O conhecimento científico
é sempre a posteriori porque ele se funda na experiência. Deste modo, você
dizer que todo mundo é seropositivo até prova em contrário sem que você
apresente prova dessa seropositividade universal e abstracta é você se entregar
a uma conjunção de delitos, que vão desde a blasfémia contra Deus, a
charlatanice pura e simples e delito de opinião que beira a calúnia e
difamação.
Apregoar que todo mundo é seropositivo até prova em
contrário não passa de uma “pegadinha” pseudo-filósofica tão pueril que chega a
meter dó. É o velho Zenão de Eleia, de novo e de novo e de novo.
Existe aquele princípio jurídico que a civilização
ocidental herdou da civilização romana que consiste em não condenar um homem
sem primeiro ouvi-lo a si e a seus acusadores. É o famoso princípio da
presunção de inocência.
Com base nesse princípio, todo mundo é inocente até provas
em contrário mas, os activistas do combate ao HIV/SIDA, já partem para a
condenação colectiva da sociedade sem que tenham submetido cada um dos seus
elementos, individualmente, a um juízo crítico do estado de cada um.
Ora, o que é isso a não ser rejeitar in limine o princípio de presunção de inocência e destruir um dos
pilares da civilização romana de que o mundo ocidental foi herdeira e, por
tabela, todos nós, e colocar no seu lugar a justiça da rainha de copas, ou
seja, primeiro, condenar, depois, julgar e, em se averiguando a inocência dos
condenados, não há problema nenhum porque, como disse o tão incensado Bertolt Brecht:
“se eram inocentes, tanto mais mereciam morrer” (sic), em alusão aos condenados
no processo de Moscovo.
É caso para dizer que estamos perante uma verdadeira
“invasão dos bárbaros”, só para usar a expressão do filósofo Mário Ferreira dos
Santos. Quer dizer, todo esse slogan, topois,
chavão, seja lá isso o que for, não passa de um engodo do princípio ao fim, uma
lógica de botequim mal urdida para enganar os “idiotas úteis” como dizia Lenine.
O mais grave nisso é que você prejulgar as pessoas já é
violar o primeiro mandamento da lei divina porque você está se arrogando a uma
prerrogativa que só Deus tem, que é a prerrogativa da omnisciência que lhe
permite condenar ou absolver sem precisar ouvir o réu, supondo-se que o juiz já
sabe a priori, desde antes da
fundação do mundo, quem é aquela pessoa, o que ela fez, o que ela fará, etc.
Ora, o conhecimento científico é sempre a posteriori porque ele se funda na
experiência. Deste modo, você dizer que todo mundo é seropositivo até prova em
contrário sem que você apresente prova dessa seropositividade universal e
abstracta é você se entregar a uma conjunção de delitos, que vão desde a
blasfémia contra Deus, a charlatanice pura e simples e delito de opinião que
beira a calúnia e difamação.
Isto é líquido e certo. Na verdade, estamos perante uma
acusação leviana de quem, levado ao extremo pelo seu culto da “estupidez
criminosa”, para usar a expressão de Eric Voeglin, confunde, aquilo que Alan
Sokal e Jean Bricmont chamaram de, “imposturas intelectuais” com ciência,
porque, ora vejamos, a única prova que esses santos inquisidores da saúde
pública têm de que todo mundo é seropositivo até prova em contrário é que eles
não têm prova nenhuma, apenas imaginação e conjecturas.
É incrível que até indivíduos que pontificam na mídia, nas
cátedras universitárias, etc., como académicos, cheguem a endossar todo esse
cacoete mental. Por quê? Porque eles não sabem o que é conhecimento e se
colocam a julgar tudo com recurso ao critério de verossimilhança.
Já dizia o filósofo
Olavo de Carvalho que “verossimilhança é aquilo que parece. Parece porque é o
que todo mundo diz. Você acredita juntamente com o seu grupo”. Quer dizer, se o
grupo disse, pronto, está confirmado. A coisa ganha peso de um dogma do
evangelho e não precisa ser provado, absolutamente. É o homem-massa de que
falou Ortega y Gasset, ou seja, verossimilhança é o outro nome para designar o
espírito de manada.
ESCRITO POR| XADREQUE
SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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