Se a ciência é um
tribunal de instância superior que toma decisões e as impõe a sociedade a
despeito da vontade desta, então, segue-se que a ciência não é um elemento da
psique humana e, neste caso, você fazer uma política científica significaria
fazer uma política sem responsabilização.
Por
ocasião do lançamento do seu livro “Direito do trabalho”, o professor Saraiva
falou da “necessidade” de termos uma política científica e que para tal as
faculdades devem engajar-se no processo de produção de pesquisas.
Foi Julien Benda quem disse que essa pretensão de fazer da ciência o
guia da humanidade, a chave interpretativa de todos os arcanos da humanidade,
da natureza, do cosmos e do divino, é uma SUPERSTIÇÃO.
O professor Saraiva não está dizendo nada de
novo e nem se apercebe que está repetindo velhos erros que já foram refutados
de mil e uma maneiras. O pai de tudo isso é August Comte e o avô é o Immanuel
Kant porque isso que o professor Saraiva está defendendo se chama positivismo.
O
primeiro absurdo dessa proposta é supor que a política funciona com a mesma
regularidade ou o mesmo determinismo de uma máquina o que é um absurdo atroz e
nem mesmo René Descartes, o pai do mecanicismo aceitaria uma coisa dessas.
Tanto isso é verdade que ele dividiu as ciências em res cogito e res extensa,
sendo a res cogito aquilo que
denominamos de ciências humanas, cabendo dentro dela a ciência política e a res extensa as ciências da natureza como
física e biologia.
Uma
política científica significa, pois, uma política guiada por tecnocratas e onde
toda discussão política é abolida porque a ciência, e o professor Saraiva não
sabe disso, se arroga a mesma autoridade do clero católico na idade média. Quer
dizer, ela é como uma instância superior que toma decisões e as impõe a
sociedade sem qualquer discussão. Se você tentar discutir, logo você é chamado
de troglodita, anticientífico, inimigo de Newton, etc.
Ora,
as ciências humanas, incluindo, portanto, as ciências políticas, lidam com o
comportamento humano conforme descoberto por Descartes já no ido século XVII. Porém,
se a ciência se furta a discussão e se apresenta como um tribunal de instância
superior que toma decisões e as impõe a sociedade a despeito da vontade e da razão
desta, então, segue-se que a ciência não é um elemento da psique humana e,
neste caso, você aplicar a ciência a política seria você fazer uma política sem
responsabilidade e sem responsabilização.
Então,
se uma política pública conduzisse a guerra, fome, inflação, desemprego, etc.,
o estado não poderia nunca ser chamado a responsabilidade porque a culpa seria
da ciência e como a ciência é um deus
do Olimpo e ninguém quer entrar em conflito com um deus, então, chegaríamos àquela
situação em que começamos a dizer que a tal da política científica não era
totalmente científica e que a culpa não é da ciência mas que houve um desvio
acidental pelo que é preciso aumentar a dose de cientificidade ou de cientificismo
da política.
Ora,
nem é preciso ser um Thomas Jefferson para perceber que mais do mesmo remédio
conduz a ditadura do remédio como ele demonstrou em relação a democracia ao
dizer que mais democracia, ao invés de ser um remédio para os problemas da
democracia como dizia Norberto Bobbio, desemboca sempre e em toda parte em
ditadura.
Não
é de uma política científica que precisamos. O de que precisamos é de voltar
para a política nos moldes de Aristóteles, ou seja, política como busca do
bem-comum e não de política no sentido schimitiano, ou seja, nos termos
amigo-inimigo. Mas para isso, é preciso separar a política da economia.
Certo
estava Aristóteles quando dizia que a economia começa quando a política termina
e a reciproca também é verdadeira como já escrevi no artigo “o fim da política”,
não no sentido teleológico da palavra “fim”, mas no sentido de fim como término
porque a política, neste país, se resume a troca de acusações sobre corrupção e
má administração e não há nenhuma disputa política real e efectiva que seria
uma disputa ideológica que, neste país, já morreu faz tempo e deu lugar a meras
disputas de cargos que é coisa que, por natureza, deveria ser deixada para o
âmbito dos municípios.
ESCRITOPOR|XADREQUE
SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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