sábado, 26 de novembro de 2016

Sentimentos morais e Riqueza das nações


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Não há riqueza sem liberdade porque na riqueza está subentendida a acção para gerar acumulação e ausência de liberdade implica ausência de possibilidade de acção para fazer acumulação.



A economia surge como um corpo de teorias sistematizadas no século XVIII, quando o filósofo Adam Smith publicou seu clássico “a natureza e a causa da riqueza das nações” em 1776, mais conhecido simplesmente por “a riqueza das nações”. Quer dizer, a preocupação de Smith não era combater a pobreza, mas sim sondar as causas e a natureza da riqueza das nações, ou seja, o combate contra a pobreza não faz parte do núcleo axiológio da economia tradicional e aqui temos um divisor de águas porque quem gera riqueza são os indivíduos ao passo que quem se arrogava a prerrogativa de combater a pobreza é sempre o Estado e desta forma torna a pobreza num inimigo político e sendo um inimigo político, a pobreza surge como um pré-texto para se alcançar o poder político.


Portanto, em qualquer parte do mundo onde haja pobres, não tenhamos  mais mínima dúvida de que eles são a prole legítima da política. Muitas pessoas lêem erradamente Aristóteles e dizem que este filósofo afirmou que o objectivo da política é alcançar o bem comum, mas isso é totalmente falso. O objectivo do governo é o bem comum, mas este não é o objectivo da política. O objectivo da política é alcançar o poder. Você poderá dizer: “mas a crise de 1929 foi uma crise económica e não uma crise provocada pela politica”, ou como alguns que a semelhança do Economista Paul Krugman dizem que “a crise de 2008 foi uma crise de falta de regulamentação”, etc., porém, isso é totalmente falso porque essas crises todas foram montadas pelo pessoal da esquerda norte-americana, os discípulos do Saul Alinsky. Isso é a própria estratégia Claward-Piven. Quer dizer, a crise é económica mas a sua natureza é política, logo, trata-se de uma crise política considerada desde o ponto de vista mesmo da sua essência, resultante da flagrante violação da lei  fundamental da economia que é a lei da escassez. Os Estados tem violado essa lei dando “almoços grátis” a população com bastante respaldo teorético dos pseudo-economistas.

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Quando Adam Smith diz: “causa e natureza das riquezas das nações”, podemos deduzir daqui três corolários fundamentais: Primeiro, a riqueza das nações é possível. Ela, na verdade, chega a ser uma possibilidade universal; segundo, a riqueza das nações tem uma causa eficiente; terceiro, a riqueza das nações tem uma natureza própria.

Ora, que a riqueza das nações é possível, penso que é auto-probante. Veja, que Adam Smith não discute ou não procura provar a possibilidade das riqueza das nações. Ele o toma como um facto auto-evidente que não carece de ulterior dedução silogística para prová-lo. Aliás, se ela não fosse possível, ela não teria uma causa eficiente e muito menos uma natureza por meio da qual podemos conhece-la e diferenciá-la de outros objectos da nossa experiência. Porém, malgrado essa possibilidade esteja presente, isso não significa que todas as nações vão chegar a riqueza das nações até porque, do ponto de vista lógico, da possibilidade de uma coisa não se pode deduzir a sua realidade, porém, o recíproco não sucede. Portanto, há nações que vão conseguir actualizar essa possibilidade, mas há aquelas que pura e simplesmente nunca irão conseguir actualizar essa possibilidade da riqueza das nações.
A actualização da possibilidade da riqueza das nações que existe virtualmente em cada nação só pode acontecer como resultado da nossa experiência real. É claro que a experiência dos outros povos é importante para ampliar as nossas possibilidades de mundos possíveis. Aliás, j’a dizia aquele filósofo islâmico, Al-Kindi que é preciso buscar a verdade onde quer que ela esteja, quer ela esteja numa geração anterior a nossa, quer ela esteja numa cultura diferente da nossa. Portanto, falar de actualização de possibilidades é falar de acção. Então, aí temos o pragma. Mas para podermos agir temos que ter unidade de intenção. Não há nenhuma acção possível sem unidade de intenção. Isso não significa comungarmos da mesma ideologia. Na verdade a ideologia é o que menos conta. O que conta é a estratégia. Podemos discordar da ideologia, mas se não houver acordo quanto a estratégia, nenhuma acção será possível.

O segundo colorário é que a riqueza das nações tem uma natureza. O que é natureza? Não nos esqueçamos que Smith, à data da redacção da “riqueza das nações”, não era um economista mas sim um professor de filosofia. Então, você tem que pensar como um filósofo para entender Smith. Pensar como um filosofo é sondar os fudamentos mesmos da ciência, e neste caso específico, sondar os fundamentos mesmo da Ciência Económica que para Smith é a ciência da riqueza das nações e não a ciência do combate contra a pobreza. É claro que a pobreza acaba sendo afectada, mas falo da nossa esquemática enquanto agentes económicos, falo da, portanto, da nossa intencionalidade que é o que faz com que a economia seja aquilo que Ludwig Von Mises chamou de “acção humana”.

Considerado desde o ponto de vista filosófico, natureza é aquilo para o qual uma coisa tende. Foi Hegel que disse que a essência de alguma coisa é aquilo em que ela se torna. Quer dizer, natureza, enquanto aquilo que uma coisa é segundo a sua essência, é aquilo em que essa coisa se torna. Nestes termos, a essência da riqueza das nações é aquilo para o qual ela tende, ou seja, é aquilo em que ela se torna. E a riqueza de uma nação só pode tender para uma única coisa e essa coisa chama-se liberdade. E o que é liberdade senão movimento? E, o que é movimento senão dinheiro como diz George Simmel na sua sociologia do dinheiro. Não que dinheiro seja, em si mesmo, riqueza; porém, quanto mais dinheiro mais movimento, mais desdeterminação, mais liberdade. Muitas pessoas chegam a confundir liberdade como democracia. Porém, você pode ter democracia sem liberdade. A social-democracia é disso um exemplo emblemático. Portanto, quando falo de liberdade, neste ensaio, falo dela como possibilidade de acção moral e possibilidade da não acção imoral. No decurso do ensaio isso ficará mais claro.

Sendo que a liberdade, enquanto possibilidade de acção é a natureza mesma da riqueza das nações, sucede que uma nação em que a liberdade é uma raridade, a riqueza também será uma raridade. Ou seja, os recursos podem ser escassos, mas a liberdade, não deve ser escassa, ela deve ser abundante tanto quanto possível. Não há riqueza sem liberdade porque na riqueza está subentendida a acção para gerar acumulação e ausência de liberdade implica ausência de possibilidade de acção para fazer acumulação. E, num estado de direito, a acção só conhece um tipo de fronteira que é a regulamentação. Muitas pessoas pensam que dinheiro é uma limitante suis generis, mas acontece que o dinheiro só limita os seus interesses mas não a sua acção. George simmel, que foi um dos maiores filósofos do século XX ao lado de Xavier Zubiri, definiu dinheiro como fronteira de interesse. Na verdade, o dinheiro só pode limitar o nosso interesse, não a nossa acção. Somente a regulamentação pode limitar a nossa acção e a de todos os homens, sejam eles Bill Gates, Rockfeller e tutti quanti.

Não digo que a liberdade seja a causa ou a origem da riqueza das nações. De modo nenhum. A liberdade é apenas a natureza da riqueza das nações na medida em que ela é aquilo para o qual ela tende. Entretanto, é preciso sondar a causa dessa mesma riqueza das nações. Nem toda causa causa materialmente o seu efeito. Para uma causa ser causa formal e material de um efeito, ela tem que ter causado o efeito e aí, então, ela é uma causa eficiente. Ou seja, a riqueza só pode ser causada por uma causa eficiente. Uma causa deficiente não causa a riqueza mas sim a pobreza. Ora, se somos agentes económicos doptados de razão - e somente um agente económico individual pode ser racional e nunca um agente económico colectivo e isso foi amplamente demonstrado quer pelo paradoxo de Condorcet, quer pelo teorema de impossibilidade de Arrow – como é possível que nossas acções sejam causa deficiente e causadoras da pobreza da nação?

        Sócrates dizia que não era possível que um homem fizesse o mal se ele conhecesse o bem. Porém, Sócrates estava errado. Na verdade, como disse o filósofo Herculano Pires, Sócrates errou por acreditar que a vontade era uma faculdade da razão. Ora, a vontade reporta-se a razão mas ela é uma faculdade humana autônoma. Quando o Banco central inunda a economia de papel-moeda, não é porque não sabe que isso vai causar inflação. O que acontece é que ele pensa que está fazendo um bem, enquanto, está fazendo um mal, ao escolher um bem de curto prazo em detrimento de resultados de mais longo prazo.  Ou seja, ele faz aquilo que Sócrates chamou de erro de cálculo que é um mal moral, evidentemente, e que vai, por seu turno, gerar um mal físico. Por assim dizer, o mal político é sempre e em toda parte gerador do mal económico. Então, isso significa evidentemente que o mal político é, por natureza, um mal moral ao passo que o mal económico como inflação, desemprego, etc., não é moral, nem imoral, é simplesmente um mal físico.

Há uma lista enorme de males morais causados pelos governos e sabemo-lo pelos males físicos que causam a economia. O aumento da oferta de moeda é um mal moral porque conduz a um mal físico chamado inflação. A política de salário mínimo é um mal moral porque protege trabalhadores ineficientes e mantém fora do mercado de trabalho “um exército industrial de reserva” para usar a expressão de Marx. O “estado de bem-estar” é imoral porque retira dos empresários o incentivo do investimento produtivo por causa do pesado jugo tributário que pesa sobre estes para dar “almoços grátis” a pessoas que ao invés de irem trabalhar passam a vida em manifestações de rua a exigir mais direitos, mais previdência social para a qual não contribuem com um centavo se quer. Aliás, o “walfare-state” transcende a condição de mal moral para se tornar num mal espiritual, uma verdadeira revolta contra Deus que disse a Adão:  “do suor do teu rosto comerás o teu pão” porque, contrariamente a isto, o “walfare-state” diz: “do suor do rosto dos outros comerás o teu pão”. Um pão roubado, evidentemente.

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A moral foi um assunto que precursou a parousia da Ciência Económica. Co efeito, antes que Adam Smith escrevesse “a riqueza das nacoes”, ele escreveu “ a teoria dos sentimentos morais” e, esses dois livros não estão desencontrados, muito pelo contrário, eles se complementam porque se a natureza da riqueza das nações é a liberdade, por outro lado, não pode haver liberdade sem moral. Liberdade sem moral gera insegurança. Alexis de Tocqueville, no seu livro “Democracia na América”, explicou o sucesso dos E.U.A como resultado da articulação da liberdade de mercado com a moral judaíco-cristã. Na verdade, se o povo tem moral, o Estado pode dar liberdade ao povo, mas se o povo for imoral, a liberdade deve, por definição, ser restringida ao máximo possível. Alías, é exactamente o que está acontecendo no mundo inteiro, inclusive nos próprios E.U.A sob Obama. Ou seja, a imoralidade no mundo inteiro está dando origem a Estados totalitários que vão restringindo cada vez mais a liberdade das populações e isso já está acontecendo. Na verdade, os Estados semeam caos moral e depois usam esse mesmo caos moral para justificar a adopção de medidas que nada mais fazem que ampliar a autoridade do Estado sobre a população civil, numa espécie de facismo enrustido, um neo-facismo.

Infelizmente, com Keynes e sua “teoria geral”, os sentimentos morais de Smith foram total ou parcialmente solapados, tendo-se criado Estados imorais que a única coisa que sabem fazer é prodigalizar o dinheiro das pessoas que produzem alegadamente porque no longo prazo todos estarão mortos. Sim! Mortos sob os escombros da inflação, do desemprego, enfim, da estagnação económica. Porém, não há nenhum economista, por mais burro e desonesto que seja, que não saiba que o capitalismo, como diz Max Weber, não sendo produto da religião, é produto da ética protestante, mormente, a ética protestante de cariz calvinista. Porém, ao invés da palavra ética, eu prefiro usar a palavra moral por que ética pressupõe teorização do certo e do errado ao passo que moral implica a prática do certo e do errado. E, destarte, o que é moral senão aquilo que Kant chamou de razão prática? Quer dizer, uma nação sem sentimentos morais nunca chegará a riqueza das nações. Não importa quantos recursos naturais uma nação tenha e quão abundantes eles sejam, não é isso que gera a riqueza das nações. tendo sido demonstrado amplamente que a natureza da riqueza das nações é a liberdade e que está só pode ser ampliada quanto mais moral o povo tiver, sucede que não passa, como diz Eric Voeglin, de uma fé metastática acreditar que uma nação chegará a riqueza das nações sem agir, uma vez que acção pressupõe liberdade de acção e essa não existe sem a existência anterior dos sentimentos morais que é da natureza mesmo da liberdade e da solidariedade.

ESCRITO POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com

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