quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Comentário a entrevista do professor José Castiano | A falha do capitalismo e o domínio da banca

Por Xadreque Sousa | E-mail: shathreksousa@gmail.com | Contemplatio Sapientiae

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Fonte: youtube.com

Resumo: Se as liberdades fundamentais não podem ser resolvidas no capitalismo, automaticamente, o professor Castiano está dizendo que elas podem ser resolvidas no comunismo. Mas é só olhar para a China, Rússia, Coréia do Norte, Cuba e comparar com os EUA e os países da Europa ocidental e ver onde há mais liberdade.
Caro professor, essa aliança entre o capital financeiro e a política é exactamente o socialismo que o senhor tanto ama e defende e a prova adicional do que estou dizendo é que esse capital financeiro sempre apoia a esquerda no mundo inteiro e nunca a “maldita” direita capitalista. 
O professor Castiano diz: “Desde que entrou FMI não vejo um resultado positivo a não ser uma aliança muito estreita entre as elites políticas, económicas e intelectuais com ocidente, deixando o povo em condições piores que antes”. Ah, sim?! Diga-me, sr. professor: quando é que Moçambique se tornou no país mais pobre do mundo, antes ou depois dos acordos com o FMI? Quando é que a economia de Moçambique mais cresceu, antes ou depois dos acordos com o FMI? Quer dizer, isso que o Professor Castiano faz não é um argumento, é “um assassinato de carácter” para usar o vocabulário da Hannah Arendt.

COMENTÁRIOS
Nota: em azul escuro, as palavras do professor Castiano e em azul claro, meus comentários.

A segunda, que eu penso que é mais séria, é que a filosofia é um pensamento crítico no sentido não de avaliar negativamente todos os processos que ela assiste, mas no sentido  de apresentar alternativas à realidade, alternativas de explicação da realidade.
Não é e nunca foi o papel da filosofia apresentar alternativa à realidade até porque a única alternativa a realidade é a própria realidade ou então você acaba caindo no irrealismo. Marx diz na sua 11a tese contra Feuerbach que os filósofos interpretaram a realidade e que cabia a eles (os revolucionários) transforma-la. Quer dizer, a tarefa do filósofo é compreender a realidade e não apresentar alternativa a realidade.
Na verdade, a filosofia como crítica social surge muito recentemente, no século XX, com a escola de Frankfurt que era composta apenas por comunistas cuja missão era fazer revolução cultural marxista. Se isso é filosofia, na melhor das hipóteses só pode ser uma filosofia de segundo grau porque, na sua origem, a filosofia não é isso, mas sim aquilo que o filósofo Olavo de Carvalho chamou de “o projecto socrático” o que nem de longe têm a ver com os T. Adorno, H. Marcuses, G. Lukcás e tutti quanti.
Se quiser aplicar termos filosóficos, vou dizer “pensamento crítico é aquele que não vê a realidade como uma fatalidade”, portanto, que tudo pode ser feito de outra forma.
Eu digo: muito pelo contrário, o pensamento crítico é aquele que vê a realidade como uma fatalidade, sim, senhor. Estude a escola de Frankfurt e você vai ver isso mais claramente. O pensamento crítico consiste daquilo que Hegel chamou de trabalho do negativo: a ideia é falar contra tudo e todos porque se acredita que a ordem vem do caos. Você pode pensar que isso é uma coisa maniqueísta, masoquista, mas os frankfurtianos acreditavam e acreditam nisso piamente, sem a menor sombra de dúvida.
O que acontece é que a filosofia, no seu íntimo, tem um pensamento libertário. Portanto, estar ao lado da liberdade, contextualizando hoje, significa que a filosofia tem que também se libertar do pensamento eurocentrista, que colocava a filosofia africana numa esquina periférica em relação à própria história e em relação ao seu próprio ser.
Não é verdade que a filosofia no seu íntimo tem um pensamento libertário e muito menos o pensamento libertário está ao lado da liberdade, pelo contrário, está mais ao lado da libertinagem do que da liberdade. O pensamento libertário apregoa uma liberdade não apenas económica, mas uma liberdade em tudo, como seja: a liberdade sexual, a liberdade no que tange ao consumo de estupefacientes, etc., quer dizer, uma espécie de anarquia moral. Mas não de qualquer moral, mas a moral sem culpa da professora Marilena Chauí.
Já dizia Nietzsche, o autor do Zaratustra que você só substitui aquilo que você supera e, mutatis mutandis, nós ainda não estamos em condições de substituir o pensamento eurocentrista por um afrocentrista porque para isso teríamos que ter pensadores de verdade neste país, produzindo obras de altíssima qualidade, caso contrário, na ânsia pré-nupcial de fazermos uma filosofia africana como se pretende, acabaremos fazendo uma antifilosofia.
No livro “Referenciais da Filosofia Africana” falo de Assante, que é o pai do afrocentrismo actual, em que o mérito, independentemente de juízos de valores que podemos fazer, é de ter iniciado um discurso de desconstrução da forma como a ciência europeia é feita….O que Assante fez foi dizer que não só existe essa forma de dois cursos científicos que se baseiam na prova, na verificação, na experimentação, mas também no contexto afrocentrico existem outras formas de pensamento que podem ser consideradas também de científicas.
A proposta de Assante de que “… não só existe essa forma de dois cursos científicos que se baseiam na prova, na verificação, na experimentação, mas também no contexto afrocentrico existem outras formas de pensamento que podem ser consideradas também de científicas” está errada. Porque o método científico conforme fundado por Galileu e Claude Bernard assenta-se na observação e experimentação. Agora, existindo outras formas de pensamento, elas podem ser qualquer outra coisa menos científica e não compreendo essa paixão sadomasoquista de todo e qualquer tipo de pensamento se arrogar a autoridade científica como se a ciência fosse infalível quando uma das características da ciência é exactamente você poder desdizer amanhã aquilo que você disse hoje, caso contrário, isso deixa de ser ciência e se torna numa religião.
Há duas maneiras de fazer isso. A primeira coisa é que temos professores mas não temos académicos. Temos universidades mas não temos academias. Um académico é alguém que usando a capacidade de conhecer a área científica usa o seu pensamento para analisar, fazer propostas de significação, propostas de interpretação de fenómenos políticos sociais e culturais no seu contexto. Chamo isso de uma académico e nós não temos muito isso.
Essa concepção de académico tem que ser escavada um pouco mais. Sabe-se que a primeira academia surge com Platão em homenagem ao herói grego “Academo”. Naquela época não existiam universidades. A universidade foi fundada pela igreja na idade média de que todo mundo testifica que foi um tempo de trevas. A primeira universidade foi a Universidade de Bolonha, depois seguiu-se a Universidade de París e a Universidade de Oxford. Portanto, associar académicos com universitários, já é em si, o pecado original.
Uma vez que o nome academia foi dado em homenagem ao herói grego “Academo”, é legítimo associarmos academia a heroicidade mas não no campo de batalha militar mas intelectual. Ou seja, um académico é um herói. Joseph Schumpeter disse que o empresário era um herói. Quanto mais não será um herói, o académico. Podemos traçar um paralelo entre herói e mártir. Herói é aquele que mata pela causa em que ele acredita e mártir aquele que morre pela causa em que ele acredita. Portanto, vê-se que o herói está associado a coragem.
Parece estranho que um académico precise de coragem. Mas essa estranheza deixa de existir quando nos damos conta de que um académico é um soldado da verdade numa luta sem tréguas contra a mentira oficial e que isso lhe pode custar a vida.
Outro dado que julgo importante é que Platão era um filósofo e filósofo conforme definido por Pitágoras é um amante da sabedoria. Portanto, um indivíduo pode ser professor universitário, mas se lhe falta o amor a sabedoria, ele não pode ser académico.
Agora, Aristóteles também era filósofo. Mas há uma diferença de vias entre Platão (via descensional) e Aristóteles (via ascensional). Enquanto Platão desce do mundo das ideias e vai racionalizando a empírea, Aristóteles, partindo da matéria vai subindo até alcançar os juízos virtuais. Quer dizer, Aristóteles é mais um cientista do que um pensador puro que desprovido de tudo de que um cientista pode dispor tem que recorrer apenas a sua própria inteligência.
Então, me parece mais razoável definir um académico pela sua coragem de expor a verdade, seu amor ao conhecimento e habilidade para desde o mundo arquetípico ir racionalizando a empírea, ou seja, um académico é um racionalista-empirista.
Penso que falo da necessidade da filosofia moçambicana libertar-se de dois tipos de debate. Primeiro, tem que se libertar do debate ocidental,  que tenta sempre periferizar. Outro é do debate tradicionalista de considerar filosofia africana simplesmente quando a pessoa acredita na feitiçaria, quando a pessoa vai falar com os velhos. Não podemos nos encaixar nessa esquina de classificação filosófica. É uma dupla libertação, que acho que a filosofia deve fazer. Agora, a libertação em relação ao ocidente está, demasiadamente, escrita, por isso, que dou mais atenção à libertação ao debate tradicionalista. Mas libertação não significa ignorar, significa ter a humildade intelectual necessária para se deixar ensinar pelas tradições. O que sinto, em muitas conversas com outros filósofos moçambicanos, é olharem na tradição de duas formas. Uma como uma coisa que se deve empurrar e lutar contra ela; a outra como sendo a panaceia das nossas soluções. É neste sentido que falo de facto que a filosofia deve ir à tradição, mas não com espírito tradicionalista.
Se libertar do debate ocidental? Como, se tudo que acontece aqui neste fim do mundo é ditado por esse debate ocidental? Se nos libertarmos do debate ocidental, não tenham dúvida de que estaremos como cegos em meio de tiroteios. Seremos pegos com calça na mão. Por mais que odiemos o ocidente, nosso ódio não serve de salvo-conduto para nos libertarmos do debate ocidental, pior ainda, lembre-se daquela máxima de Sun Tsu: conheça o teu inimigo. Se o ocidente é um perigo iminente para nós, a nossa obrigação de conhecê-lo torna-se maior ainda.
Quanto a nos libertarmos do debate tradicionalista, penso que não temos que nos libertar de nenhum debate, mas nos abrirmos a todas as influências possíveis sem prejulga-las como dizia são Paulo, o apóstolo: “examinai tudo e retende oque é bom” e, isso inclui tudo, até mesmo o pensamento tradicionalista. Aliás, na Europa existe uma corrente filosófica tradicionalista bastante prolifera com pensadores de peso como René Guenón, Fritjof Schuon, Titus Buckardt, Rama Coomaraswamy, Seyyed Osein Nasr, etc.
De facto, as pessoas erram ao associar o pensamento tradicionalista com a invocação de espíritos nas palhotas dos curandeiros, etc. Na verdade, a coisa é bem outra. Seyyed Ossein Nasr já definiu o pensamento tradicionalista como um modo de interpretação do mundo através de mitos e símbolos. Portanto, é algo que o entendimento popular da coisa está muito longe de captar porque para isso as pessoas teriam que ter lido “a crise do mundo moderno, o reino das quantidades, o simbolismo da cruz, etc.” de René Guenón, “a unidade transcendental das religiões” de F. Schuon, etc.
Quando definimos escravatura como uma condição de vida péssima, em que o indivíduo não tem direito de mudar essas condições.
Veja, o indivíduo escravo até pode não ter o direito de mudar a sua condição pelas leis humanas vigentes numa sociedade esclavagista, mas pelas leis naturais, ele tem o direito e o dever de mudar a sua condição porque ele nasce livre e não escravo mesmo que seja filho de uma escrava. Porque? Porque ele não tem consciência daquela condição, logo, em termos legais, ela não lhe pode ser imputada.
Uma vez que a lei humana da escravidão atenta contra a lei natural da liberdade, então, aí temos um problema. Qual é o problema? Já dizia São Tomás de Aquino, muitos seculos antes do europeu chegar na África que “uma lei injusta não é lei”. O que é uma lei injusta? É aquela que contradiz a lei que lhe é imediatamente superior e alei natural está acima da lei civil. A lei cósmica está acima das leis naturais e a lei divina está acima das leis cósmicas. Sendo assim, no caso de uma lei injusta, os indivíduos tem o direito de não obedecê-la, se os prejuízos advenientes dessa desobediência civil não forem superiores aos benefícios resultantes. Portanto, o não ter “… direito de mudar essas condições”, nem se quer se aplica, caso contrário, um escravo nunca poderia deixar de ser escravo, ou por outra, sua liberdade seria sempre uma liberdade ilegal, mas acontece que ela é sempre possível e legal porque está de acordo com as leis naturais, cósmicas e divinas.
E a maioria desses 25 milhões  são africanos. Estou a falar da escravidão física que ainda não acabou, então imaginemos a escravidão mental. Enquanto não se libertar disso, enquanto a filosofia não estiver contra essa escravidão mental que ainda hoje tem as suas consequências, então a luta continua.
A tarefa do filósofo é compreender a realidade não modificá-la por meio de uma luta revolucionária em prol de um futuro melhor ou de um maravilhoso mundo novo para usar o vocabulário de Aldous Huxley. Aliás, é exactamente isso que Marx diz na sua 11a tese contra Feuerbach: “os filósofos trataram de compreender a realidade e nós (os revolucionários) temos de tratar de transformar a realidade”. Essa missão prometéica de transformar o mundo é a missão dos revolucionários e não dos filósofos. O trabalho do filósofo como dizia Hannah Arendt é compreender e não fazer luta política. Platão tentou fazer luta política no país vizinho e acabou sendo preso e vendido como escravo. “Daí a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” disse Cristo e ainda não foi revogado.
Justifica-se hoje chamar atenção, tanto mais que não seja para se repetir. Então, não se justifica, filosoficamente, por ter havido escravidão, justifica-se pelo futuro, no sentido de que nós africanos não queremos mais ser escravizados, nem mais colonizados.
Justifica-se pelo futuro? Que futuro? O único futuro que o homem tem em frente de si é a morte. Todos os revolucionários subiram ao poder falando em nome de um futuro maravilhoso que nenhum deles sabia dizer o que seria mas que acabou significando mais sangue, mais miséria, mais opressão. Todo o projecto de futuro deu nisso. Desde a revolução francesa dos jacobinos, a revolução russa de Lénine, a revolução chinesa de Mao, a revolução cubana de Fidel e Guevara, a revolução cambojana de Pol-Pot, etc., etc., etc.. Agora, todo mundo sabe disso, menos os senhores doutores.
A luta diária dos africanos, desde que entraram na história como escravos, como colonizados e como subdesenvolvidos, é o sonho da liberdade. Isso explica também os movimentos mundiais. Por que as pessoas vão ocupar wall streat, esse movimento todo que está a suceder pela Europa (“Os Indignados”)? é porque há uma sucessão de que as liberdades fundamentais não foram resolvidas, tanto no contexto africano, como no mundial.
O que é que o movimento “occupy Wall street” tem a ver com africanos, negros, escravos, colonizados, subdesenvolvidos? Nada. Caro professor, o senhor acredita mesmo que um bando de negros, africanos, escravos, colonizados teria condições de ocupar Wall street? A primeira pergunta que o senhor deveria fazer para entender o sentido que um grupo está fazendo é a seguinte: de onde vem o dinheiro? Existe um site na internet com URL: www.theactivistcash.org. Examine o site e você vai descobrir de onde vêm o dinheiro de todos esses movimentos e quem está por detrás de toda essa turma do occupy Wall street, os indignados e tutti quanti. E, mutatis mutandis, isso nada tem a ver com liberdades fundamentais não resolvidas, mas sim com o bom e velho comunismo. Todo mundo sabe que, por exemplo, Wall street é dominado pelos judeus, e a minha questão é a seguinte: o que os malditos judeus capitalistas exploradores como muitos pretendem tem a ver com a escravização e a colonização dos coitadinhos e inocentes negros colonizados ou com a supressão das liberdades fundamentais?
As liberdades fundamentais, que são os direitos do homem, não estão a ser resolvidas. O capitalismo não é alternativo, onde essas liberdades fundamentais vão ser realizadas. Portanto, quando  falamos que sempre que essas liberdades estão em causa as pessoas pegam em tudo o que têm nas mãos para poderem exigir os seus direitos, é mesmo para chamar atenção que a luta pela liberdade é eterna, é histórica.
“O capitalismo não é alternativo, onde essas liberdades fundamentais vão ser realizadas”? O que é isso? Se você elimina o capitalismo, o que é que sobra? O comunismo? Então, se essas liberdades não podem ser resolvidas no capitalismo, automaticamente, o professor Castiano está dizendo que elas podem ser resolvidas no comunismo. Mas é só olhar para a China, Rússia, Coréia do Norte, Cuba e comparar com os EUA e os países da Europa ocidental e ver onde há mais liberdade. Nos países comunistas não há liberdade nenhuma. É uma escravidão institucionalizada e abafada com a ajuda da grande mídia. O professor Castiano mente e nem se dá conta que está mentindo. Isso chama-se neurose que foi definida pelo psicólogo J.C. Muller como uma mentira esquecida na qual você ainda acredita. Quer dizer, as pessoas repetiram tanto a mentira de que o capitalismo é mau e o comunismo é bom até o ponto em que essa mentira se transmutou em verdade como dizia Goebels, o ministro de propaganda nazista. Mas, não é que a mentira se tornou em verdade, ela se tornou numa neurose.
“Penso que África precisa de dois tipos de revoluções. A primeira, sem dúvida, que é agrícola: material de produção de alimentos, comercialização, distribuição”.
Não é de revolução de nenhum tipo de que Africa necessita. Toda revolução, como diz o filósofo Olavo de Carvalho, pressupõe a concentração de poder nas mãos de uma elite em nome de um futuro que nunca será atingido. Não obstante, a história da humanidade já provou por A + B que todas as revoluções acabaram se tornando num genocídio e assim foi com a Revolução francesa de 1789, revolução soviética de 1917, revolução agrícola de Mao Tse Tung etc. A revolução agrícola não vai produzir mais comida, vai produzir mais fome e mais cadáveres.
“Chamo mesmo agrícola – podia chamar económica. Se chamássemos económico talvez repensássemos nos esquemas de redistribuição de riqueza”.
Errado! Revolução agrícola e revolução económica são fenómenos diferentes. Nenhuma revolução é económica, seja ela agrícola, industrial, moral, etc. A revolução é sempre e sempre um fenómeno político pelo simples facto de que ela visa sempre uma única coisa, a saber: a tomada de poder pela elite revolucionária e nunca a liberdade de mercado. Nem é preciso ter lido Bertrand Russel para saber que o poder é da natureza mesmo da política. 
Quando o professor Castiano diz “Se chamássemos económico talvez repensássemos nos esquemas de redistribuição de riqueza”, ele está enganado porque a redistribuição de riqueza não tem a ver com a revolução económica mas sim com a revolução social.
“Repare que o professor Severino Ngoenha, no livro “Os Tempos da Filosofia”, diz que a guerra em Moçambique terminou sem vencedores.  Ou seja, Severino Ngoenha diz que quem venceu é o FMI e o capitalismo mundial, portanto, a violência continua.
Ah, não há vencedores mas quem venceu é o FMI! Essa é boa! Então, se o FMI venceu, como se chama a quem vence? Depois, não é verdade que a guerra em Moçambique não teve vencedores, ela teve vencedor sim e esse vencedor foi a FRELIMO porque hoje em dia, todos os moçambicanos, a excepção de um ou dois, são socialistas sem saber como dizia Gramsci, exactamente o que a FRELIMO sempre quis e ate que, enfim, conseguiu com uma forte revolução cultural que consistiu na ocupação de espaços na mídia, universidades, igrejas, clubes de futebol, residências universitárias, etc. Não somente isso, hoje, a FRELIMO têm muito mais dinheiro do que em 1975 e pode comprar a consciência de todo mundo o que a RENAMO não pode.
Não obstante, Já não temos a violência das armas, mas temos a causada pela distribuição de riquezas muito desigual.
Mais uma mentira, há violência das armas sim, senhor. Porventura, o professor Castiano ainda não ouviu falar do que esta acontecendo na zona centro do país? Não creio que o professor Castiano não saiba o que tem acontecido em Muxungwé, Gorongosa, Manica, etc.

O continente africano tem a distribuição de riqueza mais desigual do que os outros. Uns mantêm-se muito ricos e a maioria muito pobre.
Por que será, não é mesmo? Como me parece que o professor Castiano não entende muito de economia, vou lhe dar uma dica que é a seguinte: leia as publicações da Heritage Foundation, da ONU e de outras instituições que lhe parecerem mais confiáveis e você vai ver que os países onde há maior distribuição de riqueza são os países capitalistas e não países socialistas. Nos países socialistas somente os membros e simpatizantes do partido dominante é que são beneficiados. Quem não sabe disso? O professor Castiano faz apologia do socialismo e ao mesmo tempo quer maior distribuição de riqueza? Assim não dá. Você tem que escolher uma coisa ou outra porque as duas ao mesmo tempo é i-m-p-o-s-s-i-v-e-l.
A segunda é revolução cultural, onde se inclui a tecnologia e a ciência. A nossa cultura científica precisa de se reencontrar com as culturas tradicionais comunitárias.
Isso não é revolução cultural. Leia a Escola de Frankfurt e António Gramsci e você vai ver que isso não é revolução cultural. De acordo com Gramsci, a revolução cultural que é aquilo que Gyorgy Lukács chamou de meta-política é fazer ocupação de espaços de modo a disseminar as ideias socialistas de forma discreta e até mesmo secreta a tal ponto de todo mundo se tornar socialista sem saber.
Agora, quando o professor Castiano fala de “nossa cultura científica…”, fico pasmo. Cultura científica? Que cultura científica tem Moçambique, meu Deus do céu?
Se me perguntarem assim: “disseste que o sistema capitalista não é uma alternativa viável para a realização das liberdade”, vou dizer que não, principalmente devido à aliança que existe agora no mundo entre o capital financeiro e a política. Os bancos estão a dominar todos os esquemas do mundo.
O professor Castiano mostra que não entende nada do que está acontecendo na arena política internacional. Não entende por que? Não entende porque não leu a respeito, não estudou o assunto. Ele nunca ouviu falar de CFR, Comissão Trilateral, Clube Bildeberg, etc. Ele não sabe o que é isso porque para isso ele teria que ter lido autores como Daniel Estulin “The True History of Bildeberg Club”, Michel Schooyans “La Face Cachée de L’ONU”, Lee Penn “ The False Dawn”, só para citar alguns autores com que ele poderia começar a tampar esse hiato de informação.
Caro professor, essa aliança entre o capital financeiro e a política é exactamente o socialismo que o senhor tanto ama e defende. Outro dado que o senhor não tem é o seguinte: o senhor pensa que essa elite financeira internacional, a saber: Rockfeller, Morgan, Rotschild e tutti quanti são capitalistas, mas eu lamento informar, já passou o tempo em que eles eram capitalistas, eles agora são uma coisa que o Filósofo Olavo de Carvalho chamou de meta capitalistas que é o indíviduo que transcendeu a condição de capitalista, ou seja, o indivíduo que enriqueceu de tal maneira por meio do mercado e que agora olha para o mercado como ameaça. Quer dizer, o mercado que o produziu agora é uma ameaça. Então, ele tem que se ver livre das oscilações do mercado e para fazer isso ele tem que dominar o Estado. Então, ele se torna o proprietário das grandes corporações e o proprietário do Estado. Essa é afórumula da neo-aristocracia que está muito bem representada no regime chinês, como disse Deng Xiao Ping: “um país, dois sistemas”.
Se o professor Castiano quer uma prova adicional do que estou dizendo, ei-la: você pode olhar para toda essa elite financeira global e ver a quem ela apoia e você vai ver que ela sempre apoia a esquerda no mundo inteiro e nunca a direita capitalista. Então, que capitalismo é esse que financia a esquerda? Isso não faz o mais mínimo sentido.

A ideia original de um banco é para facilitar o desenvolvimento. E, quando se torna uma elemento que impede esse desenvolvimento, temos que nos equacionar por que precisamos de um banco na nossa economia se não é financeiro.
Mentira! Um banco por definição é um intermediário de trocas financeiras. Ele capta depósito de agentes económicos superavitários e cede crédito aos agentes económicos deficitários (tomadores), ganhando com isso um spread. Agora, se isso vai facilitar ou dificultar o desenvolvimento, é uma outra questão, mas não a questão.
Não tenho uma solução para dizer que tipo de sociedade nós precisamos.
O professor Castiano diz que não sabe que tipo de sociedade precisamos mas tece duras críticas ao capitalismo e nem uma se quer contra o socialismo. Não é preciso ser nenhum Einstein, um Bohr, um Heisenberg para saber que ele quer o socialismo. Todo social-comunista tem dificuldades em dizer que tipo de sociedade quer. Por exemplo, cá entre nós, muitas pessoas dizem que Eduardo Mondlane era da direita porque estudou nos EUA e trabalhou na ONU como se nos EUA não houvesse esquerdistas naquele tempo como Frank Marshall David, Saul Alinsky, Walter Benjamim, Cloward-Piven, etc., e como se a ONU fosse de direita. Então, veja, no seu livro “lutar por Moçambique”, Eduardo Mondlane também diz que não sabia que tipo de socialismo eles queriam. Todos dizem isso. Porque é que eles nunca sabem? Porque socialismo, comunismo, revolução, e todos outros nomes semelhantes são apenas projectos de futuro e como ninguém conhece o futuro, eles nunca sabem o que querem e, no entanto, acreditam que é “o maravilhoso mundo novo” de Aldous Huxley e estão dispostos até a matar aqueles que se atreverem a querer acorda-los desse delírio opiáceo.
Graça Machel tem falado de “um estado solidário” e existem outras discussões à volta disso. Mas uma coisa é certa, qualquer sociedade que queiramos construir deve equacionar três valores básicos: o que é moçambicanidade? O que é africanidade? qual é o lugar de Moçambique em África e de África no mundo? E o que é aquilo que nós chamamos de ser glocal, que mesmo localmente usufrui dos direitos que a modernidade lhe dá, que é ir à escola, ter habitação condigna e evoluir até aos direitos espirituais de poder ler, ser membro de um partido, de uma religião.
Não vejo como isso pode servir de base para a construção de uma sociedade. Veja, um valor é sempre um devir. Mas antes de você ter um devir você tem que ter um já. Muito bem! O que é que nos une: a língua, a cultura, o território, o que? Nenhuma dessas coisas. A diversidade linguística, cultural, territorial, etc., de Moçambique é imensa. Mas há uma coisa que nos une que é a constituição da República que infelizmente ainda não é um símbolo sagrado em Moçambique pelo simples facto de não se fundar em princípios universais como por exemplo acontece com a constituição norte americana.
Agora, um estado solidário é somente um outro nome para o socialismo. Essa coisa de sociedade “glocal” também é um outro nome para o socialismo e longe de significar usufruto em nível local “… dos direitos que a modernidade lhe dá, que é ir à escola, ter habitação condigna e evoluir até aos direitos espirituais de poder ler, ser membro de um partido, de uma religião” significa a supressão de tudo isso, excepto para os membros da elite global e seu exército de idiotas úteis. Mais uma vez, o globalismo, o “glocalismo”, etc., é tudo o mesmo esquema de poder mundial, tendo a economia apenas como cenoura de burro. Leiam Marx, a sociedade é composta de uma infra-estrutura que é a economia e de uma superestrutura que é a cultura, a ideologia, as leis, a moral, etc. Quer dizer, o globalismo económico é apenas um véu que encobre o verdadeiro esquema de poder que está por detrás de tudo e aqui em Moçambique até nem é preciso porque todo mundo já é socialista sem saber.
Há um consenso geral de que desde que começaram as políticas de liberalização os conflitos sociais aumentaram.
Quer dizer, o professor Castiano pega a opinião de dois ou três pensadores da esquerda e chama isso de consenso geral. Ele também mente ao dizer que com as políticas de liberalização os conflitos sociais aumentaram. Aumentaram? Em quantos por cento? Outra pergunta: aumentaram ou agora temos muito mais informação do que acontece no nosso país do que na época da repressão? O professor Castiano que exiba as suas fontes.
O professor Castiano também diz o seguinte: “Desde que entrou FMI não vejo um resultado positivo a não ser uma aliança muito estreita entre as elites políticas, económicas e intelectuais com ocidente, deixando o povo em condições piores que antes”. Antes de quê? Antes dos acordos com o FMI? Então, diga-me, professor Castiano: quando é que Moçambique se tornou no país mais pobre do mundo, antes ou depois dos acordos com o FMI? Quando é que a economia de Moçambique mais cresceu, antes ou depois dos acordos com o FMI? Quando é que Moçambique teve um PIB per capita (padrão de vida) mais alto, antes ou depois dos acordos com o FMI? Quer dizer, a falsificação histórica do professor Castiano é monstruosa e imperdoável num indivíduo que se diz filósofo, cuja missão de vida é pensar. Primeiro, o que ele diz é tão contraditório e não sei como um filósofo não sabe aplicar o princípio de não contradição porque ele diz que a entrada do FMI não trouxe resultado positivo e depois diz a não ser uma aliança muito estreita entre as elites políticas, económicas e intelectuais como quem diz que os ganhos políticos, económicos e intelectuais que o país teve pelo seu contacto com o ocidente foram negativos. Se isso tudo é tao negativo porque é que continuamos a aceitar a ajuda financeira e económica no geral dos ocidentais e porque é que continuamos a mandar os nossos melhores estudantes às universidades do ocidente? Quer dizer, isso que o professor Castiano faz não é um argumento, é um assassinato de carácter como dizia Hannah Arendt.
“…corremos o risco de termos uma democracia sem democratas”.

Isso é uma impossibilidade pura e simples. Não é a democracia que cria os democratas mas sim os democratas que criam a democracia. Muitos cientistas políticos crêem que a democracia surgiu na França com a Revolução Francesa e o professor Castiano diz que uma das dimensões da democracia é a separação de poderes, fazendo, no entanto, de Montesquieu um democrata quase meio século antes da Revolução Francesa. O que o professor Castiano está fazendo, aqui, é uma metonímia porque ele está tomando a causa pelo efeito e vice-versa.
Last but not least, o professor Castiano caracteriza a democracia em 3 dimensões:
primeiro, divisão de poderes; método de trabalho e valores democráticos (respeito pelo outro, ter tempo de ouvir a argumentação do outro, ter tempo de ouvir a argumentação do outro, ter uma predisposição para debate de ideias num parlamento e ser fiel aos seus princípios).
Ora, as duas últimas dimensões colocadas pelo professor Castiano como sendo dimensões da democracia pré-existe a idealização mais remota da democracia e pode ser encontrada em formas de governo que de democrático nada tinham como pôde ser vivenciado na europa pré-socrática, na europa da idade média, etc.

Ps: Leia toda entrevista com o professor José Castiano clicando [aqui]

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