sábado, 7 de janeiro de 2017

A moda da auto-ajuda


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O que chamamos de auto-ajuda é simplesmente uma ilusão de que a pessoa que lê esses livros vai se auto-ajudar quando, na realidade, ela estará apenas recebendo ajuda dos autores dos livros de auto-ajuda.

Não digo que esses livros não sejam úteis mas, o benefício que você recebe da leitura dos mesmos se dá apenas no plano noético e não no plano existencial.

 Um fenómeno que que se tornou dominante no mundo pós-moderno é a profusão dos livros ditos de auto-ajuda, o que, já em si, é uma contradição porque se fosse auto-ajuda, ninguém precisaria da ajuda do autor dos livros de auto-ajuda para se auto-ajudar. O que chamamos de auto-ajuda é simplesmente uma ilusão de que a pessoa que lê esses livros vai se auto-ajudar quando, na realidade, ela estará apenas recebendo ajuda dos autores dos livros de auto-ajuda.

Tal é a profusão de assuntos abordados nesses livros de auto-ajuda como sejam: como conquistar uma mulher? Como conseguir um bom emprego? Como se tornar um homem rico? Como aumentar a sua inteligência? Como vencer o seu medo? Como ter longevidade? Etc.

Não nego que as dicas constantes desses livros possam servir para alguma coisa e que haja pessoas que lendo esses livros de auto-ajuda tenham melhorado sua auto-estima, sua auto-imagem e que, até tenham melhorado seu padrão de vida e, assim por diante.

O problema com esses livros de auto-ajuda é que eles criam na mente das pessoas que os lêem a ilusão de que elas não precisam de ninguém para ajudá-las a vencer na vida, que elas só precisam de si próprias, o que é uma ideia errada até porque não conheço ninguém que tenha subido na vida sem ajuda de ninguém como querem fazer-nos acreditar esses livros de auto-ajuda. Esse indivíduo teria que ser um Jesus Cristo, o deus Apolo e, neste caso, sua vida seria um mito, uma verdade universal, supratemporal e definitiva.

Não nego que existam pessoas que são lendárias mas, mesmo quando você é lendário, você precisa de uma ajuda extra, aliás, uma lenda é aquele indivíduo para o qual os poderes dos deuses lhe são simpáticos porém, a maioria é mediana ou até mesmo está abaixo da média, todos uns fracassados, uns coitadinhos e, convenhamos, não dá para mudar um quadro de miséria tão abjecta como esse confiando apenas no seu pensamento positivo.

 Todos nós precisamos de ajuda e principalmente da ajuda de Deus e, pelo que tenho visto, os livros de auto-ajuda têm substituído, ou pretendem substituir os livros sagrados das mais diversas religiões como a Bíblia, o Corão e o Vedas. Pode parecer que eu esteja exagerando mas, deixem-me dar alguns exemplos para que vejam que não estou brincando.

Uma das técnicas de enriquecimento ensinadas nos livros de auto-ajuda é a visualização. Suponhamos que você quer um carro novo. Eles dizem que você deve recortar o poster de um carro numa revista que você sonha em ter e colar em frente da sua cama para que, quando você acordar, ele seja uma das primeiras coisas que você vai ver e, aí então, você fica a pensar naquele carro e, esse pensamento positivo vai fazer com que o universo conspire a seu favor e, assim, numa espécie de fiat lux, você vai conseguir o carro.

Ora, o que é isso a não ser procurar um sucedâneo para a oração e o jejum? E por incrível que pareça, nos últimos tempos, as pessoas têm tido mais fé no seu “pensamento positivo” do que em Deus porque se tivessem fé em Deus, elas se dedicariam a prática da oração e do jejum, ao invés de tentar mover montanhas com a força do pensamento.

 Outro exemplo: esses livros de auto-ajuda dizem que você deve se alimentar bem e praticar exercícios para ter uma boa saúde e viver muitos anos. O que é isso a não ser um substituto para o mandamento da Torá de honrar pai e mãe para que tudo te corra bem e vivas longamente sobre a terra?

O pior de tudo isso é que até nas igrejas, principalmente naquelas que endossam a teologia da prosperidade em toda linha já não mais se prega a bíblia mas sim livros de auto-ajuda do Dr. Lair Ribeiro e tutti quanti. O que é isso senão uma confusão entre psiquismo e espiritualidade?

Porém, não digo que esses livros não sejam úteis, até porque tudo que eles dizem, ou quase tudo, já está dado na bíblia com milénios de antecedência. Porém, o benefício que você recebe da leitura desses livros de auto-ajuda se dá apenas no plano noético, ou seja, no plano meramente cognitivo e não no plano existencial que só Deus lhe pode conceder por meio da efusão pneumática da iluminação divina em você, o que o transforma automaticamente naquilo que você conhece no plano existencial.

Nenhum livro de auto-ajuda pode fazer isso por mais que você os conheça de cor. Quando Aristóteles disse que a pessoa se transforma naquilo que ela conhece ou quando Schuon, no seu livro, “The Transcendental Unity of Religions”, usa a expressão “To be is to know”, isso só pode dar-se no plano existencial, que é o plano pneumático, o plano do espírito e não no do nous.

No plano noético, meramente cognitivo, você saber o que é preciso para se tornar num homem rico, saudável, etc., não o transforma existencialmente num homem rico, saudável, etc., mas apenas cognitivamente mas, ainda assim, isso vale o que vale, de vez que repete na escala cognitiva o que na escala existencial se dá de forma imensamente maior e perfeita. Foi por isso que eu disse que esses livros de auto-ajuda são um sucedâneo muito limitado das escrituras sagradas das religiões.


ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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