quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Críticas ao keynesianismo (2)

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Keynesianismo é, em poucas palavras, fazer os empresários tecerem a corda com a qual o estado irá enforcá-los, só para usar a expressão de Lénine.

Não há dúvida de que o keynesianismo voltou a estar na moda nos últimos dias, e mais presente ainda com a crise financeira de 2008 que, na verdade, só é financeira porque aconteceu no sector financeiro. Mas a sua gênese é totalmente política. Ou seja, sempre que o estado procura se imiscuir em questões económicas, a economia entra em crise. Agora entendo porquê Aristóteles disse que a economia começa quando a política acaba.


Como é que o estado se mete ou se intromete em questões económicas? Para responder esta pergunta, primeiro teriamos que saber o que é o estado. Já dizia Marx Weber que “o estado é o monopólio da força”. Pois bem, essa é a definição de estado dada por Weber.

Se o estado é o monopólio da força, está nisso subentendido que ele não tem concorrência nisso em toda a nação, país, ou o que quer que seja.

Mas de onde vem a força do estado? A força do estado não vem do facto dele ser detentor do aparelho repressor, mas do facto das leis. Veja por exemplo um estado de direito democrático. Estamos a falar daquilo que nozick chamou de estado mínimo. Mas o que é que minimiza esse poder do estado? É a lei. Quer dizer, a lei é como uma espada de dois gumes. Ela pode contribuir para reduzir os poderes do estado, mas também pode contribuir para elevá-los estratosfericamente até aos céus da ditadura mais sangrenta da face da terra.
Mas nem toda lei deve ser aceite como lei. Já dizia Sto Tomás de Aquino que uma lei injusta não é lei. Se não é lei, então, as pessoas têm direito de partir para a desobediência civil e até mesmo ao uso da força para impugná-la.

A lei tem que resultar da relação ou seja tem que resultar da relação necessária dada a natureza das coisas como dizia Montesquieu. Quer dizer, toda a lei dos estados, são leis humanas. Sendo elas leis humanas, elas estão, como diz Sto Tomás de Aquino abaixo da lei natural. Quer dizer, existe uma hierarquia no edifício das leis. Hierarquia quer dizer princípio sagrado (hiero = sagrado, arkhe = sagrado). Então, em primeiro lugar estão as leis divinas, em segundo estão as leis cósmicas, em terceiro lugar estão as leis naturais e em quarto e último lugar estão as leis humanas. Ou seja, o que é uma lei injusta? Quando Sto Tomás de Aquino fala de lei injusta a que se refere ele?

O doutor angélico diz que uma lei é injusta quando ela contraria as leis que lhe são superiores. Quer dizer, se a lei humana contraria a lei natural, ela é injusta. Porque não é a lei natural que deve se subordinar a lei humana, mas o contrário, a lei humana é que deve se sujeitar a lei natural. A lei natural, por sua vez, sujeita-se a lei cósmica e a lei cósmica sujeita-se a lei divina e a lei divina sujeita-se a si mesma.

Por exemplo, se o governo diz que a partir de uma certa data as pessoas religiosas estão proibidas de praticar culto religioso. Essa lei é justa ou injusta? É injusta. Ela é injusta porque viola uma lei que está muito acima dessa lei natural que é a lei divina que diz que os homens devem adorar a Deus. Então, neste caso, os religiosos podem não obedecer a essa lei. E, de facto, está provado historicamente que isso é assim. Os romanos proibiam os cristãos de praticar o culto cristão. Mas os cristãos continuaram a praticá-lo mesmo assim, mesmo quando isso significava ter a sua cabeça arrancada do corpo por um carrasco sanguinário, mesmo quando isso significava ser lançado numa arena de leões famintos, mesmo quando quando isso significava ser queimado vivo para servir de tocha humana no coliseu de Roma como o fizeram Caio Calígula e tutti quanti.

Outro exemplo: o estado pode legislar, por exemplo, a favor do homossexualismo e obrigar, por este meio, que toda sociedade aceite essa conduta que em rigor nem mesmo pode ser chamada de sexual porque considerado desde o ponto de vista anatomo-fisiológico, o cú não corresponde a nenhum órgão sexual dentro da estrutura da realidade. Essa é uma lei injusta porque ela se coloca contra a lei natural.

Isso não quer dizer que o homossexualismo viola as leis naturais no sentido moderno da palavra natureza conforme usado pela ciência e que se refere a um campo delimitado de fenómenos que acessível ao método científico e matematizável. Mas, no sentido antigo da palavra natureza, natureza primordial como expressão da vontade divina, o homossexualismo é, sim, anti-natural, ou seja, ele é anti-natural porque viola o kstein e não a physis.

Isso, no entanto, não significa fazer do homossexualismo ou das leis jurídicas sobre o homossexualismo, uma questão limitada apenas ao direito natural tomista, i.e., tratar essa matéria como uma questão apenas de valores.

Não que os valores não sejam importantes. Muito pelo contrário, quando você fala de personalidade, você não pode fazê-lo sem se reportar ao axio antropológico, i.e., aos valores do certo e do errado. A personalidade humana e o carácter humano como forma pura de personalidade como diz o filósofo Olavo de Carvalho não nascem prontos, diferentemente daquilo que o filósofo basco Xavier Zubiri chamou de personeidade. A personalidade do homem tem que ser construída a cada dia. É isso o que significa dizer que o homem é o valor supremo. Isso é cultura, evidentemente, e cultura é valores. Sistema de valores em torno do qual construímos nosso imaginário colectivo. Sem isso, não há nenhuma realidade que possa ser admissível.

Malgrado o homossexualismo ser substancialmente uma questão de valores, uma questão cultural, ele não é apenas isso. Ele é também uma questão fática e uma questão normativa. Quando o governo diz que as pessoas podem dar o seu cú a vontade como se isso fosse a coisa mais natural do mundo, ele está criando um problema. Qual é o problema com isso?

O problema com isso é o governo achar que está legislando isento de qualquer paixão, ou como diria Hans Kelsen, fazer um direito puro e não se dar conta de que está legislando a favor de uma crise de dimensão antropológica que ele não conseguirá solucionar no prazo de uma vida. By the way, uma lei pura não é aplicável. Você não pode aplicar a matemática pura. Para ser aplicada, ela tem que ser convertida em matemática aplicada. Uma teoria pura do direito é muito boa como obra de arte. Eu diria que é apenas um objeto ideal, uma espécie de ente de razão mas não um objeto da nossa experiência.

O direito é essencialmente uma norma. Isso ninguém se pode dar o luxo de negar. Mas neste caso, você só está tratando o direito incomutavelmente e não como comutavelmente, enquanto objecto da nossa experiência. Ora, se o direito pode ser tratado apenas incomutavemente, então, ele não passa de um objecto ideal sem aplicação prática. Para ter aplicação prática, o direito tem que fazer aquilo que o jus-filófoso Miguel Reale chamou de teoria tridimensional do direito, quer dizer, o direito que ser capaz de articular a norma com os factos e com os valores. É claro que essa articulação não é fácil. Na verdade, há aqui uma tensão dialética entre essas 3 dimensões do direito, mas a boa notícia é que essa tensão não é uma tensão dialética de exclusividade, mas sim uma tensão dialética de complementaridade.

Voltemos a nossa questão inicial. O que é keynesianismo? Keynesianismo é, em poucas palavras, é fazer os empresários tecerem a corda com a qual o estado irá enforcá-los só para usar a expressão de Lénine. se a economia está em crise, qual é o remédio? Aumentar as despesas do governo, dizem os keynesianos. Porque? Porque segundo keynes isso vai gerar um efeito multiplicador no investimento, no emprego, no consumo e no PIB. Isso é muito bonito.

Mas a questão é: onde o governo vai buscar o dinheiro para gastar mais? Então, aí, Keynes aparece com a solução de mestre que me faz lembrar o conto de fadas de Alice no país das maravilhas de Lewis Carrol. A solução que keynes propôs foi: “imprima-se mais papel-moeda”. Em outras palavras, provoquem inflação e estagnação da economia. A resposta de Keynes foi: “não se preocupe com a estagflação porque no longo prazo estaremos mortos”. Isso é uma pegadinha de muito mau gosto e ainda há pessoas como Paul Krugman que tem a desfaçatez de dizer que keynes foi um grande economista. Isso é um charlatanismo do mais baixo nível que nem se quer oferece a possibilidade de um exame lógico. Quer dizer, salta logo da gramática para a retórica sem passar pelo filtro da lógica aristotélica. Como disse o ministro da economia no parlamento, o Adriano Maleiane, para justificar a dívida do governo dizendo que era para o governo não ser esquecido lá fora. E ele é professor universitário. Veja só a que nível de degradação intelectual as pessoas chegaram. Ninguém que saiba ler e escrever tem direito de ser burro. Principalmente se tem curso superior. Esse tipo de burrice é uma burrice criminosa. Ou estupidez criminosa para usar o vocabulário de Eric Voeglin.

E, de facto, Keynes morreu antes de sentir o cheiro da grande cagada que ele fez. Ele morreu em 1946. Agora, você aumenta as despesas do estado a custa de demolir o sistema financeiro e depois vem cá para fora e diz que a crise está acontecendo porque o sistema financeiro tem liberdade demais e esconde o facto de que ele foi o responsável por essa merda toda.

Tem aquele grupo de economistas ingleses que foram a casa real britânica pedir desculpas pela crise por causa da incompetência dos economistas de prever a crise.

É calro que os economistas são incompetentes. Quem não sabe disso. Eles são incopetentes porque deixaram a sua tradição económica de liberdade de mercado, para se tornarem heterodoxos, para se tornarem keynesianos ou neo-liberais, seguindo o consenso de Washington, que, na verdade, significa trocar o certo pelo duvidoso, o conservador pelo revolucionário. E não fui eu quem inventou o termo “revolução keynesiana”.

Você vê que os bons exemplos somente são para serem ensinados e não para serem copiados. Parece um tanto ou quanto sarcástico, mas nenhum economista recomenda copiar o exemplo da Alemanha pós-guerra, quando eles tiveram aquilo que ficou conhecido como “o milagre alemão” sob Ludwig Erhard, discípulo de Ludwig Von Mises. Longe disso, eles recomendam os países a seguir o exemplo de Cuba, China, Rússia, etc., que são um fracasso económico formidável.

E, não contente, ficam espalhando que a crise de 1929 acabou por causa da guerra. Uma mentira estratosférica como essa só pode ser considerada uma piada de absoluto mau gosto. Veja, quando Franklin Delano Roosevelt sucedeu ao presidente Hoover em 1932, no ano seguinte, ele lançou aquilo que ele mesmo chamou de “new deal”. Quer dizer, cerca de 4 anos antes de Keynes publicar “a teoria geral” que somente aconteceu em 1936.

Outro dado, o desemprego nos EUA que estava na casa de um dígito, subiu para dois dígitos. A crise só acabou quando Roosevelt abandonou o new deal e entrou na guerra. Mas todos esses bandos de keynesianos ficam aí gritando histericamente que as ideias de Keynes tiraram os EUA da crise. Tudo mentira. E, não é preciso ser um historiador profissional para saber disso.

Agora, está mais do que claro que Keynes não simpatizava com o sector financeiro, a pesar dele ter feito sua fortuna com especulação e não como resultado de intervencionismo público porque a única coisa que o intervencionismo público faz é transformar todo mundo em míseros dependentes do estado. Isso é infantilizar todo mundo.

No jardim do Éden, quando Deus apareceu para julgar Adão e Eva. Deus disse a Adão: “do suor do teu rosto comerás o teu pão”, mas os keynesianos ou socialistas económicos dizem: “do suor do rosto dos outros comerás o teu pão”. Ou seja, você não tem que trabalhar, tudo que você tem que fazer é sair a rua com cartazes, apitos e batuques e exigir mais direitos ao estado, exigir o estado de bem-estar, sem que você precise trabalhar para isso. Ora, porra, vá trabalhar, seu vagabundo!

Essa coisa toda que chamam de activismo social, educação social, etc., não tem nada de educação. É tudo engenharia comportamental para imbecilizar todo mundo. Você vê nas empresas, quando eles querem contratar um trabalhador, eles fazem uma coisa chamada dinâmica de grupo. E elas acham que fazendo isso estão actualizadíssimas com as novidades do mundo dos recursos humanos. Mas isso não tem nada a ver com recursos humanos, isso tem a ver com engenharia social. Mas se você pega o sujeito mais instruido em recursos humanos em Moçambique e você fala para ele sobre Kurt Lewin, ele nem sabe de quem você está falando, entretanto, se consideram uns experts em dinâmica do grupo. Quer dizer, se isso não é ser analfabeto funcional, então, eu não sei o que é ser um analfabeto funcional.

Na verdade, o moçambicano tem desprezo pelo conhecimento, um desprezo provinciano próprio de um “caipira” como dizem os brasileiros. A pior coisa que você pode dizer a um moçambicano é que ele tem que ir ler. Essa é a pior coisa. Mas quando eu falo de leitura, eu sei do que estou falando. Se eu não fosse uma pessoa que lesse bastante, eu não estaria em condições de dizer isso. É claro que você não tem que ler tudo porque há livros cuja leitura não merece nem se quer o esforço de um peido. Isso mesmo.

Voce ja ouviu falar do dr. Feuerstein? O dr. Forestein era um psicólogo israelita absolutamente genial. Ele conseguia recuperar crianças absolutamente irrecuperáveis, crianças com problemas mentais sérios e daí a nada a criança já estava até fazendo cálculo integral e aquela coisa toda. O dr. Feuerstein fez uma lista de pouco mais de 20, cerca de 28 sintomas de problemas mentais. Eu vou falar apenas de dois: 1. A incapacidade de apreender uma constante por detrás de um fluxo de acontecimentos; 2. A incapacidade de formular mais de uma hipótese.

Ora, se você olha para o moçambicano, você vai chegar a conclusão de que essas coisas não são sintomas apenas, elas são o estado natural das coisas. O moçambicano aposta numa única hipótese, logo a primeira. Isso não pode ser amor a primeira vista. Quanto muito, é burrice criminosa à primeira vista. E para o moçambicano, tudo é fluxo, como disse Heráclito: “não nos banhamos no mesmo rio duas vezes”. Portanto, quando você tenta mostrar para ele a constante por detrás desse fluxo de acontecimentos, ele diz que você esta fazendo teoria da conspiração, ou que você é da oposição ou, então, lança mão do argumentum ad ignorantiam e diz que aquilo não existe porque ele nunca soube de semelhante coisa.

O pior de tudo isso é que quando você pergunta o que é teoria de conspiracao? O que é ser da oposição? Eles nem se quer sabem explicar isso e se refugiam na repetição mecânica de slogans, chavões, topois com um auto-matismo hipnótico que essas coisas nem chegam a passar pelo filtro da inteligência. Quer dizer, o mocambiçano não pensa com a sua própria cabeça, nem a de cima e nem a de baixo. Ele pensa com a cabeça do partido. Pensa com a cabeça do establishment universitário, pensa com a cabeça do beautyfull people da mídia e tutti quanti. Mutatis mutandis, o moçambicano está mentalmente, intelectualmente muito doente e desaparelhado para uma discussão séria sobre o que quer que seja.

Agora, eu é que não quero ser um boneco de ventríloquo na mão de ninguém. É por isso que eu não falo em nome de ninguém, excepto o meu próprio. Quando você não fala em seu próprio nome e, ao invés disso só fica repetindo o que lhe mandam dizer, então, você já sucumbiu ao processo de PNL, i.e., programação neuro-linguística. Na verdade, você acaba erguendo um murro entre você e você e você já não mais se reconhece. Você não é mais capaz de reconhecer a sua própria voz. Então, você está totalmente despersonalizado. Você é simplesmente um organismo vivente que nasceu para comer, reproduzir-se e morrer, enfim, um dasein de Martin Heiddeger que é a condição humana que consiste em estar aí como alguém que foi simplesmente jogado num universo sem sentido e numa humanidade inviável. Ora, você se torna uma presa fácil dos gnósticos.

O homem tende ao conhecimento e se realiza no conhecimento conforme ensinado por Aristóteles. Mas se trata não apenas do conhecimento do mundo real em que “fomos jogados”, mas também e sobretudo o conhecimento de nós mesmos, o conhecimento do “eu”, ou seja, a tomada de conhecimento do eu pelo próprio eu como escrevi num artigo intitulado “ergo sun catersiano como bucas da autoconsciência”. Sem isso você nunca vai conhecer a Deus que é, como dizia Aristóteles, o fundamento mesmo da realidade. Quer dizer, você nunca vai saber o que é a realidade. Você só vai viver de vagas impressões. Impressões muito evasivas, muito tênues no final das contas, mas nada profundo o suficiente para lhe dar a sua verdadeira medida, dizer para você quem você é de verdade. É por isso que muita gente pensa em si mesmo como mais um esgana-gato ou como mais um tentilhão das ilhas galápagos.

ESCRITO POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com

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