sábado, 14 de janeiro de 2017

Debate político em Moçambique

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Só há uma verdadeira busca da verdade e da sabedoria com recurso a luz natural da nossa razão quando o discurso usado sofre, por assim dizer, uma metanóia, uma transfiguração, de um discurso poético e retórico para um discurso dialéctico, o qual é, propriamente, o discurso filosófico e deste para o discurso analítico ou lógico.

O debate, em Moçambique, que, na verdade, não passa de um diálogo fraterno entre o “amém” e o “sim senhor”, se resume a mera “expressão de impressões”, só para usar o vocabulário de Croce, em que cada um porfia por ganhar do seu adversário recorrendo a uma dose cada vez maior daquela “passionate intensity” do “worst” de que falou William Butler Yeats.

 O discurso dominante, no nosso debate público, é essencialmente poético e retórico. O poético tem sido usado para expressar as impressões dos debatedores como já disse há pouco. O retórico visa a convencer, não ao oponente no debate de ideias mas, à plateia, para uma determinada acção cujo fim é sempre de ordem política, o que, no final das contas, nada mais é do que acumular poder nas mãos do grupo representado pelo debatedor.

Não há um verdadeiro interesse pela verdade e pela sabedoria nos debates televisivos que temos visto neste país, se resumindo, o interesse dos debatedores ao mero sonho provinciano de dar boa impressão com o objectivo, naturalmente, de camuflar ou até mesmo falsificar sua verdadeira identidade.

Só há uma verdadeira busca da verdade e da sabedoria com recurso a luz natural da nossa razão quando o discurso usado sofre, por assim dizer, uma metanóia, uma transfiguração, de um discurso poético e retórico para um discurso dialéctico, o qual é, propriamente, o discurso filosófico e deste para o discurso analítico ou lógico.

Acontece que, neste país, ninguém quer fazer nenhum esforço dialéctico e muito menos analítico ou lógico. Todo mundo só está interessado em exprimir sua emoção como se isso fosse um dogma do evangelho ou a última novidade das ciências. É claro que isso não é debate coisa nenhuma mas, sim, uma empulhação tout court.

O debate exige que os debatedores tenham domínio da matéria que eles vão debater. Outro requisito é que o debate exige que os debatedores sejam honestos. Aliás, já dizia Aristóteles que não se deve debater com quem não é honesto, ou seja, com quem não está interessado em buscar a verdade.

A fórmula da honestidade intelectual dada pelo filósofo Olavo de Carvalho é muito clara quanto a isso, a saber: “não dizer que você sabe o que não sabe e não dizer que você não sabe o que você sabe perfeitamente bem”. Porém, acontece que, neste país, parece que as pessoas inverteram essa fórmula, i.e., quanto mais um indivíduo ignora um assunto, mais parece que sua autoridade para falar do assunto adquire proporções aristotélicas.

 Quando alguém vai a um debate televisivo e opina acerca da tensão político-militar e começa a dizer que o grupo A é culpado e o grupo B não é culpado ou que isso não é bom ou que isso é mau, faz-me chorar, evidentemente.

Quando alguém vai a televisão e perguntado sobre qual é a solução para o problema económico do país, logo tira da cartola o coelho mágico da agricultura, dizendo que é preciso potenciar a agricultura. Faz-me rir.

Quando alguém vai a televisão e diz que a solução para o problema da criminalidade no país é a denúncia popular, isso faz-me ficar estupefacto.

Eu poderia citar uma série de exemplos que atestam a superficialidade dos nossos debatedores. Quer dizer, as pessoas não vão ao debate porque têm conhecimento mas, sim, porque amam ser vistas e ser aplaudidas, enfim, elas amam a publicidade, o que é um atestado de superficialidade mental.

O nível calamitoso desses debates mostra que o nível de cultura literária desses debatedores é zero e que a sua única fonte de informação é o jornal e a televisão. Quer dizer, estamos perante um ritual autofágico de mentalidades provincianas que acham que sua pequenez é a medida de todas as coisas e é a isso que se chama um idiota de idios que, em grego, quer dizer o mesmo, o que se refere ao indivíduo que acha que o mundo gira em torno do seu umbigo de ignorante.

ESCRITO POR|XADREQUE SOUSA|shathreksousa@gmail.com

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