A supressão do homem pela ciência significa
supressão de todo acto e o culto dos dados. Por conseguinte, os homens se
tornaram “bons” a resolver os problemas da ciência, mas se tornaram ineptos para
resolver o seu problema existencial.
Não digo que as pessoas não devem interessar-se pela
ciência. Mas uma ciência incapaz de dar ao homem aquilo que Victor Frankly chamava de "sentido de vida" é um mero desporto acadêmico e aqueles que a ela se
entregam não passam de diletantes para usar o vocabulário de José Ortega y
Gasset.
Não tenho dúvidas de
que a objectividade da ciência está na origem da crise antropológica no mundo
inteiro. Ao colocar o seu foco no objecto e não mais no sujeito, a ciência
acabou deixando o homem para o segundo plano, para o último plano, aliás, para
plano nenhum.
Veja, a ciência não
trata do filósofo, ela trata da filosofia. A ciência não trata do doente, ela
lida com a doença. A ciência não lida com o político, ela lida com a política.
A ciência não lida com o “antropo”, mas com a antropologia; etc., etc. Ora, não
admira que toda crise da modernidade como foi amplamente discutido por
Spengler, Toynbee, René Guenón, etc., seja, na verdade uma crise da própria
ciência. Porquê? Por causa daquilo que Guenón vai chamar de incapacidade da ciência
de compreender o homem.
A supressão do homem pela ciência significa supressão de todo acto e o culto dos dados.
Por conseguinte, os homens se tornaram “bons” a resolver os problemas da ciência,
mas se tornaram ineptos para resolver o seu problema existencial. Você vê,
por exemplo, o caso de Einstein, um indivíduo capaz de grandes abstrações na
área da física e adorado por todo mundo como a encarnação do gênio científico,
mas esse mesmo homem tinha um filho esquizofrênico que ele mandou internar e
nunca mais foi visitá-lo até a sua morte. Que grande gesto de humanidade! Você vê
o caso do próprio Newton: um gênio das ciências, mas incapaz de se relacionar
com pessoas e resolver problemas práticos do dia-a-dia. Não é por acaso que nos
mitos fundadores das religiões a árvore da ciência sempre conduz a morte.
Ninguém pode negar que
a humanidade se encontra abraços com uma crise de dimensões antropológicas. Uma
pequena briga dentro do lar é suficiente para desfazer um casamento, mas esse
mesmo casal, entende “tudo” de Engenharia e Medicina. Um pequeno problema
doméstico já suscita a comparência dos vizinhos, amigos, padrinhos, dos sogros,
dos avós, dos antepassados mais remotos, dos psicólogos, advogados e assim por
diante. Em outras palavras, é a total e completa infantilização da sociedade.
Não digo que as
pessoas não devem interessar-se pela ciência. Mas uma ciência que não pode ser
aplicada para ajudar o homem a encontrar aquilo que Victor Frankly chamava de "sentido de vida" é um mero desporto acadêmico
e aqueles que a ela se entregam não passam de diletantes para usar o vocabulário
de José Ortega y Gasset.
Veja, o que é a
filosofia? A melhor definição de filosofia que eu já encontrei foi dada pelo
filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, i.e., filosofia como “unidade de saber
na unidade da consciência e vice-versa”. A unidade do saber é muito difícil de
você alcançar porque a filosofia não é um corpo de conhecimentos já prontos que
você só tem que decorar e repetir como muitos fazem nas ciências. Isso não é
filosofia! Até porque o mais importante na filosofia não é propriamente o que o
filósofo diz, mas o conjunto de tensões que se desenvolveram em seu interior e
que o conduziram a especular acerca disso, ou seja, as perguntas na filosofia
são mais importantes que as respostas. Se você não perceber isso, você nunca
saberá o que é filosofia e muito menos o que é ser um filósofo de verdade.
A unidade da
consciência é possível. Quer dizer, você não tem que, apenas, buscar o saber,
ou seja, especular sobre isso ou sobre aquilo, mas você tem que, depois, dar um
segundo passo, i.e., integrar esse saber na sua conduta pessoal. Quer dizer, a
filosofia não é um fim em si mesmo, o fim da filosofia é moldar a sua conduta.
Portanto, ler livros de filosofia é muito bom, mas daí até você se tornar um
filósofo, você vai ter que mudar muito como pessoa e se tornar mais sério, mais
responsável, mais corajoso, mais homem... Aliás, Hannah Arendt dizia que o
objetivo de pensar, que ela definia como o diálogo silencioso consigo mesmo,
conforme presente na tradição filosófica Platão até Aristóteles, não era
adquirir conhecimento mas sim saber distinguir o certo do errado, o bem do mal,
enfim, saber fazer escolhas morais acertadas. Fora disso, é tudo uma
diletantismo barato, um entretenimento de adolescentes.
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