Não há riqueza sem liberdade porque na riqueza
está subentendida a acção para gerar acumulação e ausência de liberdade implica ausência de possibilidade
de acção para fazer acumulação.
A
economia surge como um corpo de teorias sistematizadas no século XVIII, quando
o filósofo Adam Smith publicou seu clássico “a natureza e a causa da riqueza
das nações” em 1776, mais conhecido simplesmente por “a riqueza das nações”.
Quer dizer, a preocupação de Smith não era combater a pobreza, mas sim sondar
as causas e a natureza da riqueza das nações, ou seja, o combate contra a
pobreza não faz parte do núcleo axiológio da economia tradicional e aqui temos
um divisor de águas porque quem gera riqueza são os indivíduos ao passo que
quem se arrogava a prerrogativa de combater a pobreza é sempre o Estado e desta
forma torna a pobreza num inimigo político e sendo um inimigo político, a
pobreza surge como um pré-texto para se alcançar o poder político.
Portanto,
em qualquer parte do mundo onde haja pobres, não tenhamos mais mínima dúvida de que eles são a prole
legítima da política. Muitas pessoas lêem erradamente Aristóteles e dizem que
este filósofo afirmou que o objectivo da política é alcançar o bem comum, mas
isso é totalmente falso. O objectivo do governo é o bem comum, mas este não é o
objectivo da política. O objectivo da política é alcançar o poder. Você poderá
dizer: “mas a crise de 1929 foi uma crise económica e não uma crise provocada
pela politica”, ou como alguns que a semelhança do Economista Paul Krugman
dizem que “a crise de 2008 foi uma crise de falta de regulamentação”, etc.,
porém, isso é totalmente falso porque essas crises todas foram montadas pelo
pessoal da esquerda norte-americana, os discípulos do Saul Alinsky. Isso é a
própria estratégia Claward-Piven. Quer dizer, a crise é económica mas a sua
natureza é política, logo, trata-se de uma crise política considerada desde o
ponto de vista mesmo da sua essência, resultante da flagrante violação da
lei fundamental da economia que é a lei
da escassez. Os Estados tem violado essa lei dando “almoços grátis” a população
com bastante respaldo teorético dos pseudo-economistas.
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Quando
Adam Smith diz: “causa e natureza das riquezas das nações”, podemos deduzir
daqui três corolários fundamentais: Primeiro, a riqueza das nações é possível.
Ela, na verdade, chega a ser uma possibilidade universal; segundo, a riqueza
das nações tem uma causa eficiente; terceiro, a riqueza das nações tem uma
natureza própria.
Ora,
que a riqueza das nações é possível, penso que é auto-probante. Veja, que Adam
Smith não discute ou não procura provar a possibilidade das riqueza das nações.
Ele o toma como um facto auto-evidente que não carece de ulterior dedução
silogística para prová-lo. Aliás, se ela não fosse possível, ela não teria uma
causa eficiente e muito menos uma natureza por meio da qual podemos conhece-la
e diferenciá-la de outros objectos da nossa experiência. Porém, malgrado essa
possibilidade esteja presente, isso não significa que todas as nações vão
chegar a riqueza das nações até porque, do ponto de vista lógico, da possibilidade
de uma coisa não se pode deduzir a sua realidade, porém, o recíproco não
sucede. Portanto, há nações que vão conseguir actualizar essa possibilidade,
mas há aquelas que pura e simplesmente nunca irão conseguir actualizar essa
possibilidade da riqueza das nações.
A
actualização da possibilidade da riqueza das nações que existe virtualmente em
cada nação só pode acontecer como resultado da nossa experiência real. É claro
que a experiência dos outros povos é importante para ampliar as nossas possibilidades
de mundos possíveis. Aliás, j’a dizia aquele filósofo islâmico, Al-Kindi que é
preciso buscar a verdade onde quer que ela esteja, quer ela esteja numa geração
anterior a nossa, quer ela esteja numa cultura diferente da nossa. Portanto,
falar de actualização de possibilidades é falar de acção. Então, aí temos o
pragma. Mas para podermos agir temos que ter unidade de intenção. Não há
nenhuma acção possível sem unidade de intenção. Isso não significa comungarmos
da mesma ideologia. Na verdade a ideologia é o que menos conta. O que conta é a
estratégia. Podemos discordar da ideologia, mas se não houver acordo quanto a
estratégia, nenhuma acção será possível.
O
segundo colorário é que a riqueza das nações tem uma natureza. O que é
natureza? Não nos esqueçamos que Smith, à data da redacção da “riqueza das
nações”, não era um economista mas sim um professor de filosofia. Então, você
tem que pensar como um filósofo para entender Smith. Pensar como um filosofo é
sondar os fudamentos mesmos da ciência, e neste caso específico, sondar os
fundamentos mesmo da Ciência Económica que para Smith é a ciência da riqueza
das nações e não a ciência do combate contra a pobreza. É claro que a pobreza
acaba sendo afectada, mas falo da nossa esquemática enquanto agentes
económicos, falo da, portanto, da nossa intencionalidade que é o que faz com
que a economia seja aquilo que Ludwig Von Mises chamou de “acção humana”.
Considerado
desde o ponto de vista filosófico, natureza é aquilo para o qual uma coisa
tende. Foi Hegel que disse que a essência de alguma coisa é aquilo em que ela
se torna. Quer dizer, natureza, enquanto aquilo que uma coisa é segundo a sua
essência, é aquilo em que essa coisa se torna. Nestes termos, a essência da
riqueza das nações é aquilo para o qual ela tende, ou seja, é aquilo em que ela
se torna. E a riqueza de uma nação só pode tender para uma única coisa e essa
coisa chama-se liberdade. E o que é liberdade senão movimento? E, o que é
movimento senão dinheiro como diz George Simmel na sua sociologia do dinheiro.
Não que dinheiro seja, em si mesmo, riqueza; porém, quanto mais dinheiro mais
movimento, mais desdeterminação, mais liberdade. Muitas pessoas chegam a
confundir liberdade como democracia. Porém, você pode ter democracia sem
liberdade. A social-democracia é disso um exemplo emblemático. Portanto, quando
falo de liberdade, neste ensaio, falo dela como possibilidade de acção moral e
possibilidade da não acção imoral. No decurso do ensaio isso ficará mais claro.
Sendo
que a liberdade, enquanto possibilidade de acção é a natureza mesma da riqueza
das nações, sucede que uma nação em que a liberdade é uma raridade, a riqueza
também será uma raridade. Ou seja, os recursos podem ser escassos, mas a
liberdade, não deve ser escassa, ela deve ser abundante tanto quanto possível.
Não há riqueza sem liberdade porque na riqueza está subentendida a acção para
gerar acumulação e ausência de liberdade implica ausência de possibilidade de acção para fazer acumulação.
E, num estado de direito, a acção só conhece um tipo de fronteira que é a
regulamentação. Muitas pessoas pensam que dinheiro é uma limitante suis generis, mas acontece que o
dinheiro só limita os seus interesses mas não a sua acção. George simmel, que
foi um dos maiores filósofos do século XX ao lado de Xavier Zubiri, definiu
dinheiro como fronteira de interesse. Na verdade, o dinheiro só pode limitar o
nosso interesse, não a nossa acção. Somente a regulamentação pode limitar a
nossa acção e a de todos os homens, sejam eles Bill Gates, Rockfeller e tutti quanti.
Não
digo que a liberdade seja a causa ou a origem da riqueza das nações. De modo
nenhum. A liberdade é apenas a natureza da riqueza das nações na medida em que
ela é aquilo para o qual ela tende. Entretanto, é preciso sondar a causa dessa
mesma riqueza das nações. Nem toda causa causa materialmente o seu efeito. Para
uma causa ser causa formal e material de um efeito, ela tem que ter causado o
efeito e aí, então, ela é uma causa eficiente. Ou seja, a riqueza só pode ser
causada por uma causa eficiente. Uma causa deficiente não causa a riqueza mas
sim a pobreza. Ora, se somos agentes económicos doptados de razão - e somente
um agente económico individual pode ser racional e nunca um agente económico
colectivo e isso foi amplamente demonstrado quer pelo paradoxo de Condorcet,
quer pelo teorema de impossibilidade de Arrow – como é possível que nossas
acções sejam causa deficiente e causadoras da pobreza da nação?
Sócrates
dizia que não era possível que um homem fizesse o mal se ele conhecesse o bem.
Porém, Sócrates estava errado. Na verdade, como disse o filósofo Herculano
Pires, Sócrates errou por acreditar que a vontade era uma faculdade da razão.
Ora, a vontade reporta-se a razão mas ela é uma faculdade humana autônoma.
Quando o Banco central inunda a economia de papel-moeda, não é porque não sabe
que isso vai causar inflação. O que acontece é que ele pensa que está fazendo
um bem, enquanto, está fazendo um mal, ao escolher um bem de curto prazo em
detrimento de resultados de mais longo prazo.
Ou seja, ele faz aquilo que Sócrates chamou de erro de cálculo que é um
mal moral, evidentemente, e que vai, por seu turno, gerar um mal físico. Por
assim dizer, o mal político é sempre e em toda parte gerador do mal económico.
Então, isso significa evidentemente que o mal político é, por natureza, um mal
moral ao passo que o mal económico como inflação, desemprego, etc., não é
moral, nem imoral, é simplesmente um mal físico.
Há
uma lista enorme de males morais causados pelos governos e sabemo-lo pelos
males físicos que causam a economia. O aumento da oferta de moeda é um mal
moral porque conduz a um mal físico chamado inflação. A política de salário
mínimo é um mal moral porque protege trabalhadores ineficientes e mantém fora
do mercado de trabalho “um exército industrial de reserva” para usar a
expressão de Marx. O “estado de bem-estar” é imoral porque retira dos
empresários o incentivo do investimento produtivo por causa do pesado jugo
tributário que pesa sobre estes para dar “almoços grátis” a pessoas que ao
invés de irem trabalhar passam a vida em manifestações de rua a exigir mais
direitos, mais previdência social para a qual não contribuem com um centavo se
quer. Aliás, o “walfare-state” transcende a condição de mal moral para se
tornar num mal espiritual, uma verdadeira revolta contra Deus que disse a
Adão: “do suor do teu rosto comerás o
teu pão” porque, contrariamente a isto, o “walfare-state” diz: “do suor do
rosto dos outros comerás o teu pão”. Um pão roubado, evidentemente.
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A moral foi um assunto que precursou a parousia da
Ciência Económica. Co efeito, antes que Adam Smith escrevesse “a riqueza das
nacoes”, ele escreveu “ a teoria dos sentimentos morais” e, esses dois livros
não estão desencontrados, muito pelo contrário, eles se complementam porque se
a natureza da riqueza das nações é a liberdade, por outro lado, não pode haver
liberdade sem moral. Liberdade sem moral gera insegurança. Alexis de
Tocqueville, no seu livro “Democracia na América”, explicou o sucesso dos E.U.A
como resultado da articulação da liberdade de mercado com a moral
judaíco-cristã. Na verdade, se o povo tem moral, o Estado pode dar liberdade ao
povo, mas se o povo for imoral, a liberdade deve, por definição, ser
restringida ao máximo possível. Alías, é exactamente o que está acontecendo no
mundo inteiro, inclusive nos próprios E.U.A sob Obama. Ou seja, a imoralidade
no mundo inteiro está dando origem a Estados totalitários que vão restringindo
cada vez mais a liberdade das populações e isso já está acontecendo. Na
verdade, os Estados semeam caos moral e depois usam esse mesmo caos moral para
justificar a adopção de medidas que nada mais fazem que ampliar a autoridade do
Estado sobre a população civil, numa espécie de facismo enrustido, um
neo-facismo.
Infelizmente,
com Keynes e sua “teoria geral”, os sentimentos morais de Smith foram total ou
parcialmente solapados, tendo-se criado Estados imorais que a única coisa que
sabem fazer é prodigalizar o dinheiro das pessoas que produzem alegadamente
porque no longo prazo todos estarão mortos. Sim! Mortos sob os escombros da
inflação, do desemprego, enfim, da estagnação económica. Porém, não há nenhum
economista, por mais burro e desonesto que seja, que não saiba que o
capitalismo, como diz Max Weber, não sendo produto da religião, é produto da
ética protestante, mormente, a ética protestante de cariz calvinista. Porém, ao
invés da palavra ética, eu prefiro usar a palavra moral por que ética pressupõe
teorização do certo e do errado ao passo que moral implica a prática do certo e
do errado. E, destarte, o que é moral senão aquilo que Kant chamou de razão
prática? Quer dizer, uma nação sem sentimentos morais nunca chegará a riqueza
das nações. Não importa quantos recursos naturais uma nação tenha e quão
abundantes eles sejam, não é isso que gera a riqueza das nações. tendo sido
demonstrado amplamente que a natureza da riqueza das nações é a liberdade e que
está só pode ser ampliada quanto mais moral o povo tiver, sucede que não passa,
como diz Eric Voeglin, de uma fé metastática acreditar que uma nação chegará a
riqueza das nações sem agir, uma vez que acção pressupõe liberdade de acção e
essa não existe sem a existência anterior dos sentimentos morais que é da
natureza mesmo da liberdade e da solidariedade.
ESCRITO POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com
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