É incrível a
quantidade de soluções que tem sido propostas para o país sair da crise. O que
as pessoas ignoram é que quanto mais multiplicarem as propostas de soluções
mais elas vão perdendo seu valor. Dizia Mises que o papel do economista é dizer
ao governo o que este não deve fazer. Infelizmente, parece que os economistas
não lhe querem dar ouvidos. Sendo assim, ninguém quer compreender o que está
acontecendo de tão preocupados que estão em querer mudar a realidade, uma
realidade que eles não compreendem. Isso não pode ter nenhum outro resultado
senão a queda no socialismo autoritário do falso profeta Karl Marx.
Nos últimos anos Moçambique tem sido assolado por
uma crise económica que só perde para a crise dos anos 80. Tanto naqueles anos
como hoje mais recentemente podemos identificar algumas notas que estiveram
presentes em ambas as crises. Nos anos 80 o país estava mergulhado numa
instabilidade político militar. Hoje também a instabilidade político-militar
faz a agenda do dia.
Todos sabemos que os doadores fecharam a torneira e
já não mais dão dinheiro para o orçamento do estado. Não queremos discutir aqui
por que é que eles estão fazendo isso: quem tem razão e quem não a tem.
O que nos interessa é que o país está em crise.
Estando em crise temos que caracterizar essa crise para depois apontar soluções
para ela. Infelizmente, neste país há tanta gente que tem solução para crise.
Há tanta gente que conhece o caminho para a convalescença da crise. Contudo,
essa abundância de soluções já aponta para o desvalor, para a perda de valor de
cada uma delas. Quanto mais as opiniões a respeito disso ou daquilo vão se
multiplicando mais elas vão perdendo o valor.
Para nós que somos homens de estudo a coisa mais
importante para não deve ser querer mudar o mundo, querer modificar a
realidade. Quer dizer, aconteceu uma crise e você já vai tentando apontar soluções.
É claro que você não vai chegar a nenhuma solução. Você só vai criar mais
problemas. Há uma frase de Wolfgang Von Goethe que diz o seguinte: “é urgente
ter paciência”. Deste modo, diante de uma situação qualquer por mais penosa que
ela seja a nossa primeira atitude tem que ser procurar compreendê-la.
No âmbito daquilo que convencionamos chamar de
ciências culturais é isso que temos que fazer. Por exemplo, quando alguém está
doente e vai ao médico qual deve ser a primeira atitude do médico? Receitar uma
pilha de medicamentos? De modo nenhum. Sendo a medicina a aplicação da biologia
que, por sua vez, é uma ciência natural a primeira atitude do médico tem que
ser a de explicar o que está acontecendo. Se ele não explicar para o paciente e
aos seus pares do ofício ao menos tem que poder explicar para si próprio.
O que é uma explicação? A palavra explicar vem de ex mais plicare. Ex quer dizer
FORA. Plicare quer dizer enrugar,
dobrar, etc. de modo que explicar é desenrugar, desdobrar. É encontrar os nexos
de causa-efeito. Se o médico não sabe qual é a causa da doença como é que ele
vai poder cuidar do paciente? Ele seria um charlatão.
As ciências culturais como economia, antropologia,
sociologia, direito, etc., não explicam porque a regularidade que se verifica
na natureza pelo menos a natureza tomada na sua estrutura microfísica e não na
sua estrutura microfísica não segue a indeterminibilidade que caracteriza a
vida dos homens. Portanto, as ciências culturais não explicam, elas
compreendem.
Compreender vem de prehendere cum, prender com. Max Weber dizia que compreender é
encontrar as conexões ou implicações de sentido. Isso não tem nada a ver com
causa. É evidente que entre uma causa e um efeito há um sentido que pode ser
negativo ou positivo. Isso, porém, é secundário. O principal é a causa e o
efeito enquanto nas ciências culturais o sentido desempenha um papel de
primeira linha.
Por exemplo, quando os economistas falam da função
da procura eles estão relacionando a quantidade procurada e o preço de mercado.
Não podemos dizer que a quantidade procurada é o efeito e que o preço é a
causa. De modo nenhum. O mais importante aqui é apenas o sentido dessa relação
e não propriamente o nexo causal o qual não existe de modo que você dizer que o
preço causa a quantidade procurada mesmo que seja no sentido de Granger ou em
qualquer outro sentido é uma tentativa grotesta de tentar transformar a
economia em física.
Infelizmente, pela avidez de querer tornar a
economia numa ciência exacta muitos economistas, mormente os que se dedicam ao
estudo e aplicação da econometria acabam caindo no positivismo comteano e nem
disso se apercebem. Portanto, você dizer que o preço causa no sentido de
Granger a quantidade é você não estar a dizer nada para além de um absurdo.
Ora, por que é que os economistas não se dão conta disso? Eles não se dão conta
disso porque estão impressionados com os números. E por que eles estão
impressionados com os números? Porque eles nem sabem mais qual é o método de
estudo da economia. Eles imaginam que qualquer método vale e com isso acabam
fazendo estética ao invés de economia.
Veja, a matemática conheceu seu grande avanço com a
física porque a natureza tem um aspecto matematizável e um aspecto não
matematizável. No que diz respeito ao aspecto matematizável da física a
matemática serve como uma luva. Com recurso aos seus cálculos matemáticos os
físicos podem predizer a posição de uma determinada estrela daqui por exemplo a
mil anos. Enquanto, isso a econometria não é capaz de predizer qual será o
preço do tomate amanhã pelas 10horas no mercado do Maquinino na Cidade da Beira.
Então, para que serve toda essa geringonça matemática
aplicada a economia? Só serve para justificar o emprego de certas pessoas que
são pagas para inventar equações que não valem nada para uma realidade que elas
não compreendem. Não compreendem porque não tem o método adequado.
Portanto, o primeiro passo é compreender a realidade
antes de tentar transformá-la. Quando você tentar fazer o contrário, então,
você caiu no marxismo que é o socialismo autoritário em oposição ao socialismo
anarquista ou libertário de Proudhon. O que é marxismo? Marxismo é o desejo de
transformar uma realidade que você não compreende. Leia a 12ª Tese de Marx
contra Ludwig Feuerbach e você vai ver que é isso. Marx disse que os filósofos
procuravam compreender a realidade mas que era hora de transforma-lá. Porém,
toda tentativa de transformar a realidade sem compreendê-la deu em genocídio.
Leia Paul Johnson e Hans Morgenthau e você vai que é mesmo como esses
historiadores dizem.
Moçambique está em crise. Muito bem! Qual é a solução
para a crise? Eu não sei e você também não sabe. O que temos que fazer? Temos
que compreender o que está acontecendo e para compreender o que está
acontecendo é preciso pensar, caso contrário você acaba sendo apenas um boneco
de ventríloquo que vai ficar repetindo o que o governo diz, o que a mídia diz,
o que o seu pai diz, o que seu professor diz e nunca o que você pensou porque
pensar dá trabalho.
Quando você estuda economia dá a sensação de que
você sabe tudo que está acontecendo no país e que os que estão governando não
sabem nada. Então, seu sonho é trabalhar no Banco de Moçambique, Ministério das
Finanças, Autoridade Tributária, etc. Você está cheio de ideias sobre o que o
governo tem que fazer para melhorar isso ou aquilo, para resolver tais e quais
problemas. Quer dizer, porque você leu alguns textos de apoio sobre Keynes,
sobre o modelo IS-LM-BOP acha que já sabe tudo sobre o funcionamento da
economia.
Ora, é preciso ser muito burro para acreditar numa
coisa dessas.
É mais fácil você ser um bom engenheiro do que um
bom economista porque as máquinas não pensam, não tem vontade e não falam. Veja
só o exemplo de Joseph Schumpeter, um dos maiores economistas do século XX, foi
colocado como gestor de um banco e o que foi que fez? Levou o banco a falência.
Não se pode colocar a economia num tubo de ensaio.
Dizia Mises que a tarefa do economista não é dizer
ao governo o que este tem que fazer mas sim o que este não tem que fazer. O que
o governo não tem que fazer? Tudo aquilo que ele faz e isso corrobora com o que disse Abraham
Lincoln sobre ser o governo o problema de modo que não temos que esperar dele
solução alguma.
Isso não significa que somos contra os pobres. De
modo nenhum. Essa ideia ou pseudo-ideia de que se o estado não intervier na
economia a condição de vida das pessoas vai degradar é falsa. Quando o estado
fala em intervir na economia ele não está preocupado com os pobres, ele está
apenas preocupado com os impostos e não com a melhoria do bem-estar dos menos
favorecidos. Se o estado estivesse preocupado com os pobres ia cortar suas
despesas com coisas supérfluas de modo a ter recurso suficiente para melhorar a
vida dos pobres. Mas eles não fazem isso e nem estão interessados em fazê-lo.
Sempre que há uma crise na economia a resposta é
sempre uma e mesma: intervencionismo. As pessoas dizem que a inflação está
muito alta por causa das cheias, por causa da instabilidade político-militar,
por causa do corte da ajuda ao OE, ora, tudo isso é conversa. Qualquer
estudante de economia que tenha feito pelo menos um semestre de economia sabe
que a inflação tem uma e única causa: senhoriagem. É de Friedman a seguinte
frase: “a inflação é sempre e em toda parte um fenómeno monetário”. Esse juízo
enunciado por Milton Friedman não somente é necessário mas ele é também
necessário e exclusivo.
Então, para tentar esconder a verdade das pessoas
começaram a inventar inflação pelos custos, inflação de demanda. Ora, nunca há
demanda geral de todos os bens da economia aumentando ao mesmo tempo. Há apenas
demanda de bens e serviços particulares. O excesso de demanda leva a subida do
preço relativo do bem demandado e isso não é inflação. Somente a oferta de
moeda tem um impacto geral sobre todos os bens e serviços da economia. O mesmo
se dá com os custos de produção os quais incidem sobre a produção de bens e
serviços específicos e não geral o que significaria negar a diferença específica
do pão em relação a classificação geral de bens económicos.
Como é que o estado injecta mais moeda na economia?
Através do banco central. O grande problema de qualquer país é o banco central.
As pessoas falam mal do ministério das finanças, etc. mas perdem de vista a verdadeira
fonte-origem dos problemas da economia que é o banco central. De modo que
quando os preços dos bens e serviços aumentam ao invés de as pessoas fazerem manifestação
em frente do ministério da indústria e comércio, ministério das finanças,
deviam fazê-lo em frente do Banco Central porque é ali onde está o problema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário