A independência de
Moçambique foi decidida em família, a grande família socialista liderada por
Mário Soares. De modo que não creio que a nossa luta de libertação tenha sido
uma luta pela independência mas, sim, pela implantação do socialismo porque o
país continua tão dependente quanto antes. A diferença é que ontem éramos dependentes,
apenas, dos portugueses enquanto hoje somos dependentes dos chineses, russos,
FMI, Brasil, Banco mundial e meio mundo de credores.
Uns falam com todo orgulho da sua participação
na luta de libertação nacional e outros acreditam que a independência do país
não teve como causa eficiente e nem final a luta movida pela Frente de Libertação
de Moçambique mas, sim, a mudança ocorrida no tabuleiro da política
internacional, nomeadamente: as pressões externas sofridas por Lisboa por parte
da ONU e as pressões internas sofridas por parte dos socialistas.
Seja como for, não é meu interesse neste
artigo discutir se a nossa independência foi o coroamento da luta de libertação
ou se foi um “free-riding” da revolução dos cravos ocorrida em 25 de Abril de
1974 em Portugal, mas, sim, discutir se a nossa luta de libertação foi mesmo
uma luta pela independência ou se não passou de um jogo de cena para ocultar o
fantasma de uma revolução comunista que já assombrava a Europa do Leste, a
América Latina e a Ásia havia algumas décadas.
Uns vão dizer que foi uma luta pela independência.
Outros vão dizer que foi uma revolução socialista e outros ainda, como bons
discípulos de Hegel e conhecedores da sua dialéctica de tese, antítese e
síntese, farão a síntese dizendo que foi as duas coisas.
Quando Machel proclamou a independência na
madrugada de 25 de Junho de 1975, ele disse que a independência de Moçambique
era “total e completa”(sic). Não é preciso ter um Q.I einsteiniano para
adivinhar que a nossa independência nunca foi total e muito menos completa. O
que aconteceu é deixamos de ser dependentes de Lisboa para sermos dependentes
da RDA, Havana, Beijing (Pequim), Moscovo, FMI, Banco mundial, ONU, etc. Não
sei se isso é independência e nem sei se é total e completa.
A cartilha marxista que aprendemos na
escola dizia que os colonialistas portugueses eram muito maus, que eles odiavam
os pretos, exploravam os pretos, eram racistas, reservavam o famoso xibalo para
os pretos, vendiam os pretos como mercadoria, zombavam dos deuses dos pretos,
excluíam os pretos da administração do estado, etc. Ninguém será louco de negar
que o tempo colonial foi terrível. Contudo, também é preciso ser muito pueril
para não perceber que isso é um conjunto de factos diluídos na pasta da
revolução cultural gramsciana que esteve em curso no país para fazer do partido
FRELIMO “um poder omnipotente e invisível de um imperativo categórico, de um
mandamento divino, de modo que todo mundo se tornasse socialista sem saber”
(sic).
Conquistou-se a independência e o que é
que se fez a seguir? Começou, aí, a caça as bruxas. A grande expurga de Stalin
que arrebatou no seu bojo Urias Simango, padre Guendjere, Lázaro Kavandami,
Joana Simeão e tutti quanti. Não sinto pena destes, o que não significa que
os tenha ódio. Porém, deviam ter aprendido com as experiências da URSS, China e
Cuba que quem se alia com comunistas acaba morto. E pior ainda o padre
Guendjere porque o santo ofício de 1 de Julho de 1949 do Papa Pio XII, depois
ratificado pelo Papa João XXIII, pune com excomunhão todo e qualquer católico
que dê apoio ao movimento comunista. Ele traiu a sua fé, a sua igreja, o seu
superior hierárquico e teve a paga que mereceu. Urias Simango também era um
pastor e ao se aliar com comunistas ateus, enlouquecido de ódio pelos cristãos
traiu a sua própria fé. Você não pode querer o efeito e dizer que não quis a
causa.
Mais ainda, os que ontem diziam que estavam a
lutar contra a exploração do homem pelo homem, contra o xibalo, trataram logo
de abrir um campo de concentração e raptar seus próprios concidadãos para o
xibalo da operação produção.
Os que ontem se queixavam da PIDE inventaram
milicianos e começaram até mesmo a controlar o que as pessoas pensavam e criam
no interior do seus corações de modo que começaram a perseguir os religiosos
porque crer em Deus era inconstitucional, não contente, institucionalizaram o
fuzilamento público para satisfazer sua sede de sangue. mesmo hoje, cidadãos
honestos são extorquidos, “chamboqueados” e baleados pelos vulgos
“cinzentinhos” por não portar B.I., enquanto criminosos armados até a medula
dos ossos passeiam a sua classe em assalto de banco, assassinatos e sequestros
de empresários até hoje não esclarecidos.
Os que ontem acusaram os colonialistas de
destruir a nossa cultura, a autoridade tradicional, começaram a perseguir os líderes
tradicionais e espirituais das comunidades tribais.
Os que ontem se queixavam de estarem a ser
submetidos a lavagem cerebral pelas propagandas coloniais inventaram os grupos
dinamizadores para lavar massas cinzentas já desbotadas e condicionar
classicamente e objectivamente à moda de Ivan Palvlov e Skinner o reflexo da
população e torná-la alvo fácil dos demagogos.
Os
que ontem acusam os colonialistas de deixar a população a míngua passaram a
racionar o consumo da farinha, do repolho e do carapau. Os que ontem diziam que
o país havia sido invadido pelos estrangeiros estão novamente a lotar o país de
chineses a base de pelo menos 1000 por ano.
Os
que diziam que os colonizadores eram intolerantes ao dialogo enviam forças de
defesa e segurança as ruas aparelhadas de armas de fogo e canhões de guerra
para intimidar e assassinar sua própria população ao mesmo tempo em que dizem
que ela é composta de “vândalos e marginais”.
Os que prometeram libertar a terra e o
povo, tiraram toda a terra do povo. No tempo colonial, pelo menos, as famílias
eram donas da terra onde haviam construído suas casas, suas machambas e seu
cemitério. Hoje, a terra é do estado e você pode perder a sua casa, a sua
machamba e seu cemitério a qualquer momento para os chineses como temos visto
todos os dias.
Disseram que estavam a lutar contra o
imposto de palhota. Hoje, se não pagas pelo uso e aproveitamento da terra onde
seus antepassados nasceram, viveram e morreram vem o conselho municipal e mandá-te
a fava com buldozers made in China.
Os que ontem acusaram os colonos de pilhar
os recursos do solo pátrio, estão a praticar descaradamente o maior entreguismo
da história do país.
Que mudou? Mudaram as cores. Substituiu-se
o branco pelo preto e a nota ficou preta.
Não vivi as atrocidades do período
colonial. Não sei se um familiar meu, por mais distante que seja, tenha sido
vendido como escravo ou tenha sido detido pela PIDE. Porém, isso não importa. O
que importa são os factos e, como dizia Sto Tomás de Aquino, “contra factos não
há argumentos”(sic). Quer dizer, você só pode argumentar a favor dos factos e
nunca contra. Se quiser argumentar contra, arranje uma hipótese qualquer contra
a qual você possa argumentar.
Um facto que não quer calar na minha mente
é que as colónias portuguesas só ficaram livres da administração colonial
portuguesa com a revolução dos cravos de 25 de Abril de 1974. Quem foi Mário
Soares? Um socialista. Por que coisa lutavam a FRELIMO, a FPLA, PAIGC, etc.? Pela
implantação do socialismo em seus países. Já fiz referência, várias vezes, ao
livro “Lutar por Moçambique” de Eduardo Mondlane em que ele diz, com todas a
letras, que eles (os revolucionários) iam implantar o socialismo em Moçambique sô
que eles não sabiam ainda qual era o tipo de socialismo eles queriam. Mário
Soares não fez mais nada do que resolver o problema da descolonização das ex-colónias
portuguesas em família, a grande família socialista. Ele só cumpriu a sua
obrigação de um bom camarada que nunca perde la ternura para com os seus, como dizia Che Guevara.
Não me entendam mal. Não vão pensar que eu
estou dizendo que a colonização deveria ter continuado ad infinitum. De modo nenhum. O que digo é que a luta de libertação
de Moçambique não foi propriamente uma luta pela independência como aconteceu
nos EUA mas, sim, uma revolução socialista marxista-leninista como aconteceu na
Rússia, China, Vietname, Coreia do Norte, etc. Os discursos de Samora Machel
estão lotados de elementos de prova suficientes para dar respaldo documental ao
que estou dizendo. Não fui eu quem inventou a expressão “partido de VANGUARDA”,
“REVOLUÇÃO moçambicana”, “continuadores da REVOLUÇÃO moçambicana” que continuam
até hoje alimentados pelas verbas do estado, “República POPULAR de Moçambique”,
“ditadura do proletariado”, “camaradas”, etc., como que a fazer jus àquela
máxima do evangelho que diz: “pelos frutos os conhecereis”.
ESCRITOPOR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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