sábado, 14 de janeiro de 2017

Cultura e riqueza das nações

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Essa coisa de pensar que cultura é um adorno é totalmente errada.

 A cultura superior, longe de ser a pedra de coroa de uma sociedade doirada, ela é a sua pedra angular, o seu fundamento mesmo. 

Enriquecer sem que se tenha adquirido cultura, previamente, é construir um ídolo de pés de barro.

Não raras vezes, as pessoas com quem eu tenho conversado acerca da necessidade de adquirir cultura dizem que só podem fazê-lo depois de terem acumulado bastante dinheiro. By the way, se contentam com a mentira histriónica de que os europeus e norte-americanos são cultos porque já resolveram todos os seus problemas económicos, como se o dinheiro fosse um salvo-conduto para aquisição de cultura superior e não apenas dos seus objectos estereotipados como livros, quadros, etc.

Isso parece aquele gráfico das curvas da emissão de CO2 e do aumento da temperatura que Al-Gore tem usado para provar que o aumento do CO2 causa o aumento da temperatura, contudo, sabe-se que essa relação funcional está errada, ou seja, não é o aumento do CO2 que causa o aumento da temperatura mas, sim, o aumento da temperatura é que causa o aumento da emissão de CO2 pelo que continuar acreditando no contrário é prova de que o indivíduo para além de ser desonesto tem Q.I. 12.

Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado a relação funcional entre cultura superior e riqueza das nações. Por outras palavras, não é a riqueza que causa a cultura superior mas, sim, a cultura superior que causa a riqueza, se é que existe entre essas variáveis uma relação de causalidade e não apenas de anterioridade e posterioridade. De todo modo, a cultura superior precede a riqueza de uma nação e não o contrário como o atestam a história europeia inteira.

Mesmo na escala individual, não há nada que prova que um indivíduo se torna mais culto a proporção que ele vai adquirindo mais dinheiro. Há muitos indivíduos ricos neste mundo que não têm cultura nenhuma, ao passo que existem indivíduos que são pobres mas que, nem por isso, se privaram de adquirir cultura, antes pelo contrário, são indivíduos bastante livrescos.

Qualquer historiador sabe que a Europa antes de ter começado a ser uma potência económica, ela experimentou, não diria uma revolução cultural mas sim um avivamento, um despertamento cultural tremendo como em nenhuma outra parte do mundo. Mas aqui, em África, parece que queremos inventar a roda, primeiro queremos ser ricos para depois sermos inteligentes e honestos, enquanto os europeus, primeiro adquiriram inteligência e elevado grau de consciência moral para depois enriquecer.

Isso não se deu apenas na Europa cristã porque quando olhamos para a Grécia antiga encontramos o mesmo modelo. Veja, a Grécia em que nasce a filosofia como actividade auto-consciente com Sócrates não era aquela Grécia gloriosa dos tempos de Péricles mas, sim, uma Grécia acabada de sair da guerra do Peloponeso, em total desordem, miséria, enfim, em total esfrangalho. Do que se deduz que quem julga que vai adquirir cultura depois de enriquecer é porque acredita no quadrado redondo. É claro que isso é um auto-engano hipnótico. Isso nunca vai acontecer.

Essa coisa de pensar que a cultura é um adorno é totalmente errada. A cultura superior, longe de ser a pedra de coroa de uma sociedade doirada, ela é a sua pedra angular, o seu fundamento mesmo. Enriquecer sem que se tenha adquirido cultura, previamente, é construir um ídolo de pés de barro.

O mesmo vale para a democracia. Tentar democratizar uma nação cujo povo não se guia pela moral tradicional é se arrogar a um empreendimento totalmente inviável desde a base. Aliás, já dizia John Adams, o segundo presidente dos EUA, que a constituição norte-americana, i.e., a democracia, só funciona para um povo como o povo dos EUA, ou seja, funciona para um povo que se guia pela moral tradicional judaico-cristã. O facto de a democracia funcionar apenas naquelas regiões do mundo onde a civilização cristã penetrou profundamente como a Europa e principalmente os EUA é, disso, prova auto-evidente.

Desde a definição de Roger Scruton da alta cultura como “autoconsciência de um povo”, já se pode depreender que uma nação, i.e., uma unidade étnica e linguística, sem alta cultura, para começo de conversa, não sabe o que ela é e se não sabe o que ela é, também não sabe o que ela pode ser, ou seja, não conhece a sua própria essência ontológica como disse Hegel ao sentenciar que “a essência de uma coisa é aquilo em que ela se torna”, não antes depois de todo seu processo evolutivo em que as tentativas e os erros vão se sucedendo uns aos outros até àquela tensão insolúvel que traz à tona, no entrecruzamento das suas linhas auxiliares, a imagem nítida e final do objecto idealizado.

Deste modo, uma nação, assim, não tem consistência como nação e vive de simulação como um animal de estimação que vive apenas de impressões evanescentes do momento. Quando as coisas chegam a esse ponto, ninguém tem motivo para lutar contra as ameaças reais contra a autodeterminação daquela nação porque todo mundo está preocupado com sua própria algibeira, com seu próprio bolso.

Ora, está mais do que provado que, quer o desejo sexual, quer o desejo do dinheiro são desejos objectivamente egoístas. Um individuo que só está preocupado em adquirir dinheiro e prazer sexual é claro que ele nunca será um indivíduo generoso. Mas, quando um indivíduo adquire cultura, não como um capital que ele vai arriscar num empreendimento financeiro para obter um certo retorno financeiro mas como um guia para sua vida no meio da confusão em torno, não há dúvida de que ele vai se tornar um indivíduo melhor.

Não foi sem razão que Gyorgy Lukács disse que “a política é um meio, o fim é a cultura”. Ora, ele sabia, como escrevi outro dia, num artigo postado neste blog intitulado a falsa lógica do Dr. Lair Ribeiro, que quem controla a cultura é que detém o verdadeiro poder.

A cultura é tão fundamental que Marx o identificou com a superestrutura que, segundo ele mesmo, é, em última instância, determinada pela infra-estrutura, que ele dizia que era a base material ou económica de uma nação.

Em muitos artigos postados neste blog, eu expliquei que essa relação entre superestrutura e infra-estrutura existe, só que a direcção da causalidade não é essa que Marx acredita ser mas, sim, o contrário, ou seja, não é a infra-estrutura que determina a superestrutura mas, sim, a superestrutura que determina a infra-estrutura o que pode ser historicamente comprovado, mal-grado Marx não ter vivido o suficiente para ver com seus próprios olhos o fracasso dessa direcção causal como acabei de explicar.

Isso, mais uma vez, corrobora o que acabei de dizer: não é a economia que determina a cultura mas a cultura que determina a economia. Porém, os moçambicanos, em particular, e os africanos em geral, ainda estão adormecidos à sombra da bananeira do erro de Marx de que a infra-estrutura é que determina a superestrutura e, é, por isso que dizem que primeiro devem tratar da economia e enriquecer para depois adquirir cultura, o que é uma ilusão.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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