quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

ABSTRAÇÃO como o fundamento da Ciência, da Matemática e da Metafísica

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Nem a ciência, nem a matemática, nem a metafisica estudam objectos concretos. Elas estudam entes abstractos, ou seja, entes abstraídos da mera singularidade e tomados na sua generalidade (CIÊNCIA); ou abstraídos da sua singularidade e da matéria sensível e considerados apenas em termos da sua extensão contínua ou discreta (MATEMÁTICA); ou ainda entes abstraídos da sua singularidade, da matéria sensível, da extensão contínua e discreta e tomados na sua universalidade (METAFÍSICA).

Quando as pessoas ouvem o termo “abstracção”, elas logo imaginam um objecto ficcional, irreal. Mas isso não é abstracção. Abstracção significa você recortar um pedacinho do todo. Quando os economistas estudam o homem enquanto ente inclinado a ser administrado eles estão a fazer uma abstracção. Quando os políticos estudam o homem enquanto ente inclinado a ser governado, eles também estão a fazer uma abstracção. Quando os biólogos estudam os corpos móveis com vida eles estão a fazer uma abstracção. De modo que a abstracção não se opõe a aquilo que é ficcional mas àquilo que é concreto, de concrescior, aquilo que cresce junto.

Gramaticalmente, da gramática como a primeira via do espírito ou do pensamento conforme aparece no trivium, quando se estudam os substantivos, que são apenas um nome, dizemos que eles podem ser PRÓPRIOS e COMUNS. Dizemos que os nomes dos entes como João, Gazela, Leão, Moçambique, Sumsung, etc., são substantivos PRÓPRIOS. E dizemos que os nomes casa, alegria, árvore, animal, etc., são substantivos COMUNS, os quais podem ser CONCRETOS como casa, árvore, animal e abstractos como alegria.

O que é Moçambique? O que é animal? O que é alegria? Gramaticalmente, consideram-se substantivos próprios aqueles que se referem a um individuo em particular dentro da sua espécie e considera-se substantivo comum aquele se refere a várias espécies do mesmo género. Animal é um género e dentro desse género animal há várias espécies de animais como leões, gazelas, leopardos, hienas, etc. Eles são chamados de comuns. Porém, se dentro dessa espécie, começamos a individualizar os seus individuos, por exemplo, chamando a um cão “keynes” como o cão de N.Gregory Mankiw, Keynes já não será um substantivo comum, mas, sim, um substantivo próprio ele não é uma espécie de animal mas um individuo distinto dentro da espécie cão.

Pode notar-se também que, gramaticalmente, chamamos de substantivo concreto àquele ente que faz parte daquilo que Descartes chamava de res extensa e chama-se abstracto o que faz parte da res cogitans. Deste modo, gramaticalmente, o ente que não pode ser medido por carência de extensão contínua ou discreta é abstracto como a alegria, a felicidade e o ente que pode ser medido porque tem extensão é considerado de concreto. Porém, isso não está correcto e espalhou pelo mundo a ideia errada de que concreto é sinónimo de material, físico, e abstracto é sinónimo de imaginário, ficcional, irreal.

A primeira pessoa a estudar a abstracção foi Aristóteles. Ele a estudou e atribuiu-lhe diversos graus que depois foram estudados pelos escolásticos de modo que temos 3 graus abstractivos. O primeiro grau nos dá a abstracção das ciências. O segundo grau nos dá a abstracção da Matemática e o terceiro grau nos dá a abstracção da metafísica.

O primeiro grau abstractivo que é o grau da abstracção das ciências consiste em dado um ente abstrairmo-lo da sua singularidade e tomá-lo na sua generalidade. Como as abstracções de casa, árvores, animal, homem, etc., que, tomadas gramaticalmente, correspondem àquilo que nós chamamos de substantivos comum-concretos. De modo que quando um físico diz que o calor dilata os corpos e ele não especifica as singularidades de cada um desses corpos, as suas acidentalidades, ele está fazendo uma abstracção do primeiro grau. Gramaticalmente, um corpo é um substantivo concreto mas logicamente ele é uma abstracção científica, uma abstracção do primeiro grau.

A abstracção do segundo grau que é a abstracção da Matemática consiste em abstrairmos do ente não apenas a sua singularidade mas também a matéria sensível que a compõe e ficarmos apenas com a sua extensão dada nos seus aspectos contínuos e discretos. Os aspectos contínuos da abstracção do segundo grau nos darão as figuras geométricas e os aspectos discretos nos darão os números, a aritmética. De modo que quando você diz que 2+2=4, você está fazendo uma abstracção do segundo grau e também quando você diz que num triângulo rectângulo a soma dos ângulos internos não rectos deve ser necessariamente igual ao grau do ângulo recto, ou seja, 900.

        A abstracção do terceiro grau é a abstracção da metafísica em que abstraímos dos entes toda a sua singularidade, toda as suas extensões e tomamos os entes na sua universalidade como por exemplo, nas suas categorias lógicas como as categorias de causa e efeito, as categorias de quantidade e qualidade, as categorias de substâncias e assim por diante.

Muitos físicos, matemáticos e todos os positivistas em geral que deixaram-se enclausurar no feudo do positivismo comtiano julgam que não precisam da Metafísica para nada que isso é apenas, como eles dizem, para os primitivos, os trogloditas, e não sabem que ao usar os conceitos de quantidade estão fazendo uma abstracção metafísica, uma abstracção do terceiro grau porque a quantidade, a qualidade, a causa, o efeito tomados na sua universalidade são entes de razão e não entes reais.

Quando eu digo corpo de barro, isso não é abstracção do primeiro grau mas quando eu digo apenas corpo, então, isso já é abstracção do primeiro grau, a abstracção das ciências. Quando eu digo 2+2=4, isso é abstracção do segundo grau do intelecto, é abstracção da matemática. Mas quando eu digo 2bananas+2bananas=4bananas, isso já não é abstracção matemática. Quando eu digo apenas “quantidade”, ou seja, 5kgs, isso é abstracção do terceiro grau, a abstracção da metafísica porque nunca nenhum de nós viu 5kgs mas quando eu digo 5kgs de bananas, isso já não é abstracção metafísica porque a banana é um ente real.

De modo que os que dizem que a ciência estuda objectos concretos não sabem do que estão falando. Nem a ciência, nem a Matemática, nem a Metafísica estudam coisas concretas. Elas estudam entes abstractos, ou abstraídos da mera singularidade e tomados na sua generalidade (CIÊNCIA); ou abstraídos da sua singularidade e da matéria sensível e considerados apenas em termos da sua extensão contínua ou discreta (MATEMÁTICA); ou ainda entes abstraídos da sua singularidade, da matéria sensível, da extensão contínua e discreta e tomado na sua universalidade (METAFÍSICA). De modo que a abstracção como Aristóteles a estudou e depois foi desenvolvida pelos escolásticos nos seus 3 graus abstractivos é o fundamento da Ciência, da Matemática e da Metafísica.

ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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