O objectivo da aquisição
de cultura não é o exibicionismo barato, o pedantismo ou o show-business. Longe
disso, a aquisição de cultura visa a formação da personalidade do indivíduo,
caso contrário, não importa quantos livros de história, filosofia, religião,
poesia, etc., o indivíduo leia, ele será apenas um diletante para usar o vocabulário
de Ortega y Gasset, um individuo que está apenas se divertindo com os livros mas
que nunca chegará a ser um homem eticamente maduro, um spoudaios como o chamou Aristóteles.
Em Moçambique, cultura é marrabenta, capulana, matapa,
enquanto na europa ocidental e nos EUA, cultura é se expressar correctamente na
sua língua, quer em termos orais, quer em termos escritos e ser senhor e
possuidor de um vasto saber não especializado.
Ora, essa coisa de confundir cultura com diversão, com
entretenimento, é um fenômeno conhecido apenas em países culturalmente
subdesenvolvidos. Uma cultura subdesenvolvida é aquela que vive de importação
como disse Olavo de Carvalho e, num país assim, a alta cultura é uma
impossibilidade pura e simples, é um quadrado redondo.
É deprimente ver como neste país não se pode conversar de
igual para igual com um médico acerca de literatura de ficção; não se pode
conversar de igual para igual com um economista acerca de religião comparada; não
se pode conversar de igual para igual com um engenheiro acerca da filosofia escolástica; não
se pode conversar de igual para igual com um sociólogo acerca da poesia grega e assim por diante.
Uma das perguntas mais frequentes que as pessoas sempre me
fazem ao me saberem leitor de livros de filosofia, política, religião,
literatura de ficção, etc., é sobre a utilidade de todas essas leituras ou o
que é que elas têm a ver com a minha formação enquanto economista. O que mais
me deixa triste é que essas perguntas não vêem da massa popular não instruída mas
de indivíduos com formação universitária. É bastante lamentável ter que
explicar para essas pessoas que não se adquire cultura por causa do que faremos
com ela mas por causa do que a cultura fará connosco.
Num artigo publicado neste blog no ano passado, eu escrevi que os moçambicanos são muito
dinheirista, que eles só acreditam na força do dinheiro, sendo assim, eles
medem tudo em termos de dinheiro. Ora, essa visão dinheirista da realidade,
essa visão economicista da realidade, por assim dizer, é a prova insofismável
daquilo que eu venho dizendo sobre os danos causados a este país em decorrência
do marxismo cultural imposto massivamente aos moçambicanos nos anos de chumbo.
Por outras palavras, segundo os moçambicanos, salvo
raríssimas excepções, você só deve ler um livro de Shakespeare, Dostoievisky,
Stendal ou escutar uma cantata de Bach, Paganini, ou ainda contemplar uma
pintura de Velasquez, da Vinci, etc., se isso lhe der dinheiro, caso contrário,
você é tido por bobo risível e o desprezo que os estudantes das ciências naturais
mostram pelas humanas é disso prova insofismável.
É interessante notar que antes do século XX, os homens de ciência
eram versados em filosofia e teologia e não apenas em ciências naturais. Tal
foi o caso de Leibniz. Euler, o matemático, foi assim. Maxwell tinha interesse
em teologia, Newton também o tinha e tive a oportunidade de ler um livro seu
publicado a título póstumo, um “comentário de Daniel e Apocalipse” e assim por
diante.
A ruptura da ciência com a filosofia e a teologia está na
origem dos grandes erros científicos dos últimos 3 séculos como evolucionismo
de Darwin, genes egoísta de Dawkin, Partícula de Deus e assim por diante. De facto,
temos assistido a uma constante repetição de velhos erros que já foram
refutados a milênios por Platão e Aristóteles e pela escolástica.
O culto da ciência como um campo de fenômenos
hermeticamente fechado está na origem da “crise do mundo moderno” que está
ligado a incapacidade de a ciência moderna compreender o homem como diz René
Guenon. Essa incapacidade resulta da ruptura com a tradição no sentido mais
restrito e da ruptura com a cultura no sentido mais elástico do termo mas, não a
cultura popular, a cultura do homem-massa que se guia pelo espírito de rebanho
mas a alta cultura literária, a erudição filosófica, enfim, a autoconsciência
de um povo como a chamou Roger Scruton.
Infelizmente, neste país, cultura é um adorno, um apêndice
a que as pessoas recorrem para participar de concursos televisivos, disputando prêmios
que só servem para encher o ego de uns quantos imbecis ao invés de despertar
nas pessoas a consciência dos valores em torno do qual o povo constrói o seu imaginário
colectivo.
Na verdade, o que vemos nesses programas televisivos nem se
quer chega a ser cultura mas um simulacro de cultura, um pedantismo.
Ora, o objectivo
da aquisição de cultura não é o exibicionismo barato, o pedantismo ou o show-business, longe disso, a aquisição de
cultura visa a formação da personalidade do indivíduo, caso contrário, não importa
quantos livros de história, filosofia, religião, poesia, etc., o indivíduo leia,
ele será apenas um diletante para usar o vocabulário de Ortega y Gasset, um
individuo que está apenas se divertindo mas que nunca chegará a ser um homem
eticamente maduro, um spoudaios como o
chamou Aristóteles.
ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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