segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Uma Filosofia sem filósofos

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“Quanto mais elevada por uma actividade mais ridícula é a pretensão de você tentar julga-la desde fora”

Nicolas Gomes D’Ávila, filósofo colombiano


Uma Filosofia sem filósofos
·                     Ensaio sobre o papel da Filosofia em Moçambique
Gerson Geraldo Machevo[1]
Após a leitura da obra Os Tempos da Filosofia de Severino Ngoenha apercebi-me que, atradição filosófica ocidental permitiu que cada época fosse marcada distintamente pelo seu modo de interpretar a realidade e conceber o mundo. Ao contrário em África, foram as formas de lutar para conceber uma melhor sociedade que determinaram a caracterização das mesmas. Por isso, é mais fácil para uma criança entender o significado do poder da violência, ao invés de perceber a importância e o valor do silêncio. Pois, o acontecimento e não o motivo é que está por detrás da sua percepção da realidade. O acontecimento está para o moçambicano como o pensamento está para os ocidentais. Pelo simples facto de a realidade para nós ser determinada pelo pensamento e ideias de outros, partindo de uma maquete preconcebida para posterioremente determinarmos o modo de vida da nossa sociedade. Por outro lado, quando houve uma aproximação ao modo ocidental, o despertar do pensamento bloqueiou a veia de acção.



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Não é verdade que “a tradição filosófica ocidental permitiu que cada época fosse marcada distintamente pelo seu modo de interpretar a realidade e conceber o mundo”. Porquê? Porque essa proposição sugere que antes do advento da tradição filosófica ocidental os povos interpretavam a realidade e concebiam o mundo de modo homogéneo, o que é totalmente falso. A filosofia grega, depois da morte de Sócrates, Platão e Aristóteles, entra no ocidente pela mão dos filósofos árabes, principalmente, Ibn Rushd, mais conhecido como Averróis, o qual era, até Sto. Tomás de Aquino, o comentador mais famoso das obras de Aristóteles; temos também Avicena, Al-Kindi e Al-Gazali. Antes da filosofia ocidental já existia um modo judaico de ver a realidade; já existia um modo cristão de ver a realidade e já existia um modo romano de ver as coisas e um modo islâmico de ver as coisas, já existia um modo budista de ver as coisas. A filosofia ocidental não se funda no ar. Ela surge num mundo já com uma visão própria da realidade e ela vai apenas ser serva dessa visão, que é a visão cristã da realidade, pelo menos no ocidente. Mesmo depois dessa civilização já estar consolidada, longe de criar várias visões atomísticas e concorrentes da realidade, a filosofia unificou essa visão, tendo-se tornado num dos pilares da civilização ocidental ao lado do direito romano e da moral judaico-cristã.

Essa crença de que os africanos são mais dados a acção e os europeus estão mais inclinados ao pensamento é um delírio auto-hipnótico. O ensaísta confunde a natureza humana com os traços culturais que são hábitos e costumes que diferenciam uma unidade cultural de uma outra unidade cultural. Não existe um povo dado totalmente a acção e totalmente a contemplação. Até porque fazer isso seria um sinal monstruoso de debilidade mental porque a sabedoria não consiste em ser pragmático ou em ser contemplativo mas, sim, em perceber a tensão entre o contemplativo e o pragmático e saber se orientar no meio dela.

Nem os africanos são pragmáticos, nem os ocidentais são contemplativos. Nenhum tradicionalista aceitaria isso. René Guenón não aceitaria isso. Leia os seus livros “a crise do mundo moderno” e “oriente-ocidente” e você vai ver que o ensaísta, aqui, está dizendo uma asneira do tamanho da Rússia. As guerras coloniais não fazem dos africanos mais pragmáticos que os europeus, de modo nenhum. O velho continente nem sempre foi assim tão tranquilo. As duas últimas grandes guerras mundiais provam em toda linha isso sem contar com tantas outras que se deram na idade média e na renascença. Se há um povo na terra que pode ser chamado de pragmático é o povo norte-americano. Leia Alexis de Tocqueville “Democracia na América” e saberá do que falo. Os africanos não conseguem resolver seus problemas domésticos, não conseguem nem mesmo arbitrar a briga de dois cachorros na rua e vão ser pragmáticos? Mas nem que a vaca tussa. Você não vê…qualquer conflito que acontece, qualquer catástrofe natural que acontece, corremos logo a pedir socorro a comunidade internacional. Ora, isso não é pragmatismo nem aqui nem na Cochinchina.

A asneira fica maior ainda quando o ensaísta diz que nossa aproximação com o ocidente nos tornou menos pragmáticos e mais contemplativos. Ora, se antes éramos tão pragmáticos, diga-me, o Sr. Ensaísta, qual foi a técnica que os africanos fizeram avançar? Se nos tornamos mais contemplativos, aponte-me, faz favor, Sr. Ensaísta, um único místico que produzimos ou uma única revelação que produzimos porque os europeus têm os Meister Eckart, Swedenborg, Branham, Teresa D’Ávila, Ellen G. White, Maria Wood-Etter, etc. Os orientais têm Moisés, Cristo, Maomé, Buda etc. Ora, isso é uma empulhação.

A tradição literária moçambicana pelo seu centralismo no passado, no tradicional e não na utopia reduziu a importância do pensamento e dos pensadores por se considerar que talvez fosse melhor usar parábolas e outras formas de ocultar verdades para explicar a sociedade. Perpetuou-se assim a ideia segundo a qual, “o povo” percebe melhor o mundo ao seu por meio de anedotas, músicas e não por meio de textos argumentativos (talvez seja por isso que não tenhamos uma cultura de ensaios). O pensamento tornou-se uma mera palavra, usada para explicar algo essencial existente no consciente do homem que o permite ter acesso a ideias e perpetuar o modo de luta e explicar os seus anseios. O pensamento não é uma arma, e muito menos uma força. O pensamento equivale a meras palavras fanatasiosas para expressar ansiedades. É uma arma para a burla.


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O ensaísta confunde o tradicional com o que é passado. O que é passado é um facto que o filósofo Mário Ferreira dos Santos diz que quer dizer “aquilo que começou a ser” e Olavo de Carvalho diz que é “aquilo que aconteceu”. Agora, a palavra tradicional vem do latim traditio que significa “trazer”. Deste modo, nem tudo que foi é tradicional mas apenas aquilo que foi e que é trazido perenemente para o presente. E o ensaísta usa, aqui, a palavra utopia como o contrário de passado, querendo sugerir que utopia é futuro, porém, utopia não é o futuro, utopia é apenas uma cenoura de burro, ou seja, um futuro que nunca será alcançado em futuro nenhum.

O ensaísta insinua e mais do que isso ele afirma que a utopia é superior ao discurso mito-poético que ele chama de parábolas, anedotas, etc. Ora, quer mesmo o ensaísta crer que o manifesto comunista de Marx & Engels é superior a “ilíadas” de Homero, a “Divina comédia” de Dante Alighieri, as peças de Shakespeare, ao “Lusíadas” de Camões, aos romances de Fiodor Mikhailovic Dostoieviski, aos poemas de T.S.Elliot, as obras de Rimbaud, Stefan Mallarmé, Charles Boudelaire, Miguel Cervante, Gustave Flaubert, etc., e superior ao Vedas, a Bíblia e ao Al-corão? Eu posso estar louco, mas, o ensaísta está tonto como diz aquela divisa quixotesca: “loco si, pero no tonto”.

O ensaísta diz que o discurso mitopoético visa ocultar a verdade. Eu aposto em como ele não sabe o que é a verdade. Ele nunca leu Julían Marias. Falando isso, ele está chamando Buda, Cristo, Maomé, Homero, Camões, Dostoieviski, T.S.Elliot, etc., de mentirosos e nem consegue apreender o alcance do que está dizendo porque é uma besta-quadrada ao quadrado. Esse idiota nunca leu “Aristóteles em Nova perspectiva: introdução a teoria dos quatro discursos” do filósofo Olavo de Carvalho e quer falar que argumentação é superior ao discurso poético. Ora, você não cai no discurso dialéctico, que é o discurso argumentativo, de pára-quedas. Se você não tem domínio do discurso mitopoético, você não pode ter domínio do discurso retórico e se você não tem domínio do discurso retórico, você não terá domínio do discurso dialéctico e se você não tiver domínio do discurso dialéctico ou filosófico, você também não terá domínio do discurso analítico ou lógico. Mas esse jumento não sabe disso. Ele não sabe que antes de você dominar as artes da retórica, dialéctica e analítica, a condição número zero é você povoar a sua imaginação. Como? Lendo poesia e ficção literária. Na Bíblia você tem uma vantagem múltipla porque, como descobriu Northop Frye, na Bíblia você tem todos os géneros literários, incluindo os tais ensaios de que fala o autor deste texto que estamos comentando.

Antes dos gregos serem filósofos, o que é que eles foram? Poetas. Então, aí, você tem a grande figura de Homero, o auor das íliadas. Quem foram Tales de Mileto, Heráclito, etc.? Poetas. Quando Tales diz que a água é a origem de todas as coisas? O que é isso? Teoria científica? NÃO. Isso era poesia lírica. Depois dessa geração de poetas líricos temos os sofistas que são os retóricos e só depois é que temos a figura de Sócrates que é o inaugurador da tradição filosófica e cerca de 2000 anos depois é que temos Galileu Galilei inaugurando uma outra tradição que é a tradição da ciência como a conhecemos hoje.  

Olavo de Carvalho está montado na razão quando ele diz que num país onde não há uma literatura de imaginação abundante, as ciências sociais, as ciências políticas, a filosofia, economia, etc., é tudo uma palhaçada. Einstein dizia que tudo começa com a imaginação. O médico e filósofo Moisés Maimónides dizia que tudo que podemos imaginar é possível, ou seja, podemos realizar, o que não significa que realizaremos, necessariamente. Mas a besta-quadrada do nosso ensaísta não sabe disso.

Neste sentido, a emergência de um pensamento filosófico na sociedade moçambicana suscita diversas questões e entre as quais a mais importante: Qual é a necessidade da Filosofia na sociedade moçambicana? Esta questão poderá ser respondida de várias formas contudo na maior parte das vezes a resposta mais óbvia é que a sociedade moçambicana, não necessita de Filosofia.
Ora, essa posição anti-filosofia é válida no sentido  do percurso intelectual da nação ter sido caracterizado por posições opostas quanto ao significado do que seria “filosofia”: 1) filosofia era padres e aqueles que estudavam em seminários; 2) filosofia significava a ideologia marxista; 3) filosofia seriam apenas princípios da vida em geral; 4) filosofia era para loucos (posição popular); contrariamente a essas quatro posições por volta dos anos 1990 no alvorecer da democracia em moçambique, a filosofia foi introduzida nas escolas com intuito de ser um instrumento argumentativo passível de introduzir o cidadão na sociedade e fazer as suas escolhas com base em argumentos lógicos (enquanto por outro lado preparava o aluno para o ensino superior).


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O ensaísta diz que a sociedade moçambicana não precisa da filosofia porque em Moçambique a filosofia adquiriu significados múltiplos. É claro que isso é um show de inépcia. A necessidade de uma coisa não se define pela abundância ou escassez das notas que a integram e definem mas, sim, pela impossibilidade da sua não possibilidade, i.e, pela negação do não como diz o filósofo Mário Ferreira dos Santos. Até hoje ninguém foi capaz de dizer o que é energia e o que é vida, pelo que se diz muita coisa que não é, mas que se aproxima do conceito de energia e de vida mas sem tocá-lo como numa assimptota. Porém, significa isso que a energia e a vida não são necessárias? Que responda o leitor.

By the way, o que o ensaísta apresenta como sendo o conceito ou ideia de filosofia reinante em Moçambique nem de longe se aproxima da ideia pitagórica de filosofia como amor a sabedoria. Ora, se nem esses objectos (amor & sabedoria) esses conceitos captam, como é que eles vão abranger o que Sócrates fazia e o que todos os demais filósofos fizeram ao longo dos milénios? É impossível. Se a filosofia é todas aquelas coisas que o ensaísta diz ser, então, ninguém precisa da filosofia mesmo, porém, quando você fala de filosofia como actividade auto-consiente como Sócrates a exercitava, ou como diz Olavo: “a busca da unidade do saber na unidade da consciência e vice-versa”, então, a filosofia acaba sendo uma das actividades do espírito humano de que temos mais necessidade.

Em muitos artigos já liguei a filosofia com a primeira actividade do espírito segundo Hannah Arendt que é a actividade do pensar, a qual, segundo a própria Dra. Arendt, “de Sócrates até Platão significava travar um diálogo silencioso consigo mesmo” e eu escrevei que esse diálogo só é possível porque a nossa mente é dialéctica. Isso não significa que somos governados por dois princípios, um positivo e outro negativo, de modo nenhum. O princípio que nos governa é um e único e ele é sempre positivo. Sem pensar não podemos querer e não podemos julgar racionalmente. Precisamos do logos para por freio no nosso querer e orientar o nosso julgar.

Agora, confundir filosofia com “seminários, marxismo, loucura ou vida no geral” é uma coisa que só faz sentido na cabeça do moçambicano porque nenhuma dessas coisas é filosofia. A academia de Platão e o liceu de Aristóteles não tinham nada a ver com seminários e nem com o marxismo. Isso veio muito tempo depois como uma filosofia de segundo grau, digo, a filosofia dos seminários e o marxismo como filosofia não valem um tostão furado. Eles são apenas uma estratégia de como gerar contradições internas dentro do capitalismo para depois derrubá-lo em nome de um futuro melhor inalcançável como uma cenoura de burro. A filosofia não é nem isso e nem uma preparação para a universidade e nem para a vida em geral porque se fosse uma preparação para a vida você teria que se tornar filósofo assim que você nasce, porém isso é impossível. Razões tinham os escolásticos quando diziam: “primeiro viver e depois filosofar”. Quer dizer, a filosofia não é para criança mas para pessoas experimentadas na vida. Podemos dizer que ela é para velhos. E isso está alinhado com o que disse Aristóteles, a quem Sto. Tomas de Aquino chamava de “o filósofo”. Quer dizer, Aristóteles dizia que “a filosofia começa a aquisição das ideias dos sábios” (sic). Ora, para você adquirir as ideias dos sábios, você precisa de uns 30, 40 anos e isso é a partida impossível para uma criança que acabou de nascer ser um filósofo desde o berço. Profetas nascem profetas mas ser um filósofo de verdade dá um trabalho desgraçado.

Todas as posições são válidas á sua maneira, cada uma depende do contexto em que estiver enquadrada, por mais que a filosofia seja para loucos. Um filosófo alemão (Friedrich Nietzsche) disse que a filosofia numa sociedade ou cura as pessoas ou torna-as mais doentes.


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Não é verdade que todas as posições são válidas a sua maneira porque é possível demonstrar que uma posição é errada ou certa. Não obstante, a filosofia não é uma tomada de posição. Tomada de posição é política. Leia “ a arte da guerra política” de David Horowitz e verá que, aí, ele demonstra por A+B que a política é uma guerra de posição. Se você quer tomar partido desta ou daquela ideia, então, faça política e não filosofia porque você será, seguramente, um pseudo-filósofo. Sócrates tomou partido de alguma ideia, de alguma causa? Nem Sócrates fez isso, nem Aristóteles. Platão tentou tomar partido e deu-se mal. O filósofo é um amante da sabedoria e porque a ama ele a busca. Com que objectivo? De tomar partido da sabedoria? De modo nenhum. Mas sim, de se tornar um sábio como diz aquele célebre verso de Camões: “transforma-se o amado na coisa amada”.

Chamar os filósofos de loucos chega até a ser pejorativo. Agora, o ensaísta cita Nietzsche. É certo que Nietzsche morreu louco. Ele contraiu uma sífilis e isso lhe provocava dores de cabeça atrozes e ele só conseguia escrever alguns poucos minutos por dia e ele escrevia de uma forma bastante compactada por meio de aforismas. Agora, Nietzsche não é um exemplo de filósofo e nem foi um grande filósofo. O austríaco Otto Maria Carpeaux, autor do melhor tratado da “história da literatura ocidental” que foi produzido até hoje, disse que Nietzsche era um poeta e não um filósofo. Nietzsche não tinha uma mente ordenadora. Ele se contradizia a toda hora e sendo o filósofo alguém que busca a unidade da consciência na unidade do saber e vice-versa, Nietzsche não conseguia fazer aquele recuo, digamos, uma espécie da técnica de confissão de Sto. Agostinho,  absolutamente indispensável em filosofia, para recuperar a sua própria voz e destruir a barreira entre Nietzsche e Nietzsche.

Um exemplo:

Nietzsche diz que “Deus está morto”. Volta e meia ele diz: “se Deus existisse, talvez ele me entendesse”. O que é isso? Isso só mostra que Nietzsche não tinha unidade de consciência. E porquê é que ele não a tinha? Porque ele também não tinha unidade do saber.

 Nietzsche dizia que a filosofia de um autor se resume a sua psicologia. Isso não é válido para todos os filósofos mas apenas para sujeitos como o próprio Nietzsche. Tal é o caso, por exemplo de Maquiavel e Marx. Porquê? Porque o que eles escreveram é tão inteligível que dá a impressão de estarmos diante de uma psicose. Se a filosofia curasse alguma coisa, ela teria curado a sífilis e a loucura do próprio Nietzsche. A filosofia nos dá os meios que nos vão permitir adquirir o conhecimento. Porém, o conhecimento não cura ninguém, o conhecimento não salva ninguém. Eu digo cura e salvação porque são coexistentes. Essa pseudo-teologia da salvação pelo conhecimento vem do sufismo islâmico, o qual tem sido espalhado pelo mundo através das tariqas islâmicas, sendo, talvez, a mais famosa de todas elas a tariqa multiconfessional de Fritjof Schuon que é um sheik suíço que prometeu islamizar o ocidente e ele não estava brincando. Tanto isso é verdade que seu discípulo, o Martin Lings, converteu o príncipe inglês, Charles, ao islamismo e, hoje em dia, toda casa real britânica é islâmica. Não é debalde que Tony Blair disse em discurso público, quando ainda era primeiro-ministro britânico, que “o islam é a religião da paz”. Ele somente estava dizendo o que o patrão mandou dizer como um bom office-boy que ele era. Os mussulmanos vão implantar a sharia na Inglaterra mais tempo menos tempo.

Na minha opinião é o conceito de pensamento que as pessoas têm que determina a forma como elas entendem Filosofia. Se o pensamento for algo complexo, só serve para enlouquecer. E se o pensamento for simples de mais, é inútil. Portanto, a filosofia de nada servirá porque os pensamentos não se tocam.


COMENTÁRIO|XADREQUE SOUSA:

O entendimento que as pessoas têm do que é filosofia não depende do conceito de pensamento que elas têm nem aqui, nem na Cochinchina. Não é preciso ser um Paul Friedlander para saber que a filosofia de um autor é determinado pelos problemas que o conduziram a filosofar. Só se aprende filosofia filosofando e não lendo livros de livros, os quais, na verdade, são muito poucos e, neste país, não existe nenhum. As pessoas confundem filosofia com cultura filosófica. Elas lêem Platão e Aristóteles, Sto. Agostino, São Tomás de Aquino, Descartes, Kant, Husserl, o que não é pouca coisa, e, no entanto, só por isso, acham que já são filósofos. A leitura dos filósofos só serve para você adquirir ou tomar conhecimento das ideias dos sábios e estar em condições de montar o status quaestionais.

Essa coisa de que o pensamento complexo leva a loucura e o pensamento simples é inútil é de uma barbaridade atroz. Nietzsche ficou louco mas o seu pensamento não era complexo. De modo nenhum. Se calhar, o filósofo mais complexo que temos seja Edmund Husserl mas, nem por isso, ele ficou louco. Dizer que a filosofia é inútil porque o complexo e o simples não se tocam é expressão de uma confusão mental quase demoniacamente possessiva porque o ensaísta nem se quer sabe que o simples e o complexo são coexistentes. Aquilo que é simples, o é porque tem poucas notas que o integram e o definem e aquilo que é complexo, o é porque tem muitas notas que o integram e o definem. Em todo caso, você não terá o complexo sem ter o simples. E Deus, por definição, é o mais simples e nem por isso é inútil. O que o ensaísta também não sabe, porque é burro e nem se quer tratou de ir ler, de ir estudar, é que complexidade e simplicidade tem que ver com extensão e compreensão e que aquilo que é mais extenso tem menor grau de compreensão e que aquilo que é simples tem maior grau de compreensão e ser mais dificilmente compressível não significa loucura, até porque se você não compreende isso não obsta que os outros compreendam e ser mais facilmente compreensível não significa inutilidade. Antes pelo contrário, quando Newton queria montar sua física mecânica ele não recorreu a geometria euclidiana que era mais complexa e acabou recorrendo a geometria analítica cartesiana, por conseguinte, mais simples, e nem por isso a física mecânica de Newton é inútil, se bem que, eu acho que, se Newton tivesse usado a geometria euclidiana ele teria se antecipado a Max Planck, Schrodinger, Heisenberg e Albert Einstein na descoberta da relatividade e da física quântica.


Por isso, da inutilidade da filosofia poucas são as pessoas que aderem a ela com o intuito de usar as ferramentas numa perspectiva puramente académica. Muitos dos que aderem aos cursos de filosofia aderem por uma questão meramente económica e prestigiosa, no sentido de possuirem um grau universitário e um estatuto social. E muitos deles depois esquecem do valor da própria filosofia.


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O ensaísta confunde filosofia com curso de filosofia. Razão tem o filosofo colombiano Nicolas Gomes D’Avila quando diz que quanto maior for uma actividade mais ridícula é a pretensão de você tentar julgá-la de fora. E o Sr. Muchevo faz exactamente isso, digo, um papel ridículo. Nem a filosofia é inútil, nem os cursos de filosofia são filosofia no mesmo sentido que Sócrates, Platão e Aristóteles. Filosofia como actividade escolar é uma filosofia de segundo grau e não tem nada a ver com o que Sócrates fazia porque, no final das contas, filosofia é aquilo a que o filosofo Olavo de Carvalho chama de “o projecto socrático” e você não vai aprender isso numa universidade. Só se aprende filosofia vendo um filósofo filosofar in loco como Platão viu Sócrates filosofar e como Aristóteles viu Platão filosofar ou sendo um génio e aprendendo sozinho como Sócrates, o qual aprendeu sozinho. Sozinho? Também não é bem assim. Ele teve ajuda do seu daimon.

Dizer que as pessoas aderem a filosofia por questão económica ou por prestígio faz-me rir. Que prestígio tem a filosofia neste país que nunca produziu um único filósofo? Eu também passei pela universidade e licenceie-me em economia pela Universidade Eduardo Mondlane e posso assegurar que a filosofia ou seja o curso de filosofia, neste país, não tem prestígio nenhum. Os cursos mais prestigiados e que mais são demandados por questões económicas são Medicina, Direito, Economia, Contabilidade e Gestão e depois as engenharias. Aliás, dizer que esses cursos são demandados por questões económicas chega a ser redundante porque não há nenhum curso universitário que tem sido demandado, neste país, por um outro motivo. Eu já disse, vezes sem conta, que a coisa que o moçambicano mais odeia é o conhecimento. Ninguém quer saber de aprender nada. Todo mundo só quer saber de dar boa impressão e ganhar dinheiro nem que seja roubando o pouco que o seu semelhante tem. Se Moçambique tivesse tantos filósofos assim, este país seria pelo menos o centro cultural da África como a França que já o foi da Europa, mas, o que é cultura neste país? É Marrabenta, Matapa e Capulana. Enquanto para os europeus, no tempo em que havia europeus, cultura era falar bem, escrever bem e ser dono de um saber amplo e não especializado.


Por outro lado, temos um outro grupo de filósofos na nossa sociedade, para os quais sendo a filosofia um mero instrumento filosófico, levará muito tempo para que ela possa ser entendida na sociedade. Devendo a filosofia ser confinada nas universidades e de vez em quando sair para debates, colóquios e simpósios. A filosofia é igualada a coruja de minerva, que levanta-se ao anoitecer (como defendem Hegel e Ngoenha).


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“Filosofia, um mero instrumento filosófico”? Morri de rir. Mais uma vez, tudo isso é filosofia de segundo grau. Confundir filosofia com curso superior de filosofia, com debates, colóquios, etc., em torno de temas gerais da filosofia amplamente consagrados e facilmente rotuláveis como determinismo-livre arbítrio, idealismo-realismo, empirismo-racionalismo, é confundir comida com cardápio. É metonímia pura e isso não tem nada a ver com a expressão mitopoética de Hegel de que a filosofia é como a coruja de minerva que se levanta ao anoitecer. Longe disso, essa imagem quer dizer, apenas, que o ambiente propício para o despertar da busca da sabedoria é quando o mundo ao redor está em “total” frangalho como no tempo em que Sócrates começou a filosofar, digo, Atenas estava em total frangalho como consequência da guerra de Peloponeso e nada fazia lembrar aquela Atenas gloriosa do tempo de Péricles.

Quando está tudo escuro, quando ninguém está entendendo mais nada, é aí que a filosofia, como um dos pilares da alta cultura, brota como guia da sociedade, questionando os fundamentos dos valores vigentes não censurados, a famosa doxa, e remoldando o imaginário colectivo da sociedade de modo a devolver o povo à sua autoconsciência.

Mas se a filosofia vem tarde, ninguém necessita dela. Quem irá necessitar de um médico depois de ter morrido. Que sociedade precisa de uma ciência silenciosa? A filosofia parece estar a separar-se dos reais problemas da sociedade, e o filósofo parece tornar-se um covardeamedrontado não-sei-de quê.


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A filosofia nunca vem tarde. Dizer que ela vem tarde é evocar a ideia de progresso. Então, você sabe para onde a história está se movendo e onde cada coisa deve estar num tempo histórico específico. Essa é uma ideia hegeliana da história como um desenvolvimento contínuo. Porém, essa linearidade, na verdade, não existe. Contudo, isso não significa que a história não é uma ciência, de modo algum, mas significa que a tarefa de um historiador não é construir futuros mas, sim, fazer aquilo que disse o bom e velho Leopolde Von Ranke, digo, “narrar os factos tal como se passaram” (sic).

Uma filosofia pode vir cedo como a filosofia de Schelling. Porém, Schelling, depois, teve problemas. Na sua juventude ele teve umas intuições brilhantes e escreveu umas coisas interessantes, porém, quando ele tentou de novo não conseguiu. Ele acabou fazendo 5 filosofias e só acertou o tom na última, já velho. É por isso que eu disse que a filosofia é para velhos e não para crianças. A regra da escolástica: “primeiro viver, depois filosofar” ainda é válida.

By the way, a finalidade da filosofia, tomada teleologicamente, não é resolver os problemas da sociedade. Os que dizem isso são mentirosos e muito menos é formar pessoas para isso. Isso é tarefa dos sofistas e não dos filósofos. Na sua 12a tese contra Feuerbach, Marx diz que os filósofos trataram de interpretar o mundo e que eles (os revolucionários) tratariam de transformá-lo. Ora, isso deixa claro para todos que a tarefa do filósofo é compreender a realidade e não transformá-la. E em primeiro lugar, compreender a realidade sobre você mesmo e só depois sobre a sociedade, a natureza, o cosmos e Deus porque na ordem do conhecer Deus é o último ente que você vai conhecer mas na ordem do ser ele é o primeiro ente que é. Não é debalde que a filosofia começa como a especulação sobre a ética.

Se você está preocupado com o bem-comum, neste caso, faça política e deixe aqueles que estão preocupados em buscar a sabedoria fazer filosofia. O ensaísta não percebe que a busca do bem-comum é pragma e que a busca da sabedoria é contemplatio sapientiae. É certo que existe o mito do rei filósofo, porém, o primeiro que tentou colocar isso em prática acabou detido e vendido como escravo e depois comprado na feira por um dos seus discípulos. Estou falando de Platão. Esse mito do rei filósofo vem desde os pitagóricos que diziam que na política deviam reinar o filósofo, o sábio e o santo. Porém, isso só é possível formalmente e não materialmente. A autoridade de um filósofo, sábio e santo resulta do facto de que eles estão de posse de uma verdade supratemporal, supra-histórico. Porém essa autoridade só funciona para quem entende do que o filósofo, o sábio e o santo estão falando, caso contrário não serve e os exemplos de Sócrates no plano noético e de Cristo no plano eidético são disso exemplos insofismáveis. O político tem a autoridade delegada pelo poder popular, se for numa democracia, ou uma autoridade delegada por Deus ou pelos deuses se for numa monarquia, porém, isso não serve em filosofia porque isso seria fazer da verdade suprema a que procura chegar a filosofia através da contemplatio sapientiae uma matéria de votação e de eleição ou, então, dar a filosofia carácter de revelação e isso já não seria mais filosofia mas, sim, religião.

Da contemplação filosófica para acção-interacção social
A covardia filosófica reside no facto de muitos filósofos defenderem que o papel do filósofo ser o de reflectir sobre o mundo. O filósofo é por natureza um pensador, por essa razão não irá demonstrar nenhuma acção visível como a do pedreiro, a do arquicteto, a de um médico, etc. Realmente não, mas como Marx disse, não é tempo de contemplar/reflectir sobre o mundo, o mais importante é “transformar” a sociedade.


COMENTÁRIOS|XADREQUE SOUSA:

Acção visível? Mas, o que é isso? Então, o Sr. Ensaísta já viu uma acção a vivo e a cores? Ele fala de acção visível e acção invisível. Ora, isso é uma patacoada como dizem os brasileiros. Você não pode ver uma acção porque ela é sempre um substantivo comum-abstracto mas parece que o ensaísta nem conhece a gramática senão saberia que somente podemos ver os instrumentos da acção e seus efeitos. Quando você diz que o fulano mentiu, você está vendo a mentira? De modo nenhum. Você só “vê” as palavras que ele falou ou escreveu e pelo juízo que você capta dessas palavras você capta a presença ou a ausência da coerência lógica interna do que está sendo dito.

Agora, o ensaísta, baseado em Marx, diz que os filósofos são covardes porque ao invés de transformar a sociedade estão mais preocupados em levar uma vida contemplativa. Eu já comentei amplamente isso na secção anterior pelo que não vou-me repetir, remetendo o leitor para aquela secção.

Acredito que o foco na filosofia tem desnorteado a verdadeira função desta na sociedade moçambicana. Pois, as pessoas aprendem a pensar mas não aprendem a agir, não se empreendem para “transformar”. Pois todos os seus ídolos, o Platão, Aristóteles, Hegel e Voltaire, não os ensinaram a agir, mas a sonhar. E o seu sonho não pode ser partilhado antes do anoitecer. O ideal seria estar assentado sobre uma pedra com a mão sob o queixo, como a estátua “o pensador” de Auguste Rodin.


COMENTÁRIOS|XADREQUE SOUSA;

Isso é o cúmulo da burrice. Esse sujeito deveria mas era ficar calado ou ir cortar cana ou ir lavar roupa no tanque se é que pelo menos isso ele sabe fazer. Ele é um imbecil enrangés. O tipo tem o descaramento de chamar Voltaire de filósofo. O que é isso? Voltaire era um jornalista. “Ele era um palpiteiro de certo talento” como diz Olavo mas ele não era um filósofo de modo nenhum. Outro caso é o do Bastiát que as pessoas pensam que era um economista notável. Ora, Bastiát era um jornalista tal como Voltaire. Ele tinha algum talento e deu apoio a uma corrente de pensamento que ele julgou que estava certo naquele momento. O mesmo se pode dizer do Henry Hazlitt, mas esse jumento do Muchevo não sabe disso.

Ele ainda tem a cara de pau de mentir, dizendo que Platão, Aristóteles, Hegel, Voltaire ensinaram os filósofos a sonhar. Platão, Hegel, Voltaire até que fizeram isso porque eles acreditavam no mito do rei filósofo, mas Aristóteles? Que é isso? Agora, isso só é verdade na cabeça oca desse ensaísta. Porquê? Porque sonhar pressupõe uma utopia e filosofia não é uma utopia. Quando o filósofo deixa a sua tarefa de filósofo que é a de buscar a sabedoria e se transmuta num prometeu, num falso messias, ele começa a ser presa fácil das utopias que por definição é uma cenoura de burro, algo que você nunca vai realizar porque é uma impossibilidade lógica pura e simples.

A utopia não tem nada a ver com filosofia. Ela tem a ver com a pseudofilosofia. Marx diz que os filósofos interpretaram a realidade e que eles iriam transformá-la. Quem são esses “eles”? Os filósofos? Não pode ser. São os pseudo-filósofos. Quem são os pseudo-filósofos? Os sofistas. Porque se eles querem transformar a realidade ao invés de estuda-la, isso pressupõe que eles crêem que já nasceram dotados de sabedoria infusa e que não precisam estudar mais nada. Os sofistas ensinavam os jovens acerca dos negócios públicos e como ganhar debates sem ter razão mas apenas com base na logomaquia, pura guerra de palavras. E eles acabaram corrompendo a juventude.

O ensaísta, aqui, não sabe o que é um filósofo e o confunde com um sofista. Voltaire, Marx, Engels, etc., não eram filósofos no mesmo sentido em que se aplica esse título a Sócrates, Platão e Aristóteles, mas, sim, não passavam de sofistas e não há ninguém que mais tenha corrompido o mundo do que Marx e Engels com a sua utopia de revolução comunista. Eles queriam transformar uma realidade que eles nunca chegaram a compreender não porque eram incapazes mas porque eram maliciosos. Se fossem incapazes ainda teriam desculpas.

O mal dos utopistas não é que eles querem transformar a realidade económica, política e social de um país. De modo nenhum. Eles querem mas é transformar a própria natureza humana como dizia Kautsky: “se a natureza humana for contrária a natureza social, então, a natureza humana terá que se ajustar a natureza social”. Nem o imbecil do Richard Dawkins chegaria a tanto.

Compartilhar o seu sonho ao anoitecer? Esse tipo não sabe ler o que escreve? Se você compartilha seu sonho a noite, a que hora é que você vai dormir para sonhar porque o sonho exige que você não esteja em estado de vigília? Agora, os comunistas, como o caro ensaísta, fazem a noite e fazem o pesadelo da utopia. Foi Ernest Laclau que disse que os comunistas criam, através do discurso ideológico, a classe que os irá apoiar. Essa tal acção ou transformação do mundo num mundo melhor de que os comunistas são paladinos, respaldado em Marx, só resultou em genocídio onde quer que tenha sido levado a cabo como atestam as pesquisas de Paul Johnson e Hans Morgenthau. Só na Rússia sob Lenine custou 80 milhões de vidas só na colectivização da agricultura. Na Rússia sob Stalin custou cerca de 70 milhões de vidas em expurgos intermináveis. Na China sob Mao custou outros 70 milhões de vidas numa fracassada reforma agrária e numa revolução cultural sangrenta. É só ler “o livro negro do comunismo” de Steffan Courtois, um ex-comunista, para ver que o comunismo é, de longe, a maior praga, a maior catástrofe que já se abateu sobre o género humano desde que o mundo é mundo.


A filosofia em Moçambique parece reflectir sobre uma sociedade ilusória, um mundo de pensamentos que nenhum cidadão real tem acesso. Pois os problemas reais e imediatos não são reflectidos, ao menos. Porque parece ser uma espécie de pecado reflectir sobre o “agora”, por ser mais cômodo relectir sobre o “ontem”.


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“Um mundo de pensamentos que nenhum cidadão real tem acesso”? Se ninguém tem acesso a esse mundo de pensamentos, como é que o ensaísta chegou a essa conclusão? Pensando, pois não? Então, ele comete uma paralaxe cognitiva monstruosa e não sabe que aquilo que ele está dizendo é desmentido no acto pelo próprio acto de dizer. O ensaísta volta a dar seu show de inépcia ao dizer que a filosofia reflecte sobre o “ontem” e não sobre o “hoje” e ele pensa que está falando de filosofia e nem ao menos percebe que está a falar de uma outra coisa chamada história e, neste caso, história da filosofia, não obstante voltar a confundir filosofia com a política que é a arte de administrar a polis, de ordená-la a imagem e semelhança do cosmos como a entendiam os gregos antigos.

Acredito ser necessário deixar-se de esconder por detrás da coruja e enfrentar o mundo de hoje.Imaginemos então se essa coruja moçambicana de tão jovem que é perder a visão? Qual será o seu fim? Será que morrerá á fome e cega, apesar de ainda poder voar?
A real presença da filosofia na sociedade moçambicana carece de uma mudança de perspectiva em relação aqueles que a fazem. Pois a filosofia não pode existir sem filósofos. Acredito que este é que tem sido o grande problema, a centralização sobre a Filosofia e não aqueles que fazem sentir a sua presença. Ainda não entendemos que a sociedade necessita de uma melhor percepção sobre qual é a responsabilidade do filósofo na sociedade.


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Filosofia é o amor a sabedoria tal como definida por Pitágoras. Quer o amor, quer a sabedoria, são eternos. Só isso já é suficiente para mostrar que a filosofia precede o filósofo. Quando Sócrates se denominava de parteiro da verdade, ele estava deixando isso muito bem claro para todo mundo. Outro caso é o do Boécio, o pai da escolástica, que, na prisão teve uma visão da filosofia que apareceu para ele na forma de uma mulher muito bonita e a partir daí ele se transmutou de poeta para filósofo. Como é que você vai buscar a sabedoria ao menos que ela exista antes que você comece a busca-la? Só há filósofos porque há uma filosofia ou várias filosofias possíveis.

O filósofo não tem nenhuma responsabilidade social enquanto filósofo porque ser filósofo não é representar um papel social pelo simples facto de que ser filósofo é apenas uma atitude do espírito humano e não uma profissão. De modo que qualquer pessoa pode ser um filósofo. Eu já disse que filosofia como curso académico ou como profissão é uma filosofia de segundo grau tal como a especialização em filosofia como temos visto por aí especialista em Spinoza, em Aristóteles, em Platão, etc. Ora, se a filosofia é essencialmente uma profissão, diga-me, como é que você haveria de remunerar Sócrates? Sócrates não deu aulas em nenhuma universidade, Sócrates não escreveu nenhum livro, Sócrates simplesmente conversava com as pessoas. O filosofo colombiano Nicolas Gomes D’Ávila está montando na razão quando diz que “quanto mais elevada for uma actividade mais ridícula é a pretensão de você tentar julgá-la de fora” (sic). Como há poucos filósofos de verdade no mundo e a maioria dos que se dizem filósofos são pseudo-filósofos, então, eles substituem a filosofia pelo seu inverso e pensam que são homónimos de Sócrates, Platão e Aristóteles, quando não passam de um Epicuro redivivo ou um Zenão de Eleia, apenas cérebros inferiores como seus antigos mestres.

Da covardia á ousadia filosófica
Enquanto o filósofo manter-se calado ele estará a ignorar os problemas do seu país, e “estes esforços fúteis para filosofar seu caminho em direcção à relevância política são um sintoma do que acontece quando retira-se do ativismo e adota uma abordagem espectatorial dos problemas do seu país”, como defendeu o filósofo americano Richard Rorty, em Para Realizar a América (1999,130). Pois a posição de um espectador a espera de um golo favorável para a sua equipa, em nada permite ao filósofo a influenciar a sua sociedade. Acredito com isso, deixarmos de centralizar o debate na filosofia, mas responsabilizar o filosófo sobre o papel de restaurar o papel da Filosofia na sociedade ou denegri-la mais.


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O ensaísta volta a repetir as mesmas asneiras dos parágrafos anteriores e ele pensa que, pelo facto de citar Richard Rorty, o que ele está dizendo passa a ter peso de revelação por se escorar na autoridade, fazendo um argumentum autorictatis. Para começo de conversa o Rorty é um daqueles pseudo-filósofos que cá neste país as pessoas somente lêem por ser estrangeiro, branco e falante de língua inglesa e mormente porque odeiam a verdade acima de tudo. Para quem já leu o imbecil colectivo do filósofo Olavo de Carvalho sabe como este expos Rorty a execração pública.

Esse erro do ensaísta é muito comum neste país. Não houve aquele docente do ISRI e agora deputado do MDM na assembleia da república, o Silvério Ronguane, que escreveu o livro “Mandela, filósofo africano” em que ele exalta Mandela a estatura de Sócrates? Eu escrevi um artigo a propósito em que demonstro que Ronguane não entende nada de filosofia. Quer dizer, só porque um individuo citou Rousseau, pronto, já é filósofo. Citou Marx, melhor ainda, esse até já superou a lógica de Aristóteles. Neste sentido, Samora Machel foi filósofo e também o foram Kwame Nkrumah, Julius Nyerere, Kenneth Kaunda, Momad Kadaffi, Zédu e tutti quanti. É preciso ser muito pueril para não perceber que isso é empulhação. Quando Schellling diz que com a entrada da modernidade a filosofia caiu para um nível pueril as vezes sou tentado a pensar que Schelling estava errado porque a filosofia caiu para um nível pueril quando a UP e a UEM se puseram a ensinar aquilo que eles chamam de filosofia que, na verdade, não passa de história da filosofia na melhor das hipóteses porque só se aprende a filosofia vendo um filósofo a filosofar in loco como Platão viu Sócrates filosofar e como Aristóteles viu Platão filosofar ou como Heidegger viu Edmund Husserl filosofar e assim por diante. Porém, acontece que isso em Moçambique é impossível porque não temos filósofos. Temos professores de filosofia enquanto disciplina académica mas não temos filósofos, ou seja, indivíduos que estejam buscando a unidade do saber na unidade da sua consciência e vice-versa. Então, você vai falar de Severino Nguenha, de José Castiano, Silvério Ronguane, Brazão Mazula... O que é que é isso? Você só pode estar brincando.

Pegue no Severino Nguenha e compare-o com um Olavo de Carvalho, com um Mari Ferreira dos Santos, com um Xavier Zubiri, com um George Simmel, com um Eric Voeglin e vê se ele resiste a 5 minutos de discussão com esses homens. É impossível. É como você colocar uma criancinha dos seus 5 anos para discutir física quântica com um catedrático de física de 80 anos. Não há comparação possível. Ele pode discutir com os Rorty, Marilena Chauí, John Rawls, Mazula, e tutti quanti. Aliás, nem será um debate mas, sim, uma conversa entre o amém” e o “sim, senhor” porque debate pressupõe arbitrar dialecticamente hipótese contrárias e acontece que eles são incapazes de seguir 2 linhas de raciocínio, o que seria um caso interessante para o dr. Reuven Feuerestein, psicólogo israelita.

O pensador americano considerava que a centralização do filósofo na “teoria” afasta-o da realidade, dos “reais problemas dos homens”. A grande acção filosófia seria uma focalização da actividade filisófica (seja metafísica, antropologia, política, etc.) deixe de focalizar os problemas dos livros e enfatizar os problemas da sociedade. O orgulho filosófico não deve impedir a verificar os problemas sociais, senão de outra forma vai-se plantar um árvore no meio no mar. O problema é o de se pensar que o “povo” sabe o que irá fazer e que os costumes permanecerão os mesmos. Mas o problema reside no facto de ensinar o “povo” a saber fazer as suas escolhas.


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Se a filosofia afasta as pessoas da realidade, então, a filosofia é o ópio da humanidade e não a religião como dizia Nietzsche. Agora, se a filosofia não está fora da realidade, dizer que os problemas filosóficos não são os reais problemas dos homens é uma bolha de sabão, um flatus vocis. Mais uma vez, o ensaísta confunde filosofia com curso de filosofia que eu já disse repetidas vezes tratar-se de uma filosofia de segundo grau. Quando Sócrates, depois de ter sido condenado a beber a cicuta, ele está travando um diálogo com seus discípulos sobre a morte no diálogo “Fédon”. Por ventura, a morte não é um problema real do homem? Descartes, nas suas “meditações da filosofia primeira”, ele está procurando um fundamento sólido do conhecimento e da certeza e ele chega ao ego cogito. Por ventura, a busca de um fundamento sólido para o conhecimento não é um problema real do homem? Xavier Zubiri no seu “Homem e Deus” está procurando entender a dimensão teologal do homem. Por ventura, Deus não é um problema real do homem? Eu digo, o problema mais cabeludo do ser humano. Se o filósofo, ao invés de interrogar os fundamentos da ciência se preocupar em investigar como se constrói um poço, como se constrói uma ponte, como se faz um bolo, qual a cura para o HIV/SIDA, etc., continuará a ser ele um filósofo? Esse tipo é tão burro que não consegue compreender a fronteira entre a filosofia e a ciência que é a mesma fronteira entre o universal e o particular. Ele não sabe que a pergunta fundamental da filosofia é “quid est”? e não como fazer? que seria uma pergunta normativa ligada a técnica.

Ele diz que a filosofia estuda problemas dos livros. Meu Deus do céu! E agora o livro não é uma coisa real? Não obstante, como é que as coisas que estão nos livros foram lá parar? Porventura elas surgiram espontaneamente? Onde é que o ensaísta aprendeu que E=m2; v=s/t; h=c2+c2? Não foi nos livros? Ou ele aprendeu isso na pedra, na água, no fogo, no ar? Onde é que ele aprendeu o que ele sabe a respeito do corpo humano, a respeito dos tais problemas reais do homem? Não foi no livro? Se não foi, então, ele é um Robison Crusoé. Ele nasceu numa ilha deserta e sozinho, espontaneamente, resolvendo “os problemas reais do ser humano”, descobriu o alfabeto, descobriu a aritmética, a geometria, a medicina, a física, a química, etc. Ele não precisa de livros para nada. Que ele não precisa de livros, bem vê-se claramente que ele não lê caso contrário não seria assim tão burro ao menos que o não fosse por malícia.

Quando Sócrates, Russel, Rousseau ou Chomsky denunciaram as suas sociedades ou quando Ngoenha tenta denunciar , não cruzaram os braços a espera das consequências das escolhas do seu “povo”, mas tentaram ajudar o “povo”a compreender melhor como é que poderiam aprender a melhorar a sua sociedade. Eles pretendiam trazer mudanças significativas ao estado da sua sociedade, não meramente através do pensamento mas por meio de acção.


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Bem vê-se que esse indivíduo nunca leu uma linha sequer do que Platão escreveu acerca de Sócrates. Se ainda dissesse Platão, eu lhe daria razão porque Platão acreditava no mito do rei filósofo e foi tentar uma revolução no país vizinho. A coisa correu tão mal que ele foi preso e vendido como escravo e depois foi comprado por um dos seus discípulos. Sócrates não fez isso, porém, já se tornou normal neste país as pessoas citarem autores que nunca leram e como sabem que nunca ninguém vai ir conferir a coisa, eles não sentem nenhum peso na consciência já cauterizada.

Que Russel, Rousseau, Chomsky sejam intelectuais orgânicos como dizia Gramsci, disso não se pode duvidar. Mas colocá-los no mesmo nível de Sócrates é abusar da quota de burrice permitida ao ser humano normal. Sócrates nunca tentou mudar a sociedade e ele nem mesmo se considerava um mestre de filosofia. Frequentes vezes ele disse que não tinha nada para ensinar porque, disse ele, “eu só sei que nada sei” (sic). Mas os Ngoenha, Rorty, Russel, Chomsky, que nem é sequer filósofo profissional mas apenas um linguista decadente, são mais filósofos que Sócrates e é por isso que eles se arrogam ao delírio prometeico de querer transformar o mundo a imagem e semelhança de suas burrices metafísicas.

A sociedade moçambicana não precisa de Filosofia. Entendam Filosofia enquanto um corpo teórico de conhecimentos confinados á universidade. Ou seja, o pensamento confinado a meracontemplação e auto-satisfação, aquele aspecto complexo do saber que apenas pocuos tem acesso. Como também, aquele enigma de conhecimentos que somente os “escolhidos” têm acesso. É necessário responsabilizar o filósofo como o agente de mudança. Senão, no vão do pensamento o filósofo irá esquecer-se da questão pertinente feita por Kant: “O que posso fazer?” E não apenas “o que é posso saber?”.


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A sociedade moçambicana não precisa de filosofia? Porquê? Ah, já sei: todo moçambicano já nasceu dotado de sabedoria infusa como Cristo e não precisa de estudar nada. Quem não sabe que Sócrates, Platão, Aristóteles, Sto. Agostinho, São Tomás de Aquino, Duns Scotus, Descartes, Suarez, Leibniz, Spinoza, e tutti quanti eram idiotas e que só os moçambicanos é que são os génios da lâmpada? Quem não sabe disso?

O ensaísta volta a dizer que filosofia é conhecimento confinado as universidades. Quer dizer, na perspectiva do ensaísta, Sócrates, Platão e Aristóteles, coitados, não eram filósofos porque eles nunca puseram os pés numa universidade porque as universidades surgiram na idade média, mais de 1000 anos mais tarde, como uma invenção da igreja: primeiro a Universidade de Bologna, depois a Universidade de Paris e em terceiro lugar a Universidade de Oxford. Nessa perspectiva somente Ngoenha, Castiano, Rorty, Russel, et caterva é que são filósofos de verdade porque eles passaram pela universidade e pontificam ex cathedra, onde? Vejam só, nas universidades moçambicanas. Ora, isso, ninguém merece.

Quem são os maiores filósofos do Brasil? Eles são os seguintes: Mário Ferreira dos Santos, Miguel Real, Vilém Flusser, Vicente Ferreira da Silva (todos já falecidos) e Olavo de Carvalho (ainda vivo). Nenhum deles passou por uma faculdade de filosofia. O Mário, Miguel Reale e o Vicente eram juristas. Flusser e Olavo, Jornalistas. Mas onde estão Marilena Chauí, Clóvis de Barro, Mário Portela, Filipe Pondé e tutti quanti?

Filosofia não é pensamento confinado a mera contemplação. A filosofia também é prática. Não obstante, a contemplação não é prerrogativa da filosofia, de modo nenhum. Os místicos também praticam a contemplação e muito mais. Os cientistas também a praticam, digo, os cientistas dignos desse nome. É só ler a história e verá que Newton ficava trancado dias-a-fio em seu gabinete sem comer e sem beber apenas pensando. Einstein fazia aquilo que ele chamava de experimento imaginário. Nicola Tesla acendia uma vela e ficava a olhar para ela horas a fio até que alguma ideia lhe ocorresse. Niels Bohr estava tão envolvido com isso que ele chegou a sonhar com a forma do átomo. Ramanuja também estava profundamente envolvido com isso que tudo que ele publicou em termos de descobertas matemáticas foi obtido em sonhos ou visões nocturnas se quisermos.

Não há como você chegar as verdades últimas e supremas que são aquelas que se alcançam pela matese que é a instrução superior, não no sentido universitário mas de ordem quase revelada, sem a contemplato sapientiae, ou seja, sem a contemplação da sabedoria.

Agora, o articulista me vai citar Kant e nem sabe que Kant era um revolucionário como Platão. Sem você perceber isso você não vai compreender a obra de Kant. É claro que isso não aparece explícito nas suas obras maiores mas nas suas obras menores e cartas que ele trocava com os seus pares. É de Kant que vem o idealismo e o positivismo. Quer dizer, Hegel, Marx e August Comte são filhos legítimos de Kant. Kant é tão culpado do genocídio comunista do século XX quanto Marx & Engels, Lenine, Stalin, Mao Tse-Tung et caterva. Agora, quando o ensaísta fala que o filósofo tem que ser agente de mudança, ele está confundindo Aristóteles com Marx. Ele está confundido o “Organos” de Aristóteles, as “Confissões” de Sto Agostinho, a “Suma teológica” de Sto Tomás com o manifesto comunista de Marx & Engels lançado em Londres em 1848.

Essa mudança da posição centrada na filosofia para a posição centrada no filósofo permite abandonar-se o argumento segundo o qual a Filosofia é desncessária para a sociedade. Pois, se culpamos a Filosofia é o mesmo que se acusássemos um fantasma. Mas se culpamos o filósofo, seja ele Ronguane, Ngoenha, Castiano, Muianga ou Gingir apontamos o dedo para um sujeito pensamente capaz de responder pelos seus actos. E é responsabilidade deste mesmo sujeito responder as inquietações da sua sociedade. É importante que o filósofo deixe de pensar mas comece a agir na arena social (por mais que seja por meio de pensamentos).


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Ao longo de todo esse “lixo” de ensaio, Muchevo diz que a filosofia não é útil a sociedade moçambicana. Volta e meia fala em abandonar o argumento de que a filosofia é desnecessária. Antes acusava a filosofia de ser inútil e volta e meia diz que não temos que culpar a filosofia mas sim o filósofo. Ninguém merece ler uma coisa dessas. Pior ainda quando diz que Ngoenha, Castiano, Ronguane, Muianga e Gingir são filósofos. Ora, eu conheço alguma coisa do Ngoenha, Castiano e Ronguane e posso assegurar que eles não são e nunca serão filósofos porque não têm a devida “arrumação cromossómica específica”, como dizia o médico e político brasileiro (do PRONA), o Dr. Enéias Carneiro, para serem filósofos.

Ora, a minha opinião é a mesma que a do filósofo beninense Paulin Hontoundji, segundo a qual a escrita é meio mais importantíssimo para a identificação do filósofo. Se não for pela escrita que seja por meio de uma acção visível para sociedade. Que não esteja confinada á uma plateia privada específica mas que a participação seja feita de uma forma mais pública. Na qual as palestras possam incluir a sociedade civil, e as ideias do filósofo partilhadas com todos.


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Isso que o ensaísta diz que é o pensamento de Hountondji também não tem nada a ver com filosofia. Hountondji bem como Mbiti ao dizerem, por exemplo, que a tarefa do filósofo africano é a de coleccionar os contos, fábulas, provérbios, etc., confunde um trabalho verdadeiramente filosófico com o mero trabalho de um arquivista. Eu escrevi a respeito disso num artigo postado neste blog. Se ao menos se fizesse o que fizeram os escolásticos, mormente São Tomás de Aquino, digo, tentar conciliar a filosofia de Aristóteles com a teologia cristã ainda haveria nisso algum trabalho filosófico. Ora, nem o trabalho filosófico, nem o trabalho científico consistem em mero coleccionamento de factos. De modo nenhum. É preciso arbitrar a coisa dialecticamente em filosofia e proceder ao emprego da técnica analítica em ciência. Muitas pessoas pensam que a técnica analítica ou lógica é que é a verdadeira técnica filosófica como por exemplo a escola analítica de Wittegestein, Bertrand Russel, Herder, porém, isso não está certo. A verdadeira técnica filosófica é a dialéctica, portanto, não adianta de nada coleccionar contos, provérbios, escritos de Platão, de Aristóteles, etc., decorar os escritos de Descartes, Husserl, Kant, Nietzsche, etc., e pensar que está a fazer filosofia porque não está. Você só conseguirá ser um diletante como dizia Ortega y Gasset, alguém que está se divertindo apenas.

By the way, se tomarmos o que o ensaísta diz de Hountondji que a filosofia só se manifesta através da escrita e daquilo que ele chama de acção visível, isso só virá confirmar o que eu tenho dito acerca da filosofia em África, digo, que não há filósofos em África mas apenas sofistas. Quer dizer, como é que alguém que se diz filósofo ignora algo tão elementar da tradição filosófica, digo, que o pensamento mais importante de um filósofo é transmitido oralmente pelo filósofo ao círculo restrito de seus discípulos e não por meio de escritos disponibilizados para consumo público ou por meio da tal da acção visível. Tudo que sabemos de Sócrates são rascunhos de aula que Platão conseguiu fazer. Tudo que sabemos de Aristóteles também são rascunhos de aula. A obra essencial de Aristóteles, seus pensamentos mais profundos nós não sabemos porque não estão registados em parte algum, tendo sido transmitido oralmente apenas a um círculo, digamos, esotérico, de alunos. O mesmo se deu com Edmund Husserl. Husserl sabia taquigrafia e ele escrevia a mesma velocidade com que pensava, porém muita coisa que chegou a nós são apanhados de aula dos seus alunos e é bastante esquemático e Husserl nunca chegou a rever esses escritos para torná-los publicáveis porque não havia tempo. A obra mais importante de um filósofo não são seus escritos mas sim as suas aulas porque numa aula você passa muito mais do que mera informação, você passa presença humana. A prova disso é que temos hoje em dia biblioteca imensas e temos internet e computador com obras de todos os filósofos do passado, porém, ninguém se tornou filósofo por causa disso. Porquê? Porque, repito pela milésima vez, só se aprende filosofia vendo um filósofo filosofar in loco ou sendo um génio como Sócrates, Boécio e inaugurar uma tradição, mas aí você seria o primeiro filósofo.

Então, os que dizem que não há filosofia sem escrita não passam de um bando de cretinos. A filosofia é essencialmente oral. Aristóteles não escrevia textos em casa e depois, chegado no seu liceu ficava distribuindo textos de apoio pela turma e, pronto, a aula já estava dada. Isso seria trabalho de jornalista. A transmissão era feita oralmente enquanto Aristóteles andava de um lado para outro no jardim do seu licéu cercado de seus discípulos e é por isso que eles eram chamados de peripatéticos porque filosofavam enquanto caminhavam e não enquanto estavam sentados num banco da universidade.

Agora, a filosofia nunca foi uma actividade pública no sentido de que ela é para o povão. De modo nenhum. Como é que você vai levar o povão a entender o “organo” de Aristóteles, a “república” de Platão, a “suma contra os gentios” de São Tomás de Aquino, as “confissões” de Sto. Agostinho, as “meditações de filosofia primeira” de Descartes, a “fenomenologia” de Husserl e assim por diante? É quase impossível, aliás, só fazer um grupo selecto de discípulos perceber isso já é um problema metafísico da mais alta transcendência.

Por outro lado, é importante ressaltar a importância da utopia porque é isso que faz com que o filósofo possa contribuir de uma forma significativa para a sua sociedade. Se o filósofo não sonha o seu mundo fica inacessível, intocável e impossível porque ninguém irá saber o que é que ele faz. Mas se ele partilhar formas viáveis de melhorar a sua sociedade ou uma das esferas, poderemos compreender o valor da sua tarefa na sociedade actual.


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Entre ser um utopista e um conservador, eu, definitivamente, sou um conservador. Como diz Michael Okeashot, “ser conservador é preferir o experimentado ao não experimentado, o certo do duvidoso, o possível do impossível” (sic). Já disse, repetidas vezes, que utopia é uma cenoura de burro. Você diz que vai demolir tudo e fazer um mundo novo ex nihilo. Porém, no final das contas, você só vai trocar um diabo por outro mais feroz, construindo assim um inferno ao alcance de todos como o fizeram Fidel, Mao, Stalin, Kim, etc.

Utopia pressupõe concentração de poder nas mãos dos utopistas em nome de um futuro melhor que tão certo como 2+2=4 nunca chegará a se realizar. A utopia é incompatível com a filosofia. A autoridade do utopista vem do futuro melhor que ele idealiza. Ele fala e age em nome desse futuro. O filósofo, por seu turno, a sua autoridade deriva da verdade supra-temporal, supra-histórico em nome da qual ele fala como Sócrates e Cristo diferente da autoridade de César.

O ensaísta não percebe que desde o começo desse “lixo” que ele chama de ensaio ele vai repetindo de novo e de novo o mesmo erro. Esse ensaio pode ser resumido na inversão da 12ª tese de Marx contra Ludwig Feuerbach, ou seja: “a tarefa dos filósofos não é interpretar a realidade mas, sim, transformá-la”. É preciso ser muito cínico para acreditar e escrever uma coisa dessas. Cínico vem de criador de cães e é o que esse ensaísta está fazendo, ele está apascentando cães vadios e imagina que está pensando. Porca miséria!

A ousadia filósofica reside na possibilidade do filósofo expressar a sua liberdade, por mais que a sociedade não permita, ele terá de inventar novas maneiras de expressar o seu pensamento contra a violência, a hipocrisia e a desumanidade. É importante perceber-se que o filósofo sem ousadia é como um saco vazio. E é necessário que se perceba que a tarefa de restaurar a imagem negativizada da Filosofia está ao seu encargo.


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Não é imperioso que o filósofo expresse publicamente seu pensamento. De modo nenhum. A filosofia de um filósofo não existe a medida em que ela é escrita num livro ou a medida em que o filósofo faz uma palestra, colóquio, etc., mas sim a partir do momento em que ela existe. Se nunca ninguém chegar a saber que o fulano, beltrano ou cicrano é filósofo isso não faz a mais mínima diferença. Você pode ser filosofo e ser a única pessoa do mundo a saber disso assim como você todo mundo pode imaginar que você é um filósofo, quando, na verdade, você não passa de um sofista enrustido.

A coragem aqui não conta, digo, a coragem para expor sua filosofia porque a filosofia é antes de tudo uma actividade voltada para dentro do filósofo e não para fora. De modo que somente quem tem uma “vida de espírito” como dizia a Dra. Arendt, uma vida interior, um vida do pensar, pode ser filósofo e não quem tirou um diploma de filosofia, necessariamente. Há muitos filósofos que fugiram de seus países temendo perseguições políticas. Quando Hitler tomou o poder na Alemanha, muitos filósofos e cientistas fugiram da Alemanha como Eric Voeglin (filósofo), Albert Einstein (Físico) e Viktor Frankl (psicólogo).

Coragem, ousadia, não é você colocar sua cabeça no cano do canhão. De modo nenhum. Coragem é uma emoção como qualquer outra e ela nem sempre está presente em todas as situações. Apesar de ser uma emoção como qualquer outra, a diferença está em que a coragem, como disse o filósofo Olavo de Carvalho, escora-se no amor ao próximo. Sem amor ao próximo, o qual é a base de toda convivência social como diz Sto. Agostinho, não há manifestação possível de coragem. Veja, na no primeiro século, os cristãos eram queimados vivos, eram atirados aos leões, eram decapitados, crucificados. Ora, onde eles encontravam coragem para suportar todo aquele sofrimento atroz? No amor a Cristo e aos seus irmãos na fé.

Em resumo, a sociedade necessita de filósofos ou interessados em Filosofia que abandonem o espírito de auto-contemplação e o espectatorismo distanciado para virarem-se para o campo de maior intervenção na sociedade. A violência do mundo requer uma outra visão, um outro agir, uma contribuição que só filósofo pode fazer e não a Filosofia.


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Isso é uma idiotice. Filosofia não é autocontemplação, contemplação de si mesmo mas, sim, contemplação da sabedoria ao passo que a intervenção na sociedade é coisa de intelectuais orgânicos e não de filósofos, os quais (filósofos) são intelectuais tout court, portanto, sem nenhuma ambição de poder. Quando se lê o debate entre Olavo de Carvalho e Alexander Duguin subordinado ao tema “EUA e a Nova Ordem Mundial” vê-se claramente qual dos dois é intelectual e qual é intelectual orgânico como dizia Gramsci. Duguin tem ambição de poder. Ele está empenhado em reconstruir o império russo. Ele é o próprio governo russo. Ele é o principal assessor de Putin para a política externa. Enquanto isso, Olavo de Carvalho é um estudioso por conta própria, não representando interesses de nenhuma ONG, partido, governo mas falando apenas em seu nome individual.

A confusão exibida histrionicamente pelo ensaísta explica claramente porquê é que, neste país, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Husserl não têm nenhum prestígio e, ao invés disso, se coloca no seu lugar Michel Foucault, Marx, Noah Chomsky, Hegel, Kant, Rousseau, Maquiavel e tutti quanti. Isso só confirma o que venho dizendo, em muitos artigos passados, digo, o moçambicano, a coisa que ele mais odeia é o conhecimento. É por isso que ele se contenta com pseudoconhecimento e imagina que, só porque leu o satanista do Marx (ver Richard Wumbrand, Marx and Satan) e o cocainómano do Foucault, já superou a lógica de Aristóteles.

Eles querem transformar o mundo e nem percebem que o mundo estaria muito melhor se não houvesse muita gente querendo transformá-lo. Eles querem transformar a realidade e nem se quer sabem o que é a realidade. Você sai a rua e encontra um miúdo dos seus 13 anos e ele já tem planos para combater a pobreza absoluta do país. Ele já julga que pode opinar acerca da política nacional e se você que ele lhe diga o que é pobreza, quais são as teorias que existem a cerca da pobreza, ele simplesmente não sabe. Ele não sabe sequer encontrar o equilíbrio dada as funções de procura e oferta e já sabe como combater a pobreza. Isso faz-me rir. O tipo não sabe o que é política, nunca leu, aliás, nunca ouviu sequer falar de Platão, Aristóteles, Maquiavel, Eric Voeglin, Hannah Arendt, Norberto Bobbio, Lord Acton, Edmund Burke, etc., e já tem opinião sobre democracia, sobre como a política nacional deve funcionar. Só em Moçambique mesmo para acontecer uma coisa dessas.

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