sexta-feira, 14 de outubro de 2016

FILOSOFIA AFRICANA: ESSÊNCIA OU ACIDENTE?


Resultado de imagem para filosofia africana


Não há nenhuma filosofia que seja essencialmente africana. Uma filosofia pode ser acidentalmente africana, mas não essencialmente africana. Não há nenhuma filosofia que seja essencialmente europeia. Não há nenhuma filosofia que seja essencialmente hindu-chinesa, etc. isso só são acidentes e não a essência da coisa.


A Filosofia aponta, quer em termos lógicos, quer em termos gramaticais para um substantivo, para aquilo que sub esta. Quer dizer, a filosofia não se funda nos acidentes mas sim na substância, não havendo, portanto, uma verdadeira filosofia dos acidentes, mas apenas filosofia da substância e é isso que dá a filosofia o seu carácter universal o que já não pode suceder com os acidentes que são múltiplos e diversos em particularidades, estando mais bem ajustados para ser objectos de estudo das ciências através dos seus igualmente múltiplos e diversos compartimentos do saber do sensível.
A filosofia tem a ver com a parte superior das polaridades aristotélicas que é constituída de substância, forma, essência, acto, à medida que vai se aproximando da metafísica, da filosofia primeira, cabendo as ciências positivas lidar com a parte inferior dessas polaridades que envolvem os acidentes, a matéria, a existência e potência.
Nestes termos, filosofar implica subir, elevar-se cada vez mais alto. E esse elevar-se, é elevar-se intelectualmente, é elevar-se no espírito por meio de um mergulho, por meio de um adentrar cada vez mais profundo na interioridade da alma humana, onde está o nosso verdadeiro eu, que é onde Deus habita como disse Sto Agostinho. Isso não significa propriamente uma negação de realidade à matéria, mas significa uma afirmação dessa realidade em um grau mais elevado, mais sublime que contém e transcende a matéria simultaneamente.
Ser cientista, no sentido que damos a este termo hodiernamente, significa estar apenas na escala mais inferior desse processo de busca da verdade, na epiderme. Todo cientista maduro é um filósofo e os grandes cientistas são, disso, prova insofismável. É preciso elevar-se ao nível de filósofo, sabendo manejar não apenas a ciência do particular mas também a ciência do universal, sem, contudo, estagnar nesta última, mas continuar a elevar-se acima do filosófico e penetrar a esfera do metafisico que é a esfera cósmica e desta esfera continuar a elevar-se mais alto ainda até atingir a esfera do propriamente divino, ou seja, a esfera da suprema unidade, da suprema beleza e da suprema verdade.  
O termo [filosofia] africana, por sua vez, cabe na categoria gramatical do que chamamos de adjectivo e na categoria lógica do que chamamos de acidente. Africano, europeu, medieval, greco-latino, etc., são apenas acidentes da filosofia e não sua essência. Não há nenhuma filosofia que seja essencialmente africana. Uma filosofia pode ser acidentalmente africana, mas não essencialmente africana. Não há nenhuma filosofia que seja essencialmente europeia. Não há nenhuma filosofia que seja essencialmente hindu-chinesa, etc. isso só são acidentes e não a essência da coisa.
Há uma confusão sistematizada e reinante entre os que se dizem estudiosos da filosofia africana que resulta do simples facto de não terem meditado na questão profundamente para extrair dela a sua verdade primeira e última. Eles fazem uma confusão tremenda entre o modo de filosofar e filosofia como se o modo de preparar um certo bolo fosse o próprio bolo, como se o modo de cantar fosse a própria canção, como se o modo de vestir fosse o próprio vestuário e assim por diante.
Existe o modo de filosofar do europeu, existe o modo de filosofar dos hindus, existe o modo de filosofar do africano, existe o modo de filosofar do chinês, etc., e dentro do modo de filosofar europeu você tem o modo de filosofar clássico, você tem o modo de filosofar escolástico, você tem o modo de filosofar moderno e dentro do modo de filosofar clássico você tem o modo de filosofar socrático, o modo de filosofar platónico, aristotélico, etc. Na escolástica, a mesma coisa, você tem o modo de filosofar de Boécio, de Sto. Alberto Magno, Sto. Tomás de Aquino, etc., de modo que é um absurdo colossal você chamar filosofia a um modo de filosofar particular porque o modo de filosofar é apenas um acidente ao passo que a essência é filosofar e não o modo de filosofar.
Nestes termos, somente podemos discutir filosofia africana enquanto um dos múltiplos acidentes da filosofia como a filosofia europeia, a filosofia chinesa, a filosofia islâmica, a filosofia cristã, a filosofia hindu, etc., mas nunca como essência e esse estudo não cabe propriamente aos filósofos fazê-lo mas sim aos etnólogos, quanto muito aos historiadores, se se tratar, por exemplo, de um estudo comparativo das acidentalidades da filosofia ao longo dos milénios correspondendo as acções humanas reais no tempo e no espaço.

POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário