quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Amor e sexo no império da metonímia

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Em parte, o amor é instrumento do sexo mas, de uma forma geral, ele é autónomo, abarcando e subordinando toda vida sexual do individuo, ou seja, o amor transcende infinitamente a vida sexual e não podia ser de outro modo, sendo o amor doação de si mesmo como disse Camões naquele célebre verso: “transforma-se o amado na coisa amada”, ao passo que o desejo sexual em si mesmo é egoísta e se esgota no orgasmo.

Eric Voeglin dizia que uma das marcas mais substantivas do homem moderno é o seu pensamento ferozmente metonímico, no qual, o agente é tomado pelo instrumento e o instrumento pelo agente, a causa é tomada pelo efeito e o efeito pela causa e, assim por diante.

Um dos meios onde a metonímia funciona como uma segunda natureza é o campo da sexologia e, num artigo publicado neste blog em 2016 acerca do homossexualismo, eu já havia chamado atenção a respeito disso, mormente no que tange a aquilo que os sexólogos chamam de sexo anal e sexo oral.

Naquele artigo, eu havia demonstrado por A+B que não pode haver relação sexual entre uma coisa que é sexo e uma outra que não o é, assim como não é possível que um ser humano tenha uma relação humana com uma mesa ou com um automóvel. Só há relação humana possível entre seres humanos e há relação sexual entre sexos e não entre sexo e cú, ou entre sexo e boca, o que, no final das contas, se trata apenas de mera figura de linguagem, uma metonímia.

Uma outra confusão que surge no campo da sexologia é chamar a relação sexual de amor. Ora, o amor em si mesmo independe do sexo. Ele é anterior ao sexo e, quando o sexo acaba, ou seja, quando a vida sexual activa chega ao seu fim por questões ligadas a perda da líbido como consequência da velhice, o amor continua lá, ele sobrevive a destruição da vida sexual, ou então não é amor coisa nenhuma mas um mero simulacro de amor.

Confundir amor com sexo é o mesmo que confundir comida com cardápio. Em parte, o amor é instrumento do sexo mas, de uma forma geral, ele é autónomo, abarcando e subordinando toda vida sexual do individuo, ou seja, o amor transcende infinitamente a vida sexual e não podia ser de outro modo, sendo o amor doação de si mesmo como disse Camões naquele célebre verso: “transforma-se o amado na coisa amada”, ao passo que o desejo sexual em si mesmo é egoísta e se esgota no orgasmo.

Essa confusão entre amor e sexo cria nas pessoas a ilusão de que quando o sexo acaba é isto um sinal evidente de que o amor acabou, o que é um erro pueril. Ora, sendo o sexo apenas um símbolo do amor, de algo mais abrangente como o amor, quando ele acaba sucede com o amor o que sucede com qualquer coisa que se esconde por detrás de um símbolo, ou seja, ele se torna muito mais poderoso porque ele se torna invisível e, já dizia René Guenón que “o segredo é da natureza mesmo do poder” porque quando um poder se torna invisível ele passa a estar disseminado e perde sua vulnerabilidade, é aquela máxima do investimento de nunca colocar todos os ovos no mesmo cesto.

Quando o sexo como símbolo do amor é superado e só se supera o que se substitui como dizia Nietzsche, o amor se torna num “poder omnipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino” (sic), só para usar as palavras de Gramsci, somente chegado a esse ponto é que o individuo vai entender o que é contemplação amorosa, a qual requer apenas a presença humana ad eternum do ser amado, daí Sto. Agostinho dizer que “o amor é o desejo de eternidade do ser amado”. Agora, a simultaneidade da eternidade é incompatível com a própria ideia de sucessão inerente a vida sexual e acontece que o amor só pode ser concebido in totum.

Sendo o sexo um símbolo e sabendo-se que um símbolo não vale por si mesmo mas por aquilo que ele representa ou aquilo para o que ele aponta dentro da estrutura da realidade, tão logo ele é esvaziado do seu conteúdo místico, teológico, filosófico, científico, psíquico, etc., perde seu axio como símbolo se tornando num mero flatus vocis, um mundo feito apenas de palavras que em si nada significam senão isso mesmo, palavras que se alimentam de si mesmo num tresloucado prazer autofágico.

Ora, se as pessoas não estão vivendo no mundo da realidade, onde é que elas estão vivendo? Elas só podem estar vivendo naquilo que Robert Musil chamou de segunda realidade, que é uma realidade feita só de palavras e nada mais. Diante disso, era inexorável que o homem moderno sucumbisse aos encantos da filosofia moderna como a filosofia analítica de Wittgestein, Herder, etc., o desconstrucionismo de Jacques Derrida e assim por diante e, se tornasse nesse homem sem qualidade, como dizia Musil, em que ele se tornou, um verdadeiro homem do pântano que só pensa em dar o cú, xupar piroca, fumar cannabis enquanto lê o manifesto comunista de 1848 de Marx & Engels e, vai proferindo mil e um impropérios contra o capitalismo ocidental e a moral judaico-cristã em nome de seus direitos sexuais, pensando ser isto um ersatz, o suprassumo do amor humano.

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Quando um homem estupra uma mulher, é isso amor? Quando um pai de família abusa sexualmente da sua filha, é isso amor? Quando um homem paga uma prostituta para que tenha relação sexual com ela, é isto amor? Quando um pedófilo abusa de uma criança, é isso amor?

Não pode ser!

De duas, uma: ou as pessoas não sabem o que é amor, ou elas sofrem de uma insanável paralaxe cognitiva que suplanta as técnicas terapêuticas do Dr. Reuven Feurestein (tertium non datur), um génio da psicologia, porque a confusão entre sexo e amor mostra de per si um deslocamento abismal do eixo da elaboração conceitual do individuo em relação ao eixo da sua experiência real. Quer dizer, a mente do individuo vai para um lado e as suas acções reais vão para o outro e não há aquela síntese intermediária, o individuo simplesmente não sabe pensar e quando isso acontece, por mais que o individuo seja de inteligência superior, isso só mostra que ele já neurotizou, que ele já sucumbiu a técnica da mentira reiterada de Joseph Goebells, um psicopata de marca que com sua propaganda nazista ajudou a matar cerca de 6.000.000 de judeus.

Os sexólogos esvaziaram o amor de todo seu conteúdo metafísico para fechá-lo hermeticamente na redoma do meramente fisiológico, reduzindo o amor a troca de fluidos sexuais. Ora, chamar a isso de charlatanismo barato e histriónico chega a ser um eufemismo e um acto de candura paternal a mais não poder.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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