Só há uma verdadeira busca da verdade e
da sabedoria com recurso a luz natural da nossa razão quando o discurso usado
sofre, por assim dizer, uma metanóia, uma transfiguração, de um discurso
poético e retórico para um discurso dialéctico, o qual é, propriamente, o
discurso filosófico e deste para o discurso analítico ou lógico.
O debate, em Moçambique, que, na verdade, não passa de um diálogo fraterno entre o “amém” e o “sim senhor”, se resume a mera “expressão de impressões”, só para usar o vocabulário de Croce, em que cada um porfia por ganhar do seu adversário recorrendo a uma dose cada vez maior daquela “passionate intensity” do “worst” de que falou William Butler Yeats.
O discurso dominante, no nosso debate público,
é essencialmente poético e retórico. O poético tem sido usado para expressar as
impressões dos debatedores como já disse há pouco. O retórico visa a convencer,
não ao oponente no debate de ideias mas, à plateia, para uma determinada acção
cujo fim é sempre de ordem política, o que, no final das contas, nada mais é do
que acumular poder nas mãos do grupo representado pelo debatedor.
Não há
um verdadeiro interesse pela verdade e pela sabedoria nos debates televisivos
que temos visto neste país, se resumindo, o interesse dos debatedores ao mero
sonho provinciano de dar boa impressão com o objectivo, naturalmente, de camuflar
ou até mesmo falsificar sua verdadeira identidade.
Só há
uma verdadeira busca da verdade e da sabedoria com recurso a luz natural da
nossa razão quando o discurso usado sofre, por assim dizer, uma metanóia, uma
transfiguração, de um discurso poético e retórico para um discurso dialéctico,
o qual é, propriamente, o discurso filosófico e deste para o discurso analítico
ou lógico.
Acontece
que, neste país, ninguém quer fazer nenhum esforço dialéctico e muito menos analítico
ou lógico. Todo mundo só está interessado em exprimir sua emoção como se isso
fosse um dogma do evangelho ou a última novidade das ciências. É claro que isso
não é debate coisa nenhuma mas, sim, uma empulhação tout court.
O debate
exige que os debatedores tenham domínio da matéria que eles vão debater. Outro requisito
é que o debate exige que os debatedores sejam honestos. Aliás, já dizia Aristóteles
que não se deve debater com quem não é honesto, ou seja, com quem não está interessado
em buscar a verdade.
A fórmula
da honestidade intelectual dada pelo filósofo Olavo de Carvalho é muito clara quanto
a isso, a saber: “não dizer que você sabe o que não sabe e não dizer que você não
sabe o que você sabe perfeitamente bem”. Porém, acontece que, neste país,
parece que as pessoas inverteram essa fórmula, i.e., quanto mais um indivíduo ignora
um assunto, mais parece que sua autoridade para falar do assunto adquire proporções
aristotélicas.
Quando alguém vai a um debate televisivo e
opina acerca da tensão político-militar e começa a dizer que o grupo A é
culpado e o grupo B não é culpado ou que isso não é bom ou que isso é mau,
faz-me chorar, evidentemente.
Quando
alguém vai a televisão e perguntado sobre qual é a solução para o problema económico
do país, logo tira da cartola o coelho mágico da agricultura, dizendo que é
preciso potenciar a agricultura. Faz-me rir.
Quando
alguém vai a televisão e diz que a solução para o problema da criminalidade no
país é a denúncia popular, isso faz-me ficar estupefacto.
Eu poderia
citar uma série de exemplos que atestam a superficialidade dos nossos debatedores.
Quer dizer, as pessoas não vão ao debate porque têm conhecimento mas, sim,
porque amam ser vistas e ser aplaudidas, enfim, elas amam a publicidade, o que é
um atestado de superficialidade mental.
O nível
calamitoso desses debates mostra que o nível de cultura literária desses
debatedores é zero e que a sua única fonte de informação é o jornal e a televisão.
Quer dizer, estamos perante um ritual autofágico de mentalidades provincianas
que acham que sua pequenez é a medida de todas as coisas e é a isso que se
chama um idiota de idios que, em
grego, quer dizer o mesmo, o que se refere ao indivíduo que acha que o mundo
gira em torno do seu umbigo de ignorante.
ESCRITO POR|XADREQUE
SOUSA|shathreksousa@gmail.com
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