domingo, 19 de março de 2017

Abaixo a classe falante nacional!

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Neste país, temos analistas sem analítica. É caricato ver como indivíduos que pontificam na mídia como analistas desconhecem totalmente a propedêutica geral, digo, a teoria dos quatro discursos. Não entendo como alguém pode ser analista seja lá de quê se não domina a lógica matemática, a lógica simbólica e a lógica da linguagem. Pior ainda, neste país, ser um analista político sem nunca ter lido a república de Platão que, diga alto e bom som, que mais do que um tratado de política é a metodologia geral da pesquisa em política, é uma necessidade metafísica da mais alta transcendência de modo que ao temos analistas mas, sim, retóricos, ou seja, sofistas como Górgias.

Do debate
Debate em Moçambique é qualquer tipo de comunicação que envolve pelo menos duas pessoas não importando que não haja uma tese e uma antítese. Se um jornalista está entrevistando alguém isso é um debate. Não estou brincando. Vi uma entrevista na STV com o professor António Francisco e o jornalista começou por agradecê-lo o ter aceitado o convite para aquele debate mas acontece que ali só estavam os dois, tirando o pessoal das filmagens, da área técnica em geral. Muitas vezes, os convidados a esses programas televisivos estão dizendo todos a mesma coisa, estão todos concordando uns com os outros e chamam a isso de debate.

Da análise
Fazer análise neste país consiste no seguinte:
Primeiro, atacar as pessoas no campo da moral privada;
Segundo, descrever os factos tal como aparece na mídia;
Terceiro, brandir na cara de todo mundo o manifesto ideológico do seu partido, ONG, ou organismo da sociedade civil da qual faz parte, etc.

No que concerne ao primeiro ponto temos aqui a confusão entre crítica e seu inverso ou sua caricatura demoníaca. Criticar vem de critério que é uma pedra que os gregos usavam para bater nos metais de modo a certificar-se se se tratava de ouro ou de um outro metal. De modo que criticar é interrogar pelos fundamentos. Quando o governo diz que vai legalizar ou descriminalizar o aborto seja como for porque é tudo a mesma coisa, e você pergunta: “por quê”? Isso é uma atitude crítica. Mas quando você começa a chamar o governo de corrupto, assassino, ladrão, etc., isso pode ser qualquer outra coisa, pode ser calúnia, difamação, etc., mas de crítica nada tem. Infelizmente, neste país, as pessoas imaginam que criticar significa falar mal mas falar mal não é crítica é maledicência. Então, as pessoas maldizem e imaginam que estão a criticar. Isso é uma ilusão. Não contente, ainda dizem que a tal pessoa sob maledicência, quando ela reage, é intolerante porque não é aberta a crítica.

Os pontos segundo e terceiro também são interessantes. No que toca a descrever os factos, o que acontece é que quando você pede, por exemplo, para um desses formados em relações internacionais analisar o que está acontecendo na Síria ele não irá fazer uma análise mas uma descrição dos factos. Ora, “contar os factos tal como eles se passaram” é tarefa do historiador e não de um analista tal como disse o bom e velho Leopold Von Ranke.

        No que tange ao terceiro ponto que é, portanto, a repetição do manifesto ideológico do seu grupo de interesse é a mesma coisa. É comum os tais analistas dizerem que as coisas não estão a andar bem porque o seu grupo de interesse não está no poder e coisas tais e ele imagina que está a fazer uma grande análise.

Analistas sem analítica
Essa confusão acontece porque os tais auto-intitulados analistas não sabem o que é análise quando isso deveria ser a coisa elementar que eles deviam procurar saber uma vez que pontificam na mídia como analistas. Essa confusão acontece porque eles não sabem o que é propedêutica geral. Eles nunca sequer ouviram falar nisso. O que chamamos de propedêutica geral é o que o filósofo Olavo de Carvalho chamou de a teoria dos quatro discursos no seu “Aristóteles em Nova Perspectiva”. Se os nossos analistas entre aspas soubessem o que é isso, eles também saberiam que a analítica está no topo da propedêutica geral e que ela é o próprio discurso lógico e não andariam para aí a expressar suas impressões e a puxar pela retórica como se de analítica se se tratasse quando, na verdade, isso nem se quer está ao nível de um discurso dialéctico que é o discurso filosófico propriamente dito.

De modo que chega a ser caricato exigir que esses analistas entre aspas sejam analistas de verdade se eles nem se quer sabem o que é um conceito, ideia, teorema, pressuposto, axioma, princípio, juízo, termo, proposição, pensamento, modo, categoria, etc. Quer dizer, mutatis mutandis, o que temos neste país são analistas sem analítica porque eu aposto em como eles nunca leram a lógica de Aristóteles ou pelo menos o “tratado lógico matemático” de Wittgestein, a “lógica matemática” de Gottlob Frege, e tutti quanti.

Quantos dos nossos analistas têm pelo menos uma vaga noção do que seja a lógica matemática, a lógica simbólica, a lógica da linguagem? Quer dizer, qualquer filósofo da escola de Viena ou da analítica de Cambridge como Wittgestein, Herder, Bertrand Russel, etc., é um Aristóteles redivivo diante dos nossos analistas de mídia que mais parecem criancinhas de cinco anos tentando pontificar como um catedrático de oitenta e nem percebem que é fingimento auto-hipnótico. É por estas e por outra que eles só se fazem ouvir apenas por aquilo que Wiliam Butler Yeats chamou de “passionate intensity” com que falam e também pela erística do argumentum autoritactis escorado num diploma obtido à custa de cábulas, plágio e outros artifícios. Quem quer que pense por um minuto ser isso um analista é porque não passa de um dr. Mabuze redivivo de Fritz Langer.

Ps: Sendo a maior parte dos tais analistas entre aspas que pontificam na TV, analistas políticos, vejamos quantos deles já leram a “política” de Aristóteles ou a “república” de Platão que, na verdade, não chega a ser um tratado sobre política mas sim uma metodologia geral sobre a investigação em política? É por essas e por outras que quando eles dizem que os EUA invadiram o Iraque por causa do petróleo como disse Severino Ngoenha, Lima e outros tantos, eles imaginam que estão a fazer analítica quando, na verdade, estão fazendo retórica. Ora, se eles não sabem disso é porque estão inconscientes pelo que deviam procurar com a maior das urgências um psicanalista freudiano, juguiano ou lacaniano. Se estão conscientes, então são criminosos e deviam ser processados por calúnia e difamação porque desde 2003, quando Bush ordenou a invasão do Iraque, nem uma só gota de petróleo saiu do Iraque para os EUA. Mas esses mentirosos e desinformadores contumazes não vergam. Quer dizer, é aquela velha técnica de Goebells da mentira que repetida muitas vezes se torna verdade. Eu digo: se torna verdade uma vírgula, se torna numa neurose, isso sim, que o psicólogo Juan César Muller definiu como sendo “uma mentira esquecida na qual você ainda acredita”. É claro que o argumento do petróleo é um delito de opinião (cf. Richard Miniter, Desinformation). De modo que não temos analistas, se os temos são uma raridade doirada porque a esmagadora maioria é retórico que é um outro nome para sofistas como o bom e velho Górgias.


ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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