quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Guerra assimétrica

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O que os nossos analistas…devem aprender, de uma vez por todas, é que a cabeça de esquerdista não funciona como a cabeça de uma pessoa normal.
Nem a Renamo, nem o MDM,…, nem nenhum outro movimento tem a mais mínima chance de vencer a Frelimo nas eleições gerais nos próximos quarenta anos.
 O que tem acontecido neste país,…, é aquilo a que se chama guerra assimétrica em que um dos lados quer perder e o outro o ajuda a perder.

Há um ditado que diz que se o negro não caga no início, ele o faz no fim. Não é uma imagem muito bonita, porém, ela é profundamente verdadeira. O nosso presidente da república nem quis esperar para fazer a merda no fim e quis fazê-la, logo, no início, mergulhando o país numa crise político-militar que já ceifou muitas vidas e não contente com isso, no intuito paternal de tornar a festa ainda mais garrida defendeu com unhas e dentes as famigeradas dívidas ocultas do governo anterior, as quais ele tentou colocar por debaixo de panos quentes, tendo conseguido como troféu uma belíssima crise económica de fazer inveja ao Mr. Robert Mugabe.

Muitos analistas políticos da praça dizem que o sr. Nyusi teve azar porque se tornou presidente do país numa altura em que o preço das commodities no mercado internacional estavam despencando e numa altura também em que o país estava abraços com uma pesada seca que chegou a levar alguns compatriotas nossos a irem ver Deus antes da hora. Não sei se isso é ciência política tal como fundada por Platão e Aristóteles e muito bem encarnada por Voeglin ou se isso não passa de macumba vulgar incapaz de exorcisar um pobre mosquito. Os nossos experientíssimos analistas políticos que pontificam ex cátedra que o digam que eu cá vou tratando de por minha viola no saco porque já estou farto de tanta choldra. Apre!

Outros dizem que Nyusi não tem culpa nenhuma em tudo que está acontecendo no país, nomeadamente: crise político-militar e crise económica, porque ele herdou tudo isso do governo do Sr. Guebuza. Não é preciso ser um Cícero para perceber o absurdo dessa colocação mas “tudo vale a pena/quando a alma não é pequena”, já dizia o poeta lusitano, Fernando Pessoa, mas não a alma dos lambe-botas de carteirinha mas a do Sr. Presidente que disposta está a galardoar com cargos de direcção e outras benesses majestáticas pagos a peso de ouro com chorudas verbas estatais a pletora de bobos da corte acéfalos que infatigavelmente enchem o Sr. Presidente de salamaleques em meio a estereotipados Te Deum do capelão do diabo, não é verdade?

O que os proponentes dessa tese ignoram consciente ou inconscientemente é que quando você é herdeiro seja de um familiar, empresa, governo, etc., você herda não somente os activos mas também os passivos. Ora bolas, queriam esses analistas que Nyusi não herdasse nenhuma ignomínia mas apenas as glórias do governo pretérito? Isso me faz lembrar daquela história de Jó que depois de perder tudo: riquezas, servos, filhos e saúde; a mulher chega para ele e diz: amaldiçoa a esse teu Deus e morre, ao que Jó responde: falas como uma louca, mulher, havendo aceitado o bem de Deus não aceitaríamos também o mal? Esses fulanos são assim como a mulher de Jó, uma corja de loucos a mais não poder.

Last but not least, o Sr. Nyusi foi membro do governo anterior no qual ele exerceu o cargo de ministro da defesa do qual só abdicou quando nomeado candidato do partido Frelimo para as últimas eleições. Disso decorre que o Sr. Presidente não herdou senão a sua própria herança, a herança que ele mesmo ajudou a forjar. Não obstante, dizer que Nyusi herdou a crise militar é desinformação de fazer inveja a tão temida KGB porque quando Nyusi tomou posse como presidente da república, os srs. Guebuza e Dhlakama já haviam assinado o acordo de cessação das hostilidades sob os holofotes da mídia que é aquilo a que Edmund Burk chamava de o quarto poder.

É líquido e certo que quando Nyusi tomou posse e teve seu primeiro encontro com Dhlakama, saiu uma comitiva do partido Frelimo pelo país fora ou seja do Maputo ao Rovuma e do Zumbo ao índico como se diz, a desmentir alto e bom som os consensos que Nyusi e Dhlakama haviam alcançado. Nesse ínterim, todo mundo começou a cair de pau no partido Frelimo, dizendo que algumas pessoas não estavam a deixar Nyusi trabalhar e o primeiro a pagar o pato foi Guebuza que teve que abandonar, antes do tempo, o cargo de presidente do partido para ceder lugar ao presidente recém-eleito para que ele pudesse, então, como direi? "trabalhar" porque há muito que se ouvia as querelas deste no que tange a esse assunto.

Ora, tendo conseguido o que queria, i.e., um poder totalitário dentro do partido, Nyusi ainda continua a lamentar-se de que não estão a deixar que ele trabalhe até hoje. Um dos exemplos mais notáveis é que quando das incursões militares das forças de defesa e segurança na Serra da Gorongoza, Nyusi surgiu na mídia  a dizer que não dera ordem nenhuma malgrado ser ele o comandante em chefe das forças de defesa e segurança. Diante de mais essa querela, toda mídia e os analistas de plantão foram mais uma vez convocados para salvar a honra do presidente e fazer a caveira do Chipande, que bem se diga, não é nenhuma flor que se cheire.

Tudo isso é uma conjunção de mentiras urdidas no sentido de salvar as aparências. Sabemos que uma das pessoas que andou pelas províncias a desmentir os consensos alcançados entre Nyusi e Dhlakama quando do seu primeiro encontro como presidente da república com o líder da Renamo foi a sra. Conceita Sortane que muito recentemente, o próprio Nyusi, pelos bons serviços prestados, premiou com o cargo de ministro da Educação. Será que ele também foi forçado a fazer isso? Não será tudo isso um jogo de cena para ludibriar a massa de idiotas uteis como dizia Lenine?

Isso me faz lembrar o Führer que malgrado ter toda Alemanha de joelhos diante de si, se queixava constantemente de não estar a ser obedecido. E eu me pergunto, que poderes quer mais o sr. Nyusi que os que ele já tem? Veja, ele é presidente da república, presidente do partido Frelimo, Comandante em chefe das forças de defesa e segurança, magistrado número um da nação e este último, por si só, já viola o princípio da separação de poderes de Montesquieu com que tantos analistas enchem a boca para empatar certos dossiers a custa de muito sangue inocente. Porventura, quererá o Sr. Presidente acumular para além das funções que exerce ás do Papa, Imã Mádi, Dalai Lama e Aiatola para se fazer obedecer?

Não descarto a hipótese de que Nyusi não tenha poder real e efectivo mas apenas um poder nominal simbolizado pelo cargo que ele ocupa, mas também, como Já não sou um idiota, não descarto a hipótese de que isso tudo seja um jogo de cartas marcadas. E muito sinceramente, conhecendo um pouco a estrutura da mentalidade revolucionária, conforme ensinada pelo filósofo Olavo de Carvalho, eu prefiro ficar com essa segunda hipótese.

Tudo isso tem, na verdade, como objectivo lançar uma espiral de confusão geral dando impressão de que o partido Frelimo está dividido quando se trata apenas de uma divisão dialéctica de trabalho como na teoria das tesouras de Lenine de que o governo sairá cada vez mais fortalecido a custa de manchar a imagem do partido e quando as eleições chegarem a coisa vai mudar de figura, eles vão manchar a imagem do governo para salvar o partido. É a velha dialéctica marxista-leninista de novo e parece que o pessoal cá por estas bandas não aprende nunca e ainda fica com aquela conversa tosca de que o leão é manso.

Se Nyusi não tem nada a ver com as dívidas ocultas da MAMI, EMATUM, etc., alguém me diga, então, porquê é que ele ainda não exonerou o sr. Adriano Maleiane que foi ao parlamento e com aquele cinismo doentio de um mentiroso contumaz negou a existência das dívidas e ainda teve o despautério de dizer que não havia mal nenhum em dever e que o país devia continuar a dever, imaginem vocês por que motivos, “para não ser esquecido”- disse ele.

Ora, um indivíduo que não é capaz de pesar as suas próprias palavras antes de registá-las só mostra que nem se quer consegue apreender pelo menos imaginativamente o que ele está dizendo de modo a ser um pouco mais autêntico, antes pelo contrário, se compraz em ser um pau mandado tout court, um lambe-bota enrangé que raciocinando por slogans, topois, chavões e toda sorte de estereótipos, julga ter superado a lógica de Aristóteles. Porca miséria! É nisso que dá ler Keynes, Marx, Athusser, Derrida, Foucault e tutti quanti, a gente enlouquece.

O que os nossos analistas de meia tigela devem aprender, de uma vez por todas, é que a cabeça de esquerdista não funciona como a cabeça de uma pessoa normal. Proudhon falava de uma revolução ad aeterna. Ora, é claro que depois da destruição dos adversários exotérico, o esquerdismo se volta para dentro e começa a travar uma luta esotérica ferrenha contra os que fazem parte do seu círculo interno. Foi assim na URSS, na China, em Cuba, e é assim na Coreia do Norte. Quem não sabe que a coisa de que os comunistas mais gostam é a de matar comunista? Todo mundo sabe disso menos os nossos analistas políticos porque tem Q.I. 12.

Nem a Renamo, nem o MDM, nem a oposição construtiva, nem nenhum outro movimento tem a mais mínima chance de vencer a Frelimo nas eleições gerais nos próximos quarenta anos. O que tem acontecido neste país, mormente, no presente governo liderado pelo sr. Nyusi é aquilo a que se chama guerra assimétrica em que as disputas acontecem em planos diferentes e em que um dos lados quer perder e o outro o ajuda a perder.

Quando Dhlakama, Daviz Simango e outros políticos dizem que a culpa do que está acontecendo no país não é do Nyusi, nem da Frelimo, mas dos radicais da Frelimo, o que eles estão fazendo senão entrar na camisa de força da própria Frelimo e fazerem guerra assimétrica da qual vão sair derrotados com 100 por cento de chance de acerto? O que é isso senão negar a causa para reforçar o efeito? Parece que ninguém quer aprender aquele velho princípio de Sun Tzu: “conheça a ti mesmo e conheça o teu inimigo” porque sendo darwinistas, acham que na política tudo acontece por acaso. Estão a espera de um novo Big Bang que evoluirá para um novo estado de ordem e beleza políticos em Moçambique e nem atinam com a sentença de Franklin Roosevelt de que “na política nada acontece por acaso”.

Esse ar de polidez impoluta da oposição lhe vai sair muito caro se ela espera que a Frelimo vai tratá-la com o mesmo decoro ou no mesmo tom pacífico e até mesmo doentio de quem não podendo vencer seu adversário resignou-se a aderir ao mesmo, não na esperança maquiavélica de ludibriá-lo, envenená-lo, mas, sim, na expectativa erótica de revelar sua própria identidade masoquista de partido sem nenhuma perspectiva de poder.

O que eles, como barata tonta, não sabem é que estão tecendo a corda com que a Frelimo irá enforcá-los em praça pública nas próximas eleições. Não sei se o que a oposição sente pela Frelimo é ódio ou raiva ou se as duas coisas em simultâneo, mas seja como for, a coisa não faz a mais mínima diferença porque é tudo a mesma emoção como disse Sto. Tomás de Aquino, ou seja, quando o inimigo é maior que você, você fica com medo, quando ele é menor, você fica com raiva. Em todos os casos, a coisa dói no seu cú.

Há um mestre de artes marciais que disse que quando você começa a bater, você não deve parar de fazê-lo. A oposição bateu tanto em Nyusi que já começou a ficar com tanta pena dele que agora é a primeira a pedir batatinhas para o sr. Presidente, provando o que eu sempre disse, ou seja, que a nossa oposição não tem perspectiva de poder e se sente confortável em permanecer ad aeterno na oposição como uma oposição biónica porque não entende nada de luta política, nem mesmo de briga doméstica ou briga de cães vadios na rua, quer dizer, nem para resolver esses conflitos banais eles estão habilitados porque são prometeus e, não percebem que com essa atitude de saco de pancada tudo que eles vão conseguir é ser parte do problema em vez de a sua solução.

A Frelimo ficou muito agressiva, muito violenta nos últimos anos. É claro que isso faz parte do seu ADN e do de qualquer partido que se tenha originado de um movimento revolucionário. Porém, essa agressividade se tornou mais agressiva por causa do medo que como uma camisa de força deixou imobilizada a oposição. Já dizia Donald Rumsfeld, antigo secretário de estado dos EUA no primeiro governo de George W. Bush que a fraqueza atrai a agressividade e a maior fraqueza da oposição neste país é que ela não tem nenhuma perspectiva de poder, aliás, ela confunde, como já escrevi outro dia, poder com cargos electivos, razão pela qual não tem uma massa de militantes que a obedeça e que esteja disposta a morrer por ela se for preciso. Eles só têm eleitores, os quais surgem muito invariavelmente de cinco em cinco anos dando urros a esmo como Orangotangos em véspera de caça.

A oposição, neste país, é uma cabeça sem corpo. Ora, se ela não sabe o que é um movimento político que pelo menos aprenda isso com Calvino, o reformador suíço, ou ainda com a própria Frelimo porque ela, pelo menos o mérito de saber fazer isso, ela o tem porque diferentemente da oposição que tem uma visão curta e muito curta das coisas e que só pensa em ganhar as próximas eleições, a Frelimo como qualquer outro partido com tradição revolucionária pensa em termos de longo prazo, em como vai transformar o partido numa força omnipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino de modo que todos se tornem partidários da causa daquele partido sem saberem e aí fica tudo para eles e quem ousar contestar vai para o Gulag, Auschwitz, Tereblinka ou El paredon para aprender o que é bom para a tosse.

Só para terminar, não é demais relembrar pela milésima vez a sentença do general romeno Ion Mihai Pacepa de que quanto mais você se prosterna ante um tirano mais ele o odeia. É claro que vivemos sob a tirania do partido-estado ou ainda do partido que está acima do próprio estado. Isso não significa que se você cuspir na cara do tirano e mandá-lo tomar no cú ele lhe vai devotar qualquer sentimento de amor. De modo algum.

Mas há uma boa coisa que vai acontecer aí, e esta é que ele vai ficar com tanta raiva que da profundeza da sua histeria ele vai graduar o seu tamanho em função da raiva que ele tem e aí você vai adquirir, pelo menos imaginariamente na cabeça do tirano, as dimensões de um dinossauro, um dragão, sei lá, e a sua raiva sofrerá uma metamorfose kafkiana, se transformando em medo.

E não é para menos porque já diz o ditado que quem tem cú tem medo e os tiranos mais ainda porque nunca fazem sozinhos a protecção do seu próprio cú porque têm a mídia inteira, a classe académica inteira, para fazer isso por eles como o fizeram para com Obama em que alguns até preferiam matar a mãe a sucumbir ante a tentação direitista, vejam só, de que a certidão de nascimento de Obama era falsa como aventado pela enfermeira Debbie Schussel e que ele era um comunista treinado pelo Frank Marshall Davis, seu pai politico e que sua avó materna disse ter assistido o parto de Obama em Mombaça, Quénia e, que, portanto, ele não era um birther.

Essas coisas todas referentes a Obama nunca foram uma conjectura mas factos que já bradavam aos céus antes mesmo de o queridinho da CNN, New York Time, George Soros, Rockfeller, CFR, Trilateral, ONU, and so on, chegar ao posto mais alto da nação americana e o mesmo pode dizer-se dos factos atinentes ao sr. Nyusi que longe de ser um anjo de caridade e um poço de candura é ele mesmo o inverso do papel que representa. Já diz o ditado que se você quer saber quem é alguém de verdade, dê-lhe poder. Deu-se o poder ao Sr. Nyusi e foi o abre-te Sésamo.
***
Já dizia Sto. Tomás de Aquino que a verdade é a filha do tempo. É claro que ele se refere aqui a aquelas verdades particulares e concretas, mas, se nem isso, tivermos, não poderemos ter coisa alguma. Essa verdade vai aparecer, mais dia, menos dia, não importa quantas estórias da carochinha são narradas para ocultar sobre milhares de camadas de disfarce as verdades históricas do nosso tempo mas, para isso, as pessoas devem mudar os seus olhos e aprender a dizer as coisas como elas as estão vendo e não como o governo, a mídia high brow ou a intelligentsia académica diz que elas devem ver. Isso é aquela velha lição de Cristo de que se os seus olhos lhe escandalizam, jogue-o fora ou como a boutade de Grouxo Marx: “você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos”?

Essa mudança de olhos só ocorre quando as pessoas perdem a ilusão sobre essa vida, a ilusão prometéica de transformar o mundo a sua própria imagem e semelhança, e voltam-se para dentro de si mesmas e começam a buscar a verdade. Primeiro, a verdade sobre elas mesmas e depois sobre o mundo em que se encontram não como um dasein heideggeriano, o que só serve para lançar uma cortina de fumaça e induzir as pessoas em erro como um cego que guia outro cego, levando-as a pensar que Deus é um demiurgo mau e a humanidade, um projecto inviável.

É claro que quem acreditar nessa “seca olaia do seco cantor da Primavera” para usar a expressão de Eça de Queirós, acabará dando um tiro na própria cabeça como o fez o filósofo pedófilo, Jean Paul Sartre, porque ele não encontrou aquilo que Victor Frankl chamou de sentido da vida. Olhe que Frankl passou por uma experiência que Sartre nunca teve nem se quer em seus piores pesadelos de pedófilo. Frankl sobreviveu a um campo de concentração nazi, o que não é pouca merda.

A ideia de Freud de que o homem quando submetido a condições de existência extremamente hostis se transforma no seu contrário, no que de pior ele pode ser, não é totalmente verdade: alguns se estragam mas outros, nem tanto. É por isso que eu não acredito que a pobreza faz com que as pessoas se tornem criminosas, antes, porém, acredito que o crime torna as pessoas pobres. Se alguém tem sentido de vida, se alguém encontrou um sentido de vida para a sua vida, ele sobreviverá as experiências mais atemorizantes, mais abissais possíveis, sempre.

Algumas pessoas pensam que o sentido da vida está na economia como os marxistas. Os sexistas pensam que o sentido da vida está no sexo. Os gays pensam que está no cú. Os físicos pensam que o sentido da vida está numa partícula da matéria que eles ainda não sabem bem o que é. Os biólogos pensam que o sentido da vida está na evolução de Darwin.

Tudo isso é muito pueril. Nenhuma dessas coisas acima mencionadas pode ser o sentido da vida, pelo menos o seu sentido último, mas apenas um sentido provisório, epocal, e não um sentido universal e abstracto que por ser sentido último é supratemporal, supralocal, enfim, supra-histórico, o qual só pode ser acima de toda e qualquer discussão, um sentido metafísico.

Quer dizer, o sentido da vida é a meta-vida, uma vida que transcende as possibilidades da vida mineral, vegetal, animal e hominal, abarcando-as e subordinando-as infinitamente. Malgrado o sentido desta vida estar na outra vida, podemos ter um vislumbre dele ainda nesta vida por meio da caridade como muito bem dito pelo filósofo neo-escolástico Jacques Maritain.

É isso que temos que buscar ardentemente. Na verdade, como muito bem registado por Leonardo Padura no seu romance “El hombre que amaba a los perros”, toda ânsia de omnipotência e desejo de transcendência histórica não são nada quando comparados com a simples caridade de dar aos outros não o que sobra, nem o que é dos outros, mas o pouco que temos.

Comparado com isso, tudo o resto é vazio. Não obstante, corremos o risco de enlouquecer porque quem não tem a eternidade da sua alma como espelho é claro que é um homem sem profundidade, por isso quando ele abre a boca para falar suas palavras não saem com força interior, elas não tem peso, elas são apenas inúteis bolhas de sabão, um flatus vocis, porque aquela pessoa não tem vida interior nenhuma e é por não tê-la que ele se arroga a missão messiânica de transformar o mundo e nem sabe que já está no inferno como disse a filósofa Simone Weil que “estar no inferno significa o indivíduo acreditar, por engano, que está no paraíso” (sic).

Tudo isso é de uma “estupidez criminosa” atroz para usar a expressão de Voeglin, própria de um tempo histórico dominado por homens sem qualidades como diria Robert Musil. Na verdade, homens sem qualidades como Hitler, Stalin, Mao, Pol pot, e tutti quanti que tomaram o poder nos seus próprios países, só o fizeram por serem mais loucos que os outros num tempo de loucura generalizada, em que os países mais lembravam o hospício do dr. Mabuze de Fritz Langer do que o maravilhoso mundo novo de Aldous Huxley, aliás, o que ando eu para aqui a dizer? Não é, porventura, o maravilhoso mundo novo de Huxley, o próprio hospício do dr. Mabuze, no final das contas?

Hitler, Stalin, Mao, etc., não teriam metade do poder que tiveram sem o colaboracionismo dos “intelectuais orgânicos” como diria Gramsci que os carregaram no colo até posto tão sublimado e justificaram os delírios daqueles psicopatas com as mais mirabolantes das teorias políticas, económicas, sociais, biológicas, etc., como o fizeram Werner Sombart, Martin Heidegger, Joseph Goebels, Willi Muzemberg, Gyorgy Lukács e toda escola de Frankfurt, Karl Radec e até homens ligados ao mundo da “cultura” como o tão incensado Bertolt Bretch.

Na verdade, imaginar que aqueles psicopatas chegariam ao poder sem os bons serviços prestados pela intelligentsia universitária e os potentados da mídia, para por as coisas debaixo de panos quentes, é impossível. Já dizia Gyorgy Lukács, ele mesmo um desses intelectuais orgânicos, que “a política é um meio, o fim é a cultura”. Tão verdadeiro isso é que podemos fechar o silogismo com a conclusão gramsciana de que quem controla a cultura controla a política.

Uma das provas do que estou dizendo é que a KGB que, para além da desinformação e espionagem, se notabilizou pela assombrosa revolução cultural que ela levou a cabo não apenas na URSS mas em todo mundo, incluindo os próprios EUA através da escola de roteiristas de John Howard Lawson que eles usaram para fazer penetração cultural nos EUA, introduzindo nos filmes, de forma discreta, conteúdos marxistas, sem que ninguém disso se apercebesse(?), quer pela afectação de superioridade e inatingibilidade, quer porque “todo mundo” já estava pensando como comunista, tendo o comunismo não apenas se imposto como padrão de pensamento e de conduta politicamente correctos mas, chegando ao ponto de se transformar numa espécie de segunda natureza do povo americano, o que deu origem aos Saul Alinsky, Frank Marshall Davis, o casal Rosemberg, os Clintons, Jane Fonda, John Kerry, Obama e tutti quanti.

Não se pode dizer que ninguém percebeu a onda da penetração comunista nos EUA. Há um que percebeu, o senador Joe Macarthy, mas acusado falsamente, maliciosamente, mal intencionadamente de estar enxergando comunistas debaixo da cama, acabou caindo em desgraça e, hoje, o macarthismo virou sinónimo de caça as bruxas. Contudo, abertos os arquivos de Moscovo, não é que o Macarthy estava montado na razão! Pior ainda, ele havia falado em quase 40 riscos de segurança, hoje sabe-se que eram mais de 300. Pois é! As vezes, sinto-me tentado a fazer de Sto. Tomás de Aquino e acreditar que a verdade é filha do tempo. Pena o Macarthy não estar vivo!

ESCRITO POR XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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