sábado, 11 de março de 2017

Ciência e verdade

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Na ciência, a verdade é sempre uma adequatio, uma adequação intencional da nossa intencionalidade, da nossa esquemática, entre dois termos, sendo um desses termos o intelecto e o outro a coisa conhecida. Porém, essa verdade não exclui a possibilidade de outras verdades dadas dentro de outros tipos de relação.

As verdades podem ser escrutáveis e inescrutáveis. As verdades escrutáveis são aquelas a que busca alcançar a filosofia e a ciência. As verdades inescrutáveis se dividem em irrevelata e revelata. A irrevelata é a ciência Dei e a revelata é a ciência Cristi.

Na ciência, a verdade é sempre relativa porque ela é tomada sempre numa relação entre dois termos. Deste modo, como diz Mário Ferreira dos Santos, a verdade é uma adequatio, uma adequação intencional da nossa intencionalidade, da nossa esquemática, entre dois termos, sendo um desses termos o intelecto e o outro a coisa conhecida.

De modo que, quando um físico diz que v=s/t essa verdade só é válida dentro dessa relação entre o cognotium e o cognitum, porém, essa verdade não exclui a possibilidade de outras verdades dadas dentro de outros tipos de relação porque, neste caso, ela já não seria mais relativa mas, sim, absoluta e, sendo assim, estaríamos, por nossa vez, fora do âmbito das ciências naturais, fora do âmbito das abstracções do primeiro grau como vimos num outro artigo intitulado “ABSTRAÇÃO como fundamento da ciência, matemática e metafísica”.

Então, para além dessa verdade relativa, tomada numa relação, existe a verdade in res da coisa tomada em si mesma por exemplo quando se diz: “este objecto é verdadeiramente uma pedra”. Deste modo, essa verdade, a verdade da coisa tomada em si mesma vai ser sempre uma adequação intencional da coisa com aquilo que nós conceituamos dela, sendo o conceito apenas a representação mental do objecto e não uma definição como muitos fazem essa confusão por aí.

Mário Ferreira dos Santos diz que há alguns que crêem que todo o tipo de verdade é escrutável. Então, toda a verdade é escrutável. Contudo, sendo a nossa mente dialéctica, ou seja, ela funciona na base da confrontação dialéctica de hipóteses, temos que admitir a existência de verdades inescrutáveis.

As verdades escrutáveis são aquelas a que buscam alcançar a filosofia e a ciência. A primeira faz isso apenas com as luzes naturais da razão, sendo o filósofo o perquiridor mais desprovido do universo porque ele só conta com a sua razão para penetrar, para perquirir, para perscrutar, enquanto os outros usam de instrumentos auxiliares como já pode proceder a ciência.

As verdades inescrutáveis se dividem em irrevelata e revelata. A irrevelata é o que São Bernardo chamou de ciência Dei que é uma verdade que nós nunca conheceremos malgrado admitirmos sua existência e a revelata é a ciência Cristi, que é uma verdade que nós não podemos escrutar mas que chegam a nós através da revelação dos livros religiosos das diversas religiões como a Bíblia e a Cabala, o Alcorão e a Sharia, o Vedas e os Upanishads.

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Qual é a diferença entre os pitagóricos-platónicos e os aristotélicos-tomistas no que tange a verdade? Ora, os pitagóricos-platónicos partem da aletheia, da verdade mesmo. Eles procuram fazer a distinção entre o mundo aparente e o mundo verdade ao passo que os aristotélicos-tomistas procuram fundar o mundo verdade no mundo aparente, ou seja, os pitagóricos-platónicos partindo das ideias mesmo vão extraindo juízos virtuais contidos nos diferentes logois enquanto os aristotélicos-tomistas partindo da empírea vão racionalizando a empírea.

Nos primeiros 1500 anos da igreja, duas correntes de pensamento definiram a tendência doutrinária da igreja. Até o século IV temos uma predominância do platonismo no período conhecido como patrística, o qual teve como seu principal luminar a figura de Santo Agostinho, o autor das “confissões” e da “cidade de Deus”. No período propriamente medieval, com a introdução no ocidente da filosofia de Aristóteles por meio de alguns filósofos árabes como Averróis, Al Gazali, Avicena e Al Kindi, a doutrina cristã começa a sofrer uma forte influência do aristotelismo que pela mão do escolaticismo inaugurado por Boécio e tendo alcançado seu desenvolvimento máximo com São Tomás de Aquino mudou para sempre a imagem da igreja.

Malgrado o esforço feito por São Tomás de Aquino para conciliar Aristóteles com a doutrina cristã não se pode negar que o platonismo é muito mais cristão do que o aristotelismo. By the way, as melhores ordens dentro da igreja católica surgiram dessa linha de pensamento, falo por exemplo das ordens dos agostinianos, a ordem dos carmelitas, a ordem dos franciscanos, os escotistas e figuras da dimensão de um Sto. Anselmo, São Bernardo, Duns Scotus, Alexandre de Hales, etc.

 As ordens que surgiram do aristotelismo são os dominicanos e os jesuítas. Agora, qualquer historiador sabe que são os aristotélicos que inventaram a inquisição, perseguiram os copérnicos, Galileu Galileu e tutti quanti por se terem colocado contra Aristóteles. Os católicos não gostam dos platónicos porque Martinho Lutero saiu daquela linha porém, como diz Mário Ferreira dos Santos, o platonismo é um pensamento mais legitimamente cristão do que Aristóteles. Isso não significa que eu seja contra Aristóteles. De modo nenhum. Meus artigos estão repletos de citações de pensamento aristotélico. Contudo, ele tem que ser aproveitado naquilo que ele tem de positivo e ser rejeitado naquilo que ele tem de negativo.

ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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