sábado, 4 de fevereiro de 2017

Unidade nacional

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As pessoas confundem a unidade estatal, que é a mera unidade territorial, com a unidade nacional que é uma unidade étnica e linguística, a qual não existe em Moçambique mas em subterritórios dentro do território detido pelo Estado moçambicano. De modo que, o mais correcto, não é dizer que a tensão político-militar põe em causa a unidade nacional mas, sim, que ela põe em causa a unidade territorial do estado moçambicano.

Fala-se muito de promoção de unidade nacional neste país, mas quando se avalia o conteúdo do que as pessoas estão dizendo, nota-se uma grande confusão. Uns dizem que a tensão político-militar é um atentado contra a unidade nacional; outros dizem que a ideia que circula por aí de autarquias provinciais também é contra a unidade nacional. Toda essa confusão de conceitos só mostra que as pessoas não sabem do que estão falando e que as coisas que falam não passam pelo filtro da sua inteligência caso contrário não repetiriam esses slogans, topois e chavões como quem recita um dogma religioso.

Ora, se as pessoas nem se quer têm o domínio dos conceitos, como é que elas vão conseguir arbitrar dialecticamente as suas opiniões? É impossível. Então, vai ganhar a discussão aquele que gritar mais alto e como observou Da Vinci, “onde há gritaria não há verdadeiro conhecimento” (sic).

As pessoas confundem a unidade estatal, que é a mera unidade territorial, com a unidade nacional que é uma unidade étnica e linguística, a qual não existe em Moçambique mas em subterritórios dentro do território detido pelo Estado moçambicano. De modo que, o mais correcto, não é dizer que a tensão político-militar põe em causa a unidade nacional mas, sim, que ela põe em causa a unidade territorial.

Para você colocar em causa a unidade nacional, você precisaria muito mais do que uma tensão político-militar, você precisaria de algo que reflectisse essa intencionalidade. Tensão-político militar sempre existiu no mundo inteiro mas, nem por isso, se pôs em causa qualquer unidade nacional. Aliás, quando se analisa as leis eternas pitagóricas conforme descritas pelo filósofo Mário Ferreira dos Santos no seu livro “a sabedoria das leis eternas”, vê-se que a tensão diádica, surge como um desdobramento da unidade monádica.

Ora, essa tensão não é real apenas para os entes que pertencem ao mundo do contexto beta mas também ao mundo do contexto alfa e ela é necessária porque sem ela nenhuma relação é possível e se nenhuma relação é possível, também nenhuma reciprocidade é possível, o que se segue a impossibilidade de qualquer forma, a que se segue a impossibilidade de qualquer harmonia quinária.

Sendo a unidade nacional não uma unidade demarcada por um espaço territorial, nem uma unidade assegurada pela constituição mas sim uma unidade que se funda na unidade étnica e linguística, principalmente na unidade étnica, a qual é biológica e cultural, a unidade nacional só pode ser destruída mediante a destruição da unidade biológica e cultural daquela nação. A destruição biológica pode ser feita através da miscigenação em que você vai misturando diferentes unidades étnicas umas com as outras e daí a uma geração você já não tem mais unidades étnicas distintas. A destruição cultural, idem. Ou seja, você vai introduzindo naquela cultura, lentamente, subtilmente, valores que são estranhos a ela e daí, a geração seguinte, já estará a construir seu imaginário colectivo em torno de outros sistemas de valores que seus ancestrais não conheciam.

 E isso não é muito difícil de fazer. Se você lê o livro de Pascal Bernadin, “Maquiavel pedagogo”, ele fala de duas técnicas para fazer isso que são: pé na porta e porta na cara. O que ele diz, em resumo, é o seguinte: se você vai a casa de alguém e diz que quer colocar um cartaz, um painel publicitário que vai cobrir toda a faixa frontal da sua casa, a probabilidade daquela pessoa não vai aceitar é muito grande. Então, o que você faz? Você propõe substituir aquele cartaz maior por um outro mais pequeno, digamos, 30x20, e, Bernadin descobriu que em quase 80% dos casos, digamos assim, as pessoas acabam aceitando a segunda proposta. O que Bernadin está querendo dizer aqui é uma técnica de manipulação de comportamento que tem sido usada, não apenas na área da educação mas, em todas as áreas, se espalhando no mundo a velocidade alucinante, baseado naquela ideia parva de mal maior-mal menor, em que as pessoas “racionais” preferem sempre um mal menor a um mal maior. Porém, quer seja um mal maior ou um mal menor, os dois são males e não devem ser desejados.

Agora, é claro que o cartaz maior é sempre um bleff e visa condicionar os seus reflexos para forçar-lhe a uma obediência canina. By the way, ao trocar o cartaz maior pelo cartaz menor, o manipulador dá impressão de que antes ele estava sendo maldoso e que, agora, ele está sendo bondoso, o que lhe faz entrar naquele estado de estimulação contraditória em que você acaba aceitando o cartaz menor para não correr o risco de ver um cartaz maior pendurado na sua janela, quando, na realidade, você poderia ficar sem nenhum dos cartazes.

Sem ameaça de destruição da unidade étnica e linguística, falar em ameaça contra a unidade nacional é estelionato. Mas quando você explica isso para um moçambicano, que tudo isso ‘e logomaquia, uma guerra de palavras apenas, ele diz que você não tem auto-estima e que quer perigar a unidade nacional. Então, não adianta. Você dá o parecer mais sério possível e o moçambicano não verga como se tivesse um hímen incomplacente no cérebro, o qual é incomplacente para a verdade mas quando se trata de abortismo, homossexualismo, aquecimentismo, ideologia do género, etc., parece que o hímen se transmuta num hímen complacente em que tudo pode passar e nem mesmo os fisiocratas franceses, quando inventaram a expressão “laissez faire, laissez-passaire”, podiam imaginar que, um dia, um povo podia dar a essa sentença uma expressão prática tão criativa, digna de deixar um Voltaire babando de inveja a mais não poder.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com 

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