quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Medicina e cura pela fé

Resultado de imagem para medicina
O princípio de cura é universal e, portanto, independe dos métodos usados, sejam eles remédios, oração da fé, jejum, dieta alimentar saudável, etc.
Dizer que a natureza é que nos cura é uma abstracção absurda porque nenhum de nós está fora da natureza, antes, somos parte dela, ou seja, nós também somos a natureza.

Em 2016, eu estava escutando uma música do cantor gospel brasileiro Fernandinho em que ele diz algo mais ou menos assim: “onde a mão do médico não pode por a mão…”. Então, alguém interrogou-me, dizendo: “mas ele tinha que falar dos médicos”? Agora, porquê é que ele fez essa pergunta? Porque os médicos e os cientistas são intocáveis. Eles têm, hoje em dia, uma autoridade igual ou até mesmo superior a que tinha o clero católico na idade média. O médico falou, o cientista falou, pronto, é como se o próprio Deus tivesse falado. Julien Benda estava montado na razão quando escreveu que essa presunção da omnipotência da ciência não passa de superstição.

Conheci muitos estudantes de medicina nos últimos 8 anos e eles dizem que os seus docentes, médicos quase todos eles, fazem, invariavelmente, chacota daquilo que se chama cura divina ou cura pela fé que, na verdade, é apenas uma abstracção. Quer dizer, os médicos podem falar mal dos curadores pela fé e ninguém pode falar mal dos médicos e mesmo nos casos em que eles estejam manifestamente errados e os outros estejam manifestamente certos. Isso é a consequência de as pessoas julgarem tudo em função do partido, da igreja, da ONG, etc., a que elas aderiram. Mas as coisas não são assim. Isso é ditadura. Isso é lei da amordaça. Uma das condições do debate intelectual sério conforme ensinado por Aristóteles é a honestidade intelectual que segundo Olavo consiste no seguinte: “não dizer que sabe o que você não sabe e não que dizer que não sabe o que você sabe perfeitamente bem” (sic). Isso pressupõe que os dois debatedores querem a verdade acima de tudo.

Agora, não há ninguém que buscando a verdade, ao invés de dar direito de voz as duas facções em disputa, sensibiliza a favor de uma delas e dessensibiliza a favor da outra. Essa pessoa não quer a verdade, ela quer acomodação e dar boa impressão. É, por isso que, invariavelmente, lançam mão da erística que é um truque pseudo-lógico, uma pseudo-dialética e dizem: isso é um absurdo! Isso é teoria de conspiração! Você não tem diploma! Não há prova científica! Porém, como diz Hannah Arendt, “it’s not an argument. It’s a character assassination” (sic). Mas, parece que as pessoas não sabem disso e, ao invés de discutir ideias, elas discutem papéis sociais e julgam que com isso já superaram a lógica de Aristóteles. Ora, façam-me favor! Isso é uma empulhação! É preciso ser muito pueril para não perceber isso.

Quando o médico diz para um paciente que ele tem diabetes e que a diabetes não tem cura, ele está falando como um profissional de medicina, porém, quando o paciente diz que Jesus Cristo irá curá-lo e o médico replica, dizendo: “isso é uma ilusão”, ele pensa que, ainda, está falando como médico e não percebe que mudou de papel e que, agora, ele está fazendo o papel do Satã porque em qual curso de medicina você estuda sobre a fé, cristianismo, Deus, etc.? isso já não seria medicina mas, sim, teologia.

Então, o médico pervade uma área que ele ignora totalmente e, pelo simples facto de ser médico, julga que tem autoridade para fazê-lo, porém, essa autoridade é que é uma ilusão e a tal da “cura divina” ou “cura pela fé” tem mais autoridade histórica do que todos os compêndios de medicina somados quer pela prova da bibliografia, quer pela prova da manuscritologia. Só o que se tem de documentos acerca da “cura divina” no meio pentecostal ligado a figuras como William Branham, A.A.Allen, Jack Coe, Katryn Khulman, Alexandre Dowie, Oral Robert, Kenneth Hagin, T.L.Osborn, John G. Lake, Smith Wigglesworth, é um material cujo estudo você não vai conseguir abarcar no prazo de uma vida. 

Agora, vem, lá, alguém que nunca leu a bíblia, nunca se quer ouviu falar de um Tommy Hicks, e que, só porque é o sr.doutor acha que pode julgar tudo sem se informar a respeito, sem passar anos estudando o assunto. Ora, é claro que é um charlatão. Até porque doutor não é quem tem um diploma universitário mas, sim, quem é douto, quem tem conhecimento mesmo que nunca tenha ido a universidade como Sócrates, Platão, Aristóteles, Herbert Spencer, John Stuart Mill e tutti quanti.

Eu posso falar acerca dessas coisas porque eu venho estudando esse assunto desde quando eu tinha 12 anos de idade para além de ter assistido in loco aos cultos de cura de Reinhard Bonnke e Valdemiro Santiago. Agora, que um individuo tenha diploma de medicina, isso não o dispensa de estudar outras coisas como teologia, matemática, economia, física, etc., se ele quiser ter alguma opinião sobre essas matérias, que não seja apenas um palpite, uma doxa.

A própria expressão cura divina é apenas uma abstracção como eu já disse porque você dizer cura divina faz pressupor que existe uma cura que não é divina. Se não é divina, o que é? Veja, as irmãs Mayo que até o século passado eram uma das maiores autoridades em matéria de medicina nos EUA afirmaram o seguinte: “nós não reclamamos curar ninguém. Só há um curador: Deus. Nós só ajudamos a natureza” (sic). É claro que também é uma abstracção você dizer que está ajudando a natureza porque você não está fora da natureza, você está dentro dela, você é parte dela. Porém, isso põe a nu a falsidade da pretensão do médico ser um curador e mesmo pela simples análise dos conceitos, o médico e o curador não são espécies do mesmo género.

 Quando um médico dentista lhe tira um dente, você não fica curado. Quando um cirurgião lhe corta um apêndice, você não fica curado. A questão é: quem é que cura aquela ferida que foi causada pela cirurgia, por exemplo? Remédios? Isso é um absurdo porque remédios não constroem tecidos, órgãos, etc. Se você perder um dos seus pulmões, não importa quanto remédio você possa tomar, nenhum outro pulmão vai surgir aí pela acção dos remédios. Então, eles dizem: foi a natureza. Mas isso é uma tautologia, um bicho que se morde pela própria cauda porque o paciente e cada um dos seus tecidos, órgãos, etc., faz parte da natureza, ele não está separado dela. Então, isso não é explicação porque a natureza não é auto-explicativa porque para começar ela é abarcada e subordinada pelo cosmos e só isso já é suficiente para impugnar a tese de que a natureza cura alguma coisa.

Dois pacientes com tuberculose podem ser curados por meios totalmente diferentes. Um pode ir ao médico que lhe vai receitar os remédios que ele tem que tomar e aí, no decurso de um certo tempo, ele sara. Porém, o outro pode ir a Nigéria ter com TB Joshua, receber uma oração de fé e ser curado instantaneamente. Não somente isso, dois pacientes com diabetes, um pode ir ao médico e viver fazendo controlo de nível de açúcar no sangue a vida toda e outro pode ir ter com TB Joshua e ser curado por meio da oração da fé. O que isso tudo quer dizer?

Primeiro, quando falamos de remédio, as pessoas só repetem essa palavra e nunca param para examiná-la devidamente. Ora, se é remédio, segue-se que ele só funciona se o tecido, o órgão, etc., do paciente for remediável, caso contrário, não, e aí diz-se que aquela doença não tem cura. Mas ela não tem cura relativamente ou absolutamente? Se for absolutamente, logo, aquela doença não é objecto da nossa experiência mas apenas um ente de razão como a circularidade, triangularidade, humanidade, etc., e deve ser tratada incomutavelmente. Porém, ninguém vai ao médico para que este lhe cura do conceito de malária, cólera, tuberculose, etc., mas, sim, para que este lhe cure da malaria, cólera, tuberculose enquanto objecto da experiência humana, logo, nenhuma doença pode ser absolutamente incurável mas apenas relativamente incurável porque o conhecimento cientifico e' probabilístico. Se ela é relativamente incurável, isso não obsta que ela também seja relativamente curável porque um relativo não exclui outro relativo, o que exclui o relativo absoluto é o absoluto. Portanto, dizer que uma doença, enquanto objecto da nossa experiência, é absolutamente incurável é auto-contraditório. Dizer que ela é relativamente incurável mas de uma relatividade absoluta é mais absurdo ainda.

Segundo, se um é curado por meio de remédios e outro o é por meio da oração da fé, no final das contas, os dois foram curados. Como é que métodos tão heterogéneos podem conduzir ao mesmo resultado? Isso mostra que o princípio de cura é universal e que ele independe dos métodos usados, os quais não são essenciais mas apenas acidentais, os quais não são necessários mas apenas contingentes. E aí talvez surja a pergunta: mas como é que um doente pode ser curado sem tomar remédio ou sem receber oração? Porque os doentes já estavam a ser curados antes que surgisse o primeiro remédio antes que aprendessem a orar. Todos nós já ficamos curados de uma doença qualquer sem nunca termos orado ou tomado algum remédio. Agora, quando você diz que somente a medicina cura ou que somente a oração da fé cura, você está dizendo que a cura é um evento particular e que, portanto, ele não obedece a nenhum princípio universal. Porém, isso não se sustenta porque o princípio por trás da cura por remédios é o mesmo que está por trás da cura sem remédios, quer seja por meio da oração da fé ou de oração nenhuma.

Estando a cura sujeita a um princípio universal e abstracto, você pode deduzir a partir desse princípio universal vários métodos particulares de cura de acordo com a situação particular e concreta dentro da qual você se encontra inserido. Agora, um princípio universal e abstracto é, por definição, um princípio metafísico como o princípio de identidade, o princípio de não contradição, etc., e você não tem como provar um princípio universal e abstracto porque ele é auto-evidente. Ele não carece de prova. Ora, se ele é auto-evidente, ele não pode ser apreendido pelo raciocínio porque o raciocínio já é um meio de prova. Portanto, você só pode captá-lo intuitivamente, o que já é um conhecimento directo e toda percepção imediata de uma presença é intuitiva.

Agora, sendo a medicina uma ciência particular, ela alcança a esse princípio universal apenas cognitivamente, por meio da indução, estudando em escala monográfica doença por doença, enquanto, a cura pela fé chega a esse princípio universal por meio da intuição. Porém, é o mesmo princípio e não outro. O princípio da cura da malária é o mesmo para a cura da tuberculose e daquelas doenças ditas incuráveis e não outro. Só que pela medicina você chega cognitivamente apenas a princípios particulares e concreto, aliás, isso até nem chegar a ser um princípio mas apenas uma regra, senão a medicina seria capaz de curar tudo e sabemos que ela não é omnipotente. A cura pela fé já não é de carácter cognitivo porque para isso os que a ministram teriam que cursar medicina, mas, ao invés disso, ela é de ordem eidética ou existencial.

O que os pacientes experimentam numa escala noética, cognitiva, no consultório do médico, ele experimenta existencialmente, ou seja, numa escala muito maior diante de um “curador pela fé” e é, por isso, que neste último caso, a cura não somente é imediata mas é possível sempre. Enquanto a cura médica, por ser experimental, ela progride muito lentamente por meio de tentativas e erros ao longo de décadas, séculos e até milénios.

Como, repetidamente, eu disse neste artigo, o princípio que rege uma cura e que rege a outra é o mesmo. Ninguém pode negar que aquilo a que chamamos de cura médica por meio de remédios é real e que aquilo a que chamamos de cura divina por meio da fé também é real. Então, por indução, dados esses dois exemplos podemos chegar a conclusão de que a cura é real. Se ela é real, então, ela está sujeita ao princípio metafísico da unidade ou homogeneidade do real. Agora, a realidade não é noologicamente fundada mas, sim, ontologicamente. Ela tem um fundamento que a abarca e subordina, transcendendo-a infinitamente. O filósofo de Estagira, Aristóteles, disse que esse fundamento mesmo da realidade é Deus, a quem ele ele dizia ser o primum moto imobile.

Ora, se Deus, o primum moto imobile de Aristóteles, é o fundamento ontológico da realidade e a cura é parte dessa realidade, segue-se que ela também está fundada em Deus no sentido ontológico da coisa, o que nos leva a exclamar com Branham: “toda cura é de Deus”! Deste modo, a distinção entre cura divina e cura médica é apenas uma ilusão, uma interface entre o noético e o eidético. Porém, gnosiologicamente, a cura está fundada na experiência humana e disso dá conta a teoria de abstracção aristotélico-tomista, só que daí até o seu fundamento ontológico, só recorrendo a teoria da iluminação divina de Sto. Agostinho.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário