Nem a ciência, nem
a matemática, nem a metafisica estudam objectos concretos. Elas estudam entes
abstractos, ou seja, entes abstraídos da mera singularidade e tomados na sua
generalidade (CIÊNCIA); ou abstraídos da sua singularidade e da matéria
sensível e considerados apenas em termos da sua extensão contínua ou discreta (MATEMÁTICA);
ou ainda entes abstraídos da sua singularidade, da matéria sensível, da
extensão contínua e discreta e tomados na sua universalidade (METAFÍSICA).
Quando as pessoas ouvem o termo
“abstracção”, elas logo imaginam um objecto ficcional, irreal. Mas isso não é
abstracção. Abstracção significa você recortar um pedacinho do todo. Quando os
economistas estudam o homem enquanto ente inclinado a ser administrado eles
estão a fazer uma abstracção. Quando os políticos estudam o homem enquanto ente
inclinado a ser governado, eles também estão a fazer uma abstracção. Quando os biólogos
estudam os corpos móveis com vida eles estão a fazer uma abstracção. De modo
que a abstracção não se opõe a aquilo que é ficcional mas àquilo que é
concreto, de concrescior, aquilo que
cresce junto.
Gramaticalmente, da gramática como a
primeira via do espírito ou do pensamento conforme aparece no trivium, quando se estudam os
substantivos, que são apenas um nome, dizemos que eles podem ser PRÓPRIOS e
COMUNS. Dizemos que os nomes dos entes como João, Gazela, Leão, Moçambique, Sumsung, etc., são substantivos
PRÓPRIOS. E dizemos que os nomes casa, alegria, árvore, animal, etc., são
substantivos COMUNS, os quais podem ser CONCRETOS como casa, árvore, animal e
abstractos como alegria.
O que é Moçambique? O que é animal? O que
é alegria? Gramaticalmente, consideram-se substantivos próprios aqueles que se
referem a um individuo em particular dentro da sua espécie e considera-se
substantivo comum aquele se refere a várias espécies do mesmo género. Animal é
um género e dentro desse género animal há várias espécies de animais como
leões, gazelas, leopardos, hienas, etc. Eles são chamados de comuns. Porém, se
dentro dessa espécie, começamos a individualizar os seus individuos, por
exemplo, chamando a um cão “keynes” como o cão de N.Gregory Mankiw, Keynes já
não será um substantivo comum, mas, sim, um substantivo próprio ele não é uma
espécie de animal mas um individuo distinto dentro da espécie cão.
Pode notar-se também que, gramaticalmente,
chamamos de substantivo concreto àquele ente que faz parte daquilo que
Descartes chamava de res extensa e
chama-se abstracto o que faz parte da res
cogitans. Deste modo, gramaticalmente, o ente que não pode ser medido por
carência de extensão contínua ou discreta é abstracto como a alegria, a
felicidade e o ente que pode ser medido porque tem extensão é considerado de
concreto. Porém, isso não está correcto e espalhou pelo mundo a ideia errada de
que concreto é sinónimo de material, físico, e abstracto é sinónimo de imaginário,
ficcional, irreal.
A primeira pessoa a estudar a abstracção
foi Aristóteles. Ele a estudou e atribuiu-lhe diversos graus que depois foram
estudados pelos escolásticos de modo que temos 3 graus abstractivos. O primeiro
grau nos dá a abstracção das ciências. O segundo grau nos dá a abstracção da Matemática
e o terceiro grau nos dá a abstracção da metafísica.
O primeiro grau abstractivo que é o grau
da abstracção das ciências consiste em dado um ente abstrairmo-lo da sua
singularidade e tomá-lo na sua generalidade. Como as abstracções de casa, árvores,
animal, homem, etc., que, tomadas gramaticalmente, correspondem àquilo que nós
chamamos de substantivos comum-concretos. De modo que quando um físico diz que
o calor dilata os corpos e ele não especifica as singularidades de cada um
desses corpos, as suas acidentalidades, ele está fazendo uma abstracção do
primeiro grau. Gramaticalmente, um corpo é um substantivo concreto mas
logicamente ele é uma abstracção científica, uma abstracção do primeiro grau.
A abstracção do segundo grau que é a
abstracção da Matemática consiste em abstrairmos do ente não apenas a sua
singularidade mas também a matéria sensível que a compõe e ficarmos apenas com
a sua extensão dada nos seus aspectos contínuos e discretos. Os aspectos
contínuos da abstracção do segundo grau nos darão as figuras geométricas e os
aspectos discretos nos darão os números, a aritmética. De modo que quando você
diz que 2+2=4, você está fazendo uma abstracção do segundo grau e também quando
você diz que num triângulo rectângulo a soma dos ângulos internos não rectos
deve ser necessariamente igual ao grau do ângulo recto, ou seja, 900.
A abstracção do terceiro grau é a
abstracção da metafísica em que abstraímos dos entes toda a sua singularidade,
toda as suas extensões e tomamos os entes na sua universalidade como por
exemplo, nas suas categorias lógicas como as categorias de causa e efeito, as
categorias de quantidade e qualidade, as categorias de substâncias e assim por
diante.
Muitos físicos, matemáticos e todos os
positivistas em geral que deixaram-se enclausurar no feudo do positivismo
comtiano julgam que não precisam da Metafísica para nada que isso é apenas,
como eles dizem, para os primitivos, os trogloditas, e não sabem que ao usar os
conceitos de quantidade estão fazendo uma abstracção metafísica, uma abstracção
do terceiro grau porque a quantidade, a qualidade, a causa, o efeito tomados na
sua universalidade são entes de razão e não entes reais.
Quando eu digo corpo de barro, isso não é abstracção
do primeiro grau mas quando eu digo apenas corpo, então, isso já é abstracção
do primeiro grau, a abstracção das ciências. Quando eu digo 2+2=4, isso é
abstracção do segundo grau do intelecto, é abstracção da matemática. Mas quando
eu digo 2bananas+2bananas=4bananas, isso já não é abstracção matemática. Quando
eu digo apenas “quantidade”, ou seja, 5kgs, isso é abstracção do terceiro grau,
a abstracção da metafísica porque nunca nenhum de nós viu 5kgs mas quando eu
digo 5kgs de bananas, isso já não é abstracção metafísica porque a banana é um
ente real.
De modo que os que dizem que a ciência
estuda objectos concretos não sabem do que estão falando. Nem a ciência, nem a Matemática,
nem a Metafísica estudam coisas concretas. Elas estudam entes abstractos, ou
abstraídos da mera singularidade e tomados na sua generalidade (CIÊNCIA); ou
abstraídos da sua singularidade e da matéria sensível e considerados apenas em
termos da sua extensão contínua ou discreta (MATEMÁTICA); ou ainda entes
abstraídos da sua singularidade, da matéria sensível, da extensão contínua e
discreta e tomado na sua universalidade (METAFÍSICA). De modo que a abstracção
como Aristóteles a estudou e depois foi desenvolvida pelos escolásticos nos
seus 3 graus abstractivos é o fundamento da Ciência, da Matemática e da Metafísica.
ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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