O termo fé só faz
sentido se usado no contexto do cristianismo tal como a Torá só faz sentido
dentro do judaísmo e a sharia faz sentido apenas se aplicada ao islam. De modo
que, no contexto religioso, qualquer outra aplicação do termo fé fora do
cristianismo é apenas uma figura de linguagem de modo que não se encontra
nenhuma referência a fé na Torá ou na Sharia.
St. Paulo, o apóstolo,
disse que “a fé vem por ouvir a pregação do evangelho de Jesus Cristo” (Romanos
X,16) de modo que quando alguém diz que tem fé, ele está dizendo que é cristão
porque fé é cristianismo e cristianismo é fé.
Quando se lê “God: a delusion” de Dawkins
ou “Deus não é grande” de Hitchens e outras obras de autores ateístas é de
deixar qualquer um estarrecido com o show
de inépcia no maneio da técnica lógica e de falta de conhecimento religioso dos
ateus militantes como os mencionados neste parágrafo e tantos outros como
Victor Stenger, Daniel Dennet et caterva.
Para começo de conversa, ateísmo é o oposto
do teísmo e não de judaísmo, cristianismo e islamismo. Portanto, ele oferece uma
contradição ao teísmo. Uma contradição é apenas uma negação daquilo que se
afirma. Ora, se por um lado você tem uma afirmação, o teísmo, e por outro lado,
você tem uma negação que é o ateísmo, então, estabelece-se uma tensão dialéctica.
Para entendermos melhor isso temos que chamar Hegel para essa conversa. Veja,
aquele filósofo alemão tem a sua dialéctica nos seguintes termos: tese, antítese
e síntese. Deste modo, a dialéctica não conduz a aceitação ou negação da afirmação.
Antes, porém, ela conduz a uma síntese.
O que eu quero dizer com isso é que o ateísmo
nunca vai conduzir a aniquilação absoluta do teísmo. O que ele conseguira é
apenas fundir-se com o teísmo e criar uma síntese que depois desse processo se
transmutará numa tese que será negada ou afirmada por outras teses até que se
constitua uma nova síntese num processo ad
aeterno.
Me chamar de teísta, deísta ou seja lá o
que for chega a ser ofensivo. Eu não sou teísta ou deísta. Eu sou cristão. Isso
faz toda a diferença. Um teísta ou deísta é alguém que crê na existência de
Deus porém ele não crê num Deus pessoal. Por outras palavras, ele crê que Deus
criou o mundo e que depois não fez mais nada e que também não pode intervir no
funcionamento do cosmos, natureza e na vida do ser humano mediante resposta as
suas orações, etc. ou seja, deus seria apenas um demiurgo, um executor
material. Isso é que é teísmo e não tem nada que ver com cristianismo.
Ao invés disso, os cristãos crêem que Deus
é uma pessoa que usa o pronome pessoal “EU”, uma pessoa com a qual se pode
dialogar, uma pessoa que tem sentimentos, uma pessoa que pode ajudar em
momentos difíceis, etc. E essa pessoa chama-se “SENHOR JESUS CRISTO”. Quando Cristo
apareceu para os seus discípulos no segundo domingo da ressurreição, Tomé, o
Dídimo, prostrou-se a seus pés e disse: “SENHOR MEU E DEUS MEU”. Eis aí o Deus
dos cristãos, o que nada tem que ver com o deus que os Dawkins, Stenger,
Hitchens, Dennet, etc., fizeram evoluir da sua ameba e agora querem imputar aos
cristãos.
Confusão
sobre a FÉ
Uma das grandes confusões que tenho notado
na leitura dos livros dos ateístas militantes é tratar todas as religiões como espécies
do mesmo género quando, na verdade, elas não são nada disso. Qualquer pessoa
que tentasse advogar em favor dessa tese deveria fazer a seguinte pergunta
elementar: “se todos os deuses são iguais e se todas as religiões são iguais,
por quê é que elas brigam tanto e, as vezes, até a morte”? Mas essa pergunta não
surge porque as pessoas, em vez de pensar, estão mais preocupadas em expressar
suas sensações e repetir o manifesto do grupo ao qual elas apoiam.
Já expliquei em outros artigos publicados
neste blog que não há como você
conciliar judaísmo com cristianismo e cristianismo com islamismo. Cada religião
é um fenómeno único e irreplicável de modo que quando os ateístas militantes
tentam nivelar todas as religiões por baixo e todos os deuses eles não sabem do
que estão falando. Porém, quando é assim não custa nada ir consultar as pessoas
que entendem do assunto como Fritjof Schuon, autor de “the transcendental unity
of religions”, Olavo de Carvalho, Luiz Gonzaga de Carvalho e assim por diante.
Uma grande confusão que esses escritores ateístas
militantes causam é chamar judaísmo de fé, cristianismo de fé, islamismo de fé
e outras religiões monoteístas e politeístas de fés. Isso só mostra que não sabem
do que estão falando porque eles dão como pressuposto que fé é acreditar num
dogma. Ora, é preciso ser muito pueril para acreditar numa coisa dessas. Uma breve
leitura do Novo Testamento resolve esse problema, porém, eles não lêem aquele
livro sagrado e se o lêem, fazem-no em busca de um nó cego porque não aquilo
que Bergson chamava de “alma aberta” para evidenciar a atitude correcta a se
ter por parte de quem, sinceramente, quer conhecer as coisas tal como elas são.
No livro dos Actos dos apóstolos, o
cristianismo era chamado de seita. Contudo, os cristãos o chamavam de caminho. Ou
como consta da epístola aos hebreus “o novo e vivo caminho que Ele [Cristo] nos
consagrou pelo véu da sua carne”. Que caminho era esse? Esse caminho chamava-se
fé. Quando o cristianismo ia se consolidando na Judeia a despeito das perseguições
e martírios como os de Tiago e Estêvão, St. Lucas, o escritor dos Actos, diz
que “muitos sacerdotes obedeciam a fé”. Vemos também no livro dos Actos que St.
Paulo teve discussões acesas com os cristãos judeus porque St. Paulo pregava a salvação
pela FÉ e os judeus pregavam a salvação pela TORÁ, a lei de Moisés. Não contente,
numa de suas epístolas, St. Paulo diz claramente que a razão de tanta perseguição
contra a igreja e a proliferação de muitos falsos cristãos era que “a fé não é
de todos”. Ou seja, os judeus perseguiam os cristãos porque tinham LEI e não FÉ.
Podemos estender isso aos mussulmanos e dizer que eles perseguem os cristãos porque
não têm fé, eles têm a SHARIA. Na epístola aos romanos X,16, St. Paulo diz que “a
fé vem pela pregação da palavra de Cristo”.
Creio, por meio do acima exposto, ter
apresentado elementos de prova mais do que suficientes para demonstrar que fé é
cristianismo e que cristianismo é fé de modo que quando alguém diz que tem fé,
por outras apalavras, ele está dizendo que é cristão. Leia a Torá ou leia a
sharia e você não vai encontrar nada acerca da fé porque a fé vem apenas pelo
acto de ouvir a pregação do Evangelho de Jesus Cristo. A frase mais pronunciada
por Jesus Cristo é, pois a seguinte: “a tua fé te salvou”. Deste modo, quando
um ateu aplica o termo FÉ a outras religiões que não o cristianismo, isso, no máximo,
só pode servir como uma figura de linguagem porque, no campo da religião, a fé
só faz sentido dentro do cristianismo assim como a sharia só faz sentido dentro
do islamismo e a torá só faz sentido dentro do judaísmo. Porém, esses cérebros iluminados
da humanidade nem isso sabem.
ESCRITO POR|XADREQUE
SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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