Resumo: Se as liberdades fundamentais não
podem ser resolvidas no capitalismo, automaticamente, o professor Castiano está
dizendo que elas podem ser resolvidas no comunismo. Mas é só olhar para a
China, Rússia, Coréia do Norte, Cuba e comparar com os EUA e os países da
Europa ocidental e ver onde há mais liberdade.
Caro
professor, essa aliança entre o capital financeiro e a política é exactamente o
socialismo que o senhor tanto ama e defende e a prova adicional do que estou
dizendo é que esse capital financeiro sempre apoia a esquerda no mundo inteiro e
nunca a “maldita” direita capitalista.
O
professor Castiano diz: “Desde que entrou FMI não vejo um resultado positivo a não ser uma aliança muito
estreita entre as elites políticas, económicas e intelectuais com ocidente,
deixando o povo em condições piores que antes”. Ah,
sim?! Diga-me, sr. professor: quando é que Moçambique se tornou no país mais
pobre do mundo, antes ou depois dos acordos com o FMI? Quando é que a economia
de Moçambique mais cresceu, antes ou depois dos acordos com o FMI? Quer dizer, isso que o Professor Castiano faz não
é um argumento, é “um assassinato de carácter” para usar o vocabulário da Hannah Arendt.
COMENTÁRIOS
Nota: em azul escuro, as palavras do professor Castiano e em azul claro, meus comentários.
Nota: em azul escuro, as palavras do professor Castiano e em azul claro, meus comentários.
A segunda, que eu penso que é mais séria, é que a filosofia é um
pensamento crítico no sentido não de avaliar negativamente todos os processos
que ela assiste, mas no sentido de
apresentar alternativas à realidade, alternativas de explicação da realidade.
Não é e nunca foi o papel da filosofia apresentar alternativa
à realidade até porque a única alternativa a realidade é a própria realidade ou
então você acaba caindo no irrealismo. Marx diz na sua 11a tese
contra Feuerbach que os filósofos interpretaram a realidade e que cabia a eles
(os revolucionários) transforma-la. Quer dizer, a tarefa do filósofo é
compreender a realidade e não apresentar alternativa a realidade.
Na verdade, a filosofia como crítica social surge muito
recentemente, no século XX, com a escola de Frankfurt que era composta apenas
por comunistas cuja missão era fazer revolução cultural marxista. Se isso é
filosofia, na melhor das hipóteses só pode ser uma filosofia de segundo grau porque,
na sua origem, a filosofia não é isso, mas sim aquilo que o filósofo Olavo de
Carvalho chamou de “o projecto socrático” o que nem de longe têm a ver com os
T. Adorno, H. Marcuses, G. Lukcás e tutti
quanti.
Se quiser aplicar termos filosóficos, vou dizer “pensamento crítico é
aquele que não vê a realidade como uma fatalidade”, portanto, que tudo pode ser
feito de outra forma.
Eu digo: muito pelo contrário, o pensamento crítico é aquele
que vê a realidade como uma fatalidade, sim, senhor. Estude a escola de
Frankfurt e você vai ver isso mais claramente. O pensamento crítico consiste daquilo
que Hegel chamou de trabalho do negativo: a ideia é falar contra tudo e todos
porque se acredita que a ordem vem do caos. Você pode pensar que isso é uma
coisa maniqueísta, masoquista, mas os frankfurtianos acreditavam e acreditam nisso
piamente, sem a menor sombra de dúvida.
O que acontece é que a filosofia, no seu íntimo, tem um pensamento
libertário. Portanto, estar ao lado da liberdade, contextualizando hoje,
significa que a filosofia tem que também se libertar do pensamento
eurocentrista, que colocava a filosofia africana numa esquina periférica em
relação à própria história e em relação ao seu próprio ser.
Não é verdade que a filosofia no seu íntimo
tem um pensamento libertário e muito menos o pensamento libertário está ao lado
da liberdade, pelo contrário, está mais ao lado da libertinagem do que da
liberdade. O pensamento libertário apregoa uma liberdade não apenas económica,
mas uma liberdade em tudo, como seja: a liberdade sexual, a liberdade no que
tange ao consumo de estupefacientes, etc., quer dizer, uma espécie de anarquia
moral. Mas não de qualquer moral, mas a moral sem culpa da professora Marilena
Chauí.
Já dizia Nietzsche, o autor do Zaratustra
que você só substitui aquilo que você supera e, mutatis mutandis, nós ainda não estamos em condições de substituir
o pensamento eurocentrista por um afrocentrista porque para isso teríamos que
ter pensadores de verdade neste país, produzindo obras de altíssima qualidade,
caso contrário, na ânsia pré-nupcial de fazermos uma filosofia africana como se
pretende, acabaremos fazendo uma antifilosofia.
No livro “Referenciais da Filosofia Africana” falo de Assante, que é o
pai do afrocentrismo actual, em que o mérito, independentemente de juízos de
valores que podemos fazer, é de ter iniciado um discurso de desconstrução da
forma como a ciência europeia é feita….O que Assante fez foi dizer que não só
existe essa forma de dois cursos científicos que se baseiam na prova, na
verificação, na experimentação, mas também no contexto afrocentrico existem
outras formas de pensamento que podem ser consideradas também de científicas.
A proposta de Assante de que “… não só
existe essa forma de dois cursos científicos que se baseiam na prova, na
verificação, na experimentação, mas também no contexto afrocentrico existem
outras formas de pensamento que podem ser consideradas também de científicas”
está errada. Porque o método científico conforme fundado por Galileu e Claude
Bernard assenta-se na observação e experimentação. Agora, existindo outras
formas de pensamento, elas podem ser qualquer outra coisa menos científica e
não compreendo essa paixão sadomasoquista de todo e qualquer tipo de pensamento
se arrogar a autoridade científica como se a ciência fosse infalível quando uma
das características da ciência é exactamente você poder desdizer amanhã aquilo
que você disse hoje, caso contrário, isso deixa de ser ciência e se torna numa
religião.
Há duas maneiras de fazer isso. A primeira coisa é que temos professores
mas não temos académicos. Temos universidades mas não temos academias. Um
académico é alguém que usando a capacidade de conhecer a área científica usa o
seu pensamento para analisar, fazer propostas de significação, propostas de
interpretação de fenómenos políticos sociais e culturais no seu contexto. Chamo
isso de uma académico e nós não temos muito isso.
Essa concepção de académico tem que ser
escavada um pouco mais. Sabe-se que a primeira academia surge com Platão em
homenagem ao herói grego “Academo”. Naquela época não existiam universidades. A
universidade foi fundada pela igreja na idade média de que todo mundo testifica
que foi um tempo de trevas. A primeira universidade foi a Universidade de
Bolonha, depois seguiu-se a Universidade de París e a Universidade de Oxford.
Portanto, associar académicos com universitários, já é em si, o pecado
original.
Uma vez que o nome academia foi dado em
homenagem ao herói grego “Academo”, é legítimo associarmos academia a
heroicidade mas não no campo de batalha militar mas intelectual. Ou seja, um
académico é um herói. Joseph Schumpeter disse que o empresário era um herói.
Quanto mais não será um herói, o académico. Podemos traçar um paralelo entre
herói e mártir. Herói é aquele que mata pela causa em que ele acredita e mártir
aquele que morre pela causa em que ele acredita. Portanto, vê-se que o herói
está associado a coragem.
Parece estranho que um académico precise
de coragem. Mas essa estranheza deixa de existir quando nos damos conta de que
um académico é um soldado da verdade numa luta sem tréguas contra a mentira
oficial e que isso lhe pode custar a vida.
Outro dado que julgo importante é que Platão
era um filósofo e filósofo conforme definido por Pitágoras é um amante da
sabedoria. Portanto, um indivíduo pode ser professor universitário, mas se lhe
falta o amor a sabedoria, ele não pode ser académico.
Agora, Aristóteles também era filósofo.
Mas há uma diferença de vias entre Platão (via descensional) e Aristóteles (via
ascensional). Enquanto Platão desce do mundo das ideias e vai racionalizando a empírea,
Aristóteles, partindo da matéria vai subindo até alcançar os juízos virtuais.
Quer dizer, Aristóteles é mais um cientista do que um pensador puro que
desprovido de tudo de que um cientista pode dispor tem que recorrer apenas a
sua própria inteligência.
Então, me parece mais razoável definir um
académico pela sua coragem de expor a verdade, seu amor ao conhecimento e
habilidade para desde o mundo arquetípico ir racionalizando a empírea, ou seja,
um académico é um racionalista-empirista.
Penso que falo da necessidade da filosofia moçambicana libertar-se de
dois tipos de debate. Primeiro, tem que se libertar do debate ocidental, que tenta sempre periferizar. Outro é
do debate tradicionalista de considerar filosofia africana simplesmente quando
a pessoa acredita na feitiçaria, quando a pessoa vai falar com os velhos. Não
podemos nos encaixar nessa esquina de classificação filosófica. É uma dupla
libertação, que acho que a filosofia deve fazer. Agora, a libertação em relação
ao ocidente está, demasiadamente, escrita, por isso, que dou mais atenção à
libertação ao debate tradicionalista. Mas libertação não significa ignorar,
significa ter a humildade intelectual necessária para se deixar ensinar pelas
tradições. O que sinto, em muitas conversas com outros filósofos moçambicanos,
é olharem na tradição de duas formas. Uma como uma coisa que se deve empurrar e
lutar contra ela; a outra como sendo a panaceia das nossas soluções. É neste
sentido que falo de facto que a filosofia deve ir à tradição, mas não com
espírito tradicionalista.
Se libertar do debate ocidental? Como, se
tudo que acontece aqui neste fim do mundo é ditado por esse debate ocidental?
Se nos libertarmos do debate ocidental, não tenham dúvida de que estaremos como
cegos em meio de tiroteios. Seremos pegos com calça na mão. Por mais que
odiemos o ocidente, nosso ódio não serve de salvo-conduto para nos libertarmos
do debate ocidental, pior ainda, lembre-se daquela máxima de Sun Tsu: conheça o
teu inimigo. Se o ocidente é um perigo iminente para nós, a nossa obrigação de
conhecê-lo torna-se maior ainda.
Quanto a nos libertarmos do debate
tradicionalista, penso que não temos que nos libertar de nenhum debate, mas nos
abrirmos a todas as influências possíveis sem prejulga-las como dizia são Paulo,
o apóstolo: “examinai tudo e retende oque é bom” e, isso inclui tudo, até mesmo
o pensamento tradicionalista. Aliás, na Europa existe uma corrente filosófica
tradicionalista bastante prolifera com pensadores de peso como René Guenón, Fritjof
Schuon, Titus Buckardt, Rama Coomaraswamy, Seyyed Osein Nasr, etc.
De facto, as pessoas erram ao associar o
pensamento tradicionalista com a invocação de espíritos nas palhotas dos curandeiros,
etc. Na verdade, a coisa é bem outra. Seyyed Ossein Nasr já definiu o
pensamento tradicionalista como um modo de interpretação do mundo através de
mitos e símbolos. Portanto, é algo que o entendimento popular da coisa está
muito longe de captar porque para isso as pessoas teriam que ter lido “a crise
do mundo moderno, o reino das quantidades, o simbolismo da cruz, etc.” de René Guenón,
“a unidade transcendental das religiões” de F. Schuon, etc.
Quando definimos escravatura como uma condição de vida péssima, em que o
indivíduo não tem direito de mudar essas condições.
Veja, o indivíduo escravo até pode não ter
o direito de mudar a sua condição pelas leis humanas vigentes numa sociedade
esclavagista, mas pelas leis naturais, ele tem o direito e o dever de mudar a
sua condição porque ele nasce livre e não escravo mesmo que seja filho de uma
escrava. Porque? Porque ele não tem consciência daquela condição, logo, em
termos legais, ela não lhe pode ser imputada.
Uma vez que a lei humana da escravidão
atenta contra a lei natural da liberdade, então, aí temos um problema. Qual é o
problema? Já dizia São Tomás de Aquino, muitos seculos antes do europeu chegar
na África que “uma lei injusta não é lei”. O que é uma lei injusta? É aquela
que contradiz a lei que lhe é imediatamente superior e alei natural está acima
da lei civil. A lei cósmica está acima das leis naturais e a lei divina está
acima das leis cósmicas. Sendo assim, no caso de uma lei injusta, os indivíduos
tem o direito de não obedecê-la, se os prejuízos advenientes dessa
desobediência civil não forem superiores aos benefícios resultantes. Portanto,
o não ter “… direito de mudar essas condições”, nem se quer se aplica, caso
contrário, um escravo nunca poderia deixar de ser escravo, ou por outra, sua
liberdade seria sempre uma liberdade ilegal, mas acontece que ela é sempre
possível e legal porque está de acordo com as leis naturais, cósmicas e
divinas.
E a maioria desses 25 milhões são
africanos. Estou a falar da escravidão física que ainda não acabou, então imaginemos
a escravidão mental. Enquanto não se libertar disso, enquanto a filosofia não
estiver contra essa escravidão mental que ainda hoje tem as suas consequências,
então a luta continua.
A tarefa do filósofo é compreender a realidade
não modificá-la por meio de uma luta revolucionária em prol de um futuro melhor
ou de um maravilhoso mundo novo para usar o vocabulário de Aldous Huxley. Aliás,
é exactamente isso que Marx diz na sua 11a tese contra Feuerbach:
“os filósofos trataram de compreender a realidade e nós (os revolucionários) temos
de tratar de transformar a realidade”. Essa missão prometéica de transformar o
mundo é a missão dos revolucionários e não dos filósofos. O trabalho do filósofo
como dizia Hannah Arendt é compreender e não fazer luta política. Platão tentou
fazer luta política no país vizinho e acabou sendo preso e vendido como
escravo. “Daí a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” disse Cristo e
ainda não foi revogado.
Justifica-se hoje chamar atenção, tanto mais que não seja para se
repetir. Então, não se justifica, filosoficamente, por ter havido escravidão,
justifica-se pelo futuro, no sentido de que nós africanos não queremos mais ser
escravizados, nem mais colonizados.
Justifica-se pelo futuro? Que futuro? O
único futuro que o homem tem em frente de si é a morte. Todos os
revolucionários subiram ao poder falando em nome de um futuro maravilhoso que
nenhum deles sabia dizer o que seria mas que acabou significando mais sangue,
mais miséria, mais opressão. Todo o projecto de futuro deu nisso. Desde a revolução
francesa dos jacobinos, a revolução russa de Lénine, a revolução chinesa de Mao,
a revolução cubana de Fidel e Guevara, a revolução cambojana de Pol-Pot, etc.,
etc., etc.. Agora, todo mundo sabe disso, menos os senhores doutores.
A luta diária dos africanos, desde que entraram na história como
escravos, como colonizados e como subdesenvolvidos, é o sonho da liberdade.
Isso explica também os movimentos mundiais. Por que as pessoas vão ocupar wall
streat, esse movimento todo que está a suceder pela Europa (“Os Indignados”)? é
porque há uma sucessão de que as liberdades fundamentais não foram resolvidas,
tanto no contexto africano, como no mundial.
O que é que o movimento “occupy Wall
street” tem a ver com africanos, negros, escravos, colonizados,
subdesenvolvidos? Nada. Caro professor, o senhor acredita mesmo que um bando de
negros, africanos, escravos, colonizados teria condições de ocupar Wall street?
A primeira pergunta que o senhor deveria fazer para entender o sentido que um
grupo está fazendo é a seguinte: de onde vem o dinheiro? Existe um site na
internet com URL: www.theactivistcash.org. Examine o site e você vai descobrir de
onde vêm o dinheiro de todos esses movimentos e quem está por detrás de toda
essa turma do occupy Wall street, os indignados e tutti quanti. E, mutatis mutandis, isso nada tem a ver com
liberdades fundamentais não resolvidas, mas sim com o bom e velho comunismo.
Todo mundo sabe que, por exemplo, Wall street é dominado pelos judeus, e a
minha questão é a seguinte: o que os malditos judeus capitalistas exploradores como
muitos pretendem tem a ver com a escravização e a colonização dos coitadinhos e
inocentes negros colonizados ou com a supressão das liberdades fundamentais?
As liberdades fundamentais, que
são os direitos do homem, não estão a ser resolvidas. O capitalismo não é alternativo, onde essas liberdades fundamentais vão ser
realizadas. Portanto, quando falamos
que sempre que essas liberdades estão em causa as pessoas pegam em tudo o que
têm nas mãos para poderem exigir os seus direitos, é mesmo para chamar atenção
que a luta pela liberdade é eterna, é histórica.
“O capitalismo não é alternativo, onde essas liberdades
fundamentais vão ser realizadas”? O que é isso? Se você elimina o capitalismo,
o que é que sobra? O comunismo? Então, se essas liberdades não podem ser resolvidas
no capitalismo, automaticamente, o professor Castiano está dizendo que elas
podem ser resolvidas no comunismo. Mas é só olhar para a China, Rússia, Coréia
do Norte, Cuba e comparar com os EUA e os países da Europa ocidental e ver onde
há mais liberdade. Nos países comunistas não há liberdade nenhuma. É uma
escravidão institucionalizada e abafada com a ajuda da grande mídia. O
professor Castiano mente e nem se dá conta que está mentindo. Isso chama-se
neurose que foi definida pelo psicólogo J.C. Muller como uma mentira esquecida
na qual você ainda acredita. Quer dizer, as pessoas repetiram tanto a mentira
de que o capitalismo é mau e o comunismo é bom até o ponto em que essa mentira
se transmutou em verdade como dizia Goebels, o ministro de propaganda nazista.
Mas, não é que a mentira se tornou em verdade, ela se tornou numa neurose.
“Penso que África precisa de dois tipos de revoluções. A primeira, sem
dúvida, que é agrícola: material de produção de alimentos, comercialização,
distribuição”.
Não é de revolução de nenhum tipo de que
Africa necessita. Toda revolução, como diz o filósofo Olavo de Carvalho,
pressupõe a concentração de poder nas mãos de uma elite em nome de um futuro
que nunca será atingido. Não obstante, a história da humanidade já provou por A
+ B que todas as revoluções acabaram se tornando num genocídio e assim foi com a
Revolução francesa de 1789, revolução soviética de 1917, revolução agrícola de
Mao Tse Tung etc. A revolução agrícola não vai produzir mais comida, vai
produzir mais fome e mais cadáveres.
“Chamo mesmo agrícola – podia chamar económica. Se chamássemos económico
talvez repensássemos nos esquemas de redistribuição de riqueza”.
Errado! Revolução agrícola e revolução
económica são fenómenos diferentes. Nenhuma revolução é económica, seja ela agrícola,
industrial, moral, etc. A revolução é sempre e sempre um fenómeno político pelo
simples facto de que ela visa sempre uma única coisa, a saber: a tomada de
poder pela elite revolucionária e nunca a liberdade de mercado. Nem é preciso
ter lido Bertrand Russel para saber que o poder é da natureza mesmo da
política.
Quando o professor Castiano diz “Se
chamássemos económico talvez repensássemos nos esquemas de redistribuição de
riqueza”, ele está enganado porque a redistribuição de riqueza não tem a ver
com a revolução económica mas sim com a revolução social.
“Repare que o professor Severino Ngoenha, no livro “Os Tempos da
Filosofia”, diz que a guerra em Moçambique terminou sem vencedores. Ou seja, Severino Ngoenha diz que quem
venceu é o FMI e o capitalismo mundial, portanto, a violência continua.
Ah, não há vencedores mas quem venceu é o
FMI! Essa é boa! Então, se o FMI venceu, como se chama a quem vence? Depois,
não é verdade que a guerra em Moçambique não teve vencedores, ela teve vencedor
sim e esse vencedor foi a FRELIMO porque hoje em dia, todos os moçambicanos, a
excepção de um ou dois, são socialistas sem saber como dizia Gramsci,
exactamente o que a FRELIMO sempre quis e ate que, enfim, conseguiu com uma
forte revolução cultural que consistiu na ocupação de espaços na mídia,
universidades, igrejas, clubes de futebol, residências universitárias, etc. Não
somente isso, hoje, a FRELIMO têm muito mais dinheiro do que em 1975 e pode
comprar a consciência de todo mundo o que a RENAMO não pode.
Não obstante, Já não temos a violência das armas, mas temos a causada
pela distribuição de riquezas muito desigual.
Mais uma mentira, há violência das armas
sim, senhor. Porventura, o professor Castiano ainda não ouviu falar do que esta
acontecendo na zona centro do país? Não creio que o professor Castiano não
saiba o que tem acontecido em Muxungwé, Gorongosa, Manica, etc.
O continente africano tem a distribuição de riqueza mais desigual do que
os outros. Uns mantêm-se muito ricos e a maioria muito pobre.
Por que será, não é mesmo? Como me parece que o professor
Castiano não entende muito de economia, vou lhe dar uma dica que é a seguinte:
leia as publicações da Heritage Foundation, da ONU e de outras instituições que
lhe parecerem mais confiáveis e você vai ver que os países onde há maior
distribuição de riqueza são os países capitalistas e não países socialistas. Nos
países socialistas somente os membros e simpatizantes do partido dominante é
que são beneficiados. Quem não sabe disso? O professor Castiano faz apologia do
socialismo e ao mesmo tempo quer maior distribuição de riqueza? Assim não dá.
Você tem que escolher uma coisa ou outra porque as duas ao mesmo tempo é
i-m-p-o-s-s-i-v-e-l.
A segunda é revolução cultural, onde se inclui a tecnologia e a ciência.
A nossa cultura científica precisa de se reencontrar com as culturas
tradicionais comunitárias.
Isso não é revolução cultural. Leia a
Escola de Frankfurt e António Gramsci e você vai ver que isso não é revolução
cultural. De acordo com Gramsci, a revolução cultural que é aquilo que Gyorgy
Lukács chamou de meta-política é fazer ocupação de espaços de modo a disseminar
as ideias socialistas de forma discreta e até mesmo secreta a tal ponto de todo
mundo se tornar socialista sem saber.
Agora, quando o professor Castiano fala de
“nossa cultura científica…”, fico pasmo. Cultura científica? Que cultura
científica tem Moçambique, meu Deus do céu?
Se me perguntarem assim: “disseste que o sistema capitalista não é uma
alternativa viável para a realização das liberdade”, vou dizer que não,
principalmente devido à aliança que existe agora no mundo entre o capital
financeiro e a política. Os bancos estão a dominar todos os esquemas do mundo.
O professor Castiano mostra que não
entende nada do que está acontecendo na arena política internacional. Não
entende por que? Não entende porque não leu a respeito, não estudou o assunto.
Ele nunca ouviu falar de CFR, Comissão Trilateral, Clube Bildeberg, etc. Ele
não sabe o que é isso porque para isso ele teria que ter lido autores como Daniel
Estulin “The True History of Bildeberg Club”, Michel Schooyans “La Face Cachée
de L’ONU”, Lee Penn “ The False Dawn”, só para citar alguns autores com que ele
poderia começar a tampar esse hiato de informação.
Caro professor, essa aliança entre o
capital financeiro e a política é exactamente o socialismo que o senhor tanto
ama e defende. Outro dado que o senhor não tem é o seguinte: o senhor pensa que
essa elite financeira internacional, a saber: Rockfeller, Morgan, Rotschild e tutti quanti são capitalistas, mas eu
lamento informar, já passou o tempo em que eles eram capitalistas, eles agora
são uma coisa que o Filósofo Olavo de Carvalho chamou de meta capitalistas que
é o indíviduo que transcendeu a condição de capitalista, ou seja, o indivíduo
que enriqueceu de tal maneira por meio do mercado e que agora olha para o
mercado como ameaça. Quer dizer, o mercado que o produziu agora é uma ameaça.
Então, ele tem que se ver livre das oscilações do mercado e para fazer isso ele
tem que dominar o Estado. Então, ele se torna o proprietário das grandes
corporações e o proprietário do Estado. Essa é afórumula da neo-aristocracia
que está muito bem representada no regime chinês, como disse Deng Xiao Ping:
“um país, dois sistemas”.
Se o professor Castiano quer uma prova
adicional do que estou dizendo, ei-la: você pode olhar para toda essa elite
financeira global e ver a quem ela apoia e você vai ver que ela sempre apoia a
esquerda no mundo inteiro e nunca a direita capitalista. Então, que capitalismo
é esse que financia a esquerda? Isso não faz o mais mínimo sentido.
A ideia original de um banco é para facilitar o desenvolvimento. E,
quando se torna uma elemento que impede esse desenvolvimento, temos que nos
equacionar por que precisamos de um banco na nossa economia se não é financeiro.
Mentira! Um banco por definição é um
intermediário de trocas financeiras. Ele capta depósito de agentes económicos
superavitários e cede crédito aos agentes económicos deficitários (tomadores),
ganhando com isso um spread. Agora,
se isso vai facilitar ou dificultar o desenvolvimento, é uma outra questão, mas
não a questão.
Não tenho uma solução para dizer que tipo de sociedade nós precisamos.
O professor Castiano diz que não sabe que
tipo de sociedade precisamos mas tece duras críticas ao capitalismo e nem uma
se quer contra o socialismo. Não é preciso ser nenhum Einstein, um Bohr, um
Heisenberg para saber que ele quer o socialismo. Todo social-comunista tem
dificuldades em dizer que tipo de sociedade quer. Por exemplo, cá entre nós, muitas
pessoas dizem que Eduardo Mondlane era da direita porque estudou nos EUA e
trabalhou na ONU como se nos EUA não houvesse esquerdistas naquele tempo como
Frank Marshall David, Saul Alinsky, Walter Benjamim, Cloward-Piven, etc., e
como se a ONU fosse de direita. Então, veja, no seu livro “lutar por
Moçambique”, Eduardo Mondlane também diz que não sabia que tipo de socialismo
eles queriam. Todos dizem isso. Porque é que eles nunca sabem? Porque
socialismo, comunismo, revolução, e todos outros nomes semelhantes são apenas
projectos de futuro e como ninguém conhece o futuro, eles nunca sabem o que
querem e, no entanto, acreditam que é “o maravilhoso mundo novo” de Aldous Huxley
e estão dispostos até a matar aqueles que se atreverem a querer acorda-los
desse delírio opiáceo.
Graça Machel tem falado de “um estado solidário” e existem outras
discussões à volta disso. Mas uma coisa é certa, qualquer sociedade que queiramos
construir deve equacionar três valores básicos: o que é moçambicanidade? O que
é africanidade? qual é o lugar de Moçambique em África e de África no mundo? E
o que é aquilo que nós chamamos de ser glocal, que mesmo localmente usufrui dos
direitos que a modernidade lhe dá, que é ir à escola, ter habitação condigna e
evoluir até aos direitos espirituais de poder ler, ser membro de um partido, de
uma religião.
Não vejo como isso pode servir de base para a construção de
uma sociedade. Veja, um valor é sempre um devir. Mas antes de você ter um devir
você tem que ter um já. Muito bem! O que é que nos une: a língua, a cultura, o
território, o que? Nenhuma dessas coisas. A diversidade linguística, cultural,
territorial, etc., de Moçambique é imensa. Mas há uma coisa que nos une que é a
constituição da República que infelizmente ainda não é um símbolo sagrado em
Moçambique pelo simples facto de não se fundar em princípios universais como
por exemplo acontece com a constituição norte americana.
Agora, um estado solidário é somente um outro nome para o
socialismo. Essa coisa de sociedade “glocal” também é um outro nome para o
socialismo e longe
de significar usufruto em nível local “… dos direitos que a modernidade lhe dá,
que é ir à escola, ter habitação condigna e evoluir até aos direitos
espirituais de poder ler, ser membro de um partido, de uma religião” significa
a supressão de tudo isso, excepto para os membros da elite global e seu exército
de idiotas úteis. Mais uma vez, o globalismo, o “glocalismo”, etc., é tudo o
mesmo esquema de poder mundial, tendo a economia apenas como cenoura de burro.
Leiam Marx, a sociedade é composta de uma infra-estrutura que é a economia e de
uma superestrutura que é a cultura, a ideologia, as leis, a moral, etc. Quer
dizer, o globalismo económico é apenas um véu que encobre o verdadeiro esquema
de poder que está por detrás de tudo e aqui em Moçambique até nem é preciso
porque todo mundo já é socialista sem saber.
Há um consenso geral de que desde que começaram as políticas de liberalização
os conflitos sociais aumentaram.
Quer dizer, o professor Castiano pega a opinião de dois ou
três pensadores da esquerda e chama isso de consenso geral. Ele também mente ao
dizer que com as políticas de liberalização os conflitos sociais aumentaram. Aumentaram?
Em quantos por cento? Outra pergunta: aumentaram ou agora temos muito mais
informação do que acontece no nosso país do que na época da repressão? O
professor Castiano que exiba as suas fontes.
O professor Castiano também diz o seguinte: “Desde que entrou FMI não vejo um resultado
positivo a não ser uma aliança muito estreita entre as elites
políticas, económicas e intelectuais com ocidente, deixando o povo em condições
piores que antes”. Antes de quê? Antes dos acordos
com o FMI? Então, diga-me, professor Castiano: quando é que Moçambique se
tornou no país mais pobre do mundo, antes ou depois dos acordos com o FMI?
Quando é que a economia de Moçambique mais cresceu, antes ou depois dos acordos
com o FMI? Quando é que Moçambique teve um PIB per capita (padrão de vida) mais alto, antes ou depois dos acordos com
o FMI? Quer dizer, a falsificação histórica
do professor Castiano é monstruosa e imperdoável num indivíduo que se diz filósofo,
cuja missão de vida é pensar. Primeiro, o que ele diz é tão contraditório e não
sei como um filósofo não sabe aplicar o princípio de não contradição porque ele
diz que a entrada do FMI não trouxe resultado positivo e depois diz a não ser
uma aliança muito estreita entre as elites políticas, económicas e intelectuais
como quem diz que os ganhos políticos, económicos e intelectuais que o país
teve pelo seu contacto com o ocidente foram negativos. Se isso tudo é tao
negativo porque é que continuamos a aceitar a ajuda financeira e económica no
geral dos ocidentais e porque é que continuamos a mandar os nossos melhores estudantes
às universidades do ocidente? Quer dizer, isso que o professor Castiano faz não
é um argumento, é um assassinato de carácter como dizia Hannah Arendt.
“…corremos o risco de termos uma democracia sem democratas”.
Isso é uma impossibilidade pura e simples. Não é a democracia
que cria os democratas mas sim os democratas que criam a democracia. Muitos
cientistas políticos crêem que a democracia surgiu na França com a Revolução
Francesa e o professor Castiano diz que uma das dimensões da democracia é a
separação de poderes, fazendo, no entanto, de Montesquieu um democrata quase
meio século antes da Revolução Francesa. O que o professor Castiano está
fazendo, aqui, é uma metonímia porque ele está tomando a causa pelo efeito e vice-versa.
Last but not least, o professor Castiano caracteriza a democracia em 3 dimensões:
primeiro, divisão de poderes; método de trabalho e valores democráticos
(respeito pelo outro, ter tempo de ouvir a argumentação do outro, ter tempo de ouvir
a argumentação do outro, ter uma predisposição para debate de ideias num
parlamento e ser fiel aos seus princípios).
Ora, as duas últimas dimensões colocadas pelo professor
Castiano como sendo dimensões da democracia pré-existe a idealização mais remota
da democracia e pode ser encontrada em formas de governo que de democrático nada
tinham como pôde ser vivenciado na europa pré-socrática, na europa da idade
média, etc.
Ps: Leia toda entrevista com o professor
José Castiano clicando [aqui]
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