quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

The secret of faith

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“A fé pode ser praticada”, diz TB Joshua. Ora, ela não somente pode ser praticada…, mas também teorizada especulativamente … apenas com as luzes naturais da razão, caso contrário, nós nem se quer teríamos o conceito dela.
A fé de um indivíduo pode nunca ser falseada nesta vida porque há fés, digamos assim, que somente serão falseadas no dia do juízo final...
…. se quisermos saber se uma fé é verdadeira ou falsa temos que examinar a coerência lógica interna das premissas que a fundam.

Numa das suas pregações de domingo com o título “the secret of faith”, o profeta TB Joshua disse que “a fé não é abstracta. Ela pode ser praticada”. Sem se dar conta e sem que ninguém tenha tido a coragem de adverti-lo a respeito, TB Joshua usou a palavra abstracto como antónimo de prático e vice-versa mas, isso não é bem assim.

Na sua origem, abstracto é o oposto de concreto e não de prático o qual é, por seu turno, antónimo de especulativo ou teórico. Não há nenhuma polaridade semântica entre abstracto e prático. 

A especulação em todos os seus três graus abstractivos, como aparece nos escolásticos como tentativa de complementar um esforço especulativo que já vinha desde Aristóteles, significa recortar um pedacinho do todo, supondo que o conjunto é conhecido enquanto o concreto, que vem do latim concrescior, significa crescer junto.

Agora, aquilo que é prático é aquilo que pode ser experimentado, que é objecto da nossa experiência, o que se opõe ao meramente teórico ou especulativo que se refere ao campo dos objectos ideais, do mundo das ideias, das formas, enfim, o mundo arquetípico de Platão.

Todas as ciências são abstractas apesar daquilo que se chama de interdisciplinaridade das ciências. Elas são abstractas pelo simples facto de que elas não crescem juntas. Nenhuma delas estuda a realidade mas sim um pedacinho dela. A mera pretensão de um físico de interpretar o mundo de acordo apenas com seus conhecimentos da mecânica de Newton ou a relatividade de Einstein já significa tomar a parte pelo todo, o que seria uma interpretação falaciosa da realidade próprio da falácia de composição, o que é, em toda linha, um raciocínio metonímico. Isso vale não apenas para a física mas também para as demais ciências como biologia, medicina, matemática, história, antropologia, sociologia, economia, etc. etc.

Falando em economia, não podemos deixar de nos referir ao marxismo. Ora, quando os marxistas reduzem a totalidade do acontecer histórico a uma luta titânica e eterna entre classes sociais e económicas, enfim, quando reduzem mais afoitamente a totalidade do real a economia, eles estão raciocinando metonimicamente, eles estão tomando a parte pelo todo, o que é cometer falácia de composição porque a economia não é a totalidade do real mas um fragmento dela.

Quando São Paulo, apóstolo, diz que a fé opera através do amor e quando são Tiago, apóstolo, diz que a fé sem obras está morta, só isso já basta para provar que, ao contrário do que diz TB Joshua, a fé pode, sim, ser abstracta e não concreta. Se alguém somente tem fé e não tem os outros frutos do espírito como mencionados por são Paulo, apóstolo, em Gálatas, como amor, a paciência, a bondade, temperança, etc., é claro que sua fé é abstracta. Porém, se alguém acrescentar á sua fé a virtude e a virtude a temperança, etc., como ensina São Pedro, o apóstolo, sua fé é concreta porque está crescendo junto com outros frutos do espírito.

“A fé pode ser praticada”, diz TB Joshua. Ora, ela não somente pode ser praticada, experimentada, mas também teorizada especulativamente sem prática nenhuma mas apenas com as luzes naturais da razão, caso contrário, nós nem se quer teríamos o conceito dela.

Tratar a fé como objecto de prática, como objecto da nossa experiência significa tratá-la comutavelmente como algo sujeito a variações que hoje pode estar forte em você e amanha nem tanto. Daí a pergunta de Cristo aos seus discípulos no dia em que ele repreendeu o vento e o mar tempestuoso: “onde está a vossa fé”?

Antes que haja conhecimento da fé, a fé precisa estar em algum lugar e nós também precisamos estar nesse mesmo lugar. É essa presença mútua que é a origem do conhecimento. É a isso que se chama conhecimento por presença. A fé é um dos frutos do espírito. É aí onde ela está e é aí que nós temos que estar para que haja conhecimento da fé que é o princípio da certeza da fé.

Tratada comutavelmente, a fé como objecto da praticidade humana, objecto da nossa experiência, nunca pode ser verdadeira ou falsa mas apenas pode estar certa ou errada. Isso explica também porquê Cristo disse que naquele dia muitos lhe dirão: “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios? Em teu nome não fizemos muitos milagres e eu lhes reponderei (disse Cristo): apartai-vos de mim, vós, obradores da iniquidade”. Quer dizer, um indivíduo pode fazer milagres em nome de Cristo e ainda assim ir parar ao inferno por falsidade fidei.

Incomutavelmente, como objecto ideal, a fé só pode ser verdadeira ou falsa e não certa ou errada. A fé só pode ser verdadeira quando formalmente ela não padece de contradição lógica interna. Então, aqui temos o logos divino, o qual é Cristo, o logos encarnado como diz São João, apóstolo: “No princípio era o verbo”.

Infelizmente, já vi nesta vida muitos pregadores que expulsam demônios em nome de Jesus Cristo mas cuja fé está cheia de contradição lógica interna como é o caso daquele pastor que eu escrevi num outro artigo outro dia que pregou que dar o dízimo é o primeiro mandamento de Deus e outros tantos que pregam que o inferno não existe, que o tempo dos milagres, sonhos e visões beatíficas acabou e que o homem descende dos macacos e que, no final dos tempos, todo mundo será salvo, numa espécie  de apocatástase de Origines.

É claro que a fé de quem acredita nessas heresias é falsa. Enquanto isso, uma fé ser certa ou errada significa apenas que ela ainda não foi desmentida pelos factos porém, não ser desmentido pelos factos não é critério de veracidade mas sim o mesmo velho princípio de não falseabilidade de Karl Popper.

Quando um sacerdote expulsa os demônios, cura os enfermos, enfim, faz milagres no nome de Jesus, isso não prova que sua fé é verdadeira. Isso só prova que ela ainda não foi falseada. Uma fé pode ser praticamente certa e especulativamente falsa.

Um exemplo disso é que as pessoas que Cristo curou quando caminhou pela Galileia da Judeia, não foram curadas porque acreditaram que Jesus era o Messias mas apenas porque acreditaram que ele os podia curar uma vez que ele curou a outros. Tanto isso é verdade que quando Jesus disse: “antes que Abraão fosse, EU SOU”, sugerindo com isso que ele era Deus, os mesmos judeus que Jesus havia curado pegaram em pedras para apedrejá-lo.

A fé de um indivíduo pode nunca ser falseada nesta vida porque há fés, digamos assim, que somente serão falseadas no dia do juízo final como o próprio Cristo disse e fizemos questão de mencionar acima. Mais uma vez: se quisermos saber se uma fé é verdadeira ou falsa temos que examinar a coerência lógica interna das premissas que a fundam.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com 

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