segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Revoluções copernicana, kantiana e keynesiana

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Copérnico colocou o sol no centro do universo, resgatando em versão “científica” o velho mito pagão do deus sol. Kant tirou o objecto do centro do conhecimento e colocou o sujeito no seu lugar. Keynes tirou o individuo neoclássico do centro da economia e colocou o estado no seu lugar.

Segundo o filósofo Olavo de Carvalho, “revolução é uma proposta de mundo melhor que para sua materialização requer a total e completa concentração de poder na mão da elite revolucionária” (sic).

Ora, se exige “a total e completa concentração de poder”, segue-se que revolucionarismo é totalitarismo. Tenho insistido bastante que partindo dos 3 aspectos da divindade hindu: Brahma, Vishnu e Shiva, podemos distinguir 3 tipos de poderes: o poder económico, o qual corresponde a Brahma, o criador; o poder religioso, o qual corresponde a Vishnu, o mantenedor e; o poder militar, o qual corresponde a Shiva, o destruidor. No revolucionarismo, a elite revolucionária concentra todos esses poderes nas suas mãos.

O comunismo é um movimento revolucionário. Os estudiosos sociais, políticos e económicos, são unânimes em afirmar que comunismo é um casamento entre economia e política. Isso não está errado, porém, não está completo. Se comunismo é totalitarismo como amplamente demonstrado por Hannah Arendt no seu livro “a origem do totalitarismo”, ele tem que concentrar todos os 3 poderes acima mencionados, caso contrário, não seria totalitarismo, seria fascismo. Ou seja, o comunismo não é apenas uma conjunção de poderes económicos e político-militares. Ele também é todos esses poderes mais o poder religioso.

Muitos pensam que o fascismo era totalitário, porém, isso é um erro. Esse erro funda-se numa interpretação exotérica do manifesto fascista: “Tudo pelo estado, nada fora do estado e nada contra o estado”. Porém, uma coisa é o manifesto, outra, completamente diferente, é a prática. Não raras vezes tenho chamado atenção para a questão da duplicidade de linguagem nos movimentos de massa. Eles têm um discurso esotérico para os que fazem parte do círculo interno daquele esquema de poder e eles também têm um discurso exotérico, ou seja, um discurso para fora, para contentar a massa militante de “idiotas úteis” como dizia Lenine.

Todos sabemos que em 1929, Benito Mussolini assinou com a igreja católica o tratado de Latrão. Isso significa que o fascismo tinha a concorrência da igreja. Isso não aconteceu apenas na Itália sob Mussolini mas também em Portugal sob Salazar e na Espanha sob Franco. Na Itália e na Espanha, o fascismo não somente tinha a concorrência da igreja mas também da casa real, o que era inimaginável em países sob o comunismo porque sendo o comunismo um movimento revolucionário ele traz no seu bojo toda a tradição revolucionária desde Copérnico, passando pela revolução francesa até desembocar na revolução soviética, chinesa, etc.

Os comunistas, escorados no materialismo dialéctico/histórico de Marx, dizem que eles lutaram e têm lutado contra a exploração do homem pelo homem sob o capitalismo burguês. Porém, quando se examina a história dos movimentos revolucionários ao longo da história moderna vê-se que esse alvo é apenas pré-textual porque o alvo dos movimentos revolucionários foi sempre a igreja e a monarquia. Isso foi assim, já, em 1789. Portanto, eles atacarão tudo que tiver que ver com aquelas duas instituições. Uma breve leitura do “manifesto comunista” de Marx & Engel publicado em Londres em 1848 não me deixa mentir e pode ser acrescido a isso o livro do pastor protestante Richard Wumbrand: “Marx & Satan”, que conta sua própria experiência como prisioneiro sob o comunismo e seu espanto ao perceber que os comunistas estavam mais preocupados em torturar padres, rabinos e pastores protestantes ao invés de combater os tais dos capitalistas.

Revolução copernicana

Copérnico é o homem da teoria heliocêntrica, a qual se opõe titanicamente a teoria geocêntrica. Helio é sol em grego e Geo é terra. Cêntrico se refere ao centro. Deste modo, a teoria heliocêntrica diz que o sol é o centro do universo e a geocêntrica coloca a terra no centro do universo.

Erradamente, tem sido atribuído a teoria geocêntrica à igreja, porém, isso é um erro clamoroso porque você pode ler o Novo Testamento inteiro de ponta a ponta que você não vai encontrar nenhuma alusão a favor do geocentrismo ou heliocentrismo. Quem elabora teorias são cientistas e não padres, pastores, bispos, cardeais, papas, etc. Se calhar, a fonte mais remota que temos do geocentrismo seja Aristóteles e depois Ptolomeu e nenhum desses era uma autoridade eclesiástica ou dogmática vinculada a igreja.

Sabemos que a ciência experimental surge com Galileu Galilei, porém, o método científico surge muito depois com Francis Bacon. Se antes de Bacon eles ainda não tinham o método científico pronto como é que os cientistas sabiam que estão a fazer ciência e não uma outra coisa diferente como, por exemplo, bruxaria, que, por sinal, era muito frequente na idade média e também na renascença europeia?

Existe até o caso de Giordano Bruno que foi queimado na fogueira e todo mundo toma isso como prova de que a igreja era contra a ciência. Porém, Bruno não era cientista, ele era apenas um linguista cuja máxima realização foi polemizar com a igreja em torno das ideias de Copérnico. Porém, ele não era um cientista e foi queimado na fogueira por acusações de envolvimento com a bruxaria. Se as acusações eram verdadeiras ou falsas isso é uma outra questão. Eu estou apenas me atendo aos factos.

Na verdade, esse caso do Giordano Bruno tem sido usado para olvidar a mentira que foi narrada a respeito de Galileu de que ele foi perseguido pela igreja por causa da ciência. Isso é totalmente falso porque quando você vai ao index librorum proibitum você não encontra lá nenhuma obra de Galileu e nenhuma outra obra de ciência mas apenas obras heresiarcas, as quais iam contra o dogma da igreja e contra o papa porque o papa é que era a autoridade dogmática da igreja. Eles olvidam o facto de que Galileu insultou o papa, o qual era seu padrinho e que como punição foi condenado a repetir algumas “Ave-maria” e alguns “Pai Nosso”, em privado e sem vigilância, podendo fazê-lo, igualmente, por interposta pessoa, como por exemplo, por meio de uma das suas filhas que era freira.

Sem um método científico pronto, a barreira entre ciência e bruxaria, de facto, não estava devidamente delimitada. Um dos casos mais alarmantes disso que, infelizmente, não tem sido ensinado nos cursos de física tem que ver o intocável Isaac Newton. Depois que Newton morreu, seu espólio foi leiloado e uma das pessoas que comprou alguns papéis de Newton foi o economista John Maynard Keynes. Keynes descobriu que aqueles papéis de Newton não tinham nada que ver com física mas, sim, com alquimia. Já deve-se imaginar o escândalo que isso deu. Aquele homem que era venerado como um cientista puro era um alquimista, um ocultista, e até já posso imaginar o que teria acontecido se Newton tivesse sido morto pela inquisição: todo mundo cairia de pau na igreja católica, dizendo que ela era contra a ciência como se ocultismo fosse ciência.

O hélio, o sol, antes de Copérnico transformá-lo no centro universo, ele já era o centro do universo nos meios esotéricos. Sabemos que as antigas religiões de mistérios, algumas religiões pagãs tinham o sol como sua divindade. Sabemos que o Faraó Tutencamon se auto-intitulou “o deus sol”. Há uma sentença de Copérnico que diz: “até que, enfim, conseguimos colocar o sol de volta no centro do universo” (sic). Isso mostra que o sol já estivera no centro do universo antes. Mas como é possível, se o heliocentrismo surge com o próprio Copérnico? Aí está! O sol já estava no centro do universo esotericamente como uma divindade e tudo que Copérnico fez foi dar a isso um ar de ciência para torná-lo mais palatável.

Se o sol é ou não o centro do universo, se a terra é ou não o centro do universo, isso é apenas uma questão marginal porque tudo está dependente do referencial como foi provado pela física moderna. Observado o universo desde a terra como o fez Ptolomeu, a terra acaba mesmo sendo o centro do universo e o universo passa a ter todos aqueles círculos concêntricos como ele o desenhou. É claro que essa teoria teve alguns erros de cálculo, mas são erros muito menores do que os desencadeados pelo heliocentrismo. As pessoas falam mal do geocentrismo e nem sabem que a navegação marítima inteira é o geocentrismo aplicado.

Há uma carta de Humboldt, datada do século XIX, que diz claramente o seguinte: “todos nós [cientistas] sabemos que não há provas do heliocentrismo só que eu não quero ser o primeiro a falar isso em público, porém, se aparecer alguém com mais coragem do que eu, eu lhe darei todo apoio” (sic). Agora, os fanáticos do heliocentrismo dizem: “ah, mas no tempo de Humboldt a técnica científica não estava assim tão avançada como hoje”. Mas espera aí. Se for assim, então, a classe científica inteira tem que ser processada criminalmente porque ela nos fez acreditar que Galileu, Copérnico, Newton estavam montados na razão ao dizer que o sol era o centro do universo enquanto a técnica cientifica não estava tão avançada quanto hoje. Isso é charlatanismo. Agora, essa língua dupla é própria dos movimentos revolucionários. Eles se contradizem com a constância com que mudam de cueca.

Na verdade, o que Copérnico estava fazendo não era ciência mas uma luta política com vista a colocar em causa a autoridade dogmática da igreja e substituí-la pela autoridade da ciência. Não se pode dizer que ele não conseguiu seu intento, muito pelo contrário, quando se olha para os cientistas, hoje, vê-se que eles têm a mesma autoridade do clero católico na idade média e até mais. Se o cientista diz que comer ovos faz mal, pronto, no dia seguinte todos os governos do mundo baixam uma lei que diz que comer ovo é um pecado mortal punível com o fogo do inferno. Depois de algum tempo, surge um outro cientista que diz: “não, todos estão errados, comer ovo aumenta a sua longevidade”, logo, no dia seguinte, todos os governos baixam uma nova lei: “a partir de hoje, quem não comer pelo menos um ovo por dia é contra a unidade nacional, é contra o meio ambiente, é contra as mulheres, é homofóbico”, etc. É assim que a ciência funciona: o que você diz, hoje, você tem que poder desdizer amanhã, senão, não é ciência, é religião. Agora, como é que algo tão instável como a ciência pode se constituir em autoridade dogmática? É uma impossibilidade lógica pura e simples.

Revolução kantiana

A revolução kantiana consistiu em tirar o objecto do centro do conhecimento e colocar no seu lugar o sujeito. É por isso que essa revolução é conhecida como a revolução copernicana de Kant.

O que Kant está querendo dizer com isso é que não há conhecimento objectivo somente conhecimento subjectivo. Ou seja, quando você diz que conhece um objecto, para Kant, na verdade, não é o objecto que você conhece mas apenas a estrutura a priori da sua mente. Aliás, para Kant, nem é possível você conhecer o objecto em si, o númeno, mas apenas à sua aparência fenoménica.

Não é preciso fazer muito esforço para perceber que Kant é o pai do sócio-construtivismo, do desconstrucionismo, do marxismo, do comunismo.

Se o conhecimento objectivo não existe, então, o conhecimento científico também não existe porque o que chamamos de conhecimento científico é conhecimento objectivo. Quando Einstein diz que E=m.c2, isso não é conhecimento objectivo. Quer dizer, E é igual a m.c2, graças a estrutura a priori da mente de Einstein porque, se fosse Newton, se calhar, E não seria igual a m.c2 mas a uma outra coisa porque, sendo cada um de nós uma mónada como dizia Leibniz, a estrutura da mente de cada um de nós vai diferir de individuo para individuo, dependendo dos factores pessoais e impessoais que estão em cada um em escala monádica.

Os sócio-construtivistas vão ainda mais longe que seu mestre, ao dizer que o conhecimento é uma construção social. Quer dizer, E é igual a m.c2 por causa da estrutura da sociedade de Zurique onde Einstein descobriu aquilo que ele chamava de “o motor que acende o universo”. Se esse motor fosse descoberto na sociedade moçambicana, E igual a m.c2, seria diferente. Dá para acreditar numa coisa dessas?

Imaginemos um mundo sem objecto. Para começar nós não estaríamos em lugar nenhum e o que não aconteceu em lugar nenhum não aconteceu. Naquela teoria de Olavo de Carvalho chamada “conhecimento por presença” que é, na verdade, um desdobramento da “presença total” de Louis Lavelle, o começo do conhecimento é a presença mútua do sujeito e do objecto, o que significa que antes que você possa conhecer o que quer que seja você tem de estar em algum lugar e o objecto também deve estar presente.

Ora, o universo, a sociedade, a natureza, etc., não são apenas lugares em que nós estamos colocados como um dasein heideggeriano mas eles são também objecto do nosso conhecimento. Só há sujeito para um objecto e objecto para um sujeito. Se você elimina o objecto, o sujeito deixa de ser sujeito, pelo menos, materialmente. Ou seja, diz o filósofo Mário Ferreira dos Santos que “dada alguma coisa, o que lhe sucede é um possível” e não um necessário. Deste modo, só há, materialmente, objecto, onde há um sujeito, porém, onde há um sujeito e não há um objecto, o sujeito não é sujeito, senão, apenas, formalmente, como mera possibilidade lógica que, pêlos vistos, se depender de Imanuel Kant nunca chegará a se realizar em parte alguma.

O que Kant diz é tão absurdo e somente uma análise psicológica para decifrá-lo. Nietzsche dizia que a filosofia de um autor se resume a sua psicologia. Isso não é totalmente verdade para todos os autores, porém, quando o individuo começa a dizer coisas tão ininteligíveis, tão contraditórias e que beiram a psicose, o que Nietzsche disse passa a ter todo mérito. Quer dizer, seguindo a teoria de conhecimento kantina podemos chegar a conclusão de que as plantas não têm a cor verde, a cor verde está na nossa mente. É certo que existem individuos daltónicos, porém, você não está falando de um individuo normal porque a maior não é assim.

Agora, pense assim: um soldado está no campo de batalha e ele está vendo o inimigo a 2 Km de distância por meio do seu binóculo. E aí, o seu superior pergunta: “você está vendo o inimigo?” E ele responde: “Sim, Sr., o inimigo não está a 2km de distância, ele está no meu binóculo. Ele é apenas uma reprodução da estrutura a priori do meu binóculo”. Ora, isso é a revolução kantiana e, diga-se, alto e bom som, que ela só tem um objectivo: transformar todo mundo em um bando de esquizofrénicos. Ora, sendo assim, o estudo das ciências é um desperdício de tempo, devíamos era estudar as estruturas a priori da nossa mente porque, no final das contas, Kant acaba reduzindo tudo ao psicologismo. Deste modo, devíamos estudar a física psicológica no lugar da física, economia psicológica ao invés de economia, química psicológica ao invés de química, etc.

Agora, o filósofo de Konigsberg também era um revolucionário e seu objectivo também era o de derrubar a autoridade da igreja e da monarquia. Veja, Kant teve um amigo, um sueco, chamado Swedenborg. Esse individuo extraordinário teve 3 vidas. Até aos 25 anos ele dedicou-se as artes e fez um sucesso enorme como ficcionista. Depois ele abandonou tudo e começou uma carreira de cientista até aos 50 anos de idade. E um dos seus maiores feitos foi conseguir transportar toda marinha sueca por terra. Hoje seria fácil, porém, naquela altura, era um feito de génio. A partir dos 50 anos ele abandonou tudo e começou uma carreira de místico e teve muitos livros publicados acerca das suas visões do céu e do inferno. É claro que isso deixou Kant muito indignado e quando ele começa a escrever a respeito, pela primeira vez, Kant muda de tom. Aquele homem calmo, frio, cede lugar a um homem verdadeiramente indignado porque ele não acreditava naquilo e, então, procurou refutar.

Agora, como é que você vai refutar um facto? Você só pode refutar uma teoria. Como dizia Sto. Tomás de Aquino: “contra factos não há argumentos” (sic). Então, aí você tem que inventar qualquer outra coisa, um espantalho, que você vai refutar e que não tem nada a ver com o que você queria refutar no início e começa a dizer que conhecimento objectivo não existe, que tudo é estrutura a priori da nossa mente.

Revolução keynesiana

John Maynard Keynes estudou na Universidade de Cambridge, tendo sido aluno de Alfred Marshall, um neo-ricardiano. No ano de 1936, ele publicou a sua obra magna “a teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro”. Em muitos artigos postados neste blog eu me debrucei acerca dessa obra de Keynes.

Quando Keynes publicou a teoria geral, os EUA estavam sob uma forte crise que uns chamam de “crise de superprodução” e que Keynes chamou de “crise de escassez da demanda”, a qual começou com o crash da bolsa de valores de 1929, que ficou conhecida como a quinta-feira negra.

Para reverter os efeitos da crise, Franklin Delano Roosevelt, acabado de sair vitorioso das eleições, lançou um programa chamado “New Deal” em 1932. Esta data é interessante porque os keynesianos dizem que o New Deal foi inspirado pela “teoria geral” de Keynes. Isso é uma empulhação porque a teoria geral só foi publicada 4 anos mais tarde. Agora, não sei que causa é essa que é precedida pelo efeito. O mais correcto seria dizer que a teoria geral inspirou-se no New Deal e não o contrário, caso contrário, estaremos perante uma metonímia, uma figura de linguagem apenas que nos irá remeter para uma “segunda realidade” como dizia Robert Musil, que é como que um mundo feito apenas de palavras como no sistema linguístico de Ferdinand de Saussure.

Vimos num outro artigo que eu publiquei recentemente neste blog que a escola neoclássica de economia surge com William Stanley Jevon, Leon Walras, Carl Menger e Eugen Von Bohm-Bawerk. Vimos que esses economistas, diferentemente da escola clássica ricardina que lidava com os agentes económicos como classes e que atribua o valor das mercadorias ao trabalho humano incorporado, o que deu aso a que Marx inventasse o seu fetiche da mais-valia e da luta de classes, adicionando a isso, a influência que ele recebeu de Hegel e Darwin, advogavam que os agentes económicos eram individuos e não classes e que o valor da mercadoria não estava no trabalho humano incorporado mas, sim, na utilidade marginal.

O que Keynes fez foi negar essas grandes descobertas da escola marginalista e cair novamente nos erros da escola ricardiana e malthusiana. Em síntese, o que Keynes defende na sua teoria geral é aquilo que o economista Ludwig Von Mises chamou de “intervencionismo”. Quer dizer, o mercado não pode funcionar livremente, ele deve ser controlado pelo estado. Agora, o que é o mercado? Você está falando de milhões e até bilhões de decisões livres dos individuos considerados atomisticamente e não como classes. Keynes é contra isso. É por isso que eu disse que Keynes diz que os clássicos estavam errados, porém, toda sua teoria geral se funda num erro que os neoclássicos já haviam apontado e solucionado com grande sabedoria.

Keynes é contra o individuo e a favor do estado. O que é isso? Fascismo. Ou seja, a economia keynesiana é uma economia fascista: “tudo a favor do estado, nada contra o estado, nada fora do estado”. Esta é a fórmula do fascismo. Keynes propõe que para reverter os efeitos dos ciclos económicos de desemprego, por exemplo, que o governo incorra em défice. Um défice significa que a identidade entre os impostos do estado e os seus gastos passou a ser ambígua. Se já não há essa unidade, então, a própria realidade do sistema fiscal e orçamental do estado acabou e o que ficou é uma bela ficção económica.

Se há défice, isso significa que os impostos já não cobrem as despesas do estado. Pois bem! Onde é que o estado vai arranjar o dinheiro para cobrir seu excesso de despesa? O estado tem as seguintes alternativas:

          1-  Aumentar o imposto (Senhoriagem)
          2-   Endividar-se
          3-  Vender seus patrimónios
          4-  Ajuda externa

Como é que o estado faz para aumentar o imposto? Ele inflaciona a moeda através da senhoriagem porque como bem demonstrou Mises, a inflação é um imposto negativo. Você encontra isso em qualquer manual de macroeconomia, porém, nenhum deles menciona o nome de Ludwig Von Mises. Quer dizer, a conspiração de silêncio que os keynesianos fizeram em volta desse génio perdura até hoje. Isso é incrível!

Todos os outros meios de financiamento das despesas excessivas do estado têm o mesmo efeito que o aumento do imposto: todos eles desembocam na inflação.

Por exemplo, o estado vai se endividar. Imaginemos que seja uma dívida interna, o que vai acontecer? O crédito será inviável. Vai faltar dinheiro para o sector privado. Para não ficar no prejuízo eles vão transferir, mais ou menos, esse custo para o consumidor através do aumento do preço dependendo da elasticidade preço da procura. O que é isso? Inflação.

Se o estado for a contrair divida externa é a mesma coisa. Quando o dinheiro da dívida entrar, o câmbio vai apreciar e as importações vão aumentar. Só que para importar é preciso divisas. Uma maior demanda por divisas vai apreciar a taxa de câmbio e inflacionar a moeda doméstica. Esse mesmo efeito é obtido com o influxo da ajuda externa.

Agora, se o estado diz que vai vender seus activos, isso parece uma boa opção. Isso é privatização. Porém, poucas vezes o estado faz isso. O filósofo Olavo de Carvalho está montado na razão quando, no trailer do filme “o jardim das aflições”, diz que “o poder do estado, na modernidade, sempre cresce, por este meio ou por aquele meio” (sic).

Em suma, podemos concluir que a teoria geral de Keynes é um convite a inflação. Qualquer governo que aplique a teoria geral keynesiana, cedo ou tarde, se verá confrontado com o drama da inflação. Isso não é nenhuma novidade. Já em 1973-75, a crise da estagflação pôs fim a ilusão keynesiana.

Agora, eles dizem que os agentes económicos individuais também causam inflação quando compram matéria-prima para as fábricas (inflação pelos custos) e quando demandam bens e serviços finais (inflação de demanda). Porém, isso é uma empulhação. Isso é aquela velha técnica da rotulação inversa de Lenine: “acuse-os do que fazemos e insulte-os do que somos” (sic). A inflação, bem disse o nobel de economia, Milton Friedman, “é sempre e em toda parte um fenómeno monetário” (sic). E somente o estado pode causar um fenómeno monetário e fá-lo sempre que coloca a teoria geral de Keynes em acção.

Keynes também era revolucionário. Ele também lutou contra a igreja e contra a monarquia. Na idade média, o que imperava na economia monetária era o padrão ouro e não havia inflação. Keynes veio e disse: padrão ouro é “uma relíquia bárbara”. O homem estava possuído por aquilo que ele mesmo chamou de “animal’s spirit”.

Ps: Porquê é que Copérnico, Kant e Keynes fizeram essas revoluções em suas áreas de actuação? A pessoa que deu a melhor resposta para isso foi José Ortega y Gasset. Ele disse: “nunca se escreveu, no mundo, um livro que explicasse perfeitamente porquê é que alguém fez alguma coisa”(sic).


ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com'

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