Possibilidade é
coerência lógica interna. Sendo que o termo “é” expressa o conceito geral do
SER, quando se diz que tudo é possível, quer com isto dizer-se que a totalidade
do SER não padece de contradição lógica interna.
Cristo disse que tudo é possível [somente] ao que crê. Ora, eu defino o acto de
crer como a afirmação da identidade da razão por um acto livre da vontade.
Deste modo, a possibilidade da totalidade do SER está em conhecer as proporções
ou as equações que estruturam a realidade da substância, da forma, da essência
e do acto mesmo dos entes e afirmá-las.
São de Cristo as palavras: “se tu podes crer, TUDO É
POSSÍVEL AO QUE CRÊ”(sic). O advérbio “tudo” é oposto do advérbio “nada” de
modo que TUDO é afirmação e NADA é negação. Porém, TUDO não é apenas uma
afirmação parcial do SER mas a afirmação do SER considerado in totum e assim sendo, o TODO só pode
ser concebido tota simul e não na escala
de sucessão do tempo mas na da simultaneidade da eternidade.
Cristo disse que tudo
é possível…Ora, o que é possível e o que é impossível? Antes de mais
importa esclarecer que o termo “é” que serve de cópula na proposição que
estamos examinando é o conceito geral do SER de modo que geralmente o ser é possível.
Ora, somente é possível aquilo que não tem contradição
lógica interna e é impossível aquilo que tem contradição lógica-interna. O que
é contradição? Contradição nos remete ao contraditório. Não devemos confundir
contraditório com contrário. O “belo” é o contrário do “feio” mas o termo “não
belo” não é contrário do “belo”, ele é apenas o seu contraditório de modo que o
contraditório é sempre uma negação do conceito afirmado por um determinado termo.
Neste sentido, quando dizemos que impossibilidade é contradição lógica interna,
estamos a dizer que impossibilidade é, em última instância, a violação do
princípio metafísico de identidade como quem diz A≠A, ou seja, A é e não é A
desde o ponto de vista da estrutura da realidade o que é um absurdo.
Geralmente, quando as pessoas dizem que X não é
possível, elas não sabem do que estão falando e estão confundindo possibilidade
e impossibilidade com uma outra categoria do pensamento humano, aliás, elas nem
ao menos sabem que possibilidade-impossibilidade, unidade, realidade,
causa-efeito, existência-inexistência, tempo, espaço, quantidade, qualidade e
negação são as 10 categorias do pensamento.
Sem um profundo conhecimento da metafísica geral, a
qual é a ontologia, você dizer que um ente é ou não possível não passa de
palpite, conjectura e imaginação. Eu posso afirmar que um triângulo com menos
de 3 ângulos é impossível porque eu conheço a metafísica geral do triângulo, ou
seja, a estrutura da sua realidade mas de quantos objectos eu posso fazer a
mesma afirmação? Muito poucos.
Se calhar você possa perguntar: “e a questão dos
milagres?” Não é um milagre impossível? Ora, se um milagre fosse impossível,
ele não seria se quer concebível. Eu digo para você: “imagine um quadrado com 3
lados iguais”. Você não pode porque isso é ilógico. Contudo, se eu pedir para
você imaginar uma montanha de ouro, você será capaz? Porquê? Porque malgrado
você nunca ter visto uma montanha doirada, o conceito expresso pelo termo “montanha
de ouro” é apenas um acidente e não é contraditório com a montanha enquanto
substância porque podia ser uma montanha de pedras, uma montanha de areia e
assim por diante.
Veja, Cristo transformou a água em vinho e aí, então,
vem o Stefan Hawkins e diz que isso é impossível. Como? A possibilidade versus impossibilidade são categorias do
nosso pensamento como eu já disse e como tal são uma abstracção do terceiro
grau que corresponde a metafísica enquanto a física e as ciências no geral se
fundam na abstracção de primeiro grau de modo que esse físico faz uma metanóia,
uma transmutação abstractiva e nem percebe que já não está a falar como físico.
Não há nenhuma contradição lógica interna no milagre
crístico da transformação da água em vinho. Somente haveria essa contradição se
a água transformada em vinho continuasse a ser água porque neste caso
estaríamos como que diante de um triângulo com menos de 3 ângulos.
Outro exemplo: a jumenta de Balaão, o amaldiçoador de
Israel, falou com voz humana. Então, os críticos dizem: isso é um absurdo.
Porventura isso viola o princípio de identidade da estrutura da realidade da
jumenta? De modo nenhum? A jumenta até podia ter cantado e dançado que isso não
ia mudar em nada a sua identidade de jumenta. Por outras palavras, a jumenta
falar ou não falar isso é apenas um acidente e não a substância mesmo da
jumenta assim como as crianças costumam latir, miar, grunhir, rugir e nem por
isso são cães, gatos, porcos e leões, ou seja, nem por isso elas são e não são
seres humanos tota simul.
Há outros tantos exemplos nas escrituras ligados a
ressurreição dos mortos; multiplicação de pão, peixe, azeite; paralisação do
sol e da lua nas suas órbitas; cura de doenças “incuráveis”, etc. Ora, antes de
você dizer que essas coisas são impossíveis, a sua primeira obrigação deveria ser
saber o que cada uma dessas coisas é, “Quid est”?, e, em segundo lugar, ver se
esses milagres negam a definição dos entes sujeitos a esses milagres, caso
contrário, você rotular esse milagres de impossíveis não passará de um flatus vocis, uma bolha de são apenas.
Quando falamos de definição estamos preocupados com
uma boa definição, não no sentido moral da coisa, é claro. Então, o que seria
isso? Partindo das polaridades aristotélicas, uma boa definição seria a seguinte:
1- Aquela que, em vez de captar o acidente do ente,
captasse a sua substância;
2- Aquela que, em vez de captar a existência do ente,
captasse a sua essência;
3- Aquela que, em vez de captar a potência do ente,
captasse o seu acto;
4- Aquela que, em vez de captar a matéria do ente,
captasse a sua forma.
Nenhum milagre viola a forma, a substância, a essência
ou o acto do ente ou seja, o milagre é acidental, material, existente e
potencial.
Agora, Cristo deixou claro que essa possibilidade da
totalidade do SER somente está acessível àquele que crê. Deste modo, desde que
a totalidade do SER é possível, nada garante que particular e concretamente ele
será actualizado. Por outras palavras, a doutrina de Cristo é universal e
abstracta mas a nossa situação de vida quotidiana é particular e concreta de
modo que da premissa de que TUDO é possível eu não posso extrair daí a
conclusão de que na minha situação de vida particular e concreta TUDO isso será
actualizado no seu todo.
Vejamos, ninguém pode negar que São Paulo, o apóstolo,
era um crente, contudo, quando ele rogou a Deus, 3 vezes, que o livrasse de um
espinho na carne ele teve como resposta um “NÃO”. Quer dizer, uma coisa é
possibilidade, outra bem diferente é actualização dessa possibilidade.
Para o crente em Cristo, ou seja, o crente no logos
divino, na razão divina, tudo é possível de modo que se existe alguém que diz
que tal e qual coisa é impossível é, certamente, porque ele não crê. Ora, o que
é crer? Certa vez dois cegos seguiram a Cristo e rogaram que Ele os curasse ao
que Cristo perguntou se criam que ele podia fazer aquilo e eles disseram que
“SIM” e Cristo os curou. O pai daquele jovem lunático, quando Cristo disse: “se
podes crer, tudo é possível ao que crê”, ele disse: “Creio, SENHOR” e Cristo
curou seu filho. Quando o Eunuco perguntou a Filipe, o evangelista, que é que lhe
impedia de ser baptizado, Filipe disse que se ele cresse poderia baptizá-lo ao
que ele disse: “Creio que Jesus é o Cristo, o filho de Deus” e Filipe o
baptizou. Ora, tudo isso mostra o seguinte processo:
Primeiro: a pessoa ouve o kerigma
acerca de Cristo;
Segundo: ela afirma que crê em Cristo;
Terceiro: ela recebe a graça divina.
Por outras palavras, crer é afirmar a identidade da razão pelo acto livre da vontade.
Deste modo, sempre que o ser humano nega a identidade da razão, ele está
afirmando o NADA e negando o SER, tonando-se, assim, um nihiilista. Mas para
você afirmar a identidade da razão você deve fazer um esforço cognitivo enorme
para apreendê-la ou, então, esperar pela iluminação divina pela acção
pneumática o Espírito Santo mas mesmo quando dá a iluminação divina, ainda
assim, você terá que estudar. Portanto, a chave da possibilidade do real está
justamente nisto: conhecer as proporções ou as equações que estruturam a
realidade da substância, da forma, da essência e do acto mesmo dos entes e
afirmá-las.
ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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