Neste país, temos
analistas sem analítica. É caricato ver como indivíduos que pontificam na mídia
como analistas desconhecem totalmente a propedêutica geral, digo, a teoria dos
quatro discursos. Não entendo como alguém pode ser analista seja lá de quê se
não domina a lógica matemática, a lógica simbólica e a lógica da linguagem.
Pior ainda, neste país, ser um analista político sem nunca ter lido a república
de Platão que, diga alto e bom som, que mais do que um tratado de política é a
metodologia geral da pesquisa em política, é uma necessidade metafísica da mais
alta transcendência de modo que ao temos analistas mas, sim, retóricos, ou
seja, sofistas como Górgias.
Do
debate
Debate em Moçambique é qualquer tipo de
comunicação que envolve pelo menos duas pessoas não importando que não haja uma
tese e uma antítese. Se um jornalista está entrevistando alguém isso é um
debate. Não estou brincando. Vi uma entrevista na STV com o professor António
Francisco e o jornalista começou por agradecê-lo o ter aceitado o convite para
aquele debate mas acontece que ali só estavam os dois, tirando o pessoal das filmagens,
da área técnica em geral. Muitas vezes, os convidados a esses programas
televisivos estão dizendo todos a mesma coisa, estão todos concordando uns com
os outros e chamam a isso de debate.
Da
análise
Fazer análise neste país consiste no
seguinte:
Primeiro, atacar as pessoas no campo da moral privada;
Segundo, descrever os factos tal como aparece na mídia;
Terceiro, brandir na cara de todo mundo o manifesto ideológico
do seu partido, ONG, ou organismo da sociedade civil da qual faz parte, etc.
No que concerne ao primeiro ponto temos
aqui a confusão entre crítica e seu inverso ou sua caricatura demoníaca.
Criticar vem de critério que é uma pedra que os gregos usavam para bater nos
metais de modo a certificar-se se se tratava de ouro ou de um outro metal. De
modo que criticar é interrogar pelos fundamentos. Quando o governo diz que vai
legalizar ou descriminalizar o aborto seja como for porque é tudo a mesma
coisa, e você pergunta: “por quê”? Isso é uma atitude crítica. Mas quando você
começa a chamar o governo de corrupto, assassino, ladrão, etc., isso pode ser
qualquer outra coisa, pode ser calúnia, difamação, etc., mas de crítica nada
tem. Infelizmente, neste país, as pessoas imaginam que criticar significa falar
mal mas falar mal não é crítica é maledicência. Então, as pessoas maldizem e
imaginam que estão a criticar. Isso é uma ilusão. Não contente, ainda dizem que
a tal pessoa sob maledicência, quando ela reage, é intolerante porque não é
aberta a crítica.
Os pontos segundo e terceiro também são
interessantes. No que toca a descrever os factos, o que acontece é que quando
você pede, por exemplo, para um desses formados em relações internacionais
analisar o que está acontecendo na Síria ele não irá fazer uma análise mas uma
descrição dos factos. Ora, “contar os factos tal como eles se passaram” é
tarefa do historiador e não de um analista tal como disse o bom e velho Leopold
Von Ranke.
No que tange ao terceiro ponto que é,
portanto, a repetição do manifesto ideológico do seu grupo de interesse é a
mesma coisa. É comum os tais analistas dizerem que as coisas não estão a andar
bem porque o seu grupo de interesse não está no poder e coisas tais e ele
imagina que está a fazer uma grande análise.
Analistas
sem analítica
Essa confusão acontece porque os tais
auto-intitulados analistas não sabem o que é análise quando isso deveria ser a
coisa elementar que eles deviam procurar saber uma vez que pontificam na mídia
como analistas. Essa confusão acontece porque eles não sabem o que é
propedêutica geral. Eles nunca sequer ouviram falar nisso. O que chamamos de
propedêutica geral é o que o filósofo Olavo de Carvalho chamou de a teoria dos
quatro discursos no seu “Aristóteles em Nova Perspectiva”. Se os nossos
analistas entre aspas soubessem o que é isso, eles também saberiam que a
analítica está no topo da propedêutica geral e que ela é o próprio discurso
lógico e não andariam para aí a expressar suas impressões e a puxar pela
retórica como se de analítica se se tratasse quando, na verdade, isso nem se
quer está ao nível de um discurso dialéctico que é o discurso filosófico propriamente
dito.
De modo que chega a ser caricato exigir
que esses analistas entre aspas sejam analistas de verdade se eles nem se quer
sabem o que é um conceito, ideia, teorema, pressuposto, axioma, princípio,
juízo, termo, proposição, pensamento, modo, categoria, etc. Quer dizer, mutatis mutandis, o que temos neste país
são analistas sem analítica porque eu aposto em como eles nunca leram a lógica
de Aristóteles ou pelo menos o “tratado lógico matemático” de Wittgestein, a
“lógica matemática” de Gottlob Frege, e tutti
quanti.
Quantos dos nossos analistas têm pelo
menos uma vaga noção do que seja a lógica matemática, a lógica simbólica, a
lógica da linguagem? Quer dizer, qualquer filósofo da escola de Viena ou da analítica
de Cambridge como Wittgestein, Herder, Bertrand Russel, etc., é um Aristóteles
redivivo diante dos nossos analistas de mídia que mais parecem criancinhas de
cinco anos tentando pontificar como um catedrático de oitenta e nem percebem
que é fingimento auto-hipnótico. É por estas e por outra que eles só se fazem
ouvir apenas por aquilo que Wiliam Butler Yeats chamou de “passionate
intensity” com que falam e também pela erística do argumentum autoritactis escorado num diploma obtido à custa de
cábulas, plágio e outros artifícios. Quem quer que pense por um minuto ser isso
um analista é porque não passa de um dr. Mabuze redivivo de Fritz Langer.
Ps: Sendo a maior parte dos tais analistas entre aspas
que pontificam na TV, analistas políticos, vejamos quantos deles já leram a
“política” de Aristóteles ou a “república” de Platão que, na verdade, não chega
a ser um tratado sobre política mas sim uma metodologia geral sobre a
investigação em política? É por essas e por outras que quando eles dizem que os
EUA invadiram o Iraque por causa do petróleo como disse Severino Ngoenha, Lima
e outros tantos, eles imaginam que estão a fazer analítica quando, na verdade,
estão fazendo retórica. Ora, se eles não sabem disso é porque estão
inconscientes pelo que deviam procurar com a maior das urgências um psicanalista
freudiano, juguiano ou lacaniano. Se estão conscientes, então são criminosos e
deviam ser processados por calúnia e difamação porque desde 2003, quando Bush
ordenou a invasão do Iraque, nem uma só gota de petróleo saiu do Iraque para os
EUA. Mas esses mentirosos e desinformadores contumazes não vergam. Quer dizer,
é aquela velha técnica de Goebells da mentira que repetida muitas vezes se
torna verdade. Eu digo: se torna verdade uma vírgula, se torna numa neurose,
isso sim, que o psicólogo Juan César Muller definiu como sendo “uma mentira
esquecida na qual você ainda acredita”. É claro que o argumento do petróleo é
um delito de opinião (cf. Richard Miniter, Desinformation). De modo que não
temos analistas, se os temos são uma raridade doirada porque a esmagadora
maioria é retórico que é um outro nome para sofistas como o bom e velho
Górgias.
ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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