Qualquer que seja
o conhecimento, seja ele intuitivo ou racional, é sempre uma acomodação dos
factos a nossa esquemática, a nossa intencionalidade, até que os assimilemos. Quando
a assimilação é maior que a acomodação temos um símbolo e quando é menor temos
uma imitação.
A teoria do conhecimento cabe no âmbito
daquilo que se chama no plano filosófico de gnosiologia ou ontognosiologia,
isso já no plano transcendental.
Temos várias teorias do conhecimento. Na
sua acepção clássica, o conhecimento pressupõe uma relação entre sujeito e
objecto. Porém, na gnosiologia kantiana também se dá essa relação entre sujeito
e objecto. Então, qual é a diferença? A diferença é que na sua acepção
clássica, a gnosiologia colocava o objecto no eixo mesmo do conhecimento
enquanto Kant, fazendo sua revolução copernicana da gnosiologia, coloca o
sujeito no centro de gravidade do conhecimento.
Já no século XX, Edmund Husserl, partindo
do ego cogito cartesiano, chega a
descoberta de que nem o sujeito, nem o objecto são o fundamento do conhecimento
mas, sim, a consciência transcendental, a qual é também a base de toda a
técnica filosófica fenomenológica, a qual consiste na redução dos entes a sua
essência ontológica.
A consciência transcendental de Husserl
não é propriamente a negação do sujeito mas apenas a sua negação enquanto
sujeito individual mas ela é propriamente a afirmação do sujeito considerado na
sua máxima superioridade porque o eu coincide com a consciência. O eu é
consciência. Nenhum animal pode dizer: eu. Nenhuma planta, nenhum mineral, pode
fazê-lo porque eles não tem consciência malgrado Leibniz tivesse proposto que a
diferença entre o animal e o homem é que o animal tem consciência a e o homem
tem autoconsciência. Porém, Liebniz está errado porque se o animal tivesse
consciência ele teria a potência da conduta moral e sabemos que ele não a tem.
De modo que a consciência transcendental de Husserl é o mesmo que o ego cogito de Descartes mas no seu
sentido transcendental, ou seja, dizer consciência transcendental é o mesmo que
dizer eu transcendental.
No acto do conhecimento, porque o
conhecimento se dá logicamente em acto, o sujeito sai da sua esfera e entra na
esfera do objecto e volta para a sua esfera enriquecido com informações acerca
do objecto que podem ser as propriedades desses objecto, a sua extensão, as
suas categorias, etc. de modo que a esfera do sujeito e a esfera do objecto não
são “esferas cerradas” para usar o vocabulário de Husserl.
Nesse sentido, o sujeito é sempre activo,
ou seja, ele actua sobre o objecto que é passivo ou seja ele sofre, padece, paixão.
Mas nem sempre isso é assim porque o objecto pode também ser um outro sujeito
por exemplo se entrarmos no campo da jurisprudência em que a relação jurídica
entre o João e Maria não é propriamente de sujeito objecto mas sim de
sujeito-sujeito.
Kant nega a possibilidade de todo e
qualquer conhecimento objectivo. Ele diz que nós conhecemos apenas as
estruturas, ou as categorias, a priori
da nossa mente de modo que todo conhecimento é subjectivo. Ora, se o
conhecimento objectivo não é possível, então, caímos no psicologismo que é a
raiz-causa do cepticismo. Porém, como vimos num outro artigo, o conhecimento
objectivo é possível porque o fundamento do conhecimento há.
Qualquer que seja o conhecimento, seja ele
intuitivo ou racional, Mário Ferreira dos Santos diz que o conhecimento como um
acto do espírito humano tende sempre a unificação. Agora, podemos discutir se o
conhecimento é racional ou intuitivo porque há um grupo que defende que todo
conhecimento é racional e outros que dizem que todo conhecimento é intuitivo
mas estamos a lidar com polos extremos. É por isso que quando o filósofo Olavo
de Carvalho diz que “todo conhecimento ou é intuitivo ou é nada” ele chama a
isso de intuicionismo radical. O que é intuição? Olavo a define como “percepção
imediata de uma presença”. Ou seja, um aqui e um agora.
Contudo, seja intuitivo ou racional, Mário
Ferreira dos Santos diz no seu “tratado de simbólica” que o conhecimento é
sempre uma acomodação dos factos à nossa esquemática até à sua assimilação.
Kant percebeu isso errado de modo que ele eliminou os factos e ficou apenas com
a esquemática, i.e., com a intencionalidade do ser humano.
***
A assimilação pode ser inferior ou
superior a acomodação. Quando ela é inferior temos uma imitação. Porém, quando
a assimilação é superior a acomodação temos um símbolo, o qual é uma “matriz de
intelecções possíveis” como a definiu Susan K. Langer dadas as suas
poli-significabilidade e poli-referenciabilidade.
Podemos assimilar mais um facto e acomodá-lo
menos a nossa esquemática. Mas também podemos assimilar menos um facto e acomodá-lo
mais a nossa esquemática, a nossa intencionalidade, mas o que acontece é que a
nossa esquemática assimila os factos sempre como símbolo e os acomoda sempre
como imitação.
ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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