terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Espírito cristão

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Reduzir o espírito cristão a um mero dom de línguas é não saber o que é espírito cristão. Cristo disse que é por nos amarmos uns aos outros que o mundo saberá que somos seus discípulos (João XVII). Portanto, não importa o quanto falemos em língua, se não tivermos amor somos apenas como um objecto inanimado que emite som (1Cor. XIII). O que nos vivifica é o espírito e e essa vida do espírito é o ágape, o amor intelectual dos pitagóricos.  


São Paulo, Apóstolo, disse que “quem não tem o Espírito de Cristo esse tal não é dele”. Essa sentença Paulina nos leva a interrogar sobre o que é o espírito cristão.

Segundo os pentecostais e neo-pentecostais, a evidência de alguém ter sido baptizado com o Espírito Santo é esse indivíduo “falar em línguas” estranhas. Porém, crer nisso é não entender o espírito cristão.

A julgar pela impotência das nossas igrejas, pela multidão de escândalos que nelas prolifera, enfim, pela quase total ausência de piedade, a eusebia dos pitagóricos, não me parece sensato crer que haja dentro das igrejas tantas pessoas cheias do espírito cristão como os paladinos do “falar em línguas estranhas” querem nos fazer crer.

O espírito cristão foi-nos revelado, ou dado a conhecer, pelo próprio Cristo nos evangelhos, principalmente, nos sinópticos, quando ele proferiu um dos seus sermãos mais emblemáticos, a saber, o sermão da montanha e da planície.

Quando Jesus diz que temos que amar não apenas aos que nos amam como ensinava a lei de Moisés mas também os que nos odeiam, esse é o espírito cristão. Quando ele ensinou que não devemos pagar o mal com mal, que devemos dar a outra face e quando ele ensinou que não devemos fazer o bem para sermos vistos pelos homens, etc., ele mostrou para todos o que é o espírito cristão.

Há muita gente que fala em língua mas tem o coração cheio de ódio. Esse espírito não é o espírito cristão. Há muita gente que fala em língua mas quando fazem algum bem quer que todo mundo o veja e aplauda. Essa busca por admiração dos homens, por aplauso e louvor dos homens, não é o espírito cristão.

O espírito cristão é o espírito do amor. Não somente do amor mas também o espírito que busca o louvor que emana apenas do Ser Supremo, o Deus das religiões, de modo que o cristianismo, como disse o filósofo Mário Ferreira dos Santos, é uma religião que parte da sabedoria através do amor, ou seja, o cristianimso é a religião do amor. Não supreende que Cristo, ao contrário de Moisés que deixou dez mandamentos, deu apenas um único mandamento: “amai-vos uns aos outros”.

Quando Cristo ordena que nos amemos uns aos outros, quando ele ordena que amemos nossos inimigos e não apenas aos nossos amigos, isso não significa que o espírito cristão está exigindo de nós que violentemos os nossos sentimentos, de modo nenhum, porque, senão, as pessoas começam a dizer que esse tipo de amor é impossível pois como posso eu amar um homem que roubou a minha casa, que me insultou, que me prejudicou, de algum modo?

Essa objecção surge porque as pessoas concebem o amor  cristão como sendo o eros. É claro que esse amor não pode existir. O amor de que Cristo falou, o qual é inerente ao espírito cristão, não é o eros. Isso seria uma imperfeição completa. O amor de que Cristo falou é o ágape dos pitagóricos. Ele está colocado na concepção intelectual do amor. O amor aqui é o amore intellectuale.

Esse amor é o que é conhecido entre os filósofos como o amor platónico. Muitos que a si mesmos se chamam de filósofos têm uma concepção errada do que seja o amor platónico como é o dizer que o amor platónico é amar e não se aproximar do objecto amado. É preciso ser muito pueril para acreditar numa coisa dessas. O amor platónico, que é o ágape dos pitagóricos, que é o amor do cristianismo, está na colocação intelectual do amor como já dissemos.

Como já afirmamos, o cristianismo não está exigindo que violentemos os nossos sentimentos porque o amor não pertence a nossa vontade mas ao nosso simpatético. O que o cristianismo está dizendo é que para nós amarmos a aqueles indivíduos por quem não temos nenhuma afectividade, por assim dizer, no grau simpatético, temos, que intelectualizar aquela pessoa nas possibilidades que ela não realizou.

Em outras palavras, quando se diz que Deus amou o mundo, ou seja, os homens em seu pecado, isso não significa que Deus ama o pecador. Isso seria uma contradição completa. Como é que um ser santíssimo pode amar o pecador? O que Deus amou, na verdade, são as possibilidades que esse homem pecador não havia realizado mas que podia realizar. Esse homem pecador podia se tornar num homem justo, honesto, sincero, verdadeiro, corajoso, etc. Foi para ver essas possibilidades actualizadas no homem pecador que Jesus morreu. São essas possibilidades que Deus amou.
Eu não posso amar uma prostituta, mas posso amar a possibilidade dela ser uma mulher decente. Essa possibilidade eu amo e é por isso que eu tenho que ajudar aquela mulher prostrada na prostituição a realizar essa possibilidade. Eu não posso amar um ladrão, mas eu amo a possibilidade dele ser um homem honesto, trabalhador, um homem útil aos seus semelhantes. E é por amar essa possibilidade, por querer ver essa possibilidade actualizada naquele homem que eu tenho que orar por ele e ajudá-lo a realizar essa possibilidade e outras que sejam positivas e construtivas.

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