina porque isso seria cometer um non sequitur.
Uma das contradições que os críticos têm apresentado para
negar a divindade de Cristo, ou seja, negar que Jesus é Deus é o facto de Ele
ter morrido na cruz pois dizem eles que uma vez que Deus é imortal e Jesus
morreu na cruz, logo ele não pode ser Deus porque Deus não morre.
Que Jesus morreu na cruz, isso é um facto científico mas
que Deus é imortal ou que Deus não morre não é um facto científico, é uma
doutrina. É por isso que a morte de Cristo chegou até nós em forma de narrativa
porque um facto narra-se e não está aberto a discussão. Aliás, já dizia Sto
Tomás de Aquino que contra factos não há argumentos. Enquanto isso, uma
doutrina vem sempre em linguagem mitopoética e suscita uma multiplicidade de
significados possíveis.
Quando digo que a imortalidade de Deus não é um facto,
cônscio estou de que isso pode soar um pouco herético aos ouvidos de um
debutante na fé, que a despeito do seu zelo, carece de entendimento. Porém, se
você parte da origem ou étimo da palavra facto, aí você percebe o que estou
querendo dizer porque a palavra facto, factum,
se refere a aquilo que aconteceu ou que começou a acontecer, ou seja, só há
facto onde há sucessão e não onde há simultaneidade. Sucessão tem a ver com
tempo e simultaneidade tem a ver com a eternidade.
De duas, uma: ou a imortalidade de Deus é um facto, ou
não é um facto porque pelo princípio de identidade ambas as hipóteses não podem
ser válidas sob o mesmo aspecto.
Se a imortalidade de Deus é um facto, segue-se que essa
imortalidade “se deu ou começou a se dar” num dado momento da história do
universo o que é auto-contraditório porque a imortalidade só é possível in totum, totta simul o que faz com que a
hipótese da factualidade da imortalidade de Deus deva ser rejeitada in limine, levando-se automaticamente a
não-rejeição da hipótese contrária.
Sendo a morte de Cristo um facto e a sua divindade uma
doutrina, não é preciso ser muito inteligente para compreender que do facto da
morte de Cristo nada se pode concluir a favor ou contra a doutrina da divindade
de Cristo, ou seja, de um facto não se deduz uma doutrina porque isso seria
cometer um non sequitur. Isso é
lógica elementar e não percebo como é que indivíduos que pretendem ser críticos
do que quer que seja desconhecem totalmente as regras elementares da arte de
bem pensar e ainda assim juram de pés juntos que seu raciocínio é coerente,
quando, na verdade, seu raciocínio é inválido. Por exemplo, do facto de que
Jesus jejuou 40 dias e 40 noites não podemos deduzir a doutrina do jejum,
ensinando que os seguidores de Cristo, os cristãos devem jejuar 40 dias e 40
noites. Isso seria um nonsense.
Negar a divindade de Cristo somente por causa das
acidentalidades da sua existência ou seja porque ele nasceu de mulher, chorou,
teve fome e comeu e bebeu e morreu revela uma má colocação do problema, revela
uma incompreensão ou falta de domínio dos conceitos que estão em discussão, o
que somente serve para fomentar gritarias histéricas que em nada contribuem
para esclarecer a questão. Aliás, já dizia Leonardo da Vinci que “onde há
gritaria, não há verdadeiro conhecimento” do que podemos concluir do alvoroço
que se faz em torno da questão da divindade de Cristo que esse somente serve
para encobrir a questão e lançar uma confusão geral sobre homens de boa
vontade.
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