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Deus do Antigo Testamento é o mesmo Deus do Novo Testamento, o que muda é
apenas a sua relação quer com Israel quer com os cristãos, sejam eles judeus ou
gentios. Os israelitas ao rejeitarem o Messias, ao rejeitarem a fé e quererem
manter-se sob a lei de Moisés, estão, por outras palavras, dizendo que querem
manter a sua relação de SENHOR e Servo com Deus e não querem sair dessa relação
para a relação de Pai e Filho. É por isso que até hoje Deus trata Israel como
seu servo ou seu escravo.
No
seu livro “Deus, um delírio”, R.Dawkins procura separar o Deus do Antigo
Testamento do Deus do novo Testamento. Esse entendimento não é apenas de
Dawkins. Não resta dúvidas de que o Deus do Antigo Testamento parece ser mais
severo e o do Novo Testamento mais misericordioso. Porém, será que o Deus do
Antigo Testamento é diferente do Deus do Novo testamento?
Joaquim
de Fiore divide a história em três períodos: 1) o período do pai, 2) o período
do filho e 3) o período do Espírito Santo. Essa tentativa de dividir a história
em períodos ou estágios não é apenas de Fiore. A teoria dos 3 estádios de Conte
também é uma divisão da história em 3 períodos: 1) o estádio teológico, 2) o estádio
metafísico e 3) o estádio positivo. Os hindus, por exemplo, chamam ao período
actual da história da humanidade de Kali-Yuga. Os cristãos chamam-no de Apocalipse
e assim por diante. Ora, essas abordagens dão como pressuposto o conceito de
progresso na história e, portanto, um pré-conhecimento do rumo da história e de
qual é o seu final, de modo que existem teorias como a de Fukuyama de “o fim da
história”, o que pressupõe que, agora estamos vivendo na pós-historia assim
como houve uma pré-história.
A
ideia da pré e da pós-história é uma das ideias mais cretinas que jamais
existiu. Ora, se a história é narrativa de factos irrepetíveis porque factos
repetíveis nos dariam a sociologia, logo, qualquer indivíduo que tenha dois
neurónios sabe que quer na pré-história, quer na pós-história não há factos,
não há acontecimentos e não há porque tanto um como outro nos remete para o
plano da eternidade que é o fim das sucessões e entrada, portanto, no campo do tota simul.
Ora,
quando falamos de Pai, Filho e Espírito Santo, estamos falando de um mesmo Ser
divino manifestado em 3 pessoas. É a doutrina da trindade. São Tomás de Aquino
diz que o Pai simboliza a vontade divina. O Filho simboliza a inteligência
divina e o Espírito Santo simboliza o amor divino. Em todas as eras da história
da humanidade, supondo que a história divide-se em eras, a vontade, a
inteligência e o amor divino estiveram sempre presentes. O que aconteceu é que
num período se manifestou mais um aspecto do seu Ser e menos dos outros
aspectos.
Quando
falamos da trindade, gosto muito de dar o exemplo de um homem que é pai,
esposo, filho, trabalhador, amigo, patrão, etc. Certamente que esse homem
quando está diante da sua esposa ele se comporta de uma certa maneira. Na
presença dos filhos ele se comporta de outra maneira. Na presença do seu
patrão, idem. Porém, ele não se
tornou num outro homem. O mesmo se dá com Deus. A relação de Deus com Israel
não é a mesma relação de Deus com os cristãos, de modo que ser judeu e ser
cristão são coisas diferentes. Só por isso já dá para entender que Deus não se
comportaria de igual modo para os israelitas e para os cristãos, contudo, isso
não faz dele um Deus diferente.
Qualquer
leitor atento da Bíblia sabe que a relação de Deus com Israel é uma relação de
SENHOR e Servo. Podemos ler todo Antigo testamento e vamos ver que os profetas
quando traziam a sua mensagem sempre diziam: “Assim diz o SENHOR”. Não
obstante, Deus chama Israel de seu servo. Ora, a relação de Senhor e Servo requer
temor da parte do servo e uma mão rígida do seu Senhor feudal. É por isso que
dá a impressão de o Deus do Antigo Testamento ser muito severo. Ele estava
apenas fazendo seu papel de SENHOR na sua relação com Israel e é por isso que
se fala muito do temor do SENHOR no Antigo Testamento.
No
Novo Testamento as coisas são diferentes porque a relação de Deus com os
cristãos não é uma relação de senhor e servo mas sim uma relação de pai e
filho. Cristo ensinou a orar “Pai Nosso que estás no céu”, ele não disse:
“SENHOR Nosso que estás nos céus”. No Evangelho segundo S.João está escrito que
“a todos quantos o (Jesus) receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de
Deus”. O próprio Jesus disse: “não mais vos chamarei servos mas amigos”. Paulo
escrevendo aos romanos diz que “Deus não nos deu o espírito de escravidão para
termos medo mas nos deu o Espírito de adopção de filhos por meio do qual exclamamos
“Aba, Pai”.
Portanto,
o Deus do Antigo Testamento é o mesmo Deus do Novo Testamento, o que muda é
apenas a sua relação quer com Israel quer com os cristãos sejam eles judeus ou
gentios. Os israelitas ao rejeitarem o Messias, ao rejeitarem a fé e quererem
manter-se sob a lei de Moisés, estão, por outras palavras, dizendo que querem
manter a sua relação de SENHOR e Servo com Deus e não querem sair dessa relação
para a relação de Pai e Filho. É por isso que até hoje Deus trata Israel como
seu servo ou seu escravo.
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