“A fé pode ser
praticada”, diz TB Joshua. Ora, ela não somente pode ser praticada…, mas também
teorizada especulativamente … apenas com as luzes naturais da razão, caso
contrário, nós nem se quer teríamos o conceito dela.
A fé de um indivíduo
pode nunca ser falseada nesta vida porque há fés, digamos assim, que somente
serão falseadas no dia do juízo final...
…. se quisermos
saber se uma fé é verdadeira ou falsa temos que examinar a coerência lógica
interna das premissas que a fundam.
Numa das suas pregações de domingo com o título “the
secret of faith”, o profeta TB Joshua disse que “a fé não é abstracta. Ela pode
ser praticada”. Sem se dar conta e sem que ninguém tenha tido a coragem de adverti-lo
a respeito, TB Joshua usou a palavra abstracto como antónimo de prático e vice-versa mas, isso não é bem assim.
Na sua origem, abstracto é o oposto de concreto e não de
prático o qual é, por seu turno, antónimo de especulativo ou teórico. Não há
nenhuma polaridade semântica entre abstracto e prático.
A especulação em todos os seus três graus abstractivos,
como aparece nos escolásticos como tentativa de complementar um esforço
especulativo que já vinha desde Aristóteles, significa recortar um pedacinho do
todo, supondo que o conjunto é conhecido enquanto o concreto, que vem do latim concrescior, significa crescer junto.
Agora, aquilo que é prático é aquilo que pode ser
experimentado, que é objecto da nossa experiência, o que se opõe ao meramente
teórico ou especulativo que se refere ao campo dos objectos ideais, do mundo
das ideias, das formas, enfim, o mundo arquetípico de Platão.
Todas as ciências são abstractas apesar daquilo que se
chama de interdisciplinaridade das ciências. Elas são abstractas pelo simples
facto de que elas não crescem juntas. Nenhuma delas estuda a realidade mas sim
um pedacinho dela. A mera pretensão de um físico de interpretar o mundo de
acordo apenas com seus conhecimentos da mecânica de Newton ou a relatividade de
Einstein já significa tomar a parte pelo todo, o que seria uma interpretação
falaciosa da realidade próprio da falácia de composição, o que é, em toda
linha, um raciocínio metonímico. Isso vale não apenas para a física mas também
para as demais ciências como biologia, medicina, matemática, história,
antropologia, sociologia, economia, etc. etc.
Falando em economia, não podemos deixar de nos referir
ao marxismo. Ora, quando os marxistas reduzem a totalidade do acontecer
histórico a uma luta titânica e eterna entre classes sociais e económicas,
enfim, quando reduzem mais afoitamente a totalidade do real a economia, eles
estão raciocinando metonimicamente, eles estão tomando a parte pelo todo, o que
é cometer falácia de composição porque a economia não é a totalidade do real
mas um fragmento dela.
Quando São Paulo, apóstolo, diz que a fé opera através
do amor e quando são Tiago, apóstolo, diz que a fé sem obras está morta, só
isso já basta para provar que, ao contrário do que diz TB Joshua, a fé pode,
sim, ser abstracta e não concreta. Se alguém somente tem fé e não tem os outros
frutos do espírito como mencionados por são Paulo, apóstolo, em Gálatas, como
amor, a paciência, a bondade, temperança, etc., é claro que sua fé é abstracta.
Porém, se alguém acrescentar á sua fé a virtude e a virtude a temperança, etc.,
como ensina São Pedro, o apóstolo, sua fé é concreta porque está crescendo
junto com outros frutos do espírito.
“A fé pode ser praticada”, diz TB Joshua. Ora, ela não
somente pode ser praticada, experimentada, mas também teorizada especulativamente
sem prática nenhuma mas apenas com as luzes naturais da razão, caso contrário,
nós nem se quer teríamos o conceito dela.
Tratar a fé como objecto de prática, como objecto da
nossa experiência significa tratá-la comutavelmente como algo sujeito a
variações que hoje pode estar forte em você e amanha nem tanto. Daí a pergunta
de Cristo aos seus discípulos no dia em que ele repreendeu o vento e o mar
tempestuoso: “onde está a vossa fé”?
Antes que haja conhecimento da fé, a fé precisa estar
em algum lugar e nós também precisamos estar nesse mesmo lugar. É essa presença
mútua que é a origem do conhecimento. É a isso que se chama conhecimento por
presença. A fé é um dos frutos do espírito. É aí onde ela está e é aí que nós
temos que estar para que haja conhecimento da fé que é o princípio da certeza
da fé.
Tratada comutavelmente, a fé como objecto da
praticidade humana, objecto da nossa experiência, nunca pode ser verdadeira ou
falsa mas apenas pode estar certa ou errada. Isso explica também porquê Cristo
disse que naquele dia muitos lhe dirão: “Senhor, Senhor, não profetizamos nós
em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios? Em teu nome não fizemos
muitos milagres e eu lhes reponderei (disse Cristo): apartai-vos de mim, vós,
obradores da iniquidade”. Quer dizer, um indivíduo pode fazer milagres em nome
de Cristo e ainda assim ir parar ao inferno por falsidade fidei.
Incomutavelmente, como objecto ideal, a fé só pode ser
verdadeira ou falsa e não certa ou errada. A fé só pode ser verdadeira quando
formalmente ela não padece de contradição lógica interna. Então, aqui temos o logos divino, o qual é Cristo, o logos encarnado como diz São João,
apóstolo: “No princípio era o verbo”.
Infelizmente, já vi nesta vida muitos pregadores que
expulsam demônios em nome de Jesus Cristo mas cuja fé está cheia de contradição
lógica interna como é o caso daquele pastor que eu escrevi num outro artigo outro
dia que pregou que dar o dízimo é o primeiro mandamento de Deus e outros tantos
que pregam que o inferno não existe, que o tempo dos milagres, sonhos e visões
beatíficas acabou e que o homem descende dos macacos e que, no final dos
tempos, todo mundo será salvo, numa espécie de apocatástase de Origines.
É claro que a fé de quem acredita nessas heresias é
falsa. Enquanto isso, uma fé ser certa ou errada significa apenas que ela ainda
não foi desmentida pelos factos porém, não ser desmentido pelos factos não é
critério de veracidade mas sim o mesmo velho princípio de não falseabilidade de
Karl Popper.
Quando um sacerdote expulsa os demônios, cura os
enfermos, enfim, faz milagres no nome de Jesus, isso não prova que sua fé é
verdadeira. Isso só prova que ela ainda não foi falseada. Uma fé pode ser
praticamente certa e especulativamente falsa.
Um exemplo disso é que as pessoas que Cristo curou
quando caminhou pela Galileia da Judeia, não foram curadas porque acreditaram
que Jesus era o Messias mas apenas porque acreditaram que ele os podia curar
uma vez que ele curou a outros. Tanto isso é verdade que quando Jesus disse:
“antes que Abraão fosse, EU SOU”, sugerindo com isso que ele era Deus, os
mesmos judeus que Jesus havia curado pegaram em pedras para apedrejá-lo.
A fé de um indivíduo pode nunca ser falseada nesta
vida porque há fés, digamos assim, que somente serão falseadas no dia do juízo
final como o próprio Cristo disse e fizemos questão de mencionar acima. Mais
uma vez: se quisermos saber se uma fé é verdadeira ou falsa temos que examinar
a coerência lógica interna das premissas que a fundam.
ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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