domingo, 19 de março de 2017

Economia prática


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“Economia é aquilo que os economistas fazem”.
                                          Jacob Viner

Então, podemos perguntar: “o que é que os economistas fazem”? A resposta é: economia. De outro modo, isso é o mesmo que dizer que economia é economia. Isso é consistente com o princípio lógico de identidade, contudo, todos nós sabemos que um dos requisitos de uma boa definição, boa não no sentido moral, mas no sentido de eficiência é que o definido não deve entrar na definição. O que mostra que essa definição de economia dada por Viner é deficiente e não eficiente. Portanto, ela não é uma definição.

Então, economia não pode ser aquilo que os economistas fazem porque isso não capta ontologicamente a universalidade do próprio conceito contido no termo economia. O que os economistas fazem não pode ser economia mas apenas um dos seus acidentes, o qual, neste caso específico, se refere a sua praticidade.

Fechar a economia na redoma da praticidade humana é problemático porque nem todos os economistas são economistas práticos. Carl Menger, Eugen Von Bohm-Bawerk, Ludwig Von Mises, F.A.Hayek, Mikhal Kaleci, etc., não foram economistas práticos mas teóricos.

Em Moçambique não existe um único economista teórico. Não há nenhuma teoria económica formulada por um moçambicano. Agora, seria extremamente ridículo dizer, por exemplo, que Carlos Nuno Castel-Branco, João Mosca, António Francisco, José Chichava, Constantino Marrengula, Hipólito Hamela, Ragendra de Sousa, Luiza Diógo, etc., são mais economistas do que Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill, Alfred Marshall, Milton Frideman, Joseph Schumpeter, etc. porque eles são economistas práticos enquanto Smith, Mill, etc., foram apenas economistas teóricos.

Tudo isso é para apenas mostrar que a economia não é apenas o que os economistas fazem, ou seja, uma ciência prática, ela é também uma ciência especulativa que procura alcançar o núcleo axiológico dos juízos lógicos do verdadeiro e do falso e não apenas alcançar o núcleo axiológico da praticidade humana, ou seja, o núcleo convencional do certo e do errado.

Sem a sua parte especulativa, a economia não tem nenhum fundamento como possibilidade de conhecimento objectivo porque é a economia especulativa que vai interrogar os fundamentos do conhecimento económico. Se você eliminar a especulação filosófica em economia você acaba caindo no cepticismo. Agora, qualquer um pode ser um economista prático que é, na verdade, aquilo que é ensinado nas universidades e nos institutos superiores. Eles ensinam basicamente a cruz marshalliana ou seja as leis da procura e da oferta (Microeconomia) e a contabilidade nacional (Macroeconomia). Porém, um economista teórico não está interessado em calcular o PIB. Antes, porém, ele quer saber, por exemplo, por quê o PIB na óptica da despesa é igual ao consumo (C) + Investimento (I)+Gastos governamentais (G)+Balança comercial (X-M)? Qual é o fundamento disso? Mais ainda, não lhe interessa calcular a oferta de um bem normal como sendo Qs=c+dp, pelo contrário, ele quer saber por quê é que a oferta de um bem normal varia na razão directa do preço e não na sua razão inversa? Por quê é que um bem económico que segue esse padrão é considerado normal? Qual é o seu fundamento?

Infelizmente, em Moçambique não temos ninguém desse nível. Quer ver um economista prático ficar apopléctico? Pergunte para ele por quê é que ele defende os aumentos dos gastos do governo como meio para promover o crescimento económico e o emprego? Ele vai justificar a coisa nos termos das contas nacionais usando a equação do PIB. Então, você pergunte para ele qual é o fundamento dessa equação. Ele vai recorrer a síntese estatística dos factos económicos do passado. Então, você diz para ele que isso é apenas uma coincidência. Então, você vai ver ele ficar apopléctico ou encher-se de raiva com vontade de lhe dar um soco ou um ponta-pé.

Quando os economistas recorrem as estatísticas, eles estão em busca de validar a teoria económica. Porém, validar uma teoria é uma coisa. Fundamentá-la é outra. De modo que isso não responde a questão inicial colocada. Os economistas práticos são como alguém que sabe conduzir um automóvel mas não sabe por quê é que o automóvel funciona. Para isso, ele teria que estudar o motor de explosão e procurar descobrir por quê é que ele funciona. Assim também, os economistas práticos aplicam a contabilidade nacional porque ela funciona mas não sabem porquê é que ela funciona. Porém, do dado de que ela funciona não podemos extrair o seu fundamento. Isso seria psicologismo. Se não temos nenhum fundamento, ela funciona hoje mas amanhã ou daqui a cem, mil anos pode não funcionar mais. Isso é como alguém que está apaixonado por X e no momento seguinte se despaixona e tenta voltar a apaixonar-se por X e não consegue e aí o namoro ou o casamento terminam. Por quê é que ele/ela não consegue se tentou tudo que fez quando se apaixonou à primeira vez? Isso só mostra uma coisa: suas técnicas de paixão eram válidas porém você nunca lhes chegou a conhecer o fundamento de modo que a fonte secou.
Agora, para você ser um economista teórico, i.e., fazer a filosofia económica você teria que ter uma mente ordenadora que ordenasse primeiro o seu caos interior para depois ordenar o caos económico porque se você for um pseudo-filósofo, um retórico ou sofista como Keynes você acabará caindo no psicologismo e replicando os mesmos erros do economista daquele economista de Cambridge. Se você quiser saber o que é filosofia económica, então, leia “Um tratado sobre a causa e natureza da riqueza das nações” de Adam Smith e a “Acção Humana: um tratado de economia” de Ludwig Von Mises. Esses são os dois maiores tratados de economia de todos os tempos. Eles estão acima de “O capital” de Marx e da “Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro” de Keynes.


ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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