quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Os gentios e o dízimo

Uma das questões que me tem deixado bastante intrigado nos últimos anos e que tem sido objecto de questionamento de muita gente é acerca do dízimo se devemos ou não pagá-los.

Há um consenso geral ao nível das várias denominações sobre a obrigatoriedade do pagamento do dízimo e não é para menos neste tempo da teologia da prosperidade.

Nas escrituras, vemos que o primeiro homem que pagou dízimo foi Abraão, malgrado alguns dizerem que o fruto proibido do Éden era o dízimo e que este é o primeiro mandamento de Deus. Depois de Abraão temos o caso de Jaco que fez um voto com Deus de que ele pagaria dizimo se Deus o abençoasse e protegesse. Em ambos os casos, estamos num tempo antes da lei mosaica que veio cerca de quatro séculos mais tarde antes disso não havia nenhuma obrigatoriedade. Veja que Jacó prometeu pagar o dízimo voluntariamente como um voto voluntário e ele era neto de Abraão o que me leva a concluir que Abraão também pagou o dízimo voluntariamente ou seja, ele certamente deve ter orado: “SENHOR Deus, se entregares nas minhas mãos os reis que saquearam Sodoma e Gomorra e fizeram refém meu sobrinho Ló, de tudo que eu conquistar dar-te-ei o dízimo”. E repare que daí em diante, em nenhum outro lugar se fala do dízimo até que ele tenha sido colocado por Moisés na lei. E Cristo deixou bem claro que os costumes dos patriarcas foram colocados na lei por causa da dureza do coração do povo judeu.

Quando Moisés e os profetas falaram de dízimo a quem eles estavam dirigindo-se? Aos judeus ou aos gentios? Se você disser que a todos eles, logo você tem que admitir como verdade que a lei e os profetas foram dados a judeus e gentios o que é falso. Paulo diz que a lei, os profetas, a promessa e o Messias foram dados aos judeus e não aos gentios.

Muitos podem dizer que temos que dar dízimos porque Cristo disse: ”importa fazer essas coisas sem omitir aquelas”. Mas o mesmo Cristo disse: “eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel, deixando claro que sua mensagem não era para os gentios, nem para os samaritanos mas apenas para os judeus.

Comecemos do princípio. Segundo a lei de Moisés somente os membros da tribo de Levi estavam destinados a oficiar como sacerdote e nenhuma outra tribo, ou seja, somente os levitas podiam receber dízimos. Ora, nenhum gentio pertence a tribo de Israel e muito menos a tribo de Levi para receber dízimo sendo essa pretensão uma usurpação de função. É certo que está escrito em Apocalipse Capítulo I que Jesus Cristo nos comprou com seu sangue e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu pai. Mas isso não significa que temos que cobrar dízimo porque somos sacerdotes de qual sacerdócio? Somos do sacerdócio segundo a ordem de Arão em que os levitas recebiam dízimos de seus irmãos? De modo nenhum porque somos gentios. Nós somos sacerdotes segundo a ordem de Melquisedeque. Não obstante, se todos somos sacerdotes porquê um irmão tem que receber dízimo do outro irmão uma vez que todos eles são sacerdotes?

Os levitas não pagavam dízimo, eles pagavam o dízimo dos dízimos. Em outras palavras, os levitas pagaram o dízimo apenas quando Levi seu antepassado estava nos lombos de Abraão quando Melquisedeque saiu ao seu encontro e Abraão lhe deu o dízimo de tudo que ele trouxe da guerra contra os reis que haviam saqueado Sodoma e Gomorra, o que mostra que o sacerdócio cristão segundo a ordem de Melquisedeque é superior ao sacerdócio segundo levítico segundo a ordem de Arão.

Corrobora o que dissemos anteriormente com o facto de que nem o próprio Cristo que é o nosso sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque cobrou dízimo pelo simples facto de ser da tribo de Judá e desta tribo Moisés nada disse a respeito do sacerdócio. Leiam todo novo testamento e verão que Pedro, Tiago e João não cobraram dízimo dos crentes judeus. Paulo e Barnabé, também, não cobraram dízimos dos crentes gentios.

Os pregadores da prosperidade gostam muito de citar Malaquias 3:10: “trazei todos os dízimos a casa do tesouro” mas fazem-no fora do contexto, olvidando que a casa do tesouro referia-se ao templo de Salomão e não ao templo da igreja metodista, baptista, universal, católica, luterana, etc. Eles até escondem o facto de que a oferta dos gentios não era aceite no tabernáculo de Moisés ou no templo de Salomão ao menos que o gentio se deixasse circuncidar e consentisse em guardar a lei e os profetas só que segundo São Paulo, o apóstolo, se um cristão fizer isso, ele está caindo da graça, ele está negando Cristo.

Não digo que os cristãos não devem pagar o dízimo. De modo algum. Mas não estando nós sob a lei, a simples apelação para a autoridade da lei e dos profetas é uma negação de Cristo e uma atitude néscia que visa colocar homens que Cristo libertou novamente sob o jugo da lei que mata porque “maldito é todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas na lei para obedecê-las”.


Os Cristãos podem pagar o dízimo mas não devem fazê-lo. Ou seja, o dízimo não é um dever porque os cristãos não estão debaixo da lei mas podemos proceder como Abraão e Jacó procederam, i.e, fazer do dízimo algo voluntário, um voto voluntário e não uma obrigação legal em que se você não pagar o seu dízimo estará incorrendo em delito e pecado.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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