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XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com
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Nota: meus comentários
em azul
O filósofo começou por apontar que a
fonte de divisão entre os moçambicanos são as desigualdades criadas pela falta
de partilha dos bens do país.
É preciso escavar isso um pouco mais porque reduzir a divisão entre os
moçambicanos às desigualdades criadas pela falta de partilha dos bens do País
significa reduzir todo esse problema a um problema meramente económico. Se o
fosse, ele poderia ser, facilmente, resolvido pelo mercado (procura e oferta)
sem necessidade do governo.
Marx dizia que a sociedade é composta de uma superestrutura e de uma infra-estrutura.
Ele dizia que a superestrutura é a ideologia, a cultura, as leis, etc., e que a
infra-estrutura era a base económica ou material dessa sociedade. Para Marx, em
última instância, a infra-estrutura determinava a superestrutura. Marx estava
errado. Historicamente, está provado que, em última instancia, é a
superestrutura ideológica que determina a infra-estrutura económica.
Tudo isso quer dizer que qualquer esforço de tentar lidar com o problema da
desigualdade social sem que se faça um saneamento da atmosfera cultural do país
não vai resultar eficaz. Já dizia Aristóteles que a economia só começa quando a
política termina. O que é a política senão um esquema de poder encoberto por um
véu ideológico superestrutural marxista? Esse é o problema de Moçambique, i.e.,
a política está muito mesclada com a economia que se torna enormemente difícil distinguir
onde termina uma e onde começa outra e, enquanto não houver essa cisão, essa clivagem,
nada adianta, a economia estará sempre, sempre e sempre a serviço da política.
E frisou que a política deixou de ser um
lugar para resolver os problemas dos outros, passando a ser um espaço de
realização pessoal, sobretudo entre os mais jovens.
Mas a política sempre foi isso… a política nunca foi um lugar geométrico,
real ou virtual para resolver os problemas dos outros. Uma coisa é o objectivo
do governo que é o bem comum e outra coisa bem diferente é o objectivo da política
em si. Pensar que a política visa, vamos dizer, o bem comum, é ter uma visão bastante
pueril da própria política, mormente depois que surgiu no mundo um fulano
chamado Maquiavel. Bertrand Russel estava montado na razão quando disse que o poder
é da essência mesmo da política, não somente a conquista do poder mas a sua conservação.
Se isso vai resolver ou não os problemas dos outros, depende do papel que isso
vai desempenhar no conjunto da estratégia para a tomada do poder e sua perpetuação.
O académico diz ainda que a guerra não
vai terminar apenas com um acordo entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, e
alerta para os problemas de integração dos militares que hoje combatem no campo
de batalha.
Está mais do que arqui-provado que os acordos de paz ou de cessassão das
hostilidades em Moçambique são feitos para ser descumpridos. Mas não podemos
ficar apenas confinados no mundo das querelas. Há que superar tudo isso, mas,
como dizia Nietzsche, nós somente superamos o que substituímos. Portanto, temos
que substituir. Não somente substituir pessoas, mas substituir o esquema de
poder e isso somente é possível através de uma contra-revolução cultural contra
toda ideologia. Eric Voeglin estava certo quando escreveu no seu livro “a nova ciência
da política” que toda ideologia é uma revolta contra Deus e contra o homem, ou
seja, toda ideologia é um gnosticismo e isso precisa ser superado e substituído
o mais urgente possível.
Quanto a integração dos militares, não creio que haja interesse em integrá-los.
Esses militares continuarão como estão e crescerão porque são úteis para os “donos
do poder” para usar o vocabulário de Raymundo Faoro. Os donos do poder sabem
que esses militares não vão tomar o poder como eles dizem que vão fazer. Mesmo
que esses militares sejam integrados, os “donos do poder” acabarão criando um
outro grupo armado porque essa coisa tem um potencial revolucionário extraordinário,
quer dizer, é o mesmo jogo hegeliano de tese e antítese sempre, sempre e
sempre.
O professor de filosofia concluiu
apontando que é preciso devolver a moral à sociedade, principalmente nestes
tempos de crise política e económica.
O termo moral, aqui, têm um sentido bastante ambíguo, mas suponho que não
se trata de moral no sentido ético da coisa, mas no sentido da gestão de pessoas,
e neste caso, eu tenho cá pra mim que seria quase que um milagre do evangelho
se se conseguisse devolver a moral à sociedade nestes tempos de crise. É possível
ver nos jornais e programas televisivos algum esforço no sentido de devolver
alguma esperança às pessoas e fazê-las crêr que as coisas vão melhorar, mas uma
coisa é o que o governo diz e outra bem diferente é o que o povo está vendo com
seus próprios olhos e em quem é que ele vai escolher acreditar.
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