sábado, 18 de fevereiro de 2017

Política científica

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Se a ciência é um tribunal de instância superior que toma decisões e as impõe a sociedade a despeito da vontade desta, então, segue-se que a ciência não é um elemento da psique humana e, neste caso, você fazer uma política científica significaria fazer uma política sem responsabilização.

Por ocasião do lançamento do seu livro “Direito do trabalho”, o professor Saraiva falou da “necessidade” de termos uma política científica e que para tal as faculdades devem engajar-se no processo de produção de pesquisas.

Foi Julien Benda quem disse que essa pretensão de fazer da ciência o guia da humanidade, a chave interpretativa de todos os arcanos da humanidade, da natureza, do cosmos e do divino, é uma SUPERSTIÇÃO.

 O professor Saraiva não está dizendo nada de novo e nem se apercebe que está repetindo velhos erros que já foram refutados de mil e uma maneiras. O pai de tudo isso é August Comte e o avô é o Immanuel Kant porque isso que o professor Saraiva está defendendo se chama positivismo.

O primeiro absurdo dessa proposta é supor que a política funciona com a mesma regularidade ou o mesmo determinismo de uma máquina o que é um absurdo atroz e nem mesmo René Descartes, o pai do mecanicismo aceitaria uma coisa dessas. Tanto isso é verdade que ele dividiu as ciências em res cogito e res extensa, sendo a res cogito aquilo que denominamos de ciências humanas, cabendo dentro dela a ciência política e a res extensa as ciências da natureza como física e biologia.

Uma política científica significa, pois, uma política guiada por tecnocratas e onde toda discussão política é abolida porque a ciência, e o professor Saraiva não sabe disso, se arroga a mesma autoridade do clero católico na idade média. Quer dizer, ela é como uma instância superior que toma decisões e as impõe a sociedade sem qualquer discussão. Se você tentar discutir, logo você é chamado de troglodita, anticientífico, inimigo de Newton, etc.

Ora, as ciências humanas, incluindo, portanto, as ciências políticas, lidam com o comportamento humano conforme descoberto por Descartes já no ido século XVII. Porém, se a ciência se furta a discussão e se apresenta como um tribunal de instância superior que toma decisões e as impõe a sociedade a despeito da vontade e da razão desta, então, segue-se que a ciência não é um elemento da psique humana e, neste caso, você aplicar a ciência a política seria você fazer uma política sem responsabilidade e sem responsabilização.

Então, se uma política pública conduzisse a guerra, fome, inflação, desemprego, etc., o estado não poderia nunca ser chamado a responsabilidade porque a culpa seria da ciência e como a ciência é um deus do Olimpo e ninguém quer entrar em conflito com um deus, então, chegaríamos àquela situação em que começamos a dizer que a tal da política científica não era totalmente científica e que a culpa não é da ciência mas que houve um desvio acidental pelo que é preciso aumentar a dose de cientificidade ou de cientificismo da política.

Ora, nem é preciso ser um Thomas Jefferson para perceber que mais do mesmo remédio conduz a ditadura do remédio como ele demonstrou em relação a democracia ao dizer que mais democracia, ao invés de ser um remédio para os problemas da democracia como dizia Norberto Bobbio, desemboca sempre e em toda parte em ditadura.

Não é de uma política científica que precisamos. O de que precisamos é de voltar para a política nos moldes de Aristóteles, ou seja, política como busca do bem-comum e não de política no sentido schimitiano, ou seja, nos termos amigo-inimigo. Mas para isso, é preciso separar a política da economia.

Certo estava Aristóteles quando dizia que a economia começa quando a política termina e a reciproca também é verdadeira como já escrevi no artigo “o fim da política”, não no sentido teleológico da palavra “fim”, mas no sentido de fim como término porque a política, neste país, se resume a troca de acusações sobre corrupção e má administração e não há nenhuma disputa política real e efectiva que seria uma disputa ideológica que, neste país, já morreu faz tempo e deu lugar a meras disputas de cargos que é coisa que, por natureza, deveria ser deixada para o âmbito dos municípios.

ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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