A divisão das
ideologias políticas ou culturais em direita-esquerda é coisa da modernidade.
Contudo, nos tempos em que vivemos, a fronteira entre essas duas ideologias
encontra-se totalmente diluída de modo que o que se concebe de direita e
esquerda, hoje em dia, não corresponde as acções reais de nenhum grupo político
tomado especifice de modo que o jogo direita-esquerda
é apenas um vestido de ideias para ocultar um esquema de poder monstruoso, quer
nacional, quer internacional.
Sabemos que a distinção das cores
partidárias ou ideológicas em esquerda e direita vem desde a revolução jacobina
de 1789 que pretendia derrubar a autoridade da igreja e destruir a monarquia
para implantar um estado de “virtude e terror” de acordo com as próprias
palavras de Robespierre. É claro: virtude para com os revolucionários e terror
para com a igreja e a monarquia como disse Teodoro Adorno: “toda tolerância
para com a esquerda. Nenhuma tolerância para com a direita”.
Contudo, não nos interessa aqui discutir
as origens dessas duas ideologias desde os tempos remotos da revolução francesa
mas partir mesmo do entendimento humano que disto tem Jacques Maritain, quando
em seu livro “Le Paysan de Garone”, remonta a Goethe para fazer a distinção
entre direita e esquerda.
No “Fausto”, Goethe escreve “prefiro a
ordem a uma boa justiça”. Partindo dessa sentença, Maritain concluiu que a
esquerda se define pela defesa da justiça e a direita pela defesa da ordem.
Sabemos que Goethe era conservador, contudo, isso é o que Maritain está dizendo
e não Goethe. É a tal diferença entre logoi
e lexei.
No seu livro “Liberdade e Democracia”,
Norberto Bobbio diz que tanto a direita (democratas) quanto a esquerda
(socialistas) querem o bem-estar social, porém, a direita quer chegar a isso
por meio da liberdade enquanto a esquerda quer chegar a isso por meio da
igualdade. Então, para a direita, a ordem seria a liberdade e para a esquerda,
a justiça seria a igualdade.
Não creio que a direita seja paladina da justiça
social zero. De modo nenhum. O problema está no próprio conceito de justiça endossado
pela esquerda. Para a esquerda, justiça é tirar dos capitalistas para dar aos
proletários. Isso não é justiça. Isso é roubo. Proudhon dizia que “a
propriedade privada é um roubo” mas com Lenine aprendemos que isso não passa de
rotulação inversa e que o roubo mesmo é a propriedade pública que, na verdade,
não é pública, mas propriedade do partido estado, aliás, do partido que está
acima do próprio estado.
John Rawls escreveu a “teoria da justiça”
mas como diz Olavo de Carvalho, ela parece mais uma teoria da injustiça do que
da justiça. A civilização ocidental apoia-se em 3 pilares: (1) a filosofia
grega; (2) direito romano e (3) moral judeo-cristã. Ora, sabemos que a justiça
é, teleologicamente, o fim a que tende o direito e quando o direito atinge o
objectivo da justiça dizemos que ele é eficaz. Então, estamos dizendo que um
direito justo, na acepção de Rudolph Stammler, é um direito eficaz.
No direito romano, tudo resume-se na máxima
“dura lex sed lex”. Por outras palavras, “dar a cada um o que é de cada um”.
Deste modo, quando a esquerda se faz de Robin Hood que roubava dos ricos para
dar aos pobres, isso não pode ser justiça nem aqui, nem na cochinchina. Na
moral judaico-cristã, a justiça social funda-se na máxima do Génesis: “do suor
do teu rosto comerás o teu pão”(sic) e não o que a esquerda diz: “do suor dos
capitalistas, os proletários comerão o seu pão”.
A ideia de justiça da esquerda é falsa.
Ela é falsa porque se apoia em um conceito falso que é o conceito da
“mais-valia”. Esse conceito é falso porque se baseia na ideia também falsa dos
neo-ricardianos de que o valor das mercadorias é determinado pelo trabalho
humano incorporado na produção daquela mercadoria, o que foi refutado em 1871
pelos economistas marginalistas ou neo-clássicos como William Stanley Jevons, Leon
Walras, Carl Menger e Eugen Von Bohm-Bawerk e Ludwig Von Mises.
Não há nenhuma norma jurídica que obrigue
alguém a ser caridoso com ninguém. A caridade é um acto livre da consciência
humana pelo qual, o ser humano enquanto tomado monadicamente, só tem que
responder perante o tribunal da moral que é sempre individual e nunca colectiva
porque uma “moral colectiva” seria o direito.
Podemos discutir se o direito se funda ou
não na moral. Então, temos uma fundamentação do direito, um modo de existir do
direito que é a vigência e a sua eficácia. Ora, existem 3 notas que definem o
direito, a saber: a sua exterioridade como defendida por Thomasius; a coacção
como é defendido por Kant, Espinoza etc.; a intenção conforme defendida por Aristóteles.
Na moral existe a intenção aristotélica mas já não existe a exterioridade e a coacção.
***
Hoje em dia, a distinção entre direita e
esquerda está diluída. Hoje fala-se de centro direita e centro esquerda;
fala-se de partidos sociais-democratas, etc. Aliás, o próprio termo democrata
não significa a mesma coisa em todo mundo. Por exemplo, nos EUA, democrata quer
dizer esquerdista mas em outros países quer dizer direitista. Nos EUA, o termo
para esquerdista é “liberal” que em outros países é usado para designar a
direita, os que defendem a economia de mercado.
Essa confusão de termos mostra que o que
os partidos dizem não importa, o que importa é o que eles fazem. O que eles
dizem é apenas um discurso ideológico para contentar a massa de militantes de
idiotas úteis que acreditam que o partido príncipe de Gramsci vai transformar
os seus países, ou o mundo globalmente, num paraíso adâmico. É a essa ilusão
pseudo-messiânica dos movimentos de massa que Eric Voeglin chama de “fé metastática”.
Entre a esquerda e a direita eu prefiro os
conservadores. O que é ser um conservador? Michael Okeashot disse que “ser
conservador é preferir o certo ao duvidoso, o experimentado ao não
experimentado, o possível ao impossível”. Ora, algumas pessoas dizem que mesmo
o capitalismo começou por ser uma utopia. Isso é falso porque a formulação
teórica do capitalismo veio apenas no século XVIII, ou seja, cerca de 3 séculos
depois do surgimento do capitalismo com a ética protestante enquanto o
socialismo e o comunismo são impensáveis sem as teorias utópicas da modernidade
como “Utopia” de Thomas Moro, “Cidade do Sol” de Campanela, “manifesto
comunista” de Marx & Engels, “O Capital” de Marx e assim por diante.
É ridículo pensar que os socialistas estão
preocupados com a justiça social. Justiça social é apenas um cavalo de assalto,
uma ideologia. Marx definiu ideologia como um vestido de ideias cujo objectivo
é ocultar um determinado esquema de poder. Por outras palavras, os socialistas
não querem justiça social seja ela de género, sexual, ambiental, económica,
etc. Eles querem poder e mais poder. No tempo de Marx, os socialistas se
diferenciavam dos comunistas por serem nacionalistas enquanto os comunistas
eram internacionalista. Hoje em dia, o socialismo é tão internacionalista
quanto o comunismo. Quer dizer, é a fusão do comunismo com o socialismo. Isso
não é novo. Já em 1939, Hitler, um social nacionalista, i.e., nazista, assinou
um pacto de não-agressão com Stálin, um internacional comunista, o pacto
conhecido como pacto Ribentrop-Molotov.
Por
conseguinte, é ridículo falar em “fim da história” a la Fukuyama baseado na queda do murro de Berlim, ou seja, dizer
que já não há mais esquerda, que hoje somos todos direitistas. No ano 2000,
Jean François Revel publicou um livro “La Grande Parade” em que ele mostra que
tudo isso é uma ilusão. Longe de serem todos direitistas, hoje em dia, todo
mundo é “socialista sem saber” como dizia Gramsci nos “cadernos do cárcere”.
Quando se olha para a ONU, que é o governo
mundial, aquilo lá é uma central esquerdista da elite globalista que é toda ela
composta por socialistas fabianos que são aqueles que querem tomar o poder não
através da revolução a la Lenine mas
através da revolução cultural gramsciana de uma “indolor” ocupação de espaço
que lhes permita ir moldando o sistema de valores da sociedade globalmente para
torná-la mais coerente com o seu esquema de poder global. E chamar a isso de teoria
de conspiração é tão absurdo que nem merece a pena perder tempo com isso porque
tudo isso é tão aberto ou como disse H.G.Wells, uma “open conspiracy”, que
parece mau demais para ser verdade.
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