(Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.)
O intelecto possível capta o
inteligível enquanto potência e o intelecto agente capta o inteligível enquanto
acto. Agora, “nada passa da potência ao acto senão por algo que já esteja em
acto” de modo que o acto precede a potência assim como a forma precede a
matéria, a essência precede a existência a substância precede o acidente.
O intelecto, em Aristóteles, é uma potência
da alma que diferencia o homem do animal. Contudo, Zubiri nega que haja uma
diferença específica entre o homem e o animal e diz que essa diferença é total
de modo que mesmo o sensitivo no homem já não é mais animal mas humano.
Existe
alguma diferença específica entre o homem e o animal? Se calhar podíamos até
mesmo alargar o universo dessa pergunta e incluir nela a ideia de mineral, a
ideia de vegetal e não apenas a ideia de animal. Quando examinamos o homem
descobrimos que ele é mineral, vegetal e animal tota simul. Porém, para além disso, o homem também é espiritual.
Partindo
da analogia da estrutura anátomo-fisiológica da espécie homem com a de outras
espécies como os chipanzés, os biólogos chegaram ao cientificismo do dogma
esotérico da evolução que vem desde os tempos do avô de Charles Darwin, o sr.
Erasmus Darwin, e desde os tempos de Herbert Spencer se bem que já na Grécia
antiga houvesse já alguns vestígios de formulação do evolucionismo em nível
discurso mitopoético e retórico. Porém, se há algo do animal que podemos
atribuir ao homem, também existe algo de mineral e de vegetal de que pode
predicar o homem sinteticamente. De modo que se é cientificamente válida a
hipótese de que o homem veio do macaco ou é parente próximo do macaco como
resultado dessas analogias também tem que ser válida a hipótese de que o homem
veio dos minerais ou dos vegetais ou que é parente próximo desses porque o
homem também é mineral e vegetal em sua constituição material.
Do
dado de que o homem partilha com o animal algumas notas anátomo-fisiológicas e
mesmo psíquicas não prova a origem remota do homem como que referida ao animal.
Antes pelo contrário, como o animal está contido no homem isso significa apenas
que o homem implica o animal. Isso não tem nada a ver com a tese teosófica que
Helena Petrovna Blavasky apresenta no seu livro “Doutrina Secreta” de que “o
macaco descende do homem”. De modo nenhum. Também podemos dizer que o homem
implica o mineral e o vegetal.
Aristóteles
e São Tomas de Aquino dizem que o homem partilha com o animal apenas o aspecto
sensitivo do ente, diferenciando-se o homem do animal pelo seu aspecto
intelectivo.
É
também comum as pessoas dizerem que a diferença entre o homem e o animal é que
o animal é irracional e o homem é racional. Ser racional significa apenas ser dado
a ratio, razão, ou seja, ser capaz de
produzir um conhecimento novo a partir de um conhecimento velho. Essa é a ideia
do estagirita e do doutor angélico sobre raciocínio. A forma mais conhecida de
raciocínio é o silogismo que é o raciocínio em 3 etapas. Quer dizer, dada uma
premissa universal abstracta, conhecida como premissa maior, você chega por
dedução a uma conclusão particular e concreta com a ajuda de um termo médio,
que é uma premissa menor. Como já disse supra
existem outras formas de raciocínio como, por exemplo, a ENTIMEMA que é
propriamente a forma do raciocínio natural do ser humano, sendo o silogismo, o
raciocínio em 3 etapas apenas artificial.
O grandioso Leibniz escreveu que a diferença
entre o homem e o animal é que o animal tem consciência enquanto o homem tem
para além da consciência a autoconsciência. Consciência vem do latim cum+sciencia e significa saber que sabe.
Enquanto isso, a autoconsciência significa saber que sabe que sabe. Isso nos
remete ao intelecto de Aristóteles como diferença específica entre o homem e o
animal porque do intelecto temos a inteligência e consciência é inteligência. De
modo que dizer que o animal tem consciência é o mesmo que dizer que ele tem inteligência.
Então, existiria uma inteligência animal. Então, neste caso, o inteligir não seria
propriamente apenas uma prerrogativa do intelecto mas também dos sentidos. Isso, no entanto, é algo para ser meditado e
aprofundado em futuros artigos em que pretendo tratar especificamente e mais
detidamente a respeito da consciência.
Podemos
completar esse status questionais com
a visão de Xavier Zubiri acerca disso tudo porque até aqui, ou seja, de
Aristóteles, passando por São Tomás, até Leibniz vimos que a diferença entre o
homem e o animal é apenas específica. Ora, isso faz com que o animal e o homem
sejam espécies do mesmo género. Zubiri nega isso. Ele diz que a diferença entre
o homem e o animal não é específica mas total. Deste modo, o sensitivo quando
referido ao homem não é animal, é humano.
Voltando
ao título deste artigo, o que significa voltar a Aristóteles e a São Tomás de
Aquino, nós temos o intelecto possível o qual capta os inteligíveis apenas em
potência e temos o intelecto agente que capta os inteligíveis em acto. Isso o
animal não tem porque isso é propriamente humano, ou seja, o inteligir tem a
ver propriamente com a inteligência humana da parte intelectual do homem, da
parte espiritual do homem.
Agora,
o intelecto agente é aquele que imprime a forma do inteligível no intelecto
possível, o qual é apenas em potência. O acto e a potência como uma das
polaridades aristotélicas como forma e matéria, substância e acidente, essência
e existência estão no centro mesmo da filosofia aristotélica de modo que o
sistema de Aristóteles é, no fundo, uma tensão não propriamente dialéctica mas
uma tensão entre contrários porque não pretende chegar a nenhuma síntese mas
apenas partir da empírea e desta ir racionalizando a empírea de modo que Aristóteles
é um racionalista-empirista.
Há
uma máxima muito interessante sobre as polaridades aristotélicas que diz que
“nada passa de potência a acto senão por aquilo que já está em acto”. De modo
que o acto precede a potência. A forma precede a matéria. A essência precede a
existência e a substância precede o acidente. Existe uma frase no “Fausto” de
Goethe atribuído a Mefistófeles que diz: “no princípio era a acção”, quer dizer
acto. Isso é correctíssimo, de modo que o acto ou a acção é o próprio logos divino. Spinoza diz que se “no princípio
era o verbo”, o logos, isso significa
que já não é mais. Então, o que é? Potência? O NADA? Isso é um absurdo porque
seria o mesmo que dizer que a potência precede o acto ou que o nada precede ao
ser.
Agora,
a questão da inteligibilidade é muito importante na formulação da teoria do
conhecimento que o filósofo Olavo de Carvalho chamou de a “tripula intuição”.
Quer dizer, para que haja conhecimento o homem tem que ter primeiro a intuição
do sujeito. Segundo ele tem que ter a intuição do objecto e terceiro ele tem
que ter, por exemplo, a intuição de um meio luminoso que vai conectar o sujeito
com o objecto e permitir que este saia da sua esfera e entre na esfera do
objecto e apreenda o que do objecto pode ser conhecido e volte para a sua
esfera enriquecido com o conhecimento acerca do objecto, ou seja, das suas
propriedades, da sua singularidade, da sua matéria sensível, da sua extensão
contínua e discreta, das suas categorias pensamentais, etc.
Mas
nem tudo é inteligível e não o é porque está em potência e necessita-se de algo
que esteja em acto para fazê-lo passar da potência ao acto. Tem aquela frase
famosa de Einstein que diz que “nada é mais ininteligível do que o facto de que
tudo é tão inteligível”. O que é isso? É a mesma polaridade aristotélica do
acto e potência. Ou seja, aquilo que é ininteligível o é apenas como potência
conforme captado pelo intelecto possível e aquilo que é inteligível o é
enquanto acto conforme captado pelo intelecto agente.
Então,
aqui podemos introduzir o conceito de paciente como estamos fazendo referência
ao agente que é aquele que tem a potência do acto. Ora, o paciente não é o
indivíduo que está doente mas o indivíduo que sofre a acção da doença. Paciente
não é aquele que espera mas aquele que sofre a acção da espera. Na verdade, a
palavra paciente vem de paixão que significa sofrimento, padecimento, e não um
estado idílico da Primavera da vida em que os jovens se encontram
frequentemente. Estar apaixonado por alguém significa estar a sofrer por esse
alguém. E a paixão não precede o amor. De modo nenhum. Somente se apaixona quem
ama. Agora, confundir amor com Eros
ou com Afrodite que são os deuses
gregos da sexualidade masculina e feminina é um vício da modernidade.
Paciente
é quem sofre uma acção. Então, ele fica em estado de paixão, ou seja, em estado
de sofrimento. Agora, o intelecto possível é paciente porque ele recebe a forma
do inteligível do intelecto agente. Mas o inteligível não é apenas enquanto
acto e nem o é também apenas enquanto potência mas sim enquanto acto e potência
simultaneamente. Os materialistas depois de Berkeley fizeram uma abstracção da
matéria da sua forma inteligível e ficaram apenas com a matéria. Mas isso é um
absurdo porque eu só posso conhecer o cavalo pela sua forma inteligível que é a
cavalaridade. Eu só posso conhecer o ser humano pela sua forma inteligível que
é a humanidade. Isso faz do evolucionismo de Darwin, o qual é determinista e do
evolucionismo de Dawkins, o qual é fortuito, casuístico, uma fantasia tão
pueril porque o sensível abstraído do inteligível se reduz apenas ao
fantástico.
A
forma como um arquétipo platónico, uma ideia, ela é eterna e imutável. Isso é
conforme a metafísica geral, a ontologia na sua última divisão do ser que
consiste em ser a se e em ser ab alio. A forma, por exemplo, de um
triângulo que é a triangularidade é um ser ab
aeterno mas não um ser a se met ipsu
porque, senão, ele teria que ser uma substância omnipresente. Isso esclarece
uma série de coisas como por exemplo o delírio evolucionista porque um macaco
mudar sua forma essencial para assumir a forma humana é uma impossibilidade
metafísica pura e simples. Ela viola o princípio de identidade porque um ser
não pode ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto. Ontologicamente, se
o homem é um macaco evoluído ele continua sendo tão macaco quanto qualquer outro
macaco. De modo que ontologicamente, que é o ponto de vista propriamente preeminente
da estrutura da realidade é um absurdo.
***
Na
Economia fala-se do consumidor paciente. Paciente é aquele que sofre uma paixão
contrariamente ao agente que é aquele que exerce uma acção. Na teoria económica
o consumidor é um agente, sendo ele um agente como é que ele pode ser um
paciente. Quando o consumidor poupa para o futuro, ele está padecendo alguma paixão?
Depende. Em caso de uma poupança voluntária ele não pode ser paciente mas
apenas no caso de uma poupança compulsiva caso contrário isso não passaria de
um masoquismo.
ESCRITOPOR|XADREQUE
SOUSA|shatreksousa@gmail.com
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