quarta-feira, 29 de março de 2017

Teoria do Conhecimento

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Qualquer que seja o conhecimento, seja ele intuitivo ou racional, é sempre uma acomodação dos factos a nossa esquemática, a nossa intencionalidade, até que os assimilemos. Quando a assimilação é maior que a acomodação temos um símbolo e quando é menor temos uma imitação.

A teoria do conhecimento cabe no âmbito daquilo que se chama no plano filosófico de gnosiologia ou ontognosiologia, isso já no plano transcendental.

Temos várias teorias do conhecimento. Na sua acepção clássica, o conhecimento pressupõe uma relação entre sujeito e objecto. Porém, na gnosiologia kantiana também se dá essa relação entre sujeito e objecto. Então, qual é a diferença? A diferença é que na sua acepção clássica, a gnosiologia colocava o objecto no eixo mesmo do conhecimento enquanto Kant, fazendo sua revolução copernicana da gnosiologia, coloca o sujeito no centro de gravidade do conhecimento.

Já no século XX, Edmund Husserl, partindo do ego cogito cartesiano, chega a descoberta de que nem o sujeito, nem o objecto são o fundamento do conhecimento mas, sim, a consciência transcendental, a qual é também a base de toda a técnica filosófica fenomenológica, a qual consiste na redução dos entes a sua essência ontológica.

A consciência transcendental de Husserl não é propriamente a negação do sujeito mas apenas a sua negação enquanto sujeito individual mas ela é propriamente a afirmação do sujeito considerado na sua máxima superioridade porque o eu coincide com a consciência. O eu é consciência. Nenhum animal pode dizer: eu. Nenhuma planta, nenhum mineral, pode fazê-lo porque eles não tem consciência malgrado Leibniz tivesse proposto que a diferença entre o animal e o homem é que o animal tem consciência a e o homem tem autoconsciência. Porém, Liebniz está errado porque se o animal tivesse consciência ele teria a potência da conduta moral e sabemos que ele não a tem. De modo que a consciência transcendental de Husserl é o mesmo que o ego cogito de Descartes mas no seu sentido transcendental, ou seja, dizer consciência transcendental é o mesmo que dizer eu transcendental.

No acto do conhecimento, porque o conhecimento se dá logicamente em acto, o sujeito sai da sua esfera e entra na esfera do objecto e volta para a sua esfera enriquecido com informações acerca do objecto que podem ser as propriedades desses objecto, a sua extensão, as suas categorias, etc. de modo que a esfera do sujeito e a esfera do objecto não são “esferas cerradas” para usar o vocabulário de Husserl.

Nesse sentido, o sujeito é sempre activo, ou seja, ele actua sobre o objecto que é passivo ou seja ele sofre, padece, paixão. Mas nem sempre isso é assim porque o objecto pode também ser um outro sujeito por exemplo se entrarmos no campo da jurisprudência em que a relação jurídica entre o João e Maria não é propriamente de sujeito objecto mas sim de sujeito-sujeito.

Kant nega a possibilidade de todo e qualquer conhecimento objectivo. Ele diz que nós conhecemos apenas as estruturas, ou as categorias, a priori da nossa mente de modo que todo conhecimento é subjectivo. Ora, se o conhecimento objectivo não é possível, então, caímos no psicologismo que é a raiz-causa do cepticismo. Porém, como vimos num outro artigo, o conhecimento objectivo é possível porque o fundamento do conhecimento há.

Qualquer que seja o conhecimento, seja ele intuitivo ou racional, Mário Ferreira dos Santos diz que o conhecimento como um acto do espírito humano tende sempre a unificação. Agora, podemos discutir se o conhecimento é racional ou intuitivo porque há um grupo que defende que todo conhecimento é racional e outros que dizem que todo conhecimento é intuitivo mas estamos a lidar com polos extremos. É por isso que quando o filósofo Olavo de Carvalho diz que “todo conhecimento ou é intuitivo ou é nada” ele chama a isso de intuicionismo radical. O que é intuição? Olavo a define como “percepção imediata de uma presença”. Ou seja, um aqui e um agora.

Contudo, seja intuitivo ou racional, Mário Ferreira dos Santos diz no seu “tratado de simbólica” que o conhecimento é sempre uma acomodação dos factos à nossa esquemática até à sua assimilação. Kant percebeu isso errado de modo que ele eliminou os factos e ficou apenas com a esquemática, i.e., com a intencionalidade do ser humano.

***

A assimilação pode ser inferior ou superior a acomodação. Quando ela é inferior temos uma imitação. Porém, quando a assimilação é superior a acomodação temos um símbolo, o qual é uma “matriz de intelecções possíveis” como a definiu Susan K. Langer dadas as suas poli-significabilidade e poli-referenciabilidade.

Podemos assimilar mais um facto e acomodá-lo menos a nossa esquemática. Mas também podemos assimilar menos um facto e acomodá-lo mais a nossa esquemática, a nossa intencionalidade, mas o que acontece é que a nossa esquemática assimila os factos sempre como símbolo e os acomoda sempre como imitação.

ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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