Copérnico colocou o sol no centro do
universo, resgatando em versão “científica” o velho mito pagão do deus sol.
Kant tirou o objecto do centro do conhecimento e colocou o sujeito no seu
lugar. Keynes tirou o individuo neoclássico do centro da economia e colocou o
estado no seu lugar.
Segundo
o filósofo Olavo de Carvalho, “revolução é uma proposta de mundo melhor que
para sua materialização requer a total e completa concentração de poder na mão
da elite revolucionária” (sic).
Ora,
se exige “a total e completa concentração de poder”, segue-se que
revolucionarismo é totalitarismo. Tenho insistido bastante que partindo dos 3
aspectos da divindade hindu: Brahma, Vishnu e Shiva, podemos distinguir 3 tipos
de poderes: o poder económico, o qual corresponde a Brahma, o criador; o poder
religioso, o qual corresponde a Vishnu, o mantenedor e; o poder militar, o qual
corresponde a Shiva, o destruidor. No revolucionarismo, a elite revolucionária
concentra todos esses poderes nas suas mãos.
O
comunismo é um movimento revolucionário. Os estudiosos sociais, políticos e
económicos, são unânimes em afirmar que comunismo é um casamento entre economia
e política. Isso não está errado, porém, não está completo. Se comunismo é
totalitarismo como amplamente demonstrado por Hannah Arendt no seu livro “a
origem do totalitarismo”, ele tem que concentrar todos os 3 poderes acima
mencionados, caso contrário, não seria totalitarismo, seria fascismo. Ou seja,
o comunismo não é apenas uma conjunção de poderes económicos e
político-militares. Ele também é todos esses poderes mais o poder religioso.
Muitos
pensam que o fascismo era totalitário, porém, isso é um erro. Esse erro
funda-se numa interpretação exotérica do manifesto fascista: “Tudo pelo estado,
nada fora do estado e nada contra o estado”. Porém, uma coisa é o manifesto,
outra, completamente diferente, é a prática. Não raras vezes tenho chamado
atenção para a questão da duplicidade de linguagem nos movimentos de massa.
Eles têm um discurso esotérico para os que fazem parte do círculo interno
daquele esquema de poder e eles também têm um discurso exotérico, ou seja, um
discurso para fora, para contentar a massa militante de “idiotas úteis” como
dizia Lenine.
Todos
sabemos que em 1929, Benito Mussolini assinou com a igreja católica o tratado
de Latrão. Isso significa que o fascismo tinha a concorrência da igreja. Isso
não aconteceu apenas na Itália sob Mussolini mas também em Portugal sob Salazar
e na Espanha sob Franco. Na Itália e na Espanha, o fascismo não somente tinha a
concorrência da igreja mas também da casa real, o que era inimaginável em
países sob o comunismo porque sendo o comunismo um movimento revolucionário ele
traz no seu bojo toda a tradição revolucionária desde Copérnico, passando pela
revolução francesa até desembocar na revolução soviética, chinesa, etc.
Os
comunistas, escorados no materialismo dialéctico/histórico de Marx, dizem que
eles lutaram e têm lutado contra a exploração do homem pelo homem sob o
capitalismo burguês. Porém, quando se examina a história dos movimentos
revolucionários ao longo da história moderna vê-se que esse alvo é apenas pré-textual
porque o alvo dos movimentos revolucionários foi sempre a igreja e a monarquia.
Isso foi assim, já, em 1789. Portanto, eles atacarão tudo que tiver que ver com
aquelas duas instituições. Uma breve leitura do “manifesto comunista” de Marx
& Engel publicado em Londres em 1848 não me deixa mentir e pode ser
acrescido a isso o livro do pastor protestante Richard Wumbrand: “Marx &
Satan”, que conta sua própria experiência como prisioneiro sob o comunismo e
seu espanto ao perceber que os comunistas estavam mais preocupados em torturar
padres, rabinos e pastores protestantes ao invés de combater os tais dos
capitalistas.
Revolução copernicana
Copérnico
é o homem da teoria heliocêntrica, a qual se opõe titanicamente a teoria
geocêntrica. Helio é sol em grego e Geo é terra. Cêntrico se refere ao
centro. Deste modo, a teoria heliocêntrica diz que o sol é o centro do universo
e a geocêntrica coloca a terra no centro do universo.
Erradamente,
tem sido atribuído a teoria geocêntrica à igreja, porém, isso é um erro clamoroso
porque você pode ler o Novo Testamento inteiro de ponta a ponta que você não
vai encontrar nenhuma alusão a favor do geocentrismo ou heliocentrismo. Quem
elabora teorias são cientistas e não padres, pastores, bispos, cardeais, papas,
etc. Se calhar, a fonte mais remota que temos do geocentrismo seja Aristóteles
e depois Ptolomeu e nenhum desses era uma autoridade eclesiástica ou dogmática
vinculada a igreja.
Sabemos
que a ciência experimental surge com Galileu Galilei, porém, o método
científico surge muito depois com Francis Bacon. Se antes de Bacon eles ainda
não tinham o método científico pronto como é que os cientistas sabiam que estão
a fazer ciência e não uma outra coisa diferente como, por exemplo, bruxaria,
que, por sinal, era muito frequente na idade média e também na renascença
europeia?
Existe
até o caso de Giordano Bruno que foi queimado na fogueira e todo mundo toma
isso como prova de que a igreja era contra a ciência. Porém, Bruno não era
cientista, ele era apenas um linguista cuja máxima realização foi polemizar com
a igreja em torno das ideias de Copérnico. Porém, ele não era um cientista e
foi queimado na fogueira por acusações de envolvimento com a bruxaria. Se as
acusações eram verdadeiras ou falsas isso é uma outra questão. Eu estou apenas
me atendo aos factos.
Na
verdade, esse caso do Giordano Bruno tem sido usado para olvidar a mentira que
foi narrada a respeito de Galileu de que ele foi perseguido pela igreja por
causa da ciência. Isso é totalmente falso porque quando você vai ao index librorum proibitum você não
encontra lá nenhuma obra de Galileu e nenhuma outra obra de ciência mas apenas
obras heresiarcas, as quais iam contra o dogma da igreja e contra o papa porque
o papa é que era a autoridade dogmática da igreja. Eles olvidam o facto de que
Galileu insultou o papa, o qual era seu padrinho e que como punição foi
condenado a repetir algumas “Ave-maria” e alguns “Pai Nosso”, em privado e sem
vigilância, podendo fazê-lo, igualmente, por interposta pessoa, como por
exemplo, por meio de uma das suas filhas que era freira.
Sem
um método científico pronto, a barreira entre ciência e bruxaria, de facto, não
estava devidamente delimitada. Um dos casos mais alarmantes disso que,
infelizmente, não tem sido ensinado nos cursos de física tem que ver o intocável
Isaac Newton. Depois que Newton morreu, seu espólio foi leiloado e uma das
pessoas que comprou alguns papéis de Newton foi o economista John Maynard
Keynes. Keynes descobriu que aqueles papéis de Newton não tinham nada que ver
com física mas, sim, com alquimia. Já deve-se imaginar o escândalo que isso
deu. Aquele homem que era venerado como um cientista puro era um alquimista, um
ocultista, e até já posso imaginar o que teria acontecido se Newton tivesse
sido morto pela inquisição: todo mundo cairia de pau na igreja católica,
dizendo que ela era contra a ciência como se ocultismo fosse ciência.
O
hélio, o sol, antes de Copérnico transformá-lo no centro universo, ele já era o
centro do universo nos meios esotéricos. Sabemos que as antigas religiões de mistérios,
algumas religiões pagãs tinham o sol como sua divindade. Sabemos que o Faraó
Tutencamon se auto-intitulou “o deus sol”. Há uma sentença de Copérnico que
diz: “até que, enfim, conseguimos colocar o sol de volta no centro do universo”
(sic). Isso mostra que o sol já estivera no centro do universo antes. Mas como
é possível, se o heliocentrismo surge com o próprio Copérnico? Aí está! O sol
já estava no centro do universo esotericamente como uma divindade e tudo que
Copérnico fez foi dar a isso um ar de ciência para torná-lo mais palatável.
Se
o sol é ou não o centro do universo, se a terra é ou não o centro do universo,
isso é apenas uma questão marginal porque tudo está dependente do referencial
como foi provado pela física moderna. Observado o universo desde a terra como o
fez Ptolomeu, a terra acaba mesmo sendo o centro do universo e o universo passa
a ter todos aqueles círculos concêntricos como ele o desenhou. É claro que essa
teoria teve alguns erros de cálculo, mas são erros muito menores do que os
desencadeados pelo heliocentrismo. As pessoas falam mal do geocentrismo e nem
sabem que a navegação marítima inteira é o geocentrismo aplicado.
Há
uma carta de Humboldt, datada do século XIX, que diz claramente o seguinte:
“todos nós [cientistas] sabemos que não há provas do heliocentrismo só que eu
não quero ser o primeiro a falar isso em público, porém, se aparecer alguém com
mais coragem do que eu, eu lhe darei todo apoio” (sic). Agora, os fanáticos do
heliocentrismo dizem: “ah, mas no tempo de Humboldt a técnica científica não
estava assim tão avançada como hoje”. Mas espera aí. Se for assim, então, a
classe científica inteira tem que ser processada criminalmente porque ela nos
fez acreditar que Galileu, Copérnico, Newton estavam montados na razão ao dizer
que o sol era o centro do universo enquanto a técnica cientifica não estava tão
avançada quanto hoje. Isso é charlatanismo. Agora, essa língua dupla é própria
dos movimentos revolucionários. Eles se contradizem com a constância com que
mudam de cueca.
Na
verdade, o que Copérnico estava fazendo não era ciência mas uma luta política
com vista a colocar em causa a autoridade dogmática da igreja e substituí-la
pela autoridade da ciência. Não se pode dizer que ele não conseguiu seu
intento, muito pelo contrário, quando se olha para os cientistas, hoje, vê-se
que eles têm a mesma autoridade do clero católico na idade média e até mais. Se
o cientista diz que comer ovos faz mal, pronto, no dia seguinte todos os
governos do mundo baixam uma lei que diz que comer ovo é um pecado mortal
punível com o fogo do inferno. Depois de algum tempo, surge um outro cientista
que diz: “não, todos estão errados, comer ovo aumenta a sua longevidade”, logo,
no dia seguinte, todos os governos baixam uma nova lei: “a partir de hoje, quem
não comer pelo menos um ovo por dia é contra a unidade nacional, é contra o
meio ambiente, é contra as mulheres, é homofóbico”, etc. É assim que a ciência
funciona: o que você diz, hoje, você tem que poder desdizer amanhã, senão, não
é ciência, é religião. Agora, como é que algo tão instável como a ciência pode
se constituir em autoridade dogmática? É uma impossibilidade lógica pura e
simples.
Revolução kantiana
A
revolução kantiana consistiu em tirar o objecto do centro do conhecimento e
colocar no seu lugar o sujeito. É por isso que essa revolução é conhecida como
a revolução copernicana de Kant.
O
que Kant está querendo dizer com isso é que não há conhecimento objectivo
somente conhecimento subjectivo. Ou seja, quando você diz que conhece um objecto,
para Kant, na verdade, não é o objecto que você conhece mas apenas a estrutura a priori da sua mente. Aliás, para Kant,
nem é possível você conhecer o objecto em si, o númeno, mas apenas à sua
aparência fenoménica.
Não
é preciso fazer muito esforço para perceber que Kant é o pai do
sócio-construtivismo, do desconstrucionismo, do marxismo, do comunismo.
Se
o conhecimento objectivo não existe, então, o conhecimento científico também
não existe porque o que chamamos de conhecimento científico é conhecimento
objectivo. Quando Einstein diz que E=m.c2,
isso não é conhecimento objectivo. Quer dizer, E é igual a m.c2,
graças a estrutura a priori da mente
de Einstein porque, se fosse Newton, se calhar, E não seria igual a m.c2
mas a uma outra coisa porque, sendo cada um de nós uma mónada como dizia
Leibniz, a estrutura da mente de cada um de nós vai diferir de individuo para
individuo, dependendo dos factores pessoais e impessoais que estão em cada um
em escala monádica.
Os
sócio-construtivistas vão ainda mais longe que seu mestre, ao dizer que o
conhecimento é uma construção social. Quer dizer, E é igual a m.c2
por causa da estrutura da sociedade de Zurique onde Einstein descobriu aquilo
que ele chamava de “o motor que acende o universo”. Se esse motor fosse
descoberto na sociedade moçambicana, E
igual a m.c2, seria
diferente. Dá para acreditar numa coisa dessas?
Imaginemos
um mundo sem objecto. Para começar nós não estaríamos em lugar nenhum e o que
não aconteceu em lugar nenhum não aconteceu. Naquela teoria de Olavo de
Carvalho chamada “conhecimento por presença” que é, na verdade, um
desdobramento da “presença total” de Louis Lavelle, o começo do conhecimento é
a presença mútua do sujeito e do objecto, o que significa que antes que você
possa conhecer o que quer que seja você tem de estar em algum lugar e o objecto
também deve estar presente.
Ora,
o universo, a sociedade, a natureza, etc., não são apenas lugares em que nós
estamos colocados como um dasein
heideggeriano mas eles são também objecto do nosso conhecimento. Só há sujeito
para um objecto e objecto para um sujeito. Se você elimina o objecto, o sujeito
deixa de ser sujeito, pelo menos, materialmente. Ou seja, diz o filósofo Mário
Ferreira dos Santos que “dada alguma coisa, o que lhe sucede é um possível” e
não um necessário. Deste modo, só há, materialmente, objecto, onde há um sujeito,
porém, onde há um sujeito e não há um objecto, o sujeito não é sujeito, senão,
apenas, formalmente, como mera possibilidade lógica que, pêlos vistos, se
depender de Imanuel Kant nunca chegará a se realizar em parte alguma.
O
que Kant diz é tão absurdo e somente uma análise psicológica para decifrá-lo.
Nietzsche dizia que a filosofia de um autor se resume a sua psicologia. Isso
não é totalmente verdade para todos os autores, porém, quando o individuo
começa a dizer coisas tão ininteligíveis, tão contraditórias e que beiram a psicose,
o que Nietzsche disse passa a ter todo mérito. Quer dizer, seguindo a teoria de
conhecimento kantina podemos chegar a conclusão de que as plantas não têm a cor
verde, a cor verde está na nossa mente. É certo que existem individuos
daltónicos, porém, você não está falando de um individuo normal porque a maior não
é assim.
Agora,
pense assim: um soldado está no campo de batalha e ele está vendo o inimigo a 2
Km de distância por meio do seu binóculo. E aí, o seu superior pergunta: “você
está vendo o inimigo?” E ele responde: “Sim, Sr., o inimigo não está a 2km de
distância, ele está no meu binóculo. Ele é apenas uma reprodução da estrutura a priori do meu binóculo”. Ora, isso é a
revolução kantiana e, diga-se, alto e bom som, que ela só tem um objectivo:
transformar todo mundo em um bando de esquizofrénicos. Ora, sendo assim, o
estudo das ciências é um desperdício de tempo, devíamos era estudar as
estruturas a priori da nossa mente
porque, no final das contas, Kant acaba reduzindo tudo ao psicologismo. Deste
modo, devíamos estudar a física psicológica no lugar da física, economia
psicológica ao invés de economia, química psicológica ao invés de química, etc.
Agora,
o filósofo de Konigsberg também era um revolucionário e seu objectivo também
era o de derrubar a autoridade da igreja e da monarquia. Veja, Kant teve um
amigo, um sueco, chamado Swedenborg. Esse individuo extraordinário teve 3
vidas. Até aos 25 anos ele dedicou-se as artes e fez um sucesso enorme como
ficcionista. Depois ele abandonou tudo e começou uma carreira de cientista até
aos 50 anos de idade. E um dos seus maiores feitos foi conseguir transportar
toda marinha sueca por terra. Hoje seria fácil, porém, naquela altura, era um
feito de génio. A partir dos 50 anos ele abandonou tudo e começou uma carreira
de místico e teve muitos livros publicados acerca das suas visões do céu e do
inferno. É claro que isso deixou Kant muito indignado e quando ele começa a
escrever a respeito, pela primeira vez, Kant muda de tom. Aquele homem calmo,
frio, cede lugar a um homem verdadeiramente indignado porque ele não acreditava
naquilo e, então, procurou refutar.
Agora,
como é que você vai refutar um facto? Você só pode refutar uma teoria. Como
dizia Sto. Tomás de Aquino: “contra factos não há argumentos” (sic). Então, aí
você tem que inventar qualquer outra coisa, um espantalho, que você vai refutar
e que não tem nada a ver com o que você queria refutar no início e começa a
dizer que conhecimento objectivo não existe, que tudo é estrutura a priori da nossa mente.
Revolução keynesiana
John
Maynard Keynes estudou na Universidade de Cambridge, tendo sido aluno de Alfred
Marshall, um neo-ricardiano. No ano de 1936, ele publicou a sua obra magna “a teoria
geral do emprego, do juro e do dinheiro”. Em muitos artigos postados neste blog eu me debrucei acerca dessa obra de
Keynes.
Quando
Keynes publicou a teoria geral, os EUA estavam sob uma forte crise que uns
chamam de “crise de superprodução” e que Keynes chamou de “crise de escassez da
demanda”, a qual começou com o crash
da bolsa de valores de 1929, que ficou conhecida como a quinta-feira negra.
Para
reverter os efeitos da crise, Franklin Delano Roosevelt, acabado de sair
vitorioso das eleições, lançou um programa chamado “New Deal” em 1932. Esta
data é interessante porque os keynesianos dizem que o New Deal foi inspirado pela
“teoria geral” de Keynes. Isso é uma empulhação porque a teoria geral só foi
publicada 4 anos mais tarde. Agora, não sei que causa é essa que é precedida
pelo efeito. O mais correcto seria dizer que a teoria geral inspirou-se no New Deal e não o contrário, caso
contrário, estaremos perante uma metonímia, uma figura de linguagem apenas que
nos irá remeter para uma “segunda realidade” como dizia Robert Musil, que é como
que um mundo feito apenas de palavras como no sistema linguístico de Ferdinand
de Saussure.
Vimos
num outro artigo que eu publiquei recentemente neste blog que a escola neoclássica de economia surge com William Stanley
Jevon, Leon Walras, Carl Menger e Eugen Von Bohm-Bawerk. Vimos que esses
economistas, diferentemente da escola clássica ricardina que lidava com os
agentes económicos como classes e que atribua o valor das mercadorias ao
trabalho humano incorporado, o que deu aso a que Marx inventasse o seu fetiche
da mais-valia e da luta de classes, adicionando a isso, a influência que ele
recebeu de Hegel e Darwin, advogavam que os agentes económicos eram individuos
e não classes e que o valor da mercadoria não estava no trabalho humano
incorporado mas, sim, na utilidade marginal.
O
que Keynes fez foi negar essas grandes descobertas da escola marginalista e
cair novamente nos erros da escola ricardiana e malthusiana. Em síntese, o que
Keynes defende na sua teoria geral é aquilo que o economista Ludwig Von Mises
chamou de “intervencionismo”. Quer dizer, o mercado não pode funcionar
livremente, ele deve ser controlado pelo estado. Agora, o que é o mercado? Você
está falando de milhões e até bilhões de decisões livres dos individuos
considerados atomisticamente e não como classes. Keynes é contra isso. É por
isso que eu disse que Keynes diz que os clássicos estavam errados, porém, toda
sua teoria geral se funda num erro que os neoclássicos já haviam apontado e
solucionado com grande sabedoria.
Keynes
é contra o individuo e a favor do estado. O que é isso? Fascismo. Ou seja, a
economia keynesiana é uma economia fascista: “tudo a favor do estado, nada
contra o estado, nada fora do estado”. Esta é a fórmula do fascismo. Keynes
propõe que para reverter os efeitos dos ciclos económicos de desemprego, por
exemplo, que o governo incorra em défice. Um défice significa que a identidade
entre os impostos do estado e os seus gastos passou a ser ambígua. Se já não há
essa unidade, então, a própria realidade do sistema fiscal e orçamental do
estado acabou e o que ficou é uma bela ficção económica.
Se
há défice, isso significa que os impostos já não cobrem as despesas do estado.
Pois bem! Onde é que o estado vai arranjar o dinheiro para cobrir seu excesso
de despesa? O estado tem as seguintes alternativas:
1- Aumentar
o imposto (Senhoriagem)
2- Endividar-se
3- Vender
seus patrimónios
4- Ajuda
externa
Como é que o estado faz para aumentar o
imposto? Ele inflaciona a moeda através da senhoriagem porque como bem
demonstrou Mises, a inflação é um imposto negativo. Você encontra isso em
qualquer manual de macroeconomia, porém, nenhum deles menciona o nome de Ludwig
Von Mises. Quer dizer, a conspiração de silêncio que os keynesianos fizeram em
volta desse génio perdura até hoje. Isso é incrível!
Todos os outros meios de financiamento das
despesas excessivas do estado têm o mesmo efeito que o aumento do imposto: todos
eles desembocam na inflação.
Por exemplo, o estado vai se endividar.
Imaginemos que seja uma dívida interna, o que vai acontecer? O crédito será
inviável. Vai faltar dinheiro para o sector privado. Para não ficar no prejuízo
eles vão transferir, mais ou menos, esse custo para o consumidor através do
aumento do preço dependendo da elasticidade preço da procura. O que é isso?
Inflação.
Se o estado for a contrair divida externa
é a mesma coisa. Quando o dinheiro da dívida entrar, o câmbio vai apreciar e as
importações vão aumentar. Só que para importar é preciso divisas. Uma maior
demanda por divisas vai apreciar a taxa de câmbio e inflacionar a moeda doméstica.
Esse mesmo efeito é obtido com o influxo da ajuda externa.
Agora, se o estado diz que vai vender seus
activos, isso parece uma boa opção. Isso é privatização. Porém, poucas vezes o
estado faz isso. O filósofo Olavo de Carvalho está montado na razão quando, no trailer do filme “o jardim das
aflições”, diz que “o poder do estado, na modernidade, sempre cresce, por este
meio ou por aquele meio” (sic).
Em suma, podemos concluir que a teoria
geral de Keynes é um convite a inflação. Qualquer governo que aplique a teoria
geral keynesiana, cedo ou tarde, se verá confrontado com o drama da inflação.
Isso não é nenhuma novidade. Já em 1973-75, a crise da estagflação pôs fim a
ilusão keynesiana.
Agora, eles dizem que os agentes
económicos individuais também causam inflação quando compram matéria-prima para
as fábricas (inflação pelos custos) e quando demandam bens e serviços finais
(inflação de demanda). Porém, isso é uma empulhação. Isso é aquela velha
técnica da rotulação inversa de Lenine: “acuse-os do que fazemos e insulte-os
do que somos” (sic). A inflação, bem disse o nobel de economia, Milton
Friedman, “é sempre e em toda parte um fenómeno monetário” (sic). E somente o
estado pode causar um fenómeno monetário e fá-lo sempre que coloca a teoria
geral de Keynes em acção.
Keynes também era revolucionário. Ele
também lutou contra a igreja e contra a monarquia. Na idade média, o que
imperava na economia monetária era o padrão ouro e não havia inflação. Keynes
veio e disse: padrão ouro é “uma relíquia bárbara”. O homem estava possuído por
aquilo que ele mesmo chamou de “animal’s spirit”.
Ps:
Porquê é que Copérnico, Kant e Keynes fizeram essas revoluções em suas áreas de
actuação? A pessoa que deu a melhor resposta para isso foi José Ortega y
Gasset. Ele disse: “nunca se escreveu, no mundo, um livro que explicasse
perfeitamente porquê é que alguém fez alguma coisa”(sic).
ESCRITO POR|XADREQUE
SOUSA|shathreksousa@gmail.com'
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