Na ciência, a
verdade é sempre uma adequatio, uma
adequação intencional da nossa intencionalidade, da nossa esquemática, entre
dois termos, sendo um desses termos o intelecto e o outro a coisa conhecida. Porém,
essa verdade não exclui a possibilidade de outras verdades dadas dentro de
outros tipos de relação.
As verdades podem
ser escrutáveis e inescrutáveis. As verdades escrutáveis são aquelas a que
busca alcançar a filosofia e a ciência. As verdades inescrutáveis se dividem em
irrevelata e revelata. A irrevelata é
a ciência Dei e a revelata é a ciência Cristi.
Na ciência, a verdade é sempre relativa porque ela é
tomada sempre numa relação entre dois termos. Deste modo, como diz Mário
Ferreira dos Santos, a verdade é uma adequatio,
uma adequação intencional da nossa intencionalidade, da nossa esquemática,
entre dois termos, sendo um desses termos o intelecto e o outro a coisa
conhecida.
De modo que, quando um físico diz que v=s/t essa
verdade só é válida dentro dessa relação entre o cognotium e o cognitum,
porém, essa verdade não exclui a possibilidade de outras verdades dadas dentro
de outros tipos de relação porque, neste caso, ela já não seria mais relativa
mas, sim, absoluta e, sendo assim, estaríamos, por nossa vez, fora do âmbito
das ciências naturais, fora do âmbito das abstracções do primeiro grau como
vimos num outro artigo intitulado “ABSTRAÇÃO como fundamento da ciência, matemática
e metafísica”.
Então, para além dessa verdade relativa, tomada numa
relação, existe a verdade in res da
coisa tomada em si mesma por exemplo quando se diz: “este objecto é
verdadeiramente uma pedra”. Deste modo, essa verdade, a verdade da coisa tomada
em si mesma vai ser sempre uma adequação intencional da coisa com aquilo que
nós conceituamos dela, sendo o conceito apenas a representação mental do
objecto e não uma definição como muitos fazem essa confusão por aí.
Mário Ferreira dos Santos diz que há alguns que crêem
que todo o tipo de verdade é escrutável. Então, toda a verdade é escrutável.
Contudo, sendo a nossa mente dialéctica, ou seja, ela funciona na base da
confrontação dialéctica de hipóteses, temos que admitir a existência de
verdades inescrutáveis.
As verdades escrutáveis são aquelas a que buscam
alcançar a filosofia e a ciência. A primeira faz isso apenas com as luzes
naturais da razão, sendo o filósofo o perquiridor mais desprovido do universo
porque ele só conta com a sua razão para penetrar, para perquirir, para
perscrutar, enquanto os outros usam de instrumentos auxiliares como já pode proceder
a ciência.
As verdades inescrutáveis se dividem em irrevelata e revelata. A irrevelata é
o que São Bernardo chamou de ciência Dei
que é uma verdade que nós nunca conheceremos malgrado admitirmos sua existência
e a revelata é a ciência Cristi, que é uma verdade que nós não podemos escrutar mas
que chegam a nós através da revelação dos livros religiosos das diversas
religiões como a Bíblia e a Cabala, o Alcorão e a Sharia, o Vedas e os Upanishads.
***
Qual é a diferença entre os pitagóricos-platónicos e
os aristotélicos-tomistas no que tange a verdade? Ora, os pitagóricos-platónicos
partem da aletheia, da verdade mesmo.
Eles procuram fazer a distinção entre o mundo aparente e o mundo verdade ao
passo que os aristotélicos-tomistas procuram fundar o mundo verdade no mundo
aparente, ou seja, os pitagóricos-platónicos partindo das ideias mesmo vão
extraindo juízos virtuais contidos nos diferentes logois enquanto os aristotélicos-tomistas partindo da empírea vão
racionalizando a empírea.
Nos primeiros 1500 anos da igreja, duas correntes de
pensamento definiram a tendência doutrinária da igreja. Até o século IV temos
uma predominância do platonismo no período conhecido como patrística, o qual
teve como seu principal luminar a figura de Santo Agostinho, o autor das
“confissões” e da “cidade de Deus”. No período propriamente medieval, com a
introdução no ocidente da filosofia de Aristóteles por meio de alguns filósofos
árabes como Averróis, Al Gazali, Avicena e Al Kindi, a doutrina cristã começa a
sofrer uma forte influência do aristotelismo que pela mão do escolaticismo
inaugurado por Boécio e tendo alcançado seu desenvolvimento máximo com São Tomás
de Aquino mudou para sempre a imagem da igreja.
Malgrado o esforço feito por São Tomás de Aquino para
conciliar Aristóteles com a doutrina cristã não se pode negar que o platonismo
é muito mais cristão do que o aristotelismo. By the way, as melhores ordens dentro da igreja católica surgiram
dessa linha de pensamento, falo por exemplo das ordens dos agostinianos, a
ordem dos carmelitas, a ordem dos franciscanos, os escotistas e figuras da
dimensão de um Sto. Anselmo, São Bernardo, Duns Scotus, Alexandre de Hales, etc.
As ordens que
surgiram do aristotelismo são os dominicanos e os jesuítas. Agora, qualquer
historiador sabe que são os aristotélicos que inventaram a inquisição, perseguiram
os copérnicos, Galileu Galileu e tutti
quanti por se terem colocado contra Aristóteles. Os católicos não gostam
dos platónicos porque Martinho Lutero saiu daquela linha porém, como diz Mário
Ferreira dos Santos, o platonismo é um pensamento mais legitimamente cristão do
que Aristóteles. Isso não significa que eu seja contra Aristóteles. De modo
nenhum. Meus artigos estão repletos de citações de pensamento aristotélico.
Contudo, ele tem que ser aproveitado naquilo que ele tem de positivo e ser
rejeitado naquilo que ele tem de negativo.
ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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