domingo, 27 de novembro de 2016

O culto da Ciência

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A supressão do homem pela ciência significa supressão de todo acto e o culto dos dados. Por conseguinte, os homens se tornaram “bons” a resolver os problemas da ciência, mas se tornaram ineptos para resolver o seu problema existencial.

Não digo que as pessoas não devem interessar-se pela ciência. Mas uma ciência incapaz de dar ao homem aquilo que Victor Frankly chamava de "sentido de vida" é um mero desporto acadêmico e aqueles que a ela se entregam não passam de diletantes para usar o vocabulário de José Ortega y Gasset.

Não tenho dúvidas de que a objectividade da ciência está na origem da crise antropológica no mundo inteiro. Ao colocar o seu foco no objecto e não mais no sujeito, a ciência acabou deixando o homem para o segundo plano, para o último plano, aliás, para plano nenhum.

Veja, a ciência não trata do filósofo, ela trata da filosofia. A ciência não trata do doente, ela lida com a doença. A ciência não lida com o político, ela lida com a política. A ciência não lida com o “antropo”, mas com a antropologia; etc., etc. Ora, não admira que toda crise da modernidade como foi amplamente discutido por Spengler, Toynbee, René Guenón, etc., seja, na verdade uma crise da própria ciência. Porquê? Por causa daquilo que Guenón vai chamar de incapacidade da ciência de compreender o homem.

A supressão do homem pela ciência significa supressão de todo acto e o culto dos dados. Por conseguinte, os homens se tornaram “bons” a resolver os problemas da ciência, mas se tornaram ineptos para resolver o seu problema existencial. Você vê, por exemplo, o caso de Einstein, um indivíduo capaz de grandes abstrações na área da física e adorado por todo mundo como a encarnação do gênio científico, mas esse mesmo homem tinha um filho esquizofrênico que ele mandou internar e nunca mais foi visitá-lo até a sua morte. Que grande gesto de humanidade! Você vê o caso do próprio Newton: um gênio das ciências, mas incapaz de se relacionar com pessoas e resolver problemas práticos do dia-a-dia. Não é por acaso que nos mitos fundadores das religiões a árvore da ciência sempre conduz a morte.

Ninguém pode negar que a humanidade se encontra abraços com uma crise de dimensões antropológicas. Uma pequena briga dentro do lar é suficiente para desfazer um casamento, mas esse mesmo casal, entende “tudo” de Engenharia e Medicina. Um pequeno problema doméstico já suscita a comparência dos vizinhos, amigos, padrinhos, dos sogros, dos avós, dos antepassados mais remotos, dos psicólogos, advogados e assim por diante. Em outras palavras, é a total e completa infantilização da sociedade.

Não digo que as pessoas não devem interessar-se pela ciência. Mas uma ciência que não pode ser aplicada para ajudar o homem a encontrar aquilo que Victor Frankly chamava de "sentido de vida" é um mero desporto acadêmico e aqueles que a ela se entregam não passam de diletantes para usar o vocabulário de José Ortega y Gasset.

Veja, o que é a filosofia? A melhor definição de filosofia que eu já encontrei foi dada pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, i.e., filosofia como “unidade de saber na unidade da consciência e vice-versa”. A unidade do saber é muito difícil de você alcançar porque a filosofia não é um corpo de conhecimentos já prontos que você só tem que decorar e repetir como muitos fazem nas ciências. Isso não é filosofia! Até porque o mais importante na filosofia não é propriamente o que o filósofo diz, mas o conjunto de tensões que se desenvolveram em seu interior e que o conduziram a especular acerca disso, ou seja, as perguntas na filosofia são mais importantes que as respostas. Se você não perceber isso, você nunca saberá o que é filosofia e muito menos o que é ser um filósofo de verdade.

A unidade da consciência é possível. Quer dizer, você não tem que, apenas, buscar o saber, ou seja, especular sobre isso ou sobre aquilo, mas você tem que, depois, dar um segundo passo, i.e., integrar esse saber na sua conduta pessoal. Quer dizer, a filosofia não é um fim em si mesmo, o fim da filosofia é moldar a sua conduta. Portanto, ler livros de filosofia é muito bom, mas daí até você se tornar um filósofo, você vai ter que mudar muito como pessoa e se tornar mais sério, mais responsável, mais corajoso, mais homem... Aliás, Hannah Arendt dizia que o objetivo de pensar, que ela definia como o diálogo silencioso consigo mesmo, conforme presente na tradição filosófica Platão até Aristóteles, não era adquirir conhecimento mas sim saber distinguir o certo do errado, o bem do mal, enfim, saber fazer escolhas morais acertadas. Fora disso, é tudo uma diletantismo barato, um entretenimento de adolescentes.

ESCRITO POR | XADREQUE SOUSA | shathreksousa@gmail.com

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