Ora, sendo a escassez
uma negação, e a necessidade a negação dessa negação, sucede que essa
impossibilidade que atende pelo nome de escassez, na verdade, não reside nem nos
bens e serviços, nem na necessidade, mas, sim, no comportamento dos próprios agentes
económicos.
A ciência económica divide-se em dois ramos: microeconomia
e macroeconomia. Quer um, quer outro, estuda o comportamento dos agentes
económicos, se diferenciando apenas em que um toma os agentes económicos
individualmente e, este é o caso da microeconomia, que estuda o comportamento
do consumidor e do produtor e, o outro toma os agentes económicos de forma
agregada e, este é a macroeconomia que estuda o comportamento do estado.
De acordo com a escola behaviorista de John Bordaus
Watson, comportamento é uma reacção à acção da natureza ou das circunstâncias
que nos cerceiam. Ora, em economia, a circunstância que nos cerca é a escassez
que o economista português João César Neves definiu como “a impossibilidade dos
bens e serviços satisfazerem todas as necessidades” (sic).
Ensina-se em economia que isso acontece porque as
necessidades económicas são ilimitadas no sentido de que a satisfação de uma cria
outra, porém, ao mesmo tempo ensina-se que as necessidades económicas são
ilimitadas porque os recursos são escassos.
Esse raciocínio tautológico acontece porque a escassez e a
necessidade são em essência a mesma realidade e não realidades distintas tal
como acontece com aquela coisa do ovo e da galinha, em que a galinha é aquilo
em que o ovo se torna, sendo sua essência, de acordo com a sentença de Hegel de
que “a essência de alguma coisa é aquilo em que ela se torna” (sic).
De modo que, eliminada a escassez, elimina-se a
necessidade e eliminada a necessidade, elimina-se a escassez.
Já vimos o conceito de escassez do economista J.C.Neves da
escassez como impossibilidade de satisfazer todas a necessidades mas, onde é
que reside essa impossibilidade, nos bens e serviços ou na necessidade que, por
sua vez, como disse o filósofo Mário Ferreira dos Santos ”é a impossibilidade
da não possibilidade”, i.e., a negação do não?
Ora, sendo a escassez uma negação, e a necessidade a
negação dessa negação, sucede que essa impossibilidade que atende pelo nome de
escassez, na verdade, não reside nem nos bens e serviços, nem na necessidade,
mas, sim, no comportamento dos próprios agentes económicos.
Qualquer possibilidade ou impossibilidade, quer parcial,
quer total, simplesmente reflecte um conjunto de relações matemáticas válidas
ou inválidas, as quais pré-existem a existência dos bens e serviços e das
próprias necessidades que demandam sua produção e oferta, caso contrário, não é
necessidade, daquilo que é necessário porque aquilo que é necessário precede,
por definição, a aquilo que é contingente como os bens e serviços.
Contudo, nem a microeconomia, nem a macroeconomia se
definem por estudar a escassez mas sim o comportamento dos agentes económicos
como já dissemos no princípio, o que, por si só, já sugere que o assunto da
escassez, ou seja, da impossibilidade como estamos a tratar aqui, é um assunto
do fórum do comportamento dos agentes económicos, ou seja, é um assunto de
maximização e minimização.
Na verdade, no final do dia, toda economia se reduz a
psicologia do consumidor, dos investidores, do governo e do resto do mundo. Ou
seja, de alguma forma, um economista é um psicólogo. Deste modo, ele tem que
saber como um agente económico normal se comporta para que, na eventualidade
deste estar a comportar-se de modo inadequado, ele possa ajudá-lo a corrigir
esse comportamento.
Comportar-se de modo adequado, em economia, significa
comportar-se de modo racional. Ora, a racionalidade económica consiste em
minimizar os custos e maximizar os ganhos, sejam estes o excedente do
consumidor, o excedente do produtor ou o excedente total. De modo que, qualquer
agente económico que não se comporte nesse sentido, estará fora do universo
da racionalidade económica.
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