O sonho de alguns
cientistas de provar a existência ou a inexistência de Deus é uma ilusão. Quando
Cristo diz que “ninguém conhece o pai a não ser o filho e aquele a quem este
quiser revelar” ele está mostrando que Deus só pode ser conhecido
inescrutavelmente por meio da revelação dos textos sagrados das diversas religiões
e não escrutavelmente por meio da luz natural da razão.
Fico cada dia mais perplexo de ver homens
que se dizem cientistas e que até leccionam nas maiores universidades do mundo
tentarem provar a existência ou a inexistência de Deus por meio do método científico
da observação e experimentação de partículas da matéria em laboratórios como a
tal da partícula de Deus ou a partícula de Boson-Higgs.
Em 2016, discutindo essa matéria com um mussulmano
ele dizia absolutamente convicto de que a ciência um dia iria provar a
existência de Deus. Vezes sem conta já alertei as pessoas acerca da
impossibilidade dessa pseudo-possibilidade. Quando homens de ciência como V.Stenger,
R.Dawkins et caterva propõe lidar com
a existência de Deus como quem lida com uma hipótese científica isso só mostra
duas coisas: primeiro, eles não sabem quem é Deus; segundo, eles não sabem o
que é ciência.
Se esses “cientistas” devotos do ateísmo
soubessem o que é ciência eles conheceriam os limites da ciência, o qual é dado
pela própria coerência lógica interna da ciência de modo que ela não pode ir
para além disso e esses senhores não se arrogariam a presunção de atribuir a ciência
uma omnipotência que ela não tem. É a isso que Julien Benda chama de
superstição da ciência de modo que a crença dogmática na ciência como a têm os
V.Stenger, R.Dawkins, D.Dennet, C.Hitchens não faz deles cientistas tout court na mesma acepção em que se
usa esse termo para se referir a um Galileu, Newton, Planck, Einstein e tutti quanti. Mutatis mutandis, Dawkins e sua turba não são cientistas legítimos.
Eles são sacerdotes totémicos do deus ciência.
Ora, quanto a possibilidade de
conhecimento da verdade nós podemos dividir a verdade em escrutável e inescrutável
como já escrevi num outro artigo publicado neste blog. A verdade escrutável é aquela a que nós temos acesso por meio
da luz natural da razão com a qual podemos perquirir, inquirir, penetrar e isso
nos dá a teologia, a filosofia, a matemática, e as diversas ciências como as
conhecemos hoje.
Agora, a verdade inescrutável, a qual é a
verdade de Deus, não pode ser captada por esses meios, ou seja, por meio da luz
natural da razão. Ela não pode ser captada cognitivamente por meio da relação
entre o cognoscem e o cognitum, ou seja, a relação dicotómica
sujeito-objecto porque Deus não está como um objecto diante de mim e nem está
axiologicamente diante de mim como na relação moral do ego com o alter. Não se
pode falar de Deus sem a ideia do transcendental de modo que Deus abarca e
subordina toda a estrutura da realidade transcendendo-a infinitamente.
São
Bernardo divide a verdade inescrutável em duas, a saber: a verdade inescrutável
irrevelata e a verdade inescrutável revelata.
A verdade inescrutável irrevelata trata-se de uma verdade que
nós não apenas não podemos captar nem especulativamente por meio da luz natural
da razão, nem por meio dos instrumentos como já pode proceder, por exemplo, a
ciência e nem mesmo por meio dos livros sagrados das diversas religiões como a Bíblia
no caso do cristianismo e do judaísmo, ou por meio do Alcorão como no islamismo
ou por meio do Vedas como no budismo e nem mesmo por meio dos livros sagrados
das seitas ocultistas, das religiões de mistérios, etc., como a Cabala, os
upanishads, etc. Então, a irrevelata
corresponderia àquilo que S.Bernardo chama de a “ciência Dei”, a ciência de Deus que é aquela verdade que é conhecida apenas
de Deus e que nós não temos como acedê-la por nenhum meio possível.
Agora, a verdade inescrutável revelata é aquela que chega a nós por
meio dos livros sagrados das diversas religiões e que no cristianismo
corresponde a aquilo que S.Bernardo chama de “ciência Christi” a qual nos é dada pelos evangelhos. E isso é bastante
interessante porque Cristo disse que ninguém conhece a Deus a não ser por meio
da revelação. São dele as palavras: “ninguém conhece o filho a não ser o pai e
ninguém conhece o pai a não ser o filho e aquele a quem o filho o quiser
revelar” (Evangelho segundo S.Mateus). Então, esta é a única maneira de você
conhecer Deus, ou seja, ele tem que revelar-se para você e dizer: “eis-me aqui”
porque ele é uma pessoa que usa o pronome pessoal “EU” e não uma força
impessoal do universo mas parece que algumas pessoas nem a sua própria gramática
conhecem quando isso é algo que elas deveriam ter dominado aos 12, 13 anos de
idade.
Por outras palavras, o conhecimento de
Deus não cabe no âmbito das verdades escrutáveis que nós podemos conhecer por
meio da luz natural da razão mas ele cabe no âmbito das verdades inescrutáveis
e revelatas constantes dos textos
sagrados das diversas religiões de modo que não é na “teoria da inércia” de
Galileu, na “teoria da gravitação universal” de Newton, na “teoria da
termodinâmica” de Maxwell, na “origem das espécies” de Darwin, na “teoria da
relatividade” de Planck, etc., que vamos encontrar provas da existência ou
inexistência de Deus ou que vamos conhecer de Deus o que pode ser conhecido
porque apenas é possível conhecê-lo através da revelação dos textos sagrados
das diversas religiões de modo que quando os cientistas dizem que provaram a existência
ou a inexistência de Deus eles estão apenas fazendo uma metasbasis hexaloguenos e, os coitados, não sabem disso.
***
Do
Limite da Ciência
Quando a ciência rompeu com a filosofia e
a teologia ela perdeu todo o seu fundamento e nessa desorientação geral em que
ela se encontra os ditos cientistas imaginam que estão a fazer ciência quando,
na verdade, estão fazendo uma outra coisa porque eles mudam de género a todo o
momento. Não é preciso ser um Francis Bacon para saber que só há ciência da
natureza e que quando você tenta aplicar a lógica material da ciência, i.e., o
método da ciência, para estudar o que não é natureza no sentido de phisis como usado por Galileu, Descartes
e Newton, você só vai fazer asneira atrás de asneira como os sacerdotes da
religião ateísta que eu mencionei supra,
os R.Dawkins et caterva.
A ciência não estuda tudo o que implicaria
ser uma ciência concreta o que não existe. A ciência é sempre abstracta porque
ela estuda o ente tomado especifice,
i.e., especificamente. Então, estamos dizendo que a ciência apenas estuda a
natureza. Mas a natureza não é a única realidade que podemos conceber de modo
que quando os materialistas dizem que nada há fora da matéria eles estão
dizendo que a única realidade que existe é a matéria. Porém, é preciso ser
muito pueril para acreditar numa coisa dessas porque acima da natureza, não
acima em termos espacial, geométrico, mas em termos de eminência, nós temos o
cosmos, i.e., a ordem e beleza que existem no universo e acima do cosmos nós
temos a divindade e abaixo da natureza nós temos a sociedade humana. Agora, nem
a divindade, nem o cosmos, nem a sociedade humana podem ser estudados por meio
do método das ciências naturais. É inconcebível você colocar Deus, o cosmos e a
humanitas num tubo de ensaio, num
acelerador de partículas, etc. para perscrutá-los cientificamente.
Da
Ciência e Técnica
Na verdade, a ciência tem avançado muito
pouco. De Galileu até Einstein o que é que a ciência descobriu? Ela descobriu a
lei da inércia, a lei da gravitação universal, a lei da termodinâmica, a lei da
cinética dos gases, a lei da relatividade, etc. Mas não foi muita coisa porque
as outras foram apenas o aprofundamento e uma ampliação daquelas grandes
teorias gerais da física. O que avançou muito mesmo foi a técnica e não a
ciência. O problema é que as pessoas, hoje em dia, como não sabem o que é
ciência elas confundem ciência com técnica. Elas olham para um computador da
Apple, um avião da Boing, um telemóvel da Sumsung, um automóvel da Ford, a
bomba atómica de Openheimer, etc., e dizem que isso é ciência. Ora, isso não é
ciência. Isso é técnica.
Técnica vem de teckne em grego que significa técnica ou arte em português que nada
mais é que a combinação de certos meios para alcançar um determinado fim de
modo que a técnica é sempre normativa enquanto a ciência é especulativa. Não
devemos confundir especulativo com não empírico. A ciência é especulativa e
empírica porque ela parte aristotelicamente da empíria e vai racionalizando,
vai especulando, a empírica que é nada mais que a percepção dos dados
sensíveis. Porém, a ciência também tem um aspecto prático que nós chamamos de técnica.
Mas isso não nos dá o salvo-conduto para confundir ciência com técnica, o que
seria, na verdade, raciocinar metonimicamente tomando o efeito pela causa.
Então, dizer que um avião é ciência é confundir comida com cardápio.
Vejamos, existe uma ciência que possa
explicar por quê um computador funciona? De modo nenhum porque ele funciona
pela técnica empregue e não pela teoria científica que tenta explicar a
mecânica de cada um dos seus componentes. Veja, para você fazer um computador você
precisa de quê? Você precisa basicamente do código binário de Leibniz, você
precisa de plásticos, você precisa de circuitos, você precisa de ajustar as
teclas ao tamanho dos dedos das mãos. Ora, o que é código binário? É
Matemática. O que é plástico? É química. O que é circuito? É física. O que é o
tamanho dos dedos? É fisiologia. Ora, existe uma ciência que explique a física,
a química, a matemática, a fisiologia, tudo isso ao mesmo tempo? É claro que
não. Só a mathesis megiste, que é a
instrução superior, a qual é obtida por meio da contemplatio sapientiae, a contemplação da sabedoria mas isso já é
um conhecimento intuitivo do espírito humano e não um conhecimento dedutivo das
res cogitans ou o conhecimento
indutivo das res extensa.
Da
confusão entre ciência e teoria
É ridículo ver estudantes universitários
de Medicina, Engenharia, Matemática, dizerem que os estudantes das letras estão
estudando teoria e que eles estão estudando ciência. Eles são tão burros que
nem conseguem atinar com o óbvio de que ciência e teoria são a mesmíssima coisa.
Eles confundem teoria com letras e confundem ciência com prática. Já dizia A.D.Sertillange
no seu livro “La Vie Intelectuelle” que “ciência é conhecimento pelas
causas”(sic). Por outras palavras, a ciência busca pelo nexo de causalidade
entre o antecedente e o consequente e o nexo, aquilo que conexiona, é
precisamente aquilo que se chama teoria de modo que ciência é a explicação
unificada por meio do nexo causal do ente tomado abstractivamente, i.e.,
abstraído de sua mera singularidade, de suas propriedades e tomado na sua generalia, ou seja, geralmente e não no
sentido especifice, especificamente.
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