terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Imperialismo capitalista versus comunismo

Resultado de imagem para Imperialismo capitalista versus comunismo
Antes de 1776, era inconcebível falar de império sem se referir a expansão territorial. Foram os EUA que introduziram a ideia de império baseado exclusivamente na expansão ideológica dos ideais de democracia e liberdade.
O comunismo se assenta na expansão ideológica dos ideais de igualdade social, contudo, ele também busca a expansão territorial.

Os comunistas sempre apregoaram alto e bom som que estavam a lutar contra o imperialismo capitalista. É claro que eles se referiam mormente aos países da europa ocidental como Inglaterra e França e, também aos EUA. Ora, se existe imperialismo capitalista, o corolário que se segue é que existe um imperialismo que não é capitalista. Que imperialismo é esse?

Segundo Lenine, “o imperialismo é a fase superior do capitalismo” (sic), ou seja, o capitalismo tende naturalmente ao imperialismo, o que, do ponto de vista da filosofia de Hegel, faria do imperialismo a essência mesmo do capitalismo. Porém, por outro lado, nós temos o comunismo que também, por seu turno, é a fase superior do socialismo.

Aparentemente temos aqui uma disputa entre imperialismo e comunismo e não entre imperialismo capitalista e imperialismo comunista até porque para os comunistas você dizer imperialismo capitalista chega a ser redundante porque para eles só existe imperialismo capitalista. Não é preciso dizer que historicamente isso não se sustenta.

Qualquer historiador sabe que o imperialismo é anterior ao capitalismo. Os impérios babilónicos, medo-persas, grecos, romanos, otomanos, surgiram todos eles antes do advento do capitalismo. Mesmo depois do advento do capitalismo ainda continuamos a ter impérios que não tinham nada que ver com o capital como o império de Mwenemutapa e de Ngungunhana, só para citar alguns exemplos.

O estudo feito por Max Weber no seu livro “a ‘ética protestante e o espírito do capitalismo” prova por A+B que não havia capitalismo antes da reforma protestante e que o capitalismo se funda na ética protestante o que tem como corolário que o capitalismo só funciona num país em que a população se guia pelos valores morais tradicionais cristãos. Não é fortuitamente que o capitalismo tenha surgido e vingado apenas na europa cristianizada e nos EUA.

O professor Castel-branco está errado quando diz, como muitos outros, baseado na fórmula do PIB, que o consumo é a função básica do capitalismo ou de toda e qualquer economia de mercado. Isso é totalmente falso porque as pessoas já consumiam bens e serviços antes do capitalismo existir. Se hoje, as pessoas consomem mais bens e serviços do que seus ancestrais isso não prova que o consumo é causa do capitalismo, o máximo que isso pode fazer é provar que o consumo excessivo é consequência do capitalismo.

O que existe na ética protestante que não existe na ética católica, budista, islâmica e ateísta-marxista-leninista? Qual é o espírito protestante e no que ele se difere dos outros espíritos? Primeiro temos que saber o que é ética e o que é espírito. Ora, a ética é a especulação acerca da moral, a qual diz respeito a prática, ou a razão prática como dizia Kant. A ética se funda nos valores lógicos do verdadeiro e falso enquanto a moral se funda no axio antropológico, portanto, ele busca alcançar a juízos do certo e do errado. O espírito, por seu turno, segundo Webster é a “natureza da alma”, o seele de Freud, que os tradutores traduziram para psique e daí a psicologia.

Qualquer um sabe que o expoente máximo do protestantismo é o dr. Martinho Lutero. É claro que antes dele tivemos outros tantos protestantes como Savonarola, John Huss, Jerónimo (esses 2 últimos queimados na fogueira) e alguns contemporâneos de Lutero como Wycliff. Porém, todos reconhecem a fundamentalidade do papel exercido pelo ex-padre agostiniano.

A base do protestantismo é a sentença de São Paulo, o apóstolo, aos cristãos romanos: “o justo viverá pela fé” (sic). Daqui, Lutero deduziu todas as suas 95 teses afixadas na porta da catedral de Wittenberg. Diferentemente do protestantismo, em outras manifestações religiosas, a salvação é somente viabilizada pelas obras. No judaísmo, a salvação depende de que você cumpra os mandamentos da Torá. No catolicismo, a salvação depende de que você pratique a caridade. No Islam, a salvação depende de que você faça a jihad maior ou menor em cumprimento do al-corã e dos haddites. No budismo, a salvação que é você se livrar do Samsara que é o ciclo ad aeterno da encarnação, depende de que você alcance o nirvana. Só o protestantismo diz que você não precisa fazer coisa alguma para ser salvo porque Cristo já fez por você e que tudo que você precisar fazer é ter fé nele, o qual, como se não bastasse, é um dom gratuito dele que chega a você pela revelação do evangelho.

O filósofo Olavo de Carvalho diz que “não há acto mais desprovido de testemunha do que o acto de conhecer”. Porém, eu digo o contrário, ou seja, que o acto mais desprovido de testemunha é o acto de crer. Sendo a fé algo que diz respeito a autoconsciência do individuo, só a nossa consciência pode dar testemunho dela. Deste modo, a necessidade de uma autoridade dogmática para impor o que quer que seja se torna inviável porque se crê com o coração como diz São Paulo, o apóstolo: “com o coração se crê para a justiça…”(sic) e não com algo que possa facilmente ser fiscalizado pelas autoridades eclesiásticas.

Isso já não acontece no catolicismo porque é fácil ver se você está ou não praticando a caridade. No islamismo é a mesma coisa, digo, pode-se ver facilmente se você tem ou não praticado a jihad. No budismo também se sabe se você alcançou ou não a iluminação. No judaísmo também existem fiscais da Torá e do Talmude. É impensável um católico sem um sumo pontífice para lhe dizer o que ele deve fazer ou não. É impensável um mussulmano sem um aiatola, sem um imam, sem um sheik. É impensável um budista sem um lama. Tanto é que se você pertence a uma dessas comunidades religiosas e depois você sai, você é um herege e isso pode até mesmo, em alguns casos, custar a sua própria vida.

No protestantismo, o cenário descrito acima é impensável. Você pode sair e entrar a qualquer momento. É claro que existe a figura do pastor, do bispo, dos diáconos, porém, eles não são uma autoridade dogmática. Você pode viver a sua vida de acordo com a sua fé e se a sua denominação lhe encher o saco você manda a fava todo mundo e vai para outra denominação ou funda a sua própria denominação.

É aqui que reside a diferença entre a ética protestante e quaisquer outras, entre o espírito protestante e quaisquer outros. Ou seja, o protestantismo é uma religião do individuo e não de classes. Este é o espírito ou seja a mentalidade que o capitalismo foi buscar ao protestantismo. O protestantismo, ao apregoar a salvação pela fé e não pelas boas obras, deixa claro que não é preciso gastar todos os meus bens com os desocupados para entrar no paraíso, que não é preciso fazer voto de pobreza franciscano, jihad menor ou maior ou voto de pobreza budista para ser salvo mas apenas ter fé. Não poderia surgir capitalismo em meio católico, islâmico, judaíco, budista porque essas manifestações religiosas não têm o foco no individuo mas sim na comunidade nacional ou internacional.

Então, com o protestantismo temos o advento daquilo que Alan Renaut chamou de “a era do individuo”. E isso foi tomado pela escola neo-clássica de economia também conhecida como marginalista, para refutar a teoria de valor e das classes sociais da escola ricardiana e também, por tabela, refutar a teoria da mais-valia e o materialismo histórico/dialéctico de Marx.

Tudo isso foi para mostrar quão falso juízo encerra a proposição de que o consumo é que é a base da economia capitalista ou economia de livre mercado. Agora, vimos também que o aforisma de Lenine de que “o imperialismo é a fase superior do capitalismo” encerra um juízo falso porque o imperialismo é anterior ao capitalismo. By the way, a URSS era um império. Como se explica isso se não havia capitalismo nenhum na URSS?

Antes da revolução americana de 1776 que, segundo a filósofa política, na verdade, não foi uma revolução mas, sim, uma guerra de independência, era inconcebível você falar de império, olvidando a questão da conquista de territórios. O que seria do império britânico sem suas colónias da África, Ásia e América? O que seria do império português sem suas colónias do Brasil, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Goa, Macau, Timor-Leste? É claro que a palavra imperialismo vem do verbo imperar. Porém, imperar não é somente mandar, mas também pedir, aconselhar. Agora, é um absurdo extravagante você dizer que a Coreia do Norte é um império simplesmente porque tem um ditador no palácio do governo. É preciso mais do que ser um Hitler, Stalin, Kim Il Sung, Pol Pot, etc. É preciso conquistar territórios. De modo que sem a expansão europeia não haveria imperialismo europeu.

Os EUA são um império? Sem dúvida nenhuma. Isso pode parecer estranho porque os EUA nunca colonizaram nenhum país e mesmo quando fizeram guerras como as do Golfo, do Iraque, Vietname, Coreia, Japão (por ocasião da segunda guerra mundial), eles nunca tomaram para si aqueles territórios. Eles simplesmente voltaram para casa.

Quando se lê “Democracia na América” de Tocqueville e “Ordem Mundial” de Kissinger, not­a-se que os EUA foram o primeiro império não monárquico do mundo. Antes de 1776, era impensável um imperialismo monárquico sem uma expansão territorial como a que as potências marítimas europeias fizeram. Porém, os EUA introduziram uma nova modalidade de império, digo, um império que não se assenta na expansão física de território mas, sim, na expansão ideológica dos seus ideais de democracia e liberdade.

 O comunismo também se assenta na expansão ideológica, digo, dos ideais de igualdade social, contudo, diferentemente do americanismo, o comunismo adiciona a expansão ideológica a expansão territorial. Seria impensável o império comunista soviético sem os países da europa oriental que serviam de satélites da Rússia. Ainda hoje, vê-se que o império russo, agora sob o rótulo de eurasianismo, não se contenta apenas em espalhar sua ideologia comunista pelo mundo por meio da revolução cultural, mas quer também fazer a ocupação geográfica de territórios por via armada, tendo para tal invadido a Geórgia, a Turquia e Nagorno Karabashi.

        Dizer que o capitalismo tende ao imperialismo é tão falso quanto dizer que o socialismo tende ao comunismo. Marx dizia que a sociedade se compõe de uma infraestrutura que era a base material ou económica da sociedade e de uma superestrutura que era a ideologia ou a cultura. Marx acreditava que, em última instância, a infraestrutura determinava a superstrutura. Então, para Marx se você derrubasse a infraestrutura económica, a superestrutura ideológica do capitalismo viria abaixo.

Na verdade, Marx estava errado porque é a superstrutura que determina a infraestrutura e não o contrário. Deste modo, em última instância, o capitalismo não se torna em imperialismo, ele se torna numa base material ou económica mais ampla contrariamente ao socialismo que, em última instância, ao invés de fazer baixar na terra, o tal do comunismo, ele simplesmente acaba conduzindo a destruição da base material ou económica da sociedade. Não é sem razão de Ludwig Von Mises diz no seu livro o cálculo económico no socialismo que “o socialismo é uma irracionalidade económica”(sic).

Eu não estou a dizer que o comunismo não existe. De modo nenhum. Quem diz isso são os outros como Franz Fukuyama e tutti quanti, os quais confundem URSS com comunismo, o que é uma bela metonímia. Ora, ninguém pode negar que Lenine, Stalin, Mao Tsé-Tung, etc., foram comunistas. Eles seguiram à risca o que está escrito no “manifesto comunista” de 1848 de Marx & Engel. O que eu estou dizendo é que o comunismo é uma cenoura de burro, uma promessa que você vai adiando ad aeterno porque apesar de Marx falar que os outros como Thomas Moore, Saint-Simon, Thomas Campanela, Fourier fizeram socialismo utópico e que o socialismo que ele estava propondo era científico isso não faz do socialismo de Marx, que é o socialismo internacional, i.e., o comunismo, menos charlatão que o dos outros.

O socialismo de Marx não era científico coisa nenhuma. Marx nem sabia o que era ciência. Na sua obra maior “O Capital”, ele falsificou os dados estatísticos da Inglaterra e diz que está fazer ciência? É preciso ser muito pueril para acreditar numa coisa dessas. Isso é como disse mais tarde aquele outro comunista fanático, o Kautsky: “se a natureza humana entrar em choque com a natureza social, então, a natureza humana terá que se ajustar a natureza social”. Eu digo: “o quê”? Ciência? Isso? Façam-me favor! Isso é abusar da quota de burrice permitida ao ser humano. Mas há idiotas para tudo.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shatrhreksousa@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário