terça-feira, 11 de outubro de 2016

Severino Ngoenha diz que muitas pessoas estão na política para realização pessoal

POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com

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Nota: meus comentários em azul
O filósofo começou por apontar que a fonte de divisão entre os moçambicanos são as desigualdades criadas pela falta de partilha dos bens do país.
É preciso escavar isso um pouco mais porque reduzir a divisão entre os moçambicanos às desigualdades criadas pela falta de partilha dos bens do País significa reduzir todo esse problema a um problema meramente económico. Se o fosse, ele poderia ser, facilmente, resolvido pelo mercado (procura e oferta) sem necessidade do governo.
Marx dizia que a sociedade é composta de uma superestrutura e de uma infra-estrutura. Ele dizia que a superestrutura é a ideologia, a cultura, as leis, etc., e que a infra-estrutura era a base económica ou material dessa sociedade. Para Marx, em última instância, a infra-estrutura determinava a superestrutura. Marx estava errado. Historicamente, está provado que, em última instancia, é a superestrutura ideológica que determina a infra-estrutura económica.
Tudo isso quer dizer que qualquer esforço de tentar lidar com o problema da desigualdade social sem que se faça um saneamento da atmosfera cultural do país não vai resultar eficaz. Já dizia Aristóteles que a economia só começa quando a política termina. O que é a política senão um esquema de poder encoberto por um véu ideológico superestrutural marxista? Esse é o problema de Moçambique, i.e., a política está muito mesclada com a economia que se torna enormemente difícil distinguir onde termina uma e onde começa outra e, enquanto não houver essa cisão, essa clivagem, nada adianta, a economia estará sempre, sempre e sempre a serviço da política.
E frisou que a política deixou de ser um lugar para resolver os problemas dos outros, passando a ser um espaço de realização pessoal, sobretudo entre os mais jovens.
Mas a política sempre foi isso… a política nunca foi um lugar geométrico, real ou virtual para resolver os problemas dos outros. Uma coisa é o objectivo do governo que é o bem comum e outra coisa bem diferente é o objectivo da política em si. Pensar que a política visa, vamos dizer, o bem comum, é ter uma visão bastante pueril da própria política, mormente depois que surgiu no mundo um fulano chamado Maquiavel. Bertrand Russel estava montado na razão quando disse que o poder é da essência mesmo da política, não somente a conquista do poder mas a sua conservação. Se isso vai resolver ou não os problemas dos outros, depende do papel que isso vai desempenhar no conjunto da estratégia para a tomada do poder e sua perpetuação.
O académico diz ainda que a guerra não vai terminar apenas com um acordo entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, e alerta para os problemas de integração dos militares que hoje combatem no campo de batalha.
Está mais do que arqui-provado que os acordos de paz ou de cessassão das hostilidades em Moçambique são feitos para ser descumpridos. Mas não podemos ficar apenas confinados no mundo das querelas. Há que superar tudo isso, mas, como dizia Nietzsche, nós somente superamos o que substituímos. Portanto, temos que substituir. Não somente substituir pessoas, mas substituir o esquema de poder e isso somente é possível através de uma contra-revolução cultural contra toda ideologia. Eric Voeglin estava certo quando escreveu no seu livro “a nova ciência da política” que toda ideologia é uma revolta contra Deus e contra o homem, ou seja, toda ideologia é um gnosticismo e isso precisa ser superado e substituído o mais urgente possível.
Quanto a integração dos militares, não creio que haja interesse em integrá-los. Esses militares continuarão como estão e crescerão porque são úteis para os “donos do poder” para usar o vocabulário de Raymundo Faoro. Os donos do poder sabem que esses militares não vão tomar o poder como eles dizem que vão fazer. Mesmo que esses militares sejam integrados, os “donos do poder” acabarão criando um outro grupo armado porque essa coisa tem um potencial revolucionário extraordinário, quer dizer, é o mesmo jogo hegeliano de tese e antítese sempre, sempre e sempre.
O professor de filosofia concluiu apontando que é preciso devolver a moral à sociedade, principalmente nestes tempos de crise política e económica.
O termo moral, aqui, têm um sentido bastante ambíguo, mas suponho que não se trata de moral no sentido ético da coisa, mas no sentido da gestão de pessoas, e neste caso, eu tenho cá pra mim que seria quase que um milagre do evangelho se se conseguisse devolver a moral à sociedade nestes tempos de crise. É possível ver nos jornais e programas televisivos algum esforço no sentido de devolver alguma esperança às pessoas e fazê-las crêr que as coisas vão melhorar, mas uma coisa é o que o governo diz e outra bem diferente é o que o povo está vendo com seus próprios olhos e em quem é que ele vai escolher acreditar.

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